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LAVOURA - Diversificação é a palavra chave para enfrentar o mercado e para facilitar o trabalho da fazenda
rev 168 - fevereiro 2012

Mato Grosso pode ser o Estado brasileiro onde há o maior número de grandes fazendas e de megaprojetos em agricultura. Mas também que pode impulsionar a versatilidade em termos de espécies e variedades plantadas anualmente. Se o que grande parte dos pesquisadores da Embrapa preconiza é a condução de uma eficiente rotatividade nas fazendas, então certamente pode-se afirmar que muitos produtores de Campo Novo do Parecis (MT), a 392 quilômetros da capital, Cuiabá, estão no caminho de maiores ganhos em termos de produtividade e, em longo prazo, de um incremento significativo ao solo. Um exemplo desse trabalho pode ser visto na prática, na propriedade do grupo Giacomet & Cassol que conduz uma área de sete mil hectares (ha) muito bem distribuída com as culturas de soja, milho, algodão, cana, milho pipoca, girassol, sorgo, milheto, capim sudão e criação de gado de corte em ciclo completo (cria, recria e engorda).

O importante motor para essa alta rotatividade foi a vinda de uma grande indústria de processamento e beneficiamento de produtos alimentícios na região. Ela tornara-se o destino certeiro para grãos como o milho pipoca e o amendoim, por exemplo, que são muito cultivados naquele perímetro. Outro aspecto foi a união dos produtores para instalar uma usina para o beneficiamento da cana-de-açúcar em açúcar e etanol (anidro e hidratado) - os produtos atendem a demanda da região além de irem também para os Estados do Amazonas e Rondônia.

A melhor escolha

Jesur José Cassol, produtor rural, natural do Paraná, é um dos diretores do grupo que começou a produzir no Estado em 1988, inicialmente com a soja e a cana-de-açúcar. "Como eu tive muita experiência em plantio direto no Paraná, introduzimos a técnica na soja entre 1992 e 1993. Atualmente, fazemos o plantio direto para a renovação do canavial", explica.

A atividade de corte foi introduzida há dez anos, com um sistema de produção que vai da cria à terminação em áreas de confinamento que o grupo estruturou próximo à área da usina. A criação parte de um plantel de fêmeas nelore inseminadas com genética de Aberdeen Angus, ou Red Angus, com repasse das inseminações em Brangus. De acordo com Cassol, o grupo mantem piquetes de 20 ha a 25 ha, num manejo rotacionado num pasto definitivo. E no período seco eles vêm para a lavoura. Ao todo são quatro mil cabeças de gado. As principais culturas, em média, estão dividas numa área de 3.300 ha para a soja, 2.200 ha para cana, 450 há para o algodão e 1.050 ha de área de pastagem.

A opção pela maior rotatividade vem garantindo ao grupo muitos frutos tanto na parte da renda como para a boa condução das lavouras como um todo. "Temos uma área que é toda cercada onde se cultiva a soja", diz Cassol. "Em seguida vem o milho, com braquiária ou sem braquiária, e na época certa, entramos com o gado na área que vai se servir da palhada do milho, ou do capim Sudão ou mesmo do milheto. Além disso, o sorgo ou os resíduos de girassol e de pré-limpeza da armazenagem são utilizados para fazer uma ração para alimentação do gado. Isso tem funcionado muito bem", avalia.

Outro benefício promovido pelo próprio pastejo dos animais é que os dejetos dos animais servem como uma rica fonte de fertilizantes para a área que, numa próxima safra, será conduzida a soja no verão. O próprio constante movimento das culturas pelas áreas da propriedade agrega mais e mais recursos ao solo, como uma espécie de depósito, que vai garantir a melhoria dos resultados nas safras subsequentes, quer sejam elas de verão como de inverno. "A colheita da cana, por exemplo, é mecanizada. A partir dela, fica uma média de 12 a 15 toneladas de palha por ha. A média para corte da cana é de cinco anos. Renovamos o canavial em cima de um ou dois plantios de soja através do sistema de plantio direto, então você não revolve mais solo".

Programação

A cana sempre tem uma rotação com a soja com, pelo menos, dois anos da leguminosa através do plantio direto. Na área da oleaginosa, no inverno, podem entrar o milho comum, o milho pipoca, o girassol, o sorgo, o capim sudão e o milheto. A demanda por cada um desses produtos de segunda safra vão guiar o quanto de área serão estabelecidas para as respectivas culturas. O sorgo destina-se principalmente para ração para o gado. O milheto e o capim Sudão são usados para fazer feno e pastoreio no inverno.

"Conseguimos criar um sistema no qual é possível trabalhar na área por 11,5 meses. Só tem um período entre tirar o gado e dessecar a lavoura, algo em torno de 15 a 20 dias que não há nada na terra. Depois vem a soja no verão, depois o milho, e logo depois o gado estará ali em cima", ressalta Cassol.

