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PRAGAS DA SOJA - Tome cuidado para não comerem seu lucro!
rev 170 -abril 2012

Lentamente, a paisagem que se vê pelos campos brasileiros, de agora em diante, é o crescimento da safrinha. Os grãos de soja já foram colhidos. Em algumas regiões, sai a soja, entra o milho, o trigo e o algodão. Daqui a dois meses, em todo o território nacional, começa também o vazio sanitário de uma das maiores culturas brasileiras. Na temporada passada, o Brasil, segundo produtor global da oleaginosa, colheu um recorde de 75,3 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A soja se transformou no “grão de ouro” do produtor e a expansão dessa cultura nas próximas safras requer cuidados, que vai desde o vazio sanitário (período de ausência total de plantas vivas de soja) até a próxima colheita. De acordo com os técnicos da Embrapa Soja de Londrina, localizada no Paraná, que hoje é uma referência mundial em pesquisa da oleaginosa, a cultura está sujeita, durante todo o seu ciclo, ao ataque de diferentes espécies de insetos e pragas. Além de problemas causados por parasitas, doenças e plantas daninhas que em condições ambientais e favoráveis, podem atingir populações capazes de causar perdas significativas. “Muito embora, em especial, as pragas tenham suas populações reduzidas por predadores e doenças, todo o cuidado é pouco”, alerta o pesquisador Adeney de Freitas Bueno, da Embrapa Soja, que ao lado de mais quatro pesquisadores concentram estudos na questão fitossanitária do grão.

Em geral, apontam os pesquisadores, quando o assunto são as pragas, o ataque se dá bem no início da plantação, com as denominadas “pragas iniciais”, que são aquelas conhecidas por ocorrerem nos primeiros estágios de desenvolvimento da soja, ou seja, até 30 dias depois da semeadura. O restante é considerado de valor secundário para a cultura. No entanto, ressalta o pesquisador que é preciso antever qualquer imprevisto. “Os problemas com as pragas e insetos iniciais começam com a presença deles, que podem estar presentes na cultura de cobertura do solo que será dessecada”, diz Bueno.

Conforme dados do livreto da Embrapa, entre as principais pragas destacam-se: as principais; Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), Percevejo Marrom (Euschistus heros), Percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii), Percevejo verde (Nezara viridula); regionalmente importantes, Tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), Percevejos-castanhos-da-raiz (Scaptocoris spp.), Corós (Phyllophaga cuyabana), as secundárias; Broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus), Bicudinho (Chalcodermus sp.), Falsa-medideira (Pseudoplusia includens), Vaquinha (Maecolaspis calcarifera e Megascelis sp. e Ceratoma sp.), Barriga verde (Dichelops melacanthus), Broca-das-axilas (Crocidosema aporema), Patriota (Diabrotica speciosa), Torrãozinho (Aracanthus mourei), Mosca Branca (Bemisia tabaci), Tripes, Piolho-de-cobra, caracóis e lesmas, Cochonillas-da-raiz (Dysmicoccus sp. e Pseudococcus sp.), Lagarta-enroladeira (Omiodes indicata) e ácaros. 

E quando elas atacam

As pragas podem atacar logo após a emergência da cultura, por exemplo, os percevejos-castanho-da-raiz (Scaptocoris spp.), os córos (Phyllophaga cuyabana) e a broca do colo (Elasmopalpus lignosellus) que podem atacar as plântulas. Posteriormente, a cultura pode ser atacada pelos principais insetos-pragas, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), que atacam durante a fase vegetativa e, em alguns casos, até a floração.

Dados da Embrapa Soja apontam que no início da fase reprodutiva surgem os percevejos verde e pequenos e o marrom (Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros), que causam danos desde a formação das vagens, até o final do desenvolvimento das sementes. A soja é também suscetível ao ataque de outras espécies de insetos, em geral menos importantes, como vaquinha, mosca branca (Bemisia tabaci).

Entretanto, os pesquisadores fazem um alerta: a menor população de pragas pode causar dano econômico à cultura. Por isso, o produtor precisa ficar atento no caso das lagartas ou desfolhares em geral, é necessário o controle quando houver 20 lagartas grandes por metro de linha ou quando a desfolha da planta atingir 30% no período vegetativo ou 15% no período reprodutivo da soja. Os percevejos exigem o controle quando houver dois insetos por metro de linha para lavouras de grãos. “A aplicação exagerada de inseticidas, sem critério técnico, no início do desenvolvimento da soja, afeta negativamente as populações dos inimigos naturais da cultura”, diz. “Os agricultores precisam reaprender que não é necessário utilizar os produtos de forma abusiva no primeiro sinal de aparecimento de insetos-pragas. Práticas erradas, disseminadas no meio rural, descaso, acabam causando um desequilíbrio ecológico que favorece a explosão de pragas”, explica.

Ele lembra que a consequencia, principalmente de práticas erradas e descaso, gerou perdas significativas na safra passada. A lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), sempre caracterizada como praga secundária na cultura da soja, passou a ser considerada praga principal nas últimas safras. “O produtor baixou a guarda”, diz Bueno. De acordo com o pesquisador, como a lagarta não aparecia com frequencia, devido aos fatores climáticos, que a impediu o seu desenvolvimento, e sem a aplicação ou aplicações atrasadas de inseticidas, ela voltou.

