A matéria-prima principal sempre é o chifre bovino, mas algumas peças recebem um toque especial, com aplicações de fios de algodão, aço inoxidável, fios de couro, folheados de ouro, entre outros materiais. Segundo a artesã, apesar da mistura de elementos, o resultado final não perde sua identidade e originalidade. Aliás, foi nesta originalidade que as empresárias criaram uma linha de montagem artesanal na qual as biojoias, nome dado ao conceito de bijuterias ecológicas e artesanais, são confeccionadas e lapidadas por cortadores, que trabalham em suas residências a partir dos desenhos elaborados pela designer. “As biojoias passam por um trabalho, minucioso e delicado. Elas ganham forma depois de três etapas: o primeiro passo é esquentar o chifre para que amoleça. Em seguida ele é moldado. Depois é aplicado um produto especial para evitar que o pedaço utilizado volte ao formato original. A não utilização de produtos químicos para não modificar o designer das peças é fundamental”, explica Isabel.
O negócio das amigas ganhou cunho ecológico e social, à medida que recupera um material descartado e utiliza mão de obra local, detentora do conhecimento da técnica de moldagem do chifre, além de proporcionar o aumento da renda familiar de pequenos artesões. Quando abriu as portas, há quatro anos, a Joias do Pantanal (marca registrada das empresárias) tinha uma produção pequena. Hoje, mil peças são confeccionadas mensalmente. Os produtos são comercializados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e também começaram a ser vendidos no Exterior. Hoje, as biojoias são enviadas para Espanha, Suíça, Grécia e Estados Unidos. “Entretanto para chegar a esse status tivemos um longo percurso”, diz Isabel. Em 2002, a empresária decidiu investir em artesanato, porém, só regularizou o seu negócio em 2008, ao lado da sócia. “Faltava apenas um incentivo, que aconteceu no ano de 2007, quando conheci o programa de Incubadora de empresas”, diz.
Quando as empresárias ingressaram nesse programa não tinham planos de estratégias de negócios e de vendas. “Na época, fui orientada a entrar em contato com a Incubadora tecnológica, a Interp, mantida pela Fundação Manoel de Barros”, diz. A entidade contava com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Mato Grosso do Sul. Durante o processo, as sócias foram orientadas por consultores especializados. “O projeto, como o próprio nome já diz nos ajudou a nascer, assim como os ‘pintinhos’ que vão para as incubadoras”, brinca Isabel. Conclusão: um ano depois as empresárias abriram a loja Joias do Pantanal, localizada em Campo Grande (MS). A empresa saiu do projeto “incubadora” três anos depois. “Porém, até hoje não ‘rompemos’ com os vínculos. Ainda participamos de eventos e feiras que eles promovem. O melhor é que eles nunca deixaram de nos apoiar”, afirma Isabel.
“Nosso objetivo é capacitar os empresários selecionados a fim de ajudá-los a criar um plano de negócios e uma metodologia de trabalho capaz de sustentá-los. Após a incubação, as empresas são graduadas e sai para o mercado”, afirma o professor Marcos Henrique Marques e coordenador-geral da Interp - Incubadora de Empresas. Durante o processo, explica ele, são realizadas capacitações, a ajuda para elaborar patentes, negociação de transferências de tecnologias, estudos de mercado e, por vezes, a estrutura física. “O empreendedor nos procura e mostra o seu projeto. A partir disso, avaliamos e vemos se é possível ser aceito ou não para o desenvolvimento”, diz Marques.
A incubação varia entre 12 a 36 meses. No caso da Interp, entidade incubadora, a duração média são 24 meses. Porém, explica o coordenador, o apoio é contínuo. “O Sebrae é um dos grandes parceiros neste projeto e auxilia na sobrevivência ao longo do tempo dos novos negócios. Em geral, sem o apoio, os empreendedores estão fardados ao fracasso. A principal dificuldade, ou seja, o principal gargalo é a comercialização”, diz. “A taxa de sucesso das empresas apoiadas por incubadoras e parques tecnológicos é de 80%, com índice de mortalidade de 20%. Com o apoio das incubadoras, defendo que esse índice chegue à zero por cento”, afirma Marques.
