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Rio Verde, a terra do “grão dourado
rev 174 - agosto 2012

Maior produtor de soja e milho no Estado de Goiás, Rio Verde se transformou na cidade com um dos maiores PIB agropecuário, maior arrecadador de impostos sobre produtos agrícolas e centro difusor de novas tecnologias.

No período de vacas gordas, o agronegócio brasileiro tem o poder de impulsionar a vida de pequenos vilarejos, transformando-os em novos centros de prosperidade. Foi assim que a cidade de Sorriso, a 420 quilômetros da Cuiabá (MT), entrou para o mapa de relevância econômica no final dos anos 90, quando se transformou na maior produtora de soja do País. Um fenômeno semelhante ocorreu no município de Rio Verde (GO), a 220 quilômetros da capital, Goiânia.

Segundo dados da Secretaria de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento de Goiás (Segplan-GO), realizado em parceria com o IBGE, Rio Verde lidera o ranking nacional da produção agropecuária do país, com 0,43% de todas as riquezas do setor. Seguindo os últimos dados de 2009, da Segplan, o município também está entre os 10 maiores Produto Interno Bruto (PIBs) do Estado, ocupando o 4º lugar, atrás apenas de Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia. O valor adicionado da agropecuária no município alcançou R$ 676,2 milhões em 2009, um crescimento de quase 53% em relação a 2008, o que levou a cidade da 12ª para a 1ª posição nacional na geração de riquezas do setor.

Rio Verde é o maior produtor de grãos do Estado de Goiás, maior arrecadador de impostos sobre produtos agrícolas e centro difusor de novas tecnologias. Conhecido como a “Capital do Agronegócio”, é responsável direto por aproximadamente 1,2% de toda a produção nacional de grãos, com uma área cultivada superior a 378.853 hectares. O município destaca-se como o maior produtor de soja e sorgo do Estado, segundo no cultivo do milho e terceiro em produção de feijão. Conta ainda com o plantio de culturas como: arroz, algodão, milheto e girassol. “Só nessa safrinha houve um crescimento de área de plantio, o clima nos ajudou e os preços junto à produtividade foram bons. Conclusão: alcançamos até 150 sacas por hectares de milho”, revela o produtor Walter Baylão Júnior, presidente do Sindicato Rural de Rio Verde. “Solo, clima e a evolução tecnológica favorecem para que safras sejam excelentes. E ainda temos muito espaço para crescer em produção”, afirma Baylão Júnior.

Para o analista de mercado da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, hoje, enquanto a soja e o milho, os “grãos de ouro”, são os responsáveis pelo crescimento de Rio Verde, o algodão também já deu sua mãozinha para o desenvolvimento da região, em meados dos anos 60. “Hoje se planta muito pouco da pluma branca que ajudou a enriquecer a cidade”, diz. “Além das culturas que culminaram no divisor de água do município, ganhamos ao longo dos anos o aeroporto General Leite de Castro, a Fundação do Ensino Superior de Rio Verde, a cooperativa Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), que se tornou a primeira indústria esmagadora de grãos, e o crescimento de médias propriedades rurais”, diz.

Hoje, Rio Verde conta ainda com unidades de ensino profissionalizante como: IF Goiano, Sebrae, Senac, Senai e Sest/Senat que atendem um total de cinco mil alunos. “Por meio de cursos técnicos, proporcionamos ao estudante um ensino de qualidade e sua preparação para mercado de trabalho, em franca expansão por aqui”, afirma Arantes.

