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MILHO - Virou peixe
rev 173 - julho 2012

Mas pode virar frango, suíno ou boi. Cereal é o mais utilizado na criação.

Não se come tanto milho ou soja na dieta diária do brasileiro, por exemplo. Mas as carnes, como o peixe, o frango, o porco e o boi, sim. Por isso, uma cadeia de produção bem crescente na lavoura do País supre as necessidades das indústrias de ração, que posteriormente leva o produto beneficiado a pecuaristas que almejam resultados na engorda dos animais para ofertá-los ao mercado.

O milho é disparado o item de maior uso no processo de elaboração da ração. De acordo com o levantamento do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) as estimativas para este ano são da ordem de um consumo de 37.424.181 toneladas (t) – crescimento de 2,03% sobre o volume consumido no ano passado. A avicultura de corte é a maior consumidora de milho com 52,31%, previsto para este ano – a categoria também é a campeã no quesito ração no País, com cerca de consumo de 48% do total produzido em 2011 pela indústria. Os peixes – mercado que vive muito em influência da sazonalidade em função de períodos religiosos, como a quaresma – corresponderam no ano passado um consumo de 1% do montante de rações produzidas (dado que também estão incluídas as demandas de todas as espécies aquáticas).

Plantação de ouro

Este ano, a lavoura de milho não tem experimentado os mesmos preços praticados em 2011, mas continuam em patamares satisfatórios. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), através do 10º levantamento da temporada 2011/2012 de grãos, divulgado no início de julho, a safra do cereal deve chegar a 69,48 milhões de t. A pesquisa indicou um crescimento de 60,9% sobre a segunda safra de milho, o equivalente a 13,08 milhões de t sobre a última safra, alcançando 34,57 milhões. Da totalidade das duas safras do cereal, o crescimento estimado foi de 21,03%. O destaque da produção se deveu às condições favoráveis da cultura nas áreas de maior produção. Em termos de área, o milho correspondeu a um total de 15,1 milhões de hectares, o que pode significar um crescimento de 9,45% sobre a área cultivada na safra 2010/2011.

É justamente desse potencial que saem os carregamentos para suprir as necessidades das indústrias de ração. Na unidade de Descalvado (SP) da Evialis, empresa que está presente no mercado de nutrição animal a 70 anos no País, detentora da marca Presence, o milho que chega lá tem de atender todas as exigências nutricionais e de segurança de alimento, descartando assim o risco de contaminação. A planta de Descalvado é uma das 12 fábricas do grupo espalhadas no País.

Em termos nutricionais, o milho é considerado um alimento energético para as dietas humana e animal, devido à sua composição predominantemente de carboidratos (amido) e lipídeos (óleo). De acordo com a publicação “Aspectos Físicos, Químicos e Tecnológicos do Grão de Milho”, da pesquisadora Maria Cristina Dias Paes, da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), a proteína presente nesse cereal, embora em quantidade significante, possui qualidade inferior a de outras fontes vegetais e animais, exceto a proteína do milho especial de alta qualidade proteica ou QPM (quality protein maize), resultado de melhoramento genético a partir do mutante opaco-2.

Formulação

A interação entre a área da pesquisa de alimentos com a de formulação e a de mercado conduz os passos para o desenvolvimento dos trabalhos dentro da fábrica. A Revista Rural, a convite da Evialis, pôde conhecer de perto o sistema de produção. Durante a visita, o que se percebe é a preocupação com as análises, passo a passo, desde o recebimento da matéria prima até o empacotamento da ração. Todo esse processo evidencia uma produção na qual o objetivo é de assegurar que o conteúdo nutricional em cada embalagem está correto e que o alimento promoverá as melhorias em termos de desempenho durante a engorda do animal.

A linha de peixes tem sido uma das vertentes dos trabalhos da empresa. De acordo com, Soraia Marques Putrino, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Evialis, o objetivo é traduzir todos os estudos na produção de animal que atenda às necessidades do cliente final, ou seja, o consumidor, seja no padrão de coloração da carne como na qualidade sensorial dessa fonte de proteína animal. “Nesse sentido, a pesquisa procura um equilíbrio entre as linhas principais do negócio, que são a melhoria do desempenho durante a criação do peixe, a busca por baixar custos de produção, o que irá refletir numa carne mais acessível ao mercado, e também o estudo de matérias-primas ou ingredientes novos que surgem no mercado”.

Um dos pontos que tem desafiado a pesquisa, especificamente no caso da piscicultura, é a redução de fósforo e nitrogênio que são liberados na água a partir dos dejetos dos animais. Esses elementos quando ficam concentrados acabam poluindo a água e prejudicando o desenvolvimento dos próprios peixes. “Desse princípio parte-se a ideia de uma dieta de precisão, na qual são mantidas as médias de performance de engorda animal ao passo que a ração tenderá de ser o mais digestível possível, suprindo todas as necessidades nutricionais”.

