A
oferta de açúcar, por exemplo, da região
centro-sul do País foi menor que o esperado no correr
de 2011, de acordo com as análises do Cepea/Esalq.
Esse cenário fez com que os preços do produto
se mantivessem em patamares elevados em grande parte do ano.
De 1º de abril ao final de dezembro, a média do
Indicador do açúcar cristal Cepea/Esalq (São
Paulo) foi de R$ 63,24 a saca de 50 kg, valor 11% superior
ao do mesmo período de 2010 (R$ 56,97 a saca), em termos
nominais.
Ao longo dos meses, as estimativas para a produção
de cana-de-açúcar nessa região foram
sucessivamente revisadas para baixo, o que afetou de maneira
expressiva a dinâmica do mercado de açúcar.
Segundo os pesquisadores do órgão de pesquisas
econômicas de São Paulo, de modo geral, as adversidades
climáticas ainda em 2010, como o severo período
de estiagem e depois chuvas prolongadas, foram fatores que
prejudicaram a produção 2011/2012.
Em março, quando algumas usinas iniciavam a colheita,
a Unica divulgou a primeira estimativa para a safra 2011/2012.
Naquela época, a entidade indicou que a região
poderia moer pouco mais de 568 milhões de toneladas
de cana-de-açúcar, o que representaria crescimento
de 2,11% em relação ao total processado na temporada
anterior, de 556,74 milhões.
Naquele momento, no entanto, estavam sendo subestimados o
impacto do clima do ano anterior - que já causava menor
produtividade no início da safra - bem como as consequências
do envelhecimento dos canaviais - por falta de investimentos
- e o volume relativamente pequeno de cana de rebrotação
para moagem no início da nova temporada.
"No ano passado tivemos muitas surpresas em relação
ao clima, às questões ligadas ao setor de abastecimento",
diz o presidente da Única, Marcos Sawaya Jank. "O
que esperamos agora é a retomada do crescimento do
setor, no plano 2015-2020. Nós experimentamos um crescimento
muito vigoroso da produção até 2008,
na ordem de 10% ano. Este é justamente o valor que
pretendemos crescer daqui pra frente. No entanto, o que vimos
de 2008 pra cá, houve um período de declínio
do setor, agravado pela crise financeira global e com perda
de competitividade frente à gasolina, nesse caso, com
o etanol hidratado, que teve os custos de produção
aumentados".
No mês de dezembro, a moagem somou 3,65 milhões
de toneladas, 67,61% abaixo do valor registrado em dezembro
de 2010 (11,27 milhões de toneladas). O diretor técnico
da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, explica que "os
valores observados até o momento são praticamente
os números finais da safra 2011/2012 da região
Centro-Sul, pois ocorrerão apenas ajustes marginais
até o final de março".
O executivo afirma que apenas sete unidades estão em
operação em janeiro de 2012: uma usina no Estado
do Paraná, quatro em Mato Grosso do Sul e duas em Minas
Gerais. A produção adicional dessas plantas
deve ser residual comparada ao volume total.
De fato, o desenvolvimento da cana foi prejudicado no correr
de 2011, ocasionando redução no teor de sacarose
por hectare colhido (o ATR) e, consequentemente, menor produção
de açúcar e de etanol.
Quanto aos embarques de açúcar bruto (VHP) -
representa cerca de 80% das exportações brasileiras
de açúcar -, totalizaram 20,16 milhões
de toneladas de janeiro a dezembro de 2011, volume 3,75% inferior
ao de 2010 (20,94 milhões), segundo dados da Secex.
Porém, em receita (em dólar - FOB), houve aumento
de 24,08% na mesma comparação. De açúcar
branco, os embarques somaram 5,2 milhões de toneladas
em 2011, queda de 26,3%. Em relação ao preço,
a média desses 12 meses foi de US$ 573,05/t (FOB) para
o VHP, aumento de 28,93% sobre a média de 2010, que
foi de US$ 444,48 por tonelada. Para o açúcar
branco, a média foi de US$ 651,67, alta de 33,19%.