Numa área de girassol, por exemplo, não há como introduzir nela o gado, mas a lavoura faz uma boa rotação com a soja, segundo o produtor, pois ela recicla muito nutriente. Nesse sentido, optou-se plantar soja e girassol num ano, e, na safra seguinte, milho na área onde estava o girassol. "E sempre a partir do sistema de plantio direto, que cria a sustentabilidade na agricultura, de melhoria de qualidade do solo, até de sustentabilidade econômica com várias receitas durante o ano inteiro".

Ainda dentro do planejamento da rotação, a cana, por ter de se fixar na área por cinco anos, tem de ser instalada num solo que recebeu um bom trabalho. O algodão, por ser mais exigente, tem de ser plantado em áreas mais férteis e mais estabilizadas. Na própria soja, os talhões são diversificados entre distintas variedades e ciclos. O resultado, no final de cada safra, não poderia ser outro senão médias altas em termos produção de grãos, fibra e maior qualidade da cana. A média de grãos deve girar este ano acima de 60 sacas de 60 quilos por ha e de cana, com média de 75 toneladas/ha com um nível de açúcar total recuperado (ATR) de 145 kg/t.

Produção integrada e profissional

Os exemplos na região de Campo Novo do Parecis não só dizem respeito de uma melhor condução de uma lavoura integrada, mas também pela melhor gestão do próprio negócio. Em meio a grandes empreendimentos agrícolas, propriedades familiares tem dado um passo à implantação de um sistema de gestão mais profissional para a garantia de resultados. Esse é o caso da propriedade conduzida por Alex Nobuyoshi Utida e seus outros dois irmãos.

A herança dos pais foi passada aos filhos - a fazenda seria então conduzida por um médico veterinário, um engenheiro agrônomo e um advogado, neste caso, o próprio Alex. A família já está na produção de soja há mais de 30 anos na região. Inicialmente, foi o arroz que abriu as áreas de plantio, logo em seguida veio a soja. "E cerca de dez anos pra cá, a produção de milho também entrou nas práticas da fazenda", acrescenta Utida. "Nesse caso, nós começamos bem devarinho no milho, pois era apenas para fazer a rotação, pois o cereal nem possuía o vínculo comercial".

Já a bovinocultura de corte foi iniciada há cerca de 15 anos, impulsionada pela própria aptidão que a atividade demonstrava na região. O ciclo soja-milho-gado foi o esquema produtivo que deu resultados para a produção, sobretudo quanto às receitas garantidas por essas três atividades que são conduzidas numa área de 9,1 mil ha - ou seja, seis mil ha para a soja, 2,5 mil ha para o milho e 600 ha para o sistema de cria e recria. O rendimento médio da lavoura de soja tem ficado em 55 sc/ha, ao passo que a de milho gire em torno de 80 a 90 sc/ha.

Com o estabelecimento do sistema de integração lavoura-pecuária, o grupo entendeu que seria melhor criar novos moldes ao tipo de negócio que eles queriam. Além de ser sustentável em termos produtivos, o desejo de ser eficiente em termos de gestão também era crescente. Há cerca de um ano, de acordo com Utida, os irmãos criaram a figura da pessoa jurídica da propriedade. O novo molde de negócio passa a propiciar o melhor controle do fluxo de dinheiro, investimentos e até maior facilidade na obtenção de financiamentos junto aos bancos.

"Atualmente contamos com um diretor-executivo contrato, temos planos de cargos e salários entre nossos funcionários", descreve o produtor. "Agora a fazenda é divida em três gerências (operacional, técnica e administração de finanças). Tudo isso é coordenado por esse diretor-executivo que é coordenado por um conselho de administração".

O novo esquema deve gerir melhor os resultados da propriedade e, dessa forma, aplicar mais adequadamente os recursos. Tudo isso em prol do profissionalismo da atividade agropecuária. Utida se espelha nos passos dos grandes produtores de soja e de algodão de Mato Grosso, que também optaram por esse tipo de gestão há cerca de 10 a 15 anos. O que difere e o que justamente causa ainda os maiores entraves é a questão de escala produtiva - que nem tem como se comparar a dos grandes produtores mato-grossenses.

"Nesse sentido, nós buscamos nos organizar como cooperativas, para aquisição de um armazém próprio. Então essa necessidade de se organizar, seja num condomínio ou cooperativa, para atingir determinados negócios nos quais é necessário ter grande escala. Em alguns casos, somos até tratados como megaprodutores, mas não temos toda essa estrutura que o mega pode ter", pondera. No entanto, as expectativas para o futuro são boas, segundo Utida. Destacando-se, aí, a especialidade do produtor mato-grossense nas áreas de alimentação e energia, dois pilares no qual ganha maior força de agora em diante.


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