"Em
dois anos, já foi possível perceber o aumento
de 15% de produtividade em soja, no mínimo", atesta
o produtor. "Através do uso dessa tecnologia, tivemos
a incrível surpresa de registrar uma produtividade astronômica
na safra 2010/2011. Numa área de 169 hectares (ha), houve
um rendimento médio de 74 sacas por hectare (sc/ha).
Jamais chegamos a colher isso em áreas grandes".
Atualmente, o grupo possui uma propriedade em Cascavel de 423,12
ha de plantio com 74,68 ha de mata nativa e recomposta, e outra
no município vizinho, São Pedro do Iguaçú,
com 213 ha de área cultivada e 50,8 ha de mata. São
fortes na cultura da soja e milho safrinha - o milho verão
foi iniciado na safra 2010/2011, que garantiu um rendimento
de 174 sc/ha, e faz parte do programa de rotação
de culturas pelas áreas de cultivo.
Em termos dos ganhos, os produtores não têm do
que reclamar. O rendimento das safras tem sido satisfatório
o que serviu de princípio para a que investimentos fossem
feitos para alcançar mais índices altos de produtividade.
"Para se ter uma ideia, não utilizamos crédito
nenhum para financiar nossa lavoura. Sempre reservamos recursos
para a próxima safra e isso tem sido o princípio
para os nossos negócios", diz Taylor.
Todo esse trabalho mostra como a gestão familiar pode
realmente alavancar os resultados de uma propriedade. Desde
os conhecimentos mais simples às novas tecnologias de
georreferenciamento e biotecnologia - tudo, de uma forma ou
de outra, acaba sendo absorvido e integrado à realidade
da propriedade da família Marostica.
Agricultura de precisão
Taylor relembrou de quando saía com o pai para verificar
o estado da lavoura na época em que ainda era menino.
O trabalho era andar pelos talhões e perceber as minúcias
do comportamento das plantas, e os estágios de desenvolvimento
da plantação. Além disso, aí era
o momento para saber que tipo de tratamento ou manejo que seriam
necessários.
De lá pra cá, o advento da tecnologia trouxe muitas
facilidades e menor esforço - agora o estágio
do negócio está em consertar as falhas onde elas
realmente estão. Abriu-se, aí, a necessidade para
a adoção da agricultura de precisão. A
questão da adubação foi o início
para atingir os melhores índices em produtividade.
"Nós temos feito testes antes de aplicar na propriedade
como um todo", ressalta Marostica. "Fizemos um teste
com correção de solo numa determinada área
com 2.479 quilos de gesso por hectare (kg/ha). Outros testes
com 1.239 kg/ha em outra faixa de área. Depois vamos
mensurar isso. Na área de milho de verão, por
exemplo, foi feito o gesso também e toda a correção
de cloreto de potássio, fósforo, calcário
e enxofre. O gesso, agora, está em evidência, pois
melhora o aprofundamento de raiz, para melhor aproveitamento
de nutrientes", destaca o produtor.
O resultado, com isso, foi a melhora visual da lavoura. Taylor
conta que era comum haver "manchas" ao longo da plantação
do cereal - ou as marcas deixadas pelas plantas menos produtivas.
Este ano, o agricultor afirma que, mesmo com a estiagem registrada
durante o amadurecimento do grão, a mancha desapareceu,
tornando assim mais homogênea a produção.
"Já estamos no terceiro ano com o uso da agricultura
de precisão, e no final do processo, sobrou dinheiro.
Isso ainda no primeiro ano, pois a despesa que tive com a adoção
dessa tecnologia, pude economizar com investimentos na própria
área em termos de adubação. Tinha faixas
do terreno que já estavam saturadas de fósforo,
por exemplo. Este, o mais barato atualmente, gira em torno de
R$ 800 a tonelada, com concentração de 20%. Então,
ao invés de por 700 kg em toda área, você
põe 200 kg numa faixa, 800 kg em outra e zero em outras",
estima Taylor. Essa administração mais precisa
do adubo foi fundamental para ir, aos poucos, salvando os recursos
de investimento da condução da lavoura.