Com 164 anos de emancipação política, o município de Rio Verde nasceu em 5 de agosto de 1848. Até hoje, o desenvolvimento do município é atribuído à abertura do cerrado para a inserção da agricultura em 1970, fato que atraiu a atenção de produtores rurais do Estado de São Paulo e região Sul do país. “Com a abertura dos cerrados à agricultura e a chegada das estradas pavimentadas que a ligam a Goiânia e Itumbiara, a agricultura começou a florescer e atraiu produtores de várias partes do Brasil. Também vieram agricultores americanos que fundaram uma colônia. Todos eles trouxeram maquinários, tecnologias, recursos e experiências que transformaram o município em um dos maiores produtores de grãos de Goiás”, diz Alexandre Câmara Bernardes, da Comissão de Agricultura do Sindicato Rural de Rio Verde.

Segundo Bernardes, com o advento da tecnologia no campo trazido pelos imigrantes, as lavouras antes cultivadas em terras pobres ganharam variedades adaptadas e solos férteis, a alimentação do gado até então conhecido como foi da “cara inchada”, devido à salinização, foi substituída pelo capim braquiária.  

Um dos pioneiros que testemunhou a evolução da cidade atende pelo nome de Flávio Faedo. “Saímos de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, em 1980, para apostar em novas oportunidades. No Sul já havia a escassez de terras e aqui era abundante. Lutamos para tornar essas terras produtivas, com tecnologias tais como o plantio direto, tradição trazida da nossa região. Conseguimos hoje alcançar duas safras e meia, gerando economia e preservando o meio ambiente”, diz Faedo, presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).

Graças à persistência de gente como Faedo, que não esmoreceu diante das dificuldades, Rio Verde, abriga hoje uma população de 200 mil habitantes, grande parte chegou atraída pelo polo industrial que se instalou nos últimos 20 anos na cidade (diga de passagem que houve um aumentou de quase 30 mil habitantes em pouco mais de dois). “O movimento de migração possibilitou a inserção de máquinas agrícolas, tecnologia, recursos e experiência na produção de alimentos que transformaram Rio Verde no maior produtor de grãos do Estado de Goiás e destaque no país”, diz Faedo. A atividade proporcionou ainda o crescimento econômico, social e político do município, agora relevante difusor de pesquisas e tecnologia, e crescente polo industrial.

Além disso, Rio Verde ganhou acesso às rodovias estaduais que representam uma importante via de escoamento da produção agropecuária da região, como a: GO-210, GO-333 e GO – 174, sendo a última um importante corredor de acesso para exportações ao MERCOSUL. Por meio desta rodovia, a produção de grãos é levada até o Porto de São Simão (GO), há cerca de 150 quilômetros da cidade, de onde são transportadas por meio da hidrovia Tietê – Paraná. Além disso, o município está a 220 quilômetros de distância de Goiânia e 420 km de distância de Brasília (DF).  

Apesar de todo o processo, Rio Verde ainda mantém ar típico de cidade do interior. Em suas avenidas principais, concentram-se quase todo o comércio. A principal vocação da cidade fica clara quando se observa a quantidade de lojas relacionadas ao agronegócio, como concessionárias de máquinas entre elas a Massey Ferguson, New Holland, Case IH e armazéns especializados na venda de adubos e defensivos.