Apesar de o volume das exportações ter diminuído
em 2011, por conta da menor produção, preços
favoráveis e as vantagens associadas a linhas de financiamento
para as exportações sustentaram o interesse
pelas vendas externas por parte tanto de usinas da região
centro-sul quanto do Nordeste.
A manutenção dos preços do etanol em
patamar elevado esteve atrelada à menor produção
da safra. O consumo interno de ambos os tipos, anidro e hidratado,
por sua vez, caiu 19,7%, o que equivale a cerca de 2,7 bilhões
de litros - comparativo de abril a outubro de 2011 com igual
período de 2010, segundo dados da Agência Nacional
de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP).
Em termos de remuneração entre os produtos sucroalcooleiros,
o açúcar apresentou vantagem média de
34% sobre o anidro de abril a novembro de 2011. Já
em relação ao hidratado, o alimento remunerou,
em média, 51% mais que o combustível no mesmo
período. Comparando-se os dois tipos de etanol, o anidro
remunerou 14% a mais que o hidratado, em média. Em
período equivalente na temporada anterior (2010/11),
o açúcar remunerou 67% mais que o anidro e 85%
mais que o hidratado; o anidro, por sua vez, remunerou 9%
mais que o hidratado.
No campo institucional, algumas mudanças ocorreram
no mercado de etanol ao longo de 2011. No final de agosto,
o governo federal editou Medida Provisória que reduziu
o porcentual de anidro na composição da gasolina
C de 25% para 20% ou 18% a partir de 1º de outubro, com
validade por tempo indeterminado.
Outra medida, que foi anunciada pela ANP no dia 13 de dezembro,
determina a comercialização antecipada por parte
das usinas de 90% do anidro já no início da
próxima safra. O volume que as distribuidoras deverão
contratar também é de 90% das suas estimativas
de vendas. Os compradores que não contratarem o volume
fixado deverão dispor, no final de janeiro, de estoques
próprios equivalentes a 25% do volume comercializado
no ano anterior. Essa medida, no entanto, ainda carece de
detalhamentos e tem causado muita polêmica no setor.
Livre acesso ao mercado americano
Diante de tantas incertezas para o setor sucroalcooleiro,
ao menos, uma notícia veio para alegrar o setor ainda
no final de 2011. A informação divulgada era
do livre acesso da produção nacional ao mercado
dos Estados Unidos, depois de acirradas três décadas
de protecionismo. A legislação americana que
incluía altos subsídios para a indústria
do etanol e uma pesada tarifa contra o produto importado,
expirou em 31 de dezembro.
Apesar de diversas articulações pela extensão
dos subsídios e da tarifa durante as últimas
semanas de trabalho do legislativo americano, prevaleceu a
coalizão formada por inúmeras empresas e entidades
contrárias a esses incentivos, da qual participa a
Unica. Nos últimos meses, a coalizão intensificou
o trabalho contra os subsídios pagos às distribuidoras
que fazem a mistura de etanol à gasolina - subsídios
que custam ao contribuinte americano cerca de US$ 6 bilhões
por ano. O trabalho também foi intenso contra a manutenção
da tarifa de US$ 0,54 imposta por Washington sobre cada galão
importado. A tarifa impedia que o etanol brasileiro chegasse
ao mercado americano com preços competitivos.
A nova realidade, de acesso desobstruído aos EUA para
o etanol brasileiro a partir de janeiro de 2012, exige um
novo tipo de acompanhamento, com foco em posições
maduras e voltadas para o futuro por parte dos dois países,
na visão de Jank. "Este é o momento em
que Brasil e Estados Unidos, que juntos respondem por mais
de 80% do etanol produzido no mundo, devem mostrar liderança
e trabalhar juntos para criar um verdadeiro mercado global
para o etanol, livre de barreiras tarifárias, a exemplo
do que já acontece com o petróleo. Os dois países
devem dar o exemplo e incentivar o resto do mundo para que
produza e utilize mais etanol".
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