Basicamente o produtor conta com a assessoria de uma empresa
que faz o mapeamento das áreas e faz as análises
de solo para identificação dos elementos que estão
nela. Em geral são coletadas amostras a cada 2,5 ha.
No entanto, isso pode variar conforme as imagens obtidas por
satélite, nas quais é possível perceber
as falhas da lavoura. Nessas áreas há maior concentração
de amostragens, o que gera maior informação sobre
a deficiência dos minerais necessários para o desenvolvimento
das culturas.
Programa de adubação
Para conduzir as lavouras de soja, que ocupa cerca de 75% da
área total cultivada atualmente e de milho verão,
com 25%, o produtor, apoiado nas informações da
agricultura de precisão, elaborou o seguinte planejamento
de adução - para a soja de verão, é
feito 300 kg de super simples (SSP) mais 130 kg de cloreto de
potássio por hectare. "Mas estas quantidades não
são uma regra, podem aumentar ou diminuir conforme a
variedade ou sucessão de culturas", pondera Marostica.
No caso do milho de verão é estabelecido o incremento
de 400 kg/ha do trio nitrogênio, fósforo e potássio
(NPK) na proporção de 12%, 15% e 15% (ou 12-15-15),
respectivamente, além de uma cobertura com 200 kg/ha
de ureia. Já para o milho safrinha, para plantios até
20 de fevereiro, são usados de 250 a 300 kg/ha de NPK
12-15-15, e, após esta data, o programa de adubação
é diminuído progressivamente conforme o plantio
aproxima-se de março. "É importante salientar
que normalmente não plantamos milho em março aqui
na região, mas este ano estamos atrasados devido a chuva
na colheita do milho verão e soja, por isso teremos que
plantar dentro do mês de março, que é de
alto risco pelas possíveis geadas", esclarece o
produtor.
Os custos com esse programa, pelo que se prova ao longo dos
anos, têm sido bem administrado, e com isso o produtor
pôde ver o incremento no final, com a colheita dos grãos.
A tonelada de calcário (branco dolomítico), por
exemplo, posta na região, fica em R$ 80 a R$ 85, na compra
direta. Já o calcário preto (calcítico),
em torno R$ 100 a tonelada. O gesso gira em R$ 120 a tonelada.
A opção ao milho de verão veio também
agregar mais opções de rendimento no final das
contas, além de agregar força ao solo e ao manejo
de pragas. "Há casos que, por exemplo, posso fazer
o milho verão, e se tirá-lo mais cedo, posso até
plantar a soja e tirá-la antes mesmo do vazio sanitário.
Só que este ano eu não vou poderei fazer isso,
em função do atraso que tive com o milho",
diz Taylor.
Ambiente e clima
Em meio à busca constante por produtividade, o tema ambiental
não foi deixado de lado e, atualmente, é uma das
metas da família para daqui a dois a três anos
estar em dia com equilíbrio ambiental. De acordo com
Taylor, ainda há um déficit de 10 ha de mata,
mas no ritmo de recomposição que grupo tem trabalhado,
é fato que dentro desse período, toda a área
de reserva esteja pronta e devidamente averbada. "Como
exemplo, podemos citar que de 2009 para cá, já
aumentamos em aproximadamente 27 ha a área de mata",
calcula.
Quanto ao clima, podem-se perceber dois aspectos - tem ajudado
no quesito controle fitossanitário e prejudicado no rendimento
da lavoura. A queixa, neste último caso, não é
pela falta de chuva, mas pelo excesso de calor que a região
tem experimentado de uns anos pra cá. Há dias
que chegam a registrar o pico de 36°C de temperatura - dois
ou três dias seguidos. "Este ano até nem se
compara com a safra de 2008/2009, na qual a quebra foi maior,
pois tínhamos mais variedades superprecoces. Tivemos
problemas com variedades que sofreram um pouco com a seca, mas
aí o sol terminou de matar a planta", lembra Marostica.
Já no quesito fitossanidade, é justamente o mesmo
clima que tem permitido o controle ideal com a ferrugem, e o
produtor garante - são mínimos os prejuízos
com a doença, quase imperceptíveis. Tudo isso,
graças às boas condições para aplicação
de defensivos nos momentos adequados.
