Entretanto para chegar a uma produção agrícola
recorde foram necessários muito mais ingredientes do
que terras agricultáveis, pastos férteis e tecnologia.
Foram utilizados também investimentos na aquisição
de máquinas e implementos agrícolas e insumos.
Para que tudo isso se tornasse viável, as linhas de
crédito se tornaram ano a ano o item imprescindível,
para uma receita de sucesso. A cada safra, as instituições
financeiras saem em busca de conquistar o apetite do produtor
e têm oferecido atrativas opções de crédito.
E os resultados, até o momento, são pra lá
de positivos. "O Valor Bruto de Produção
do ano passado não foi igual a 2010, mas foi o segundo
melhor da década", analisa superintendente de
agronegócios do Grupo Santander Brasil, Walmir Fernandes
Segatto.
As entidades financeiras reafirmam que 2011 terminou com números
e valores positivos, de maneira geral, como vem ocorreu em
anos anteriores. Entretanto, justifica o Banco Santander a
receita positiva vem da mudança no perfil do produtor
rural. "Um dos fatos percebível no mercado é
que ao longo de 2010 e 2011, e que segue uma tendência
em 2012, é a profissionalização do setor.
Esse é um ponto que favoreceu positivamente o cenário
do crédito rural. A visão empresarial do produtor
rural gerou maior objetividade nas assinaturas de contratos.
Isso permitiu que ele se planejasse e procurasse crédito
de forma organizada. Assim, ele consegue negociar melhor e
antecipar suas compras e insumos, procurando por linhas de
crédito mais cedo, facilitando a oferta e a demanda
do setor", afirma Segatto.
O Santander está entre os líderes de mercado
de crédito para o agronegócio. Dados da instituição
revelam que em 2010 a carteira de empréstimos voltada
para o segmento encerrou aquele ano com um volume de R$ 4,8
bilhões em recursos, destinados a mais de 45 mil clientes.
No entanto, sem comentar e afirmar sobre números e
carteiras de clientes em 2011, Segatto diz que o banco ampliou
um portfólio de produtos para atender às mais
variadas demandas do setor.
O Banco do Nordeste, por exemplo, foi outra instituição
que ofereceu apoio financeiro aos diversos setores e segmentos
que compõem o agronegócio. Com isso, encerrou
2011, em cerca de 419,7 mil operações, o valor
de R$ 4,26 bilhões. Segundo Cibele Maria Gaspar Fernandes,
gerente do ambiente de negócios empresariais do Banco
do Nordeste, a instituição dispõe de
linhas de crédito subsidiadas pelo Governo Federal,
bem como de linhas de crédito com recursos internos
captados pela instituição e ainda detém
parceria com o Banco de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), como forma de oferecer aos produtores e empresas
do setor agropecuário as melhores opções
de encargos e prazos. "Neste ano que terminou, podemos
destacar alguns pontos relevantes no crédito rural,
entre eles, houve uma demanda por financiamento a máquinas
e equipamentos, contribuindo para a modernização
da agricultura, e a disponibilização pelo governo
de linhas subsidiadas, a exemplo do Programa de Sustentação
do Investimento, o famoso PSI", diz.
O Banco do Brasil, maior operador de crédito rural
do País, notou também uma mudança no
perfil de financiamento do setor no ano de 2011, ou seja,
o produtor rural está se modernizando, principalmente,
quando o assunto são as novas aquisições
de máquinas e implementos agrícolas. A instituição
mostrou que em 2011 a linha BB-Agroindustrial, com juros leves,
teve redução de 60% na procura, com volume de
R$ 1,2 bilhões, no primeiro quadrimestre da safra.
"Por outro lado, o Pronamp Rural com juros controlados,
teve aumento de 20,4% na procura, chegando a R$ 1,5 bi nos
primeiros quatros meses. Resultado, os mais procurados entre
todos os programas de financiamento até agora é
o de Sustentação ao Investimento (PSI), do BNDES",
diz Osmar Dias, vice-presidente de agronegócios e micro
e pequenas empresas do Banco do Brasil. A modalidade vem atraindo
os produtores que, entre julho e outubro de 2011, já
consumiram, a juros de 6,5% ao ano, mais da metade dos R$
4 bilhões previstos para a safra que se encerra em
junho de 2012.
No ano passado, segundo o representante do Banco do Brasil,
a instituição disponibilizou R$ 46 bilhões
para operações de crédito rural na safra
2011/2012, volume 17% superior comparado à safra passada.
