CAFÉ

TERREIRO 'BÃO' DEMAIS DA CONTA, SÔ!


Método de secagem de café garante qualidade mesmo em dias de chuva, agrada os produtores e firma o Brasil como referência no mercado internacional.

Para a manutenção de uma cafeicultura competitiva em produtividade, qualidade e que seja economicamente sustentável, o conhecimento de técnicas modernas de produção é indispensável. Para o mercado exportador, é de fundamental importância que o café apresente propriedades que possam ser percebidas pelos sentidos, como por exemplo, a cor, o sabor, a textura e o aroma.

Essas propriedades são dependentes da eficiência do pré-processamento ao qual o produto foi submetido. Partindo destes princípios básicos, a Embrapa Café, coordenadora do programa de pesquisa do Consórcio Pesquisa Café, lançou a publicação “Construção e utilização do terreiro híbrido para a secagem do café”, dos pesquisadores Juarez Souza e Silva, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Sérgio Maurício Lopes Donzeles e Douglas Gonzaga Vitor, ambos da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Esta circular técnica mostra passo a passo as etapas do processo de construção e utilização do terreiro, que contribui para a manutenção da competitividade da cafeicultura do pequeno ao médio produtor, a qualidade do produto e a sustentabilidade ambiental.

Segundo Juarez Silva, os meios de secagem utilizados são as operações que exercem mais influência na qualidade final do produto e é durante os três primeiros dias que, após a colheita, o cafeicultor tem condições de manter a qualidade do produto colhido, evitando a proliferação de organismos que deterioram o café na fase inicial de secagem. Para ele, até recentemente não existia um sistema de secagem de café para atender, satisfatoriamente, à maioria dos produtores. No método de secagem natural, os grãos recém-colhidos são dispostos em uma área concretada, descoberta, nomeadas de terreiros convencionais, para secarem ao sol. “Como a secagem natural, o café pode levar entre 25 a 30 dias, e neste período é possível ocorrer chuva, com isso, a plantação poderá ficar comprometida”. Com a opção do terreiro híbrido, o produtor conta com uma infraestrutura coberta que protege os grãos da chuva, juntamente a um sistema de aquecimento. A partir de uma fornalha alimentada por biomassa, o ar quente é conduzido para dentro deste sistema. “É para esta situação é que o terreiro está adaptado. Ele será uma fornalha que seca o café quando não há o sol”, declara. Com este processo, a redução de tempo de secagem cai para em média, cinco dias. O tema da publicação é simples e econômico. A técnica é capaz de secar o café recém-saído do lavador ou descascador em menos de cinquenta horas efetivas de funcionamento com o ar aquecido a 50ºC.

O pesquisador conta que a ideia de realizar esta publicação surgiu porque a utilização do terreiro na plantação é um gargalo que afeta na qualidade final do produto. “Quando tem sol está tudo bem, mas, quando a chuva aparece, o produtor já sabe que pode ficar complicado”. Com isso, para Silva a intenção foi de reduzir e proteger o café. “Hoje, se o produtor não quiser, não usa o método convencional em nada, pois esse método de secagem pode ser utilizado nos dias de chuva, então fica tudo pronto mais rápido”, diz. Quem já utiliza o terreiro híbrido sabe que quando não tem sol, nem vai precisar espalhar o café no sistema habitual e sim já usar o aquecedor.


Satisfazendo os produtores

Produtor de café há 20 anos e assistente técnico da Cooperativa de Produtores de Café de Guaxupé (MG), a Cooxupé, Antonio Francisco Costa Coutinho utiliza o sistema híbrido há 11 anos. A propriedade dele tem 18 hectares e está localizada na cidade de Cabo Verde, região sul de Minas Gerais. Segundo Coutinho, desde que adotou esse método, tem percebido mudanças positivas na fazenda, como por exemplo, o custo-benefício de instalação e utilização. “Fiquei conhecendo através da cooperativa, e, para ter o terreiro funcionando, gastei em torno de cinco mil reais”, conta. Outros pontos que chamaram a atenção dele foram a facilidade de colocar o café no terreiro secador, a qualidade do café que é mantida de forma completa e o tempo de secagem gasto. “Antes, para secar o café, eu gastava entre 15 e 20 dias. Atualmente, ele já está seco no sétimo dia”. O produtor segue o que pensa Silva e diz que a opção de secar o produto mesmo em dias de chuva é fundamental para que economicamente o negócio dê certo.

Coutinho conta que na região dele o clima é variado, fato que sempre deixa os produtores preocupados. “Na época de colheita, normalmente não chove, mas houve vezes que a chuva caiu em abundância e estragou a plantação de muitas pessoas”. Segundo ele, mais de 100 secadores híbridos estão instalados em Cabo Verde. “O boca a boca entre os vizinhos foi um grande meio de espalhar os benefícios deste método de secagem”. O produtor diz que com este sistema o café é vendido com qualidade, e com isso consegue tirar numa boa saca, com um valor aproximado a R$ 300,00. “Já quem não tem um produto com bom gosto, cheiro, textura, entre outros pontos, consegue tirar a saca por apenas R$ 220, 00. Isso pode se tornar prejuízo para os produtores, pois o gasto feito em toda produção convencional é praticamente igual ao valor desta venda”, declara.

Além da maior facilidade que o produtor tem em fazer um produto de qualidade, o terreiro híbrido também faz com que no cenário global, o Brasil apareça cada vez mais como referência quando o assunto é esta bebida. Para Silva, este trabalho que está sendo realizado é de grande porte, pois demanda a utilização da tecnologia disponível no País e ajuda o nosso café a continuar a ser um dos melhores do mundo, com gosto nivelado a qualquer outro. “O produtor sabe disso, pois se não fizer um material de excelência, ele não vai conseguir êxito nos negócios. Já quem fizer direito vai entrar no mercado e achar seus compradores”. Para realizar um bom trabalho, ele ressalta que ações como as de operações de pós-colheita, tem de ser bem realizadas. “Cuidar bem do cafezal, fazer uma boa colheita, colher só o grão maduro, fazer separação por tamanho, descascá-lo e separá-lo por densidade são pontos que juntamente à utilização do secador, levarão o produtor ao sucesso”, finaliza.

Terreiro comprensada, concreto, mexe 10x por dia durante 15 dias



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