A
programação da entidade de pesquisa começou
em Sapezal, foi para Campo Novo do Parecis, depois seguiu
para Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Primavera do
Leste, Campo Verde, Rondonópolis, Querência e,
por fim, terminará em Canarana. Ao todo, os dez encontros
devem reunir cerca de 3,5 mil pessoas, entre produtores rurais,
técnicos agropecuários e estudantes. "Todo
o evento foi planejado de acordo com a demanda dos produtores
rurais", destaca Fabiano Siqueri, gestor de Marketing
e Relacionamento e pesquisador da Fundação MT.
"Nessa época de colheita da safra atual já
é o momento de pensar na próxima. Para tanto,
os produtores precisam de informações que o
ajudem a reduzir custos e aumentar a produtividade de sua
lavoura".
Foi, justamente em Campo Novo do Parecis, que a Revista Rural
pôde acompanhar o dia de campo e as novidades que podem
influenciar os produtores para as próximas safras.
O destaque do evento foi a apresentação de um
estudo que está sendo conduzido há três
anos pela instituição através do Programa
de Monitoramento e Adubação (PMA). O trabalho
intitulado "Manejo da adubação em sistemas
de produção de alta intensidade" iniciou
na safra 2008/2009 com a condução de oito sistemas
distintos e a influência que cada qual teve sobre os
ganhos em produtividade, melhorias com o solo e a renda proporcionada.
No entanto, apesar do estudo já ter atravessado três
safras, os dados ainda são considerados preliminares,
pois os resultados devem se tornar mais aparentes em longo
prazo e ainda faltam alguns estudos de mensuração
de determinados aspectos que poderão respaldar ainda
mais a pesquisa. "É importante destacar que não
se pode basear somente nesses dados para dizer que houve ganho
de produtividade em função de um manejo a outro",
pondera o pesquisador da Fundação MT, Eros Francisco,
"pois há também reflexos do próprio
clima e do tratamento fitossanitário da lavoura, que
também reflete no nível de produtividade que
se tem".
Detalhes da pesquisa
Numa área de cinco hectares (ha) foram instalados os
oito ensaios (cada qual com 20x30 metros). No primeiro (T1),
avaliou-se apenas a soja em plantio direto na safra de verão,
no inverno a área ficou em pousio. No segundo (T2),
foram cultivados soja no verão e milheto no inverno.
No terceiro (T3), a braquiária é a sucessora
da soja. No quarto sistema (T4), rotação de
culturas ocorreu com soja, milheto, crotalária, milho
consorciado à braquiária. Neste caso, na safra
de 2008/2009, no verão foi instalada a soja e no inverno
o milheto. No ano seguinte, ao invés de milheto, a
opção foi a crotalária. Já na
safra 2010/2011, plantou-se o milho de verão consorciado
com a braquiária.
No quinto sistema (T5), as rotações soja e crotalária,
milho e braquiária, e soja e crotalária foram
as escolhas para os três períodos, respectivamente.
No sexto ensaio (T6), foram soja e crotalária (2008/2009),
soja e consórcio de milho e braquiária (2009/2010),
e braquiária (2010/2011). No sétimo (T7), optou-se
por uma sucessão de soja e milho safrinha ao longo
dos três anos da pesquisa. Finalmente, na oitava área
de estudo (T8), novamente a relação de soja
na safra de verão e pousio no inverno, com plantio
convencional através do preparo do solo (gradear).
Em relação aos ganhos em produtividade da soja,
em sacas por hectare (sc/ha), T8 ficou em destaque com o incremento
de 28,85%, em segundo lugar T3, com alta de 28,3%. Quanto
ao milho, os maiores picos de rendimento foram amostrados
em T5 e T4 pois eram de safra de verão. Com 194 sc/ha
e 192 sc/ha, respectivamente. Em safras subsequentes do cereal
(safrinhas), como foi possível avaliar em T7, o crescimento
foi de 4,49% - sendo uma alta de 23,6%, entre 2008/2009 e
2009/2010, acompanhada de uma queda de 15,45% da temporada
2009/2010 a 2010/2011.
Em termos de ganhos, T7 e T6 despontaram na pesquisa - o primeiro,
relacionado aos ganhos de soja e milho e o segundo, somando-se
o retorno da soja e do gado engordado com a braquiária
produzida (considerando quatro unidades animal por ha e R$
90 por arroba). Já na relação de nutrientes
exportados, ou seja, a quantidade (kg/ha) de nitrogênio
(N), pentóxido de difósforo (P2O5) e óxido
de potássio (K2O) que saíram da área
junto com os grãos, T6 se mostrou mais eficiente por
ter registrada a menor soma de nutrientes exportados (856
kg/ha, sendo 515 de N, 137 de P2O5 e 204 de K2O).
