O
importante motor para essa alta rotatividade foi a vinda de
uma grande indústria de processamento e beneficiamento
de produtos alimentícios na região. Ela tornara-se
o destino certeiro para grãos como o milho pipoca e
o amendoim, por exemplo, que são muito cultivados naquele
perímetro. Outro aspecto foi a união dos produtores
para instalar uma usina para o beneficiamento da cana-de-açúcar
em açúcar e etanol (anidro e hidratado) - os
produtos atendem a demanda da região além de
irem também para os Estados do Amazonas e Rondônia.
A melhor escolha
Jesur José Cassol, produtor rural, natural do Paraná,
é um dos diretores do grupo que começou a produzir
no Estado em 1988, inicialmente com a soja e a cana-de-açúcar.
"Como eu tive muita experiência em plantio direto
no Paraná, introduzimos a técnica na soja entre
1992 e 1993. Atualmente, fazemos o plantio direto para a renovação
do canavial", explica.
A atividade de corte foi introduzida há dez anos, com
um sistema de produção que vai da cria à
terminação em áreas de confinamento que
o grupo estruturou próximo à área da
usina. A criação parte de um plantel de fêmeas
nelore inseminadas com genética de Aberdeen Angus,
ou Red Angus, com repasse das inseminações em
Brangus. De acordo com Cassol, o grupo mantem piquetes de
20 ha a 25 ha, num manejo rotacionado num pasto definitivo.
E no período seco eles vêm para a lavoura. Ao
todo são quatro mil cabeças de gado. As principais
culturas, em média, estão dividas numa área
de 3.300 ha para a soja, 2.200 ha para cana, 450 há
para o algodão e 1.050 ha de área de pastagem.
A opção pela maior rotatividade vem garantindo
ao grupo muitos frutos tanto na parte da renda como para a
boa condução das lavouras como um todo. "Temos
uma área que é toda cercada onde se cultiva
a soja", diz Cassol. "Em seguida vem o milho, com
braquiária ou sem braquiária, e na época
certa, entramos com o gado na área que vai se servir
da palhada do milho, ou do capim Sudão ou mesmo do
milheto. Além disso, o sorgo ou os resíduos
de girassol e de pré-limpeza da armazenagem são
utilizados para fazer uma ração para alimentação
do gado. Isso tem funcionado muito bem", avalia.
Outro benefício promovido pelo próprio pastejo
dos animais é que os dejetos dos animais servem como
uma rica fonte de fertilizantes para a área que, numa
próxima safra, será conduzida a soja no verão.
O próprio constante movimento das culturas pelas áreas
da propriedade agrega mais e mais recursos ao solo, como uma
espécie de depósito, que vai garantir a melhoria
dos resultados nas safras subsequentes, quer sejam elas de
verão como de inverno. "A colheita da cana, por
exemplo, é mecanizada. A partir dela, fica uma média
de 12 a 15 toneladas de palha por ha. A média para
corte da cana é de cinco anos. Renovamos o canavial
em cima de um ou dois plantios de soja através do sistema
de plantio direto, então você não revolve
mais solo".
Programação
A cana sempre tem uma rotação com a soja com,
pelo menos, dois anos da leguminosa através do plantio
direto. Na área da oleaginosa, no inverno, podem entrar
o milho comum, o milho pipoca, o girassol, o sorgo, o capim
sudão e o milheto. A demanda por cada um desses produtos
de segunda safra vão guiar o quanto de área
serão estabelecidas para as respectivas culturas. O
sorgo destina-se principalmente para ração para
o gado. O milheto e o capim Sudão são usados
para fazer feno e pastoreio no inverno.
"Conseguimos criar um sistema no qual é possível
trabalhar na área por 11,5 meses. Só tem um
período entre tirar o gado e dessecar a lavoura, algo
em torno de 15 a 20 dias que não há nada na
terra. Depois vem a soja no verão, depois o milho,
e logo depois o gado estará ali em cima", ressalta
Cassol.
Numa área de girassol, por exemplo, não há
como introduzir nela o gado, mas a lavoura faz uma boa rotação
com a soja, segundo o produtor, pois ela recicla muito nutriente.
Nesse sentido, optou-se plantar soja e girassol num ano, e,
na safra seguinte, milho na área onde estava o girassol.
"E sempre a partir do sistema de plantio direto, que
cria a sustentabilidade na agricultura, de melhoria de qualidade
do solo, até de sustentabilidade econômica com
várias receitas durante o ano inteiro".