Os reflexos da vocação agrícola são nítidos em vários setores da economia local. O mercado imobiliário passa por um período de grande efervescência. Em Rio Verde hoje em dia é difícil encontrar terras para arrendar. Há 90 quilômetros do município, entretanto, na vizinha Jataí, ainda existem algumas áreas. “Existe muita procura e não tem terra para comprar. Dificilmente procura-se para arrendar e quando acha o arrendatário normalmente faz negócio com o proprietário”, ressalta o consultor Enio Fernandes. Segundo ele, o custo de terras em Rio Verde já era caro há cerca de 10 a 20 anos. Entretanto, os preços das terras para a venda ou arrendamento dependerão da localização e do interessado. Vale lembrar que existem casos, que se as terras estiverem localizadas próximas a um de grande grupo, acabará por custar mais caro. “O poder de compra de terras em Rio Verde chega a custar entre 350 sacas de soja por hectares a 870 sacas. Entramos naquela velha questão, quais são os interessados e quais são os seus vizinhos”, diz Fernandes. Ao contrário de outras regiões do País, Rio Verde não há grandes áreas, como já ocorreu no passado, e isso não estimula o interesse de grandes grupos (até internacionais) adquirem ou arrendarem terras no município. “Em contrapartida, há casos também de compradores, que adquirem o espaço de até mil hectares, em uma área totalmente degradada, recupera essa área e aguarda o momento certo para vendá-la e arrendá-la”, afirma. 
Dados do Ministério do Meio Ambiente revelam que no sudoeste do Estado de Goiás, onde está Rio Verde, a vegetação foi quase toda substituída por lavoura e, principalmente, por soja. Entre 1975 a 2005, segundo o Ministério, o cerrado denso foi reduzido em contrapartida a área agrícola cresceu 332% e a de pastagem cresceu 1060%. “Situação que está se revertendo. A atividade pecuária está retraindo-se em áreas, com o gado confinado migrando para outros municípios vizinhos. Os produtores estão de olho em áreas para o plantio de soja e milho”, aponta Faedo.

Mesmo assim, a pecuária de corte exerce uma importante contribuição para a economia do município. Rio Verde possui o terceiro maior rebanho de Goiás, com aproximadamente 400 mil animais, sendo 44 mil cabeças voltadas para a pecuária de leite. Praticamente, toda produção de 50 milhões de litros/ano é comercializada na região e no mercado nacional, pois a cidade conta com três grandes laticínios e outros de menor porte. A cidade destaca-se ainda com um dos principais produtores de aves e suínos de Goiás. Boa parte dessa matéria prima é voltada para o abastecimento de um dos maiores complexos de produção de alimentos da América Latina (BRFoods), instalado na cidade. Com oito mil funcionários diretos, abate aproximadamente 500 mil aves e 4.700 suínos por dia e com 72 integrados.

Além da multinacional, outras empresas atuantes em diversos setores da cadeia produtiva, apostaram no projeto de desenvolvimento da cidade e hoje compõem o cenário de desenvolvimento socioeconômico de Rio Verde. Dentre elas, destacam-se: Cargill, Perdigão, Grupo Orsa, Brasilata, Kowalski, Caramuru, Rinco, Videplast, Siol, Bunge, ADM, Grupo Cereal, Friboi, dentre outras. “Vim atrás de condições melhores de vida. Não poderia ter feito uma escolha melhor”, finaliza Faedo.

Retorno às origens
Além da vocação agrícola, a cidade também promove uma das maiores exposições agropecuária do Estado de Goiás, a Expo Rio Verde. Todos os anos, novidades tecnológicas voltadas ao homem do campo, tradições regionais (música e culinária), bovinos de elite (corte e leite), shows, desfile de cavaleiros acontecem em Rio Verde. A cidade também é coroada por ter o título de melhor Rodeio em Touros do Brasil. Segundo o organizador do evento Lauro Dias, Rio Verde é referência nacional comprovada pelas diversas premiações como o troféu Arena de Ouro. Desde o ano de 2001 até agora, Rio Verde faturou doze troféus, sendo oito de melhor rodeio em touros, dois de melhor diretor e um de melhor público, afirma.

O rodeio, que chega atrair em um único dia 25 mil pagantes, começou nos anos de 1980, em um pequeno espaço reservado para a montaria em cavalos e burros. Até hoje o local ainda é sede do evento, em tamanhos bem maiores.

Tecnologia e Negócios
Outra atração em Rio Verde é a Tecnoshow Comigo. A feira é uma grande vitrine para mostrar o que há de melhor em tecnologia voltada ao produtor rural. Máquinas e equipamentos agropecuários, palestras técnicas e econômicas, educação ambiental são alguns atrativos. A Feira de Tecnologia Rural do Centro-Oeste Brasileiro recebe anualmente 70 mil visitantes e movimenta R$ 500 milhões em negócios.


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