O esquema de formulação tem três grupos básicos – os volumosos que apresentam fibra bruta igual ou superior a 18%; os concentrados, que estão inclusas as bases de energia e proteica; e os microingredientes e aditivos, entre os quais estão as vitaminas e minerais. As porcentagens desses três grupos podem variar, mediante as necessidades de cada espécie no processo de engorda. “Nessa parte de concentrados é um dos itens de maior importância”, explica Otávio Serino Castro, gerente de Produto Aquacultura da Evialis, “pois aí estão os maiores índices de proteína bruta. Quando se fala em produção de carne, refere-se às proteínas e aos aminoácidos. Entre os ingredientes de concentrado estão o milho que responde por energia e o farelo de soja por proteína”.

Além de se pensar no desempenho em si da ração, outro ponto destacado por Putrino está relacionado com o próprio bem-estar do animal em relação ao consumo do alimento destinado a ele. Se este não estiver de acordo, os índices de produção da fazenda poderão cair, até chegar ao ponto de enfraquecê-lo. Nesse sentido, além de serem preconizados todos os requisitos do produto final, também se faz necessário a produção de uma ração mais eficiente em termos de digestibilidade.

Resultados dos tanques

Da fábrica de ração agora aos tanques do sítio Estância Santa Maria, no município de Santa Cruz da Conceição (SP). Lá funciona a Piscicultura Santa Cândida a qual produz tanto alevinos como peixes ornamentais e de corte. Ao todo, são trabalhadas 20 espécies pelo ciclo completo, desde a retirada dos ovos à terminação. Entre elas, o carro-chefe é a tilápia. Para o produtor, José Ganéo Neto, o foco na alimentação tem um caráter de extrema importância para o desenvolvimento da atividade.

O produtor já teve muitas experiências com a avaliação de rações que estão dispostas no mercado. Atualmente preconiza a que garante mais qualidade ao animal. “Muitas vezes uma ração possui um preço bom, mas não contém a proteína necessária para o desenvolvimento do peixe. Então você olha para o tanque, vê que ele cresce e se desenvolve, mas na hora do manejo, quanto é preciso lidar com o ele, o animal não aguenta. Quando você pega o peixe, o olho dele branqueia e chega até morrer”, diz Ganéo Neto.

O branqueamento dos olhos está relacionado à falta de vitaminas e proteínas no animal. Isso acarreta num enfraquecimento que torna o manejo um tanto complicado em função da mortandade dos animais. Segundo o produtor, pode-se fazer um paralelo desse “branqueamento do olho” como se lidasse com uma pessoa com gripe. Só que, nesse caso, o peixe se fragiliza mais e morre. Animais vindos de outras propriedades, dependendo da ração que foram tratados, chegam a passar um mês no tanque da propriedade, para então serem manejados.

Ganéo Neto conta com 40 tanques que podem variar de comprimento – 60 metros (m) a 35 mil m. A profundidade é de 1,5 m a 1,8 m. A história na produção começou por volta de 1987, por incentivo de um especialista na criação de peixes da Universidade de São Paulo, próximo à família. Inicialmente, foram quatro tanques onde era conduzida a atividade. Hoje, Santa Cândida mantém parceria com produtores vizinhos na criação de peixes, principalmente a tilápia, que chega a uma produção anual de cerca de 100 a 150 toneladas. O total de peixes produzidos chega de 250 a 300 toneladas. De alevinos, o número chega de 5 a 6 milhões de unidades.

O ciclo da tilápia é o mais rápido entre todas as espécies e pode variar de sete a oito meses. Para cada fase são distribuídas rações distintas. Quando alevino, fase na qual os peixes chegam até cinco ou seis centímetros (cm), a quantidade tem de ser 6% do peso vivo. Na recria, os animais vão até 15 ou 20 cm e tem de receber 4% do peso vivo. Na última fase, a terminação, o cardume chegará de 25 a 30 cm, podendo variar de 700 gramas (g) a 800 g cada peixe.

A cultura é altamente favorecida em altas temperaturas, na qual a água chegue a 28°C, com pH de 6,5 a 8 – este índice se refere à acidez da água (a representação da escala, na qual uma solução neutra é igual a sete, os valores menores que sete indicam uma solução ácida e os maiores que sete indicam uma solução básica).

Com um desempenho de engorda de 1 quilo por ano, a safra de peixes chega a sustentar o mercado que tem como o período de safra a quaresma. No entanto, nessa última safra, o que se notou foi uma demanda mais do que aquecida e faltou peixe para quem queria, segundo o produtor.


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