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SOJA LIVRE - Associações expandem o Programa por várias regiões do País, para oferecer novas opção aos produtores
rev 171 - maio 2012

Federal de Rondônia (Ifro), em Ariquemes, a 203 quilômetros da capital. A principal atração era as 17 cultivares (não geneticamente modificadas) ou conhecidas também como convencionais, desenvolvidas pela Embrapa, entidade que detém o maior banco genético de soja convencional do mundo. Durante o evento, os agricultores buscaram informações também sobre a safra, o mercado da soja convencional e o potencial do Estado para atender à demanda, que aposta em uma produção sustentável e economicamente viável. “Os produtores querem variedades mais produtivas e que se adaptem melhor ao clima da nossa região.

A cultura da soja em Rondônia ainda é novidade. Muitos produtores acreditam que temos um futuro promissor nessa cultura, utilizando a não transgenia”, explica o pesquisador Samuel José de Magalhães Oliveira, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Rondônia.

O objetivo do programa Soja Livre, segundo Oliveira, é oferecer aos produtores de todo o País, a possibilidade de diversificar sua produção, com o cultivo não transgênico, na medida em que tem a sua disposição variedades avaliadas pela Embrapa. De acordo com ele, o esforço para o programa entrar de vez em Rondônia também tem uma conotação ecológica. “Uma vez que o produtor cumpre o papel de conseguir uma produção maior em menor área. Além disso, recuperar áreas degradadas e diminuir a pressão sobre a floresta. Temos um ambiente favorável para a expansão da soja convencional. São quatro milhões de hectares de pasto com baixa rentabilidade passíveis de serem convertidos para a agricultura”, justifica.

Ele lembra que o programa Soja Livre chegou às cidades como Ariquemes e Porto Velho, impulsionado pelo caminho percorrido pela oleaginosa não transgênica – que sai das principais cidades mato grossenses, como Sapezal – com destino ao porto (no qual compõem o maior corredor de soja não transgênica do País), e também pela produção que se tem em Vilhena, cidade a 700 quilômetros da capital, considerada a maior produtora do grão no estado rondoniense. “Graças aos bons resultados já obtidos também pelo Estado vizinho, um dos pioneiros nesse projeto, e que hoje já se tem uma alta produtividade dos grãos convencionais por aqui”, conta Oliveira.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no ano passado, o Estado de Mato Grosso plantou 6,4 milhões de hectares de soja, com uma produção de 20,4 milhões de toneladas da safra 2010/ 2011. O destaque no ranking da produção foi soja geneticamente não modificada (com 39% da área cultivada). De acordo com o pesquisador Lineu Domit, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril, o Estado do Mato Grosso produz em média 30% de soja não transgênica. “Esse porcentual só foi alcançado graças à organização de cooperativas, que se uniram no Estado para propiciar condições, tais como as sementes convencionais para o plantio. O produtor estava cada vez mais ficando depende de uma tecnologia só”, diz. “A soja transgênica é uma tecnologia que está à disposição e tem tido muitos avanços, entretanto, a intenção é propiciar alternativa”, afirma Domit.

Atualmente, a Associação dos Produtores de Soja do Estado do Mato Grosso (Aprosoja), a Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange) e a Embrapa uniram-se para a construção de parcerias para ampliar a oferta de cultivares convencionais para o Estado de Mato Grosso e estimular a produção que atenda ao mercado de soja não geneticamente modificada. Com o apoio da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) e da Fundação Rio Verde, patrocínio da Fundação Triângulo, Fundação Cerrados, Fundação Bahia, e dos grupos Caramuru e Imcopa, eles estão trabalhando para reduzir essa dependência.

Totalmente Free

“E que fique bem claro”, segundo o coordenador do Programa Soja Livre, Clóvis Albuquerque, a intenção não é combater o uso da soja geneticamente modificada. “O objetivo é o de manter a opção de escolha do produtor, assim como acontece nos Estados Unidos, garantindo maior oferta de sementes, regulamentação do mercado e a redução da dependência de uma única tecnologia. As duas tecnologias têm de coexistir para que o mercado fique competitivo”, esclarece.

A mesma opinião é compartilhada por Ricardo Sousa, diretor-executivo da Abrange, que congrega agroindústrias processadoras, empresas de certificação e outros elos da cadeia produtiva. “Não somos contra nenhuma tecnologia. Entretanto, os produtores enxergam nos não transgênicos uma possibilidade de acesso ao mercado, competitividade em relação aos vizinhos Estados Unidos e Argentina, que também têm soja”, frisa. “Queremos que o produtor tenha condições para atender ao mercado. Para tanto, precisa ter um leque de variedades para que ele possa avaliar o custo de produção e a produtividade para decidir pelos quais cultivares que vai plantar. No mundo existem mercados e compradores de soja convencional e transgênica”, diz Sousa.

Para o coordenador do programa Soja Livre, Clóvis Albuquerque, quebrou-se também o mito de que a soja transgênica seja mais barata para o produtor. “Apesar de diminuir à necessidade de aplicações de herbicidas, o alto custo das sementes e à necessidade de pagamento de royalties, uma vez que a soja está nas mãos de uma ou duas companhias e para se utilizar o recurso, precisa-se pagar, isto deixa a soja transgênica tão cara quanto a não alterada geneticamente”, diz.

Essas dificuldades fizeram com que o produtor rural procurasse uma alternativa, uma vez que não estava mais satisfeito. “Rapidamente, levantou uma questão: atender a demanda de ofertar de sementes e o acesso ao produtor a elas”, diz. Como resultado, em Mato Grosso hoje há 25 unidades demonstrativas e 18 cultivares de soja não transgênica. Em diversas regiões do Estado foram realizados 16 dias de campo, com mais de dois mil participantes. “Esse ano, esperamos repetir o número de Dias de Campo e mostrar a potencialidade da soja convencional, que no ano passado surpreendeu a todos”, afirma o pesquisador.