Desse total, R$ 10,5 bilhões foram destinado à
agricultura familiar e o restante para agricultores empresariais
e cooperativas rurais, um incremento de 20% e 16%, respectivamente.
Na safra 2010/11, a instituição seguiu como
o principal financiador do crédito agrícola
do país, sendo responsável por 73% dos créditos
destinados à agricultura familiar, 77% ao médio
produtor rural e 40% aos demais agricultores.
O que esperar em 2012?
Este ano os agricultores terão que conviver com a sombra
das incertezas do mercado internacional. A crise financeira
que abala o mercado europeu terá influência sobre
o agronegócio brasileiro. É o que garantem alguns
analistas de crédito. Outros pontuam que é cedo
para análise das consequencias. Na opinião das
instituições financeiras, que atuam diretamente
no setor, de qualquer maneira a melhor receita é manter
crédito para os produtores. "Em 2012, está
prevista a aplicação no agronegócio com
recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste,
o FNE, com o valor de R$ 3,8 bilhões que, somados às
demais linhas de crédito com recursos internos e repasses
do BNDES, devem gerar aplicações em patamar
superior ao alcançado em 2011", afirma Cibele
Fernandes, do Banco do Nordeste.
Em 2012, o Banco do Brasil pretende ampliar o crédito
do programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC). O orçamento
total do banco para a safra 2011/12 é de R$ 850 milhões.
Os recursos totais do programa ABC para o ciclo atual são
de R$ 3,15 bilhões. "O ABC pode ser usado por
agricultores e cooperativas, com um limite de financiamento
de R$ 1 milhão por beneficiário. O crédito
será financiado com taxa de juros de 5,5% ao ano, carência
de até oito anos e prazo de reembolso de até
15 anos. O que percebemos com juros baixos e um longo prazo
no pagamento há uma demanda significativa pelo crédito",
afirma Dias.
E se as incertezas do mercado internacional e as condições
climáticas poderão afetar o mercado de crédito
rural, em 2012? O momento segundo os analistas é aguardar.
De acordo com o superintendente de agronegócio do Banco
Santader, Walmir Segatto a variação climática
pode interferir parte da exportação como no
caso da soja, e o milho que são as duas principais
commodities. "Quando a oferta retrai, o produtor recua
para avaliar o tamanho do prejuízo. O que demanda tempo.
Já o cenário externo é preocupante. As
regiões produtoras do cereal da Rússia e de
outros países do Leste Europeu recuperaram-se da forte
seca do último biênio e estão com uma
estratégia agressiva de preços para retomar
a venda aos seus antigos mercados, sobretudo na África.
Neste caso, o melhor remédio é a prevenção.
Porém, o empresário rural está bem mais
informado e o crédito a sua disposição",
conclui.
O recheio do governo
O governo federal mudará o crédito agrícola
no país neste ano. O Plano Safra 2012/2013, a ser anunciado
no primeiro semestre, virá com alterações
no Manual do Crédito Rural (MCR), que rege todos os
programas e operações voltados ao campo, segundo
dados do Ministério da Fazenda.
Simplificação geral e contratação
de crédito com renovação anual, além
de criação de linhas e extinção
das operações de Empréstimo do Governo
Federal (EGF) e da Linha Especial de Crédito (LEC)
são algumas das novidades. O foco é no beneficiário
final, que é o produtor rural. Ou seja, ele vai ter
condições de consultar o manual, entender o
que está definido nele para poder contratar as linhas
com segurança.
No próximo ano-safra estão a criação
da modalidade de crédito de custeio, investimento e
comercialização com renovação
anual simplificada; a substituição do EGF e
da LEC por três novas linhas, tais como o Financiamento
para Estocagem de Produtos Vinculados à PGPM (FEPM)
e Financiamento Especial para Estocagem de produtos não
vinculados à PGPM (FEE). Ambas voltadas a produtores
e cooperativas. A terceira linha é a de Financiamento
para Garantia de Preços ao Produtor (FGPP), destinado
a agroindústrias e cerealistas. Neste caso, será
exigido pagamento ao produtor rural de, pelo menos, preço
mínimo ou de referência. Em nota, o governo pretende
ter maior controle sobre as operações e saber
é qual o real destino dos financiamentos feitos por
produtores rurais, cooperativas e agroindústrias.
As alterações são estudadas há
cerca de um ano e precisam ser aprovadas pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN). A primeira leva de modificações,
que continha medidas como substituição do limite
de custeio por produto para teto único por produto,
já está no atual plano. O ano safra tem início
em julho e o programa deve ser apresentado em maio ou junho
de 2012.
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