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GENÉTICA A TODA PROVA
rev 172 - junho 2012

Douro da Maripá é o exemplo do avanço da seleção genética. Com um pouco mais de um ano, já é um potencial reprodutor. A pecuária de seleção no País inaugura ferramentas que passam a dar mais controle e confiabilidade no processo de seleção genética.

Aos 16 meses de idade, Douro de Maripá já se mostra um excelente reprodutor da raça nelore. Filho de Funcionário de Naviraí e Manah, o exemplar figura entre os melhores animais avaliados, apresentando Top 4% para Mérito Genético Total (MGT). Isso foi possível através do uso de uma ferramenta que já está sendo difundida no País – a Diferença Esperada pela Progênie Auxiliada pela Genômica (DEP-AG), ou seja, a união dos dados quantitativos já gerados pelas DEPs, já amplamente desenvolvida nos criatórios de seleção animal, aliado aos marcadores moleculares.

Essa tecnologia adiantaria em cerca de seis anos a resposta sobre o potencial reprodutivo do animal nas mais variadas características, como probabilidade de parto precoce (PPP), idade ao primeiro parto (IPP), peso aos 450 dias (P450) ou circunferência escrotal aos 365 dias (CE365).

Douro apresenta os maiores níveis para todas as características avaliadas. “Quando o animal foi apresentado na Expogenética, no ano passado, ninguém deu muita bola”, lembra Luis Otavio Pereira Lima, Diretor Operacional da Agro Maripá. “Assim que souberam os resultados que o animal obteve, todos já queriam saber onde poderia ter o sêmen dele”. O tourinho é o xodó do grupo, que além de trabalhar com o nelore, já era tradicional no melhoramento do mangalarda marchador. É justamente na Fazenda Gairova, em Juara (MT), onde o trabalho genético do nelore é desenvolvido em grande escala, numa área de 40 mil hectares (ha), dos quais 20 mil ha são de pastagens, totalizando 18.600 cabeças. O grupo também possui trabalhos com gir leiteiro e saanen.

Fidelidade ao padrão

A intensão do grupo, desde quando partiu para a seleção do nelore em 2000, era poder garantir a padronização da raça, além do melhoramento genético para as características de peso, engorda e precocidade. “Queríamos fazer o nosso gado o mais fiel possível ao gado indiano. Sabemos hoje que é possível aliar a característica racial com a produtividade”, avalia Lima. Esse potencial genético é pulverizado na região de Mato Grosso a partir de um trabalho que saem ganhando fazendas parceiras e a própria Agro Maripá. “Fazemos parte dos programas de melhoramento da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), que tem o apoio da Pfizer e do Centro Técnico de Avaliação Genética (CTAG), bem como temos o Paint, da CRV Lagoa. Agora também fazemos o nosso próprio programa de avaliação – as IntraDEPs”, diz.

Nesse último caso, a propriedade tem de se provar melhor nela mesma. Identificando os animais de ponta e disseminando esse material genético ao redor dela. Como as DEPs ganham mais força com o nascimento dos produtos, a ideia é ter uma safra constante de animais que comprovariam a genética da propriedade, ao mesmo tempo que agregariam mais valor aos reprodutores e fêmeas da fazenda. Este é o que eles denominaram de Teste de Avaliação de Touros da Agro Maripá (Tepagro). Nesse programa a fazenda seleciona 20 touros que se enquadram como na categoria de reprodutor ideal, e dissemina o sêmen desses animais ao redor da fazenda. A proposta deu certo e atualmente atende a 30 parceiros, vizinhos à propriedade. “O sêmen é disponibilizado através de uma venda, num custo mais acessível, em contrapartida, nós custeamos a avaliação genética dos animas desses parceiros. O interesse foi mais do que imediato quando os produtores souberam que até as vacas deles seriam avaliadas. ‘Ah, então agora vou poder saber qual é a vaca boa e qual é ruim’, diziam eles, ‘eu quero por causa disso’”, relata.

A força dessa ideia também está no auxílio à avaliação genética da fazenda fora de seu ambiente natural. De acordo com o diretor operacional da Maripá, o gado tem de se provar eficiente à pasto e a outras condições, por exemplo. Isso garante a maior confiabilidade e acurácia aosíndices genéticos da propriedade.