Outra empresa beneficiada pelo projeto é a Sayyou Brasil, também situada em Campo Grande (MS). O empresário Sérgio de Andrade Coutinho Filho ingressou na “incubação”, no ano passado. “Durante um evento do Sebrae fui apresentado ao projeto. Fui conhecer a ideia, como funcionava uma incubadora; plano de negócios; propriedade intelectual: sua importância para novos empreendimentos. Daí, fiquei na ‘incubação’”, diz. Como resultado, o empresário recebeu o apoio para a elaboração do seu projeto, recebeu suporte técnico e hoje agrega sete funcionários. Hoje, a Sayyou tem como foco um mercado grandioso, oferecendo equipamentos agrícolas ambientais e economicamente viáveis. Coutinho Filho desenvolveu uma capina elétrica que age como um herbicida sistêmico que mata tanto o sistema aéreo (folhas e galhos) como o sistema radicular (raízes).
Projetos em números
Segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), há quase 400 incubadoras no país (40 delas dedicadas exclusivamente ao agronegócio) e 6.300 empresas entre incubadas e graduadas. De início, o Sebrae injetou pesados investimentos e segundo Francilene Garcia, presidente da Anprotec, muitas incubadoras tiveram de passar por revisões depois do “boom”. “Até que para mais celeiros de boas ideias prosperem, para o bem do setor rural no País. Ao oferecer suporte ao empreendedor, a incubadora possibilita que o empreendimento tenha mais chances de ser bem sucedido”, diz Francilene.
O empreendedor recebe suporte gerencial e de infraestrutura e, além disso, está em um espaço onde há várias empresas inovadoras estão. Elas contam com inúmeras conexões, inclusive favorecendo ao crescimento do negócio e o acesso ao mercado. “No caso das empresas de base tecnológica, os empreendedores têm fácil acesso a universidades e instituições de pesquisa e desenvolvimento, já que muitas incubadoras possuem vínculo com esse tipo de instituição”, explica.
A cartilha da Incubação
Como ingressar em uma incubadora?
Existem pré-requisitos para entrar em uma incubadora e os candidatos a uma vaga precisam passar por um processo seletivo. Porém, isso varia de acordo com cada incubadora e os critérios são definidos nos editais de seleção. Mas pode-se dizer que o pré-requisito mais importante é a inovação. De acordo com pesquisa realizada pela Anprotec em 2011, 99% das empresas incubadas inovam, sendo que 15% em nível internacional, 55% em âmbito nacional e 28% localmente. Em geral, esse perfil inovador do empreendimento é avaliado por meio de um plano de negócios, que é entregue pelo empreendedor à incubadora durante o processo seletivo.
Existe algum custo?
Em geral, as incubadoras cobram uma taxa das empresas, para que possam manter os serviços e a infraestrutura oferecida. O custo, no entanto, é inferior ao que cada uma dessas despesas representaria para o empresário caso ele não participasse de um programa de incubação.
Há alguma restrição na adoção?
Isso varia de acordo com o edital de cada incubadora. Algumas incubadoras, vinculadas a universidades, exigem, por exemplo, que os empreendedores tenham vínculo com a instituição. Depende do perfil de cada instituição.
Quanto tempo dura?
Geralmente, o empreendedor pode permanecer na incubadora durante um período de seis meses a um ano no Programa de Pré-Incubação e três anos na Incubação. Mas isso varia de acordo com cada incubadora e depende, também, do tipo de empreendimento. Empresas da área de Tecnologia da Informação e Comunicação tendem a ficar menos tempo do que empreendimentos do setor de Biotecnologia, por exemplo, já que tratam de tecnologias que possuem um ciclo de desenvolvimento mais curto. O importante é que o empreendimento, ao se graduar (sair da incubadora), esteja preparado para o mercado.
Fonte: Anprotec |