Com tecnologia, novidades e boa qualidade, produtores de mamão tentam elevar o nível de exportação da fruta brasileira.
Como a maioria das sementes das variedades utilizadas nas regiões produtoras de mamão é proveniente de frutos de polinização livre, sem controle efetivo da polinização, as cultivares sofrem variações em suas descendências, causando descaracterização desses genótipos, comprometendo a qualidade das lavouras. Conforme o tamanho e a origem dos frutos, os mamoeiros hermafroditas podem ser classificados em dois grupos distintos, o grupo Solo e grupo Formosa. Quem explica isso é o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Jorge Luiz Loyola Dantas, que diz que as variedades do grupo solo são representadas por linhagens, enquanto os genótipos comerciais do grupo formosa correspondem a híbridos F1.
“Apesar das vantagens inerentes ao cultivo do mamoeiro, foi somente a partir de 1973 que a cultura retomou sua importância econômica para o Brasil, em virtude da introdução de híbridos F1 do grupo formosa e, principalmente, de linhagens do grupo solo, notadamente nos Estados do Pará, Espírito Santo, e Bahia”, diz. Segundo ele, esse material teve rápida aceitação pelos consumidores e, por apresentar características que se adaptam às exigências do mercado internacional, abriu novo e importante mercado externo para o Brasil.
Atualmente as variedades existentes do grupo solo são a improved sunrise solo line 72/12, baixinho de santa amália, taiwan, kapoho solo, waimanalo e higgins, que já foram amplamente plantadas no Brasil. Hoje em dia, a maior concentração de plantios tem sido com as variedades sunrise solo e golden. Já os genótipos do grupo Formosa apresentam frutos de peso médio de 800 a 1.100 gramas. Dentre os híbridos comerciais do grupo Formosa, o mais cultivado no Brasil é o tainung nº 1, que é importado de Kaohsiung, no Taiwan numa variação que vai de US$ 3.500,00 a US$ 4.000,00 o quilo da semente. Este alto custo tem incentivado os produtores brasileiros a utilizarem as próprias sementes dos híbridos nas gerações F2, F3, F4, entre outras, o que leva à perda das características do híbrido original, produzindo frutos com qualidade inferior e fora do padrão comercial.
O produtor de mamão, Geraldo Fonseca da Silva, que tem sua propriedade instalada na cidade de Linhares, Espirito Santo, conta que produz a fruta nas variedades golden e formosa, pois são as de melhor aceitação no mercado externo. “Com isso, trabalho com a exportação do mamão, aproveitando que estes dois tipos são bem requisitados fora do nosso País”.
O que vem de novo
Segundo Loyola, encontra-se em andamento nova proposta de melhoramento genético apresentada pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, com interação entre três programas de melhoramento genético (Universidade Estadual do Norte Fluminense, Caliman Agrícola S.A., Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural). A partir destas parcerias, há o desenvolvimento de ações conjuntas, com inserção de atividades inéditas e continuidade de todas as pesquisas que vinham sendo executadas, de forma a desenvolver, sobretudo, novas combinações genotípicas. “O objetivo geral visa a ampliação da base genética atual do mamoeiro, mediante geração de novas linhagens, híbridos produtivos e populações segregantes, com qualidade de frutos, adaptados às condições do nordeste e sudeste brasileiro, com resistência a doenças e com tolerância ao déficit hídrico, a partir de acessos existentes no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Mamão da Embrapa”.
Ainda em termos de novas variedades, também estão sendo desenvolvidos ensaios para a realização de avaliações agronômicas e fitossanitárias de um mesmo conjunto de linhagens e híbridos de mamão em nível nacional, de forma a agregar material genético, esforços e estruturação de rede nacional de avaliação de genótipos. “Essa rede deverá ser capaz de propiciar a obtenção de resultados consistentes, em menor espaço de tempo e com aplicabilidade mais rápida, disponibilizando novos genótipos para os agricultores”, declara Loyola.
Já o que se diz respeito ao manejo correto para que estas cultivares rendam de maneira esperada, o produtor de mamão deve estar atento às exigências de cada variedade e à aplicação das distintas práticas relacionadas ao cultivo do mamoeiro, desde a fase pré-plantio até a fase pós-colheita. Assim sendo, devem-se observar itens como, por exemplo, escolha da área de plantio, escolha da área do viveiro, aquisição de sementes e produção de mudas, preparo do solo, calagem, adubação, fertirrigação, espaçamento, desbaste de frutos, tratamentos fitossanitários, colheita e a melhor definição da embalagem para os frutos.