Genômica e fenotípica

A Agro Maripá é uma das mais de 300 fazendas que são atendidas pela ACNP, CTAG e Pfizer. A empresa, juntamente com estas duas entidades, anunciou em outubro do ano passado a novidade da DEP-AG aqui no País, que gera uma confiabilidade de vai de 36% a 70%. “Tudo começou no final de 2008”, conta Pablo Paiva, gerente de Vendas e Marketing da linha de Genética da unidade de Negócios Bovinos da Pfizer Saúde Animal. “Na época, fizemos uma reunião em São Paulo, capital, com produtores, centrais de inseminação e entidades e empresas ligadas à cadeia da carne para discutir o melhoramento genético. Ficou claro naquele encontro que os marcadores de DNA tinham de trabalhar bastante em paralelo com as DEPs”. Inicialmente a empresa desenvolveu o Clarifide Nelore, uma ferramenta que se caracteriza como um amplo painel de marcadores moleculares. Um banco de informações baseado em predições genéticas paras as características como reprodução, crescimento, habilidade materna e carcaça. “O primeiro painel do Clarifide foi lançado em setembro de 2009, a ferramenta é o braço da empresa na questão do uso de marcadores moleculares. Basicamente todas as características que estão descritas nessa ferramenta compõem a avaliação da ANCP”.

O próximo passo era unir então o que havia de melhor no País em termos de informações fenotípicas. Esse foi o trabalho da ANCP, através do trabalho do pesquisador e presidente da entidade, Raysildo Lôbo. Foram reunidas as propriedade com maior histórico e uma base sólida de dados. Atualmente, estima-se que as avaliações repercutem nas DEPs de cerca de 1,1 milhão de animais. Só no ano passado o programa conseguiu avaliar 12 mil.

O grande benefício da avaliação da DEP-AG incide mais em animais jovens, que ainda teriam uma longa jornada para se provarem através de seus filhos e netos. Além disso, o programa também se volta à fêmeas que possuem uma parcela equivalente ao touro no campo do melhoramento genética. “No início, muito se olhava para o melhoramento apenas do touro”, frisa Priscila Barros, gerente técnica da Área de Genética da unidade de Negócios Bovinos da Pfizer Saúde Animal. “Hoje, sabe-se que tanto o touro como a vaca contribuem igualmente para a produção de um animal de genética diferenciada. O programa, por exemplo, tem foco especial às fêmeas, pois está voltado ao melhoramento das características reprodutivas do rebanho. Foi feita uma pesquisa com criadores para descobrir quais os aspectos mais importantes deveriam ser melhorados. A maioria destacou a reprodução, e por isso a importância em se pensar na fêmea”.

Geneplus

Outra ferramenta bem utilizada pelos produtores foi desenvolvida em Campo Grande (MS), pela Embrapa Gado de Corte. Trata-se do Programa de Melhoramento de Gado de Corte (Geneplus) que se utiliza de um programa de computador que facilita o gerenciamento de informações do campo gerando relatórios em cada uma das fases de exploração da atividade. Ele possibilita a formação de um banco de dados adequado às análises genéticas para o produtor, que fornecerão os instrumentos necessários ao melhoramento genético do seu rebanho. Quem atesta a ferramenta é a Fazenda Elge, em Caseara (TO), a cerca de 250 quilômetros de Palmas.

Com uma área total de 6.200 ha, dos quais, 2.700 ha são de pastagem, a propriedade faz a seleção do nelore, com foco na linhagem Lemgruber, com 2.300 animais Puro de Origem (PO), além de provar dessa genética num rebanho comercial de dois mil cabeças. “A entrada da fazenda no Geneplus foi há cinco anos”, conta Carlos Eduardo Antunes de Oliveira, gerente geral e engenheiro agrônomo da Fazenda Elge. “A propriedade precisava estar ligada a um programa de melhoramento para saber a real evolução ou não do rebanho que criava. A necessidade de fazer parte de um programa como esse era uma ferramenta requerida para a entrada dos animais – os reprodutores – em centrais de venda de sêmen e mesmo em exposições. A escolha pela ferramenta desenvolvida pela Embrapa foi em função da própria credibilidade do órgão e pelo tradicionalismo no campo de seleção do gado”, avalia.

Diante dos resultados, as curvas dos gráficos, apresentados pela Embrapa, o rebanho tem melhorado em alguns aspectos. Com o programa, o trabalho de seleção do gado ficou mais focado. Proporcionando o melhor direcionamento dos touros certos para os acasalamentos. A escolha pela linhagem Lemgruber veio do histórico da família proprietária da fazenda há 40 anos, que testemunhou bem de perto o desenvolvimento dela no Brasil – uma que se assemelha muito ao ongole criado lá na Índia (país de origem do nelore). Naquela época a Manah detinha criações desse gado e focou muito o melhoramento através de mensuração dos dados. Teve êxitos tanto na parte reprodutiva quanto produtiva.


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