Ainda dentro do planejamento da rotação, a cana,
por ter de se fixar na área por cinco anos, tem de
ser instalada num solo que recebeu um bom trabalho. O algodão,
por ser mais exigente, tem de ser plantado em áreas
mais férteis e mais estabilizadas. Na própria
soja, os talhões são diversificados entre distintas
variedades e ciclos. O resultado, no final de cada safra,
não poderia ser outro senão médias altas
em termos produção de grãos, fibra e
maior qualidade da cana. A média de grãos deve
girar este ano acima de 60 sacas de 60 quilos por ha e de
cana, com média de 75 toneladas/ha com um nível
de açúcar total recuperado (ATR) de 145 kg/t.
Produção integrada e profissional
Os exemplos na região de Campo Novo do Parecis não
só dizem respeito de uma melhor condução
de uma lavoura integrada, mas também pela melhor gestão
do próprio negócio. Em meio a grandes empreendimentos
agrícolas, propriedades familiares tem dado um passo
à implantação de um sistema de gestão
mais profissional para a garantia de resultados. Esse é
o caso da propriedade conduzida por Alex Nobuyoshi Utida e
seus outros dois irmãos.
A herança dos pais foi passada aos filhos - a fazenda
seria então conduzida por um médico veterinário,
um engenheiro agrônomo e um advogado, neste caso, o
próprio Alex. A família já está
na produção de soja há mais de 30 anos
na região. Inicialmente, foi o arroz que abriu as áreas
de plantio, logo em seguida veio a soja. "E cerca de
dez anos pra cá, a produção de milho
também entrou nas práticas da fazenda",
acrescenta Utida. "Nesse caso, nós começamos
bem devarinho no milho, pois era apenas para fazer a rotação,
pois o cereal nem possuía o vínculo comercial".
Já a bovinocultura de corte foi iniciada há
cerca de 15 anos, impulsionada pela própria aptidão
que a atividade demonstrava na região. O ciclo soja-milho-gado
foi o esquema produtivo que deu resultados para a produção,
sobretudo quanto às receitas garantidas por essas três
atividades que são conduzidas numa área de 9,1
mil ha - ou seja, seis mil ha para a soja, 2,5 mil ha para
o milho e 600 ha para o sistema de cria e recria. O rendimento
médio da lavoura de soja tem ficado em 55 sc/ha, ao
passo que a de milho gire em torno de 80 a 90 sc/ha.
Com o estabelecimento do sistema de integração
lavoura-pecuária, o grupo entendeu que seria melhor
criar novos moldes ao tipo de negócio que eles queriam.
Além de ser sustentável em termos produtivos,
o desejo de ser eficiente em termos de gestão também
era crescente. Há cerca de um ano, de acordo com Utida,
os irmãos criaram a figura da pessoa jurídica
da propriedade. O novo molde de negócio passa a propiciar
o melhor controle do fluxo de dinheiro, investimentos e até
maior facilidade na obtenção de financiamentos
junto aos bancos.
"Atualmente contamos com um diretor-executivo contrato,
temos planos de cargos e salários entre nossos funcionários",
descreve o produtor. "Agora a fazenda é divida
em três gerências (operacional, técnica
e administração de finanças). Tudo isso
é coordenado por esse diretor-executivo que é
coordenado por um conselho de administração".
O novo esquema deve gerir melhor os resultados da propriedade
e, dessa forma, aplicar mais adequadamente os recursos. Tudo
isso em prol do profissionalismo da atividade agropecuária.
Utida se espelha nos passos dos grandes produtores de soja
e de algodão de Mato Grosso, que também optaram
por esse tipo de gestão há cerca de 10 a 15
anos. O que difere e o que justamente causa ainda os maiores
entraves é a questão de escala produtiva - que
nem tem como se comparar a dos grandes produtores mato-grossenses.
"Nesse sentido, nós buscamos nos organizar como
cooperativas, para aquisição de um armazém
próprio. Então essa necessidade de se organizar,
seja num condomínio ou cooperativa, para atingir determinados
negócios nos quais é necessário ter grande
escala. Em alguns casos, somos até tratados como megaprodutores,
mas não temos toda essa estrutura que o mega pode ter",
pondera. No entanto, as expectativas para o futuro são
boas, segundo Utida. Destacando-se, aí, a especialidade
do produtor mato-grossense nas áreas de alimentação
e energia, dois pilares no qual ganha maior força de
agora em diante.
|