Para
as misturas de triazóis e estrobilurinas, a diferença
de produtividade entre o maior (T11, com 3.349 kg/ha) e o
menor valor (T18, com 2.838 kg/ha) foi de 511 kg/ha, ou 18%.
A ideia foi justamente testar cada formulação
na pior condição possível de estágio
da ferrugem asiática, doença causada pelo fungo
Phakopsora pachyrhizi. O mal é, senão, a principal
preocupação dos produtores de soja desde 2004,
quando o primeiro foco foi registrado no Brasil. Foi logo
nessa época que um grupo de pesquisadores se uniu e
formou uma rede de ensaios cooperativos, formada por 25 instituições
de ensino, pesquisa pública e empresas da iniciativa
privada. O objetivo da rede é avaliar a eficiência
dos fungicidas indicados para a ferrugem da soja e as novas
formulações, que estão em fase final
de avaliação para registro junto ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Na safra 2010/2011, foram realizados 27 ensaios nas principais
regiões produtoras do País. De acordo com a
pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, e integrante
da rede, esses trabalhos foram feitos numa condição
mais crítica, com plantio tardio (a partir de 15 de
novembro), quando há uma maior pressão da doença.
"Fazemos esse estudo para avaliarmos quais os produtos
que deverão responder melhor diante da pior situação",
enfatiza Godoy, "para assim identificar, na hora que
coisa estourar, os melhores produtos".
Em termos práticos, de acordo com a pesquisadora, os
produtores não vivenciam muito essa situação
drástica na lavoura, pois optam pelo plantio dentro
do prazo adequado - nesse sentido ele também não
vai perceber a diferença entre os fungicidas dispostos
no mercado, em função da pressão da doença
ser baixa.
Métodos
No estudo foram avaliados 17 produtos (dos quais, 11 já
dispostos no mercado e seis que estão em fase de registro)
além de um tratamento sem controle algum, que serviu
como testemunha. "Trabalhamos com a avaliação
de produtos não registrados (PNR), pois anteriormente
era comum ver empresas dispondo um produto no mercado; o agricultor
o comprava e saía perdendo pela ineficácia daquela
formulação. Para evitar isso, resolvemos então
testar esses materiais antecipadamente para dizer ao produtor,
'olha, esse produto que está entrando realmente funciona;
ele foi testado e está condizente com o que já
está disposto no mercado'", explica Godoy. Depois
de testadas, as formulações de PNR levam em
média cerca de três anos para estarem dispostas
no mercado - tempo necessário para o efetivo registro
no Mapa.
Quanto às cultivares utilizadas, elas foram escolhidas
pelas próprias unidades que compõe a rede, a
qual se encarregou de buscar os materiais adaptados às
regiões onde foram feitas as amostragens para a pesquisa.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Soja, como todas as variedades
são suscetíveis à doença, não
era preciso delimitar o uso de uma cultivar apenas, pois isso
não interferiria no resultado do estudo.
As aplicações de fungicidas iniciaram-se no
estádio R1/R2 (florescimento/florescimento pleno) ou
no período vegetativo, quando observados sintomas nessa
fase. O número de aplicações variou entre
os locais que serviram de base para o estudo, sendo realizadas
duas aplicações em 22 ensaios (81%) e três
aplicações em cinco ensaios (19%). O intervalo
entre a primeira e a segunda aplicação variou
de 14 a 25 dias, com média de 20 dias de intervalo.
Quando foram realizadas três aplicações,
o intervalo entre a segunda e a terceira aplicação
variou de 12 a 19 dias, com média de 16 dias de intervalo.
Para a aplicação dos produtos foi utilizado
pulverizador costal pressurizado com gás carbônico
- dióxido de carbono - (CO2) e volume de aplicação
mínimo de 120 litros por hectare (l/ha).
Resultados
Dentre os 27 ensaios, em nove havia sintomas e em 18 não
havia sintomas de ferrugem no momento da primeira aplicação.
A porcentagem de controle da ferrugem, em relação
à média da severidade da testemunha não
tratada e a redução de produtividade, em relação
a média de produtividade do melhor tratamento variaram
entre os produtos nos diferentes locais.
As menores severidades e as maiores porcentagens de controle
foram observadas para os tratamentos T17 [picoxistrobina 60
gramas de ingrediente ativo por hectare (g i.a./ha) + tebuconazol
100 g i.a./ha) e T10 (trifloxistrobina 60 g i.a./ha + protioconazol
70 g i.a./ha).
As porcentagens de controle para os melhores tratamentos foram
semelhantes aos resultados observados na safra 2009/2010,
onde a maior porcentagem de controle observada para a mistura
trifloxistrobina 45 g i.a./ha + protioconazol 52,5 g i.a./ha
foi de 81%.
Todos os tratamentos com misturas de triazóis e estrobilurinas
apresentaram produtividade superior aos tratamentos com triazóis,
sendo as maiores produtividades observadas para os tratamentos
T11 (piraclostrobina 65 g i.a./ha + metconazol 40 g i.a./ha),
T10 (trifloxistrobina 60 g i.a./ha + protioconazol 70 g i.a./ha),
T17 (picoxistrobina 60 g i.a./ha + tebuconazol 100 g i.a./ha),
T14 (azoxistrobina Nortox 62,5 g i.a./ha + tebuconazol 100
g i.a./ha) e T5 (piraclostrobina 66,5 i.a./ha + epoxiconazol
25 i.a./ha).
Para as misturas de triazóis e estrobilurinas, a diferença
de produtividade entre o maior [T11, com 3.349 quilos por
hectare (kg/ha)] e o menor valor (T18, com 2.838 kg/ha) foi
de 511 kg/ha, ou 18%.
Grupos químicos
Os produtos testados são basicamente a mistura de dois
grupos químicos, os triazóis e as estrubirulinas.
Segundo Godoy, as misturas avaliadas têm se mostrado
eficientes. Em contrapartida, o tratamento da ferrugem só
a partir dos triazóis, que antes controlava bem a doença,
não consegue mais dar conta do recado e, por isso,
já não é mais indicado sozinho para o
estabelecimento de um programa de aplicações.
"As misturas, de forma geral, apesar de umas se destacarem
mais que outras, numa situação de alta pressão
do fungo, estão tendo um controle satisfatório
e eficiente sobre a doença", atesta