Quanto às incidências de resistência de plantas
daninhas, Taylor também tem conseguido uma eficiência
satisfatória nas espécies que vem dando dor de
cabeça como a buva e o capim amargoso. "A buva aqui
para nós é fácil de controlar. É
só você tirar o milho e plantar aveia, ou na área
de soja tardia, tira a soja e espera em meados de abril para
entrar com a aveia em alta população. Você
entra com aveia e um herbicida simples e barato, numa aplicação
se elimina a buva da tua área. Se tira o milho safrinha
e entra com aveia. Já o amargoso resistente, tivemos
de controlá-lo pelo método físico, com
enxada, trator, ou arrancando mesmo. Conseguimos eliminar essa
planta daninha tanto aqui na propriedade de Cascavel como na
de São Pedro do Iguaçu".
Já em relação ao azevém, o picão
e a corda-de-viola, o trabalho tem sido mais cauteloso, com
cuidados especiais a partir de misturas de ingredientes ativos
e trabalhos com cobertura de solo. No entanto, no geral, as
invasoras não tem dado tanto trabalho. "Nessas últimas
safras, temos experimentado condições favoráveis
para realização das aplicações no
tempo certo", afirma.
Gestão de excelência
A busca de resultados é o que tem movido a família
paranaense em dinamizar o processo da lavoura e garantir os
investimentos necessários para isso. O que pode explicar
essa vocação pela profissionalização
da agricultura familiar é a própria especialização
desses agricultores no negócio deles e a constante atualização
em termos de novas tecnologias, cultivares, produtos, insumos
e maquinário. O sonho desses cinco integrantes familiares
era ter uma colheitadeira nova e de melhor capacidade por hora
trabalhada - isso foi possível. Recentemente até
uma potente plantadeira foi adquirida. Aos poucos, o negócio
familiar ganhou status equiparado a de grandes empreendimentos
agrícolas no País. Sem dívidas, com metas
e planos para o futuro.
"Isso é basicamente a nossa realidade, é
o meio onde vivemos e aprendemos a gostar e cuidar. Outra coisa
que mantém a gente aqui é a qualidade de vida.
Antigamente, era mais difícil para se plantar uma lavoura.
Eram necessários de três a quatro carretas de adubo,
e consequentemente mais trabalho, pois o fertilizante tinha
de ser descarregado, do caminhão para o chão,
e aí levado, do chão para a plantadeira. Hoje
é diferente, as atividades se tornaram mais fáceis
do uso da tecnologia".
O círculo de amizades pela região também
fizeram a diferença, pois toda a novidade que chegava
era comentada e compartilhada. A dinâmica desse processo
de transferência de tecnologia cresceu ainda mais em 2006
com a criação do grupo de empreendedores rurais,
o Agrolíder, do Sindicato Rural de Produtores Rurais
de Toledo - associação a qual Taylor participa,
e é que vizinha à Cascavel. Regularmente se encontram
de 15 a 20 pessoas, no entanto, ao todo são cerca de
30 integrantes o grupo, que não só é formado
por agricultores, mas também por pecuaristas de leite,
suinocultores, comerciantes entre outros interessados.
"São feitas reuniões, visitas técnicas
à Embrapa, aos portos de Santos e de Paranaguá,
às fábricas de fertilizantes", lista o sojicultor
paranaense. "Procuramos fazer grupos de compra, para aquisição
de maior volume e, assim, barateamos o produto no final das
contas. Trocamos informações sobre tratamento
de sementes, sobre as variedades plantadas - as melhores e as
piores, quais os problemas com a estiagem, entre outras coisas".
O ponto forte é justamente a qualidade das informações
recebidas pelo grupo - e elas veem de todos os lados e sempre
são bem absorvidas. O Agrolíder esteve até
na Argentina numa visita às instalações
do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta)
- o órgão desempenharia o papel da Embrapa naquele
país. "Às vezes, tuas férias é
o momento para fazer essas viagens técnicas. Deixar a
praia de lado e conhecer algum órgão ou instituto
que ofereça novidades para a produção no
campo", avalia. |