Silva concorda com o que diz Loyola e completa ao declarar que fazer uma adubação correta, manter esta adubação após a floração e realizar o trabalho de pulverização regularmente, são itens que levarão a plantação ao sucesso. “Não podemos nos esquecer do clima, pois é um fator determinante na produção da fruta”, diz. Segundo ele, se houver chuva em excesso a lavoura terá problemas, assim como se faltar chuva irá ocorrer um atraso na mesma. “Tem que haver um planejamento em cima das condições climáticas da região, para não ocorrer perdas e assim não atrasar a lavoura”.
Tecnologia é sinônimo de qualidade!
O cultivo do mamoeiro é altamente dependente da aplicação das tecnologias disponíveis. Um bom produtor de mamão depende da tecnologia desde o início da lavoura até a liberação dos frutos para a comercialização. Para Loyola, um ponto básico inicial é a aquisição de sementes de reconhecida origem e valor genético para a produção de mudas, seguida pela devida aplicação das práticas culturais recomendadas para a lavoura com subsequente tratamento dos frutos pós-colheita e sua disposição em embalagens apropriadas, permitindo assim atingir bons níveis de produtividade de frutos com boa qualidade e redução das elevadas perdas que caracterizam a cultura.
“A tecnologia é muito importante, porque para se ter uma ideia, nos países importadores há um controle dos agrotóxicos individuais do qual se o produto estiver fora do índice permitido, o exportador é penalizado. Ou seja, é necessária a tecnologia para encaixar o mamão dentro das condições internacionais”, declara Silva.
Além de ajudar na exportação, a tecnologia permite que atualmente a qualidade do mamão brasileiro esteja bem qualificada mundo a fora. “No Brasil há tecnologia suficiente para produzir uma fruta de excelente qualidade. Assim, o mamão brasileiro tem uma qualidade muito boa, todavia, em geral, pode-se associar a qualidade ao preço pago pela fruta ao produtor. Se o preço está bom o produtor pode investir na lavoura e isto se reflete na qualidade”, comenta Loyola. Em adição, se há um mercado mais exigente e que paga mais pelo produto, a implementação de ações promotoras de melhorias na qualidade dos frutos é fundamental, e possível de ser alcançada com o atual volume de informações existentes no sistema de produção para o cultivo do mamoeiro.
Silva diz que mesmo estando em uma situação boa, exportamos pouco em relação aos outros países. Segundo ele, para o Brasil crescer no quesito exportação tem que haver pesquisas de desenvolvimento de sementes para melhorar as variedades. “Hoje vemos o mercado interno bem dinâmico, o preço da fruta está bom”. Ele lembra que em 2009 este mesmo mercado passou por um momento muito ruim, onde o preço ficou muito abaixo do custo de produção. Já em 2012 a situação já estava melhor e para este ano o mercado deve manter um preço razoável do mamão, o que não será ruim para os produtores.
Para se livrar das doenças...
Um dos principais fatores que limitam a expansão e a manutenção dos cultivos com mamoeiro são os problemas fitossanitários, destacando-se as viroses, como o vírus da mancha anelar (Papaya ringspot virus), o vírus do amarelo letal (Papaya lethal yellowing virus) e o vírus da meleira (Papaya meleira vírus), principal virose em mamoeiro. Loyola diz que as medidas de controle mais adequadas para tais viroses são as de caráter preventivo, como a eliminação de pomares velhos, a produção de mudas em viveiros posicionados em locais isolados, livres de vírus e de preferência distantes dos plantios comerciais. Além disso, é necessário efetuar a erradicação precoce e sistemática de plantas apresentando sintomas em toda a área produtora e a desinfestação das ferramentas utilizadas nos processos de desbrota, desbaste de frutos e colheita em solução de hipoclorito de sódio a 10%. “A alternativa mais barata e eficiente para o controle de viroses é a utilização de plantas resistentes, ainda não disponíveis para o sistema de produção do mamoeiro”.
O produtor Geraldo da Silva declara que a solução é atacar as doenças para elas não entrarem na fruta. “Este ataque passa por entre outras coisas, fazer o controle do começo ao final da lavoura, que apesar de ser um pouco caro, vai livrar o produtor de uma perda significativa, o que seria com certeza, mais prejudicial economicamente falando”, finaliza.