"SE
VOCÊ PLANTA UMA SOJA DETERMINADA EM OUTUBRO, ELA VAI
FICAR BAIXINHA, NÃO VAI DAR UM PORTE SUFICIENTE PARA
SE PRODUZIR BEM. JÁ UMA INDETERMINADA, MESMO SENDO
PRECOCE, AINDA CRESCE DEPOIS DE FLORESCER. ISSO QUER DIZER
QUE POSSO TER UM MATERIAL PRECOCE E COM UM BOM PORTE BOM -
ENTRE 70 E 80 CENTÍMETROS DE ALTURA - O QUE AJUDA NA
OBTENÇÃO DE RENDIMENTOS MAIS ALTOS", RESSALTA
ANTÔNIO EDUARDO PÍPOLO, ESPECIALISTA EM MELHORAMENTO
GENÉTICO E PESQUISADOR DA EMBRAPA SOJA.
A cultivar indeterminada se mostra mais difícil de
se lidar quando o assunto é medir os níveis
nutricionais e saber se o programa de adubação
e fertilização está realmente sendo suficiente.
A crescente opção por variedades indeterminadas
advém da alta rotatividade que a produção
agrícola tem experimentado nesses últimos dez
anos com o crescimento da safrinha de milho.
A partir do estudo também poderá ser avaliado
se as cultivares indeterminadas são mais exigentes
em termos de adubação em relação
às determinadas.
Há uma vasta lista de opções de cultivares
de soja para o estabelecimento da lavoura no País -
ela pode ser transgênica, convencional, adaptada, superprecoce,
precoce, média, tardia, resistente a pragas e doenças,
e por aí vai. Há também, dentre todas
essas variações, duas classificações
distintas que se encarregariam de separar Glycine max em duas
categorias, relacionadas ao tipo de crescimento da planta,
as determinadas e as indeterminadas.
As variedades pertencentes à primeira categoria são
fáceis de identificar os estádios exatos da
planta, que basicamente são a época de floração,
a formação de vagens e o enchimento de grãos
- numa planta dita determinada, esses três momentos,
que se referem às fases reprodutiva e vegetativa da
soja, ocorrem praticamente um após o outro. "Basicamente,
na indeterminada", explica Antônio Eduardo Pípolo,
especialista em melhoramento genético e pesquisador
da Embrapa Soja [Londrina (PR)], "depois que a soja começa
a florescer, ela continua florescendo bastante. Então
há uma convivência de flores, vagens e formação
do grão, na mesma planta. Isso permite que depois do
florescimento, a cultivar cresça ainda mais, emitindo
novos nós, folhas e flores. Nesse caso, há ao
mesmo tempo flor, vagem em formação e vagem
já o enchimento de grãos na planta".
Se por um lado a cultivar indeterminada se mostra mais produtiva,
de outro ela se torna uma planta difícil de se lidar
quando o assunto é medir os níveis nutricionais
e saber se o programa de adubação e fertilização
está realmente sendo suficiente. Nesse sentido, Adilson
de Oliveira Junior, também pesquisador da Embrapa Soja,
está desenvolvendo um projeto de pesquisa que deva
traçar uma metodologia para fazer essas tais medições
e assim determinar o que é indeterminado. "Numa
planta determinada sabemos o estádio e a folha certa
para fazermos essa análise de nutrientes - podemos
comparar essa avaliação como a análise
sanguínea nossa - que nos dirá se a planta possui
deficiências, que podem ser corrigidas, ou se o que
está sendo ministrado está realmente sendo aproveitado
pela soja", destaca Oliveira Jr.
O projeto de pesquisa foi aprovado este ano e deve ser concluído
em 2014, mas até lá, algumas respostas preliminares
poderão ser apresentadas. Ao final, com os resultados
em mãos e a melhor técnica de se coletar os
dados do nível nutricional das plantas, as assistências
técnicas do País poderão fazer, de forma
mais adequada, o monitoramento dos programas de adubação
e fertilização aplicados pelas propriedades
que adotam o cultivo de variedades de crescimento indeterminado.
Com base nas características deste tipo de soja, além
dos questionamentos técnicos, como por exemplo, quando,
quais e quantas folhas devem ser amostradas, qual a dinâmica
dos nutrientes em função do desenvolvimento
das plantas, como se dá a redistribuição
dos nutrientes durante a fase de enchimento de grãos
e, consequentemente, qual o melhor manejo da adubação,
também poderá ser avaliado se as cultivares
indeterminadas são mais exigentes em termos de adubação
em relação às determinadas. "Cada
vez mais é preciso critério ao utilizar adubos,
que representam em torno de 40% do custo de produção
da soja", enfatiza Oliveira Jr.
Vários parceiros participarão desses trabalhos
com possibilidades de gerar resultados específicos
para cada região. Entre os quais estão a Cooperativa
Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo),
em Rio Verde (GO), a Cooperativa Agrícola Consolata
(Copacol), em Cafelândia (PR), a Fundação
Ágraria de Pesquisa Agropecuária (Fapa), em
Guarapuava (PR) e a SLC Agrícola, em Balsas (MA).
Vantagens da indeterminação
A crescente opção por variedades indeterminadas
advém da alta rotatividade que a produção
agrícola tem experimentado nesses últimos dez
anos com o crescimento da safrinha de milho que, atualmente,
ganha maior representatividade que a própria safra
de verão do cereal no País. De acordo com Pípolo,
o uso dessa cultivar de soja permite uma semeadura antecipada,
fora da época normal de plantio. "Com a indeterminada,
depois que floresce ela continua crescendo, então você
pode antecipar o plantio e ainda ter precocidade. Por exemplo,
normalmente se planta a soja no finalzinho de outubro e início
de novembro, em boa parte do Brasil, mas com essa história
do milho safrinha, aí é necessário plantar
a soja mais cedo para colhê-la mais cedo, para, aí,
já entrar com o milho com semeadura para janeiro ou
fevereiro. Para isso é necessário um material
mais precoce que permita a antecipação do plantio
também. Nesse sentido, a opção mais interessante
que há são as variedades indeterminadas, porque
você pode ter precocidade e porte".
No caso das cultivares do tipo determinada, depois que florescem,
não crescem mais ou crescem muito pouco. O mês
de outubro é considerado um período indutivo
ao crescimento da planta - "se você planta uma
soja determinada nesse mês, ela vai ficar baixinha,
não vai dar um porte suficiente para se produzir bem",
afirma Pípolo. "Já uma indeterminada, mesmo
sendo precoce, ainda cresce depois de florescer. Isso quer
dizer que posso ter um material precoce e com um bom porte
bom - entre 70 e 80 centímetros de altura - o que ajuda
na obtenção de rendimentos mais altos",
ressalta o pesquisador.
Outro ponto que favoreceu a alta pela busca por materiais
indeterminados foi a própria questão da ferrugem
asiática. Variedades mais precoces e com essa característica
de plantio antecipado tornaram-se ferramentas importantes
do ponto de vista econômico, em função
de se conseguir aplicar menos fungicida em todo o ciclo da
lavoura, que pode girar em torno de 90 até 170 dias.
"Por fim, há fatores que também podem ser
relacionados à opção pela soja indeterminada,
como por exemplo, o aumento da procura por materiais resistente
ao acamamento - muito desse material indeterminado está
acamando menos, mas isso não é uma característica
exclusiva dessas cultivares com essa característica
de crescimento, pois há variedades determinadas que
não acamam também", declara Pípolo.
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