Dados da Embrapa relevam que uma das metas do programa Soja Livre foi o de mostrar a competitividade das cultivares convencionais frente às variedades transgênicas, mais utilizadas em cada região do Estado. Os resultados demonstraram que todos os 18 materiais testados superaram ou tiveram níveis de produtividade semelhantes aos obtidos pelas variedades padrões.

As Vantagens

Outra opção do produtor é que a Soja Livre oferece, além de produtividade que está sendo constatada no campo, o aspecto de preço pago do mercado. “Já existe um mercado cativo para isso. A democratização da soja faz com que o valor dado a ela chega a R$ 3”, afirma o pesquisador Samuel José de Magalhães Oliveira. De acordo com Nery Ribas, gerente-técnico da Associação de Produtores de Soja e de Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), há três anos, o mercado está pagando mais pela soja convencional, o valor que chega a mais de US$ 1,50. “Precisamos garantir também competitividade à soja convencional. Por meio de garantias contratuais, para que o prêmio chegue realmente às mãos do produtor”, acrescenta Ribas.

Países como a Alemanha já deram o sinal verde e mostram cada vez mais interesses na produção de soja não transgênica brasileira. Recentemente, o ministro alemão, Helmut Brunner, assinou um convênio de cooperação com a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange) com a intenção de aumentar a exportação do produto ao país alemão. Assim como eles, os asiáticos também abocanham parte deste mercado e como resultado, oferecem mais pela soja convencional.

Além de o mercado pagar mais, há um outro fator: o custo. A Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange) fez as contas com base nos dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (IMEA), e concluiu que o custo médio do grão convencional na última safra foi de R$ 366 por hectare, desembolso 14,68% inferior aos R$ 429 por hectare do geneticamente modificado. Os sojicultores também não têm gastos com royalties (R$ 0,44 por quilo de semente) pagos à empresa que dispõe a tecnologia. Nos Estados Unidos, o custo é de U$ 1,30. Entretanto, lembra Ricardo Sousa, o preço pago aos produtores vai de acordo com a demanda de oferta e procura. “Na prática, se aumenta muito o preço da soja não transgênica, naturalmente, o consumidor opta por alternativas, mais baratas. E isso pode refletir no valor pago ao mercado. Já países como Japão e a Coreia estão dispostos a pagarem a mais pelo produto convencional”, diz Sousa.

Em contrapartida

Pesquisadores fazem um alerta: não basta semear lavouras tradicionais para garantir a venda diferenciada. “O produtor precisa zelar desde a hora que planta até a colheita e o armazenamento”, diz o pesquisador Lineu Domit. O processo inclui a limpeza de peças específicas de plantadeiras, colheitadeiras, estocagem de grãos em galpão seguro e acima de tudo colher sempre primeiro as lavouras tradicionais e depois as geneticamente modificadas, que devem ser separadas por uma barreira formada por vegetação ou talhões de 20 metros. É comum que o mesmo agricultor realize os dois tipos de cultivo em sua propriedade. “A soja convencional tem um tratamento diferenciado. É necessário conhecer e acompanhar de perto a lavoura”, diz. “O produtor infelizmente acostumou-se à comodidade de um produto transgênico. Porém, é preciso estar atento ao convencional”, afirma.

Lado a lado na balança

O Brasil é o país onde o cultivo de lavouras transgênicas mais avança no mundo, conforme relatório anual do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (Isaaa, na sigla em inglês). Em 2010 foram plantados 25,4 milhões de hectares de soja, milho e algodão, aumento de 19% (quatro milhões de hectares), em relação a 2009. Segundo estudo do Isaaa, no mundo foram plantados, em 2010, 148 milhões de hectares de alimentos transgênicos, um crescimento de 10% em relação ao ano anterior (134 milhões de hectares). O Brasil se consolidou na segunda posição do ranking dos países que mais plantam alimentos transgênicos, atrás apenas do Estados Unidos, que em 2010 plantou 66,8 milhões de hectares. Completam a lista dos cinco países que mais produziram transgênicos em 2010 a Argentina (22,9 milhões de ha), a Índia (9,4 milhões de ha) e o Canadá (8,8 milhões de ha).

Ao mesmo tempo em que cresce a plantação transgênica, também aumenta na mesma proporção os não transgênicos. “Isso tem uma explicação muito simples: novidade”, diz. De acordo com o diretor-executivo da Abrange, Ricardo Sousa, o produtor gosta de buscar novos produtos. “A cada ano novas sementes de transgênicos são lançados, mostrando ser altamente produtivos. E isso que ele quer, a novidade”. Outra condição imposta ao produtor é a falta de sementes não transgênicas no mercado. “Por isso, ele acaba escolhendo o plantio transgênico. Neste caso, é importante a nossa divulgação”, conta.

Segundo dados da entidade, há outro fator que compromete seriamente os a questão da soja não transgênica. “Os dados são compilados erroneamente. Metade da oleaginosa hoje não é transgênica. Porém, ao longo do caminho elas são misturadas”, diz. Pelos padrões internacionais, a contaminação de um lote não pode passar de 0,1%. Se houver um grão de milho ou soja geneticamente modificada em mil convencionais, a carga deixa de ser considerada não transgênica, comprometendo a venda. “Além disso, hoje o mercado vende a idéia de que plantar o grão convencional é coisa do passado. Muitas vezes, o produtor se acha atrasado por não optar pelo transgênico. Outra concepção é a questão da praticidade, do manejo rápido”, diz Sousa.


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