Combate mortal

Segundo Bueno, para evitar esse problema e reeducar o produtor, a Embrapa possui o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que nada mais é um site que reúne um conjunto de técnicas de manejo – principalmente para lagartas e percevejo. “Nos anos 80, o MIP chegou a diminuir em até 50% o uso de agrotóxicos nas plantações de soja sem comprometer a produtividade. Mas atualmente, a tecnologia vem caindo em desuso e é necessário sensibilizar os agricultores”, pontua. “Além disso, adotando o MIP, o produtor evita aplicações desnecessárias e ajuda, principalmente, na redução do custo de produção”, diz Bueno.

Entre uma das medidas publicadas no MIP, a Embrapa Soja recomenda para o controle das principais pragas da soja, a utilização o manejo. Trata-se de uma tecnologia que consiste, basicamente, de inspeções regulares à lavoura. Nos casos específicos de lagartas desfolhadoras e percevejos, as amostragens devem ser realizadas com pano-de-batida, preferencialmente de cor branca, preso em duas varas, com um metro de comprimento. Esse passo deve ser estendido entre duas fileiras de soja. As plantas da área compreendida pelo pano devem ser sacudidas vigorosamente sobre ele, havendo, assim, a queda das pragas que deverão ser contadas. Este procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura, considerando-se como resultado, a média de todos os pontos amostrados. Já no caso de lavouras com espaçamento reduzido entre as linhas, convém usar o pano batendo apenas as plantas de uma fileira.

O controle das lagartas e percevejos por inseticida só é recomendado após ser atingido determinado nível de população de insetos ou de danos nas folhas. Para percevejos, o nível de infestação para o início do controle químico é de dois percevejos com 0,5 centímetros ou mais de comprimento, por metro linear de plantas. Já para a broca do colo só é controlada se causar 25% ou mais de redução no “stand” da cultura.

De olho no inimigo

Nomeamos algumas dos principais insetos-pragas

Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis): a lagarta mede aproximadamente três centímetros de comprimento quando bem desenvolvida, e é reconhecida por listras brancas longitudinais no dorso. Sua coloração normalmente verde pode variar, chegando em circunstâncias especiais a ser quase negra.

Lagarta falsa medideira (Pseudoplusia includens): a lagarta falsa medideira difere da lagarta da soja por medir palmo ao caminhar e por listras longitudinais do dorso mais largas.

Percevejos-castanho-da-raiz (Scaptocoris spp.): há registros da ocorrência de duas espécies da família Cydnidae que sugam a raiz de soja em várias regiões do Brasil. A ocorrência dessa praga era esporádica, se tornando, a partir da década de 1990, um problema em soja em semeadura direta ou convencional mais frequente. É uma praga de hábitos subterrâneos e tanto as ninfas como os adultos atacam as raízes das plantas.

O percevejo marrom (Euschistus heros), o percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii), e o percevejo verde (Nezara viridula): Este inseto prefere as regiões mais quentes, como o Oeste do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e outros estados do centro do Brasil. Ele pode ser o percevejo mais comum, normalmente associado com o percevejo pequeno. O adulto é um percevejo de cor marrom escura, tendo um par de espinhos que saem do lado do corpo. No meio das costas aparece uma pequena meia-lua, cor de palha. Em certas situações, o controle químico pode ser efetuado apenas nas bordas da lavoura, sem necessidade de aplicação de inseticida na totalidade da área. Uma alternativa econômica é a mistura de sal de cozinha (cloreto de sódio) com a metade da dose de qualquer um dos inseticidas indicados.

Tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus): É um gorgulho (besouro) de aproximadamente oito milímetros (mm) de comprimento, de cor preta com listras amarelas no dorso da cabeça e nas asas. Os danos são causados tanto pelos adultos, que raspam o caule e desfiam os tecidos, como pelas larvas, brocando e provocando o surgimento de galha. O controle químico desse inseto não tem sido eficiente. As larvas ficam protegidas no interior das galhas e os adultos, além de emergirem do solo por um longo período, ficam a maior parte do tempo sob a folhagem da soja, nas partes baixas da planta. Algumas práticas culturais podem ser utilizadas para, gradualmente, diminuir a ocorrência da praga.

Corós: O complexo de corós (Phyllophaga cuyabana e Liogenys spp.) é um grupo de insetos que vem causando danos à soja, especialmente no Paraná, em Goiás e Mato Grosso do Sul. Os sintomas de ataque vão desde amarelecimento das folhas e redução do crescimento até morte das plantas.

O manejo de corós deve se basear em um conjunto de medidas que possam permitir a convivência da cultura com o inseto. O cultivo de milho ou outra cultura em safrinha nos talhões infestados pela praga deve ser evitado, pois a prática aumentará a população na safra seguinte.

Broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus): a pequena lagarta de aproximadamente dois centímetros de comprimento, penetra no caule das plantas novas, na altura do colo, e nele cava uma galeria. É de cor branca esverdeada, marrom ou vinho. Tem cabeça pequena de cor marrom escura e apresenta segmentos bem distintos ao longo de todo corpo. Molestada, reage violentamente.

Fonte: Embrapa Soja


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