Apesar de T7 ter apresentado o maior ganho ao longo das três
safras, este também requereu o maior uso dos nutrientes,
computando-se 1.398 kg/ha a menos de nutrientes na área
(866 de N, 244 de P2O5 e 288 de K2O). É justamente
dentro dessa relação de produtividade que moram
as questões acerca da condução da agricultura.
Para se produzir mais tem de se investir mais. "Nesse
sentido, é ideal que o produtor comece a olhar para
as coisas que realmente custam e qual é o benefício
levantado a partir desse custo que ele tem", explica
Francisco. "Na lavoura, há diversos comportamentos
que atuam no uso racional dos insumos aplicados. O que pode
influenciar isso pode ser um solo descompactado, a cobertura
de palhada, o bom manejo que se faz, o momento adequado de
aplicação, ou seja, é uma série
de fatores que podem contribuir e fazem a diferença
no comportamento da eficiência no uso desses nutrientes.
Se eu transformar 1 kg de N, em 500 gramas do produto - isso
indica que fui eficiente. Agora, se eu tiver de transformar
1 kg de N em 100 gramas desse produto, seria então
ineficiente, porque esse quilo me custou o mesmo valor. Isso,
se computado em longo prazo, é o que às vezes
tira um sistema de mercado".
Uma situação que se contrasta com esse nível
de exigência dos sistemas de produção
de grãos atuais, é o fato de que a formulação
dos fertilizantes não tem acompanhado o ritmo da agricultura.
De acordo com o pesquisador da Fundação MT,
grande parte dos produtos, pelo menos no Estado de Mato Grosso,
ainda hoje utilizados possuem os porcentuais de meados da
década de 1980, os quais são compostos de 0%
de nitrogênio, 18% de fósforo e 18% de potássio,
ou 0%, 20% e 20%, ou mesmo 0%, 20% e 18%.
Sistemas mais produtivos
Mesmo com essa herança histórica por parte das
formulações de fertilizantes, há alguns
produtores que se veem preocupados com questões de
manejo, cultivares mais resistentes e adaptadas que possam
garantir maior produtividade. Nesse sentido é preciso
conhecer bem a área onde se está produzindo
para traçar o melhor planejamento. O melhor sistema,
por sinal, será aquele o qual congregar o maior peso
em parâmetros físicos, biológicos e químicos.
Comparando os dados da pesquisa no quesito quantidade de nutrientes
reciclados por cobertura ao longo das três safras analisadas,
por exemplo, T3 foi o sistema que mais contribuiu com o processo
de recuperação da biota do solo, com cerca de
1.230 kg/ha, e ainda garantiu uma boa produtividade da soja
- média de 60,33 sc/ha ao longo da pesquisa.
Para garantia de bons resultados, a relação
de física, biológica e química tem de
estar equilibrada. Se assim estiver, a produtividade pode
ocorrer. Para saber se realmente esse equilíbrio existe
há alguns passos que o produtor pode fazer para partir
para um sistema de produção mais exigente. "O
ponto de partida é fazer um bom balanço de nutrientes
que estão no solo", diz Francisco. "São
poucos que mandam fazer uma análise dos grãos
para saber a quantidade de nutrientes que estão neles
e assim saber quanto está saindo da área - ou
quanto que se está exportando. Numa colheita, por exemplo,
vão se os grãos e fica a palhada e raízes
da planta. Uma boa parte dos nutrientes se foi com os grãos,
isso significa que a área passou a ficar deficitária".
O levantamento da real situação do solo seria
também outro aspecto a ser levado em conta. Apoiado
em determinadas ferramentas da agricultura de precisão
e uma metodologia adequada é possível fazer
esse diagnóstico e aí traçar o descritivo
da área mais próximo da realidade.
Outro ponto é saber como está o nível
de compactação e aeração do solo.
Isso refletirá na quantidade de ar que estaria disponível
à raiz da planta - quanto mais compacto estiver o extrato
de terra, menos ar para a raiz. No caso de uma chuva, por
exemplo, todo o ar pode ser expelido facilmente podendo deixar
o sistema radicular totalmente sem ar, e isso prejudicaria
o desenvolvimento da planta, podem levá-la até
a morte, em situações drásticas.
A questão da acidez também é relevante
ser feita, não só na camada mais explorada pelas
raízes da planta que está de zero a 15 centímetros
(cm) ou 20 cm de profundidade, mas abaixo disso também.
"O algodão, diferentemente da soja, por exemplo,
vai sentir muito, pois tem uma raiz mais profunda. Então,
ao todo são vários ajustes que tem de se fazer.
E não é algo que se faça de uma safra
a outra, mas nas demais seguintes - o que pode levar de três
a quatro anos para, assim, garantir a eficiência dos
insumos que o produtor aplica na lavoura", conclui o
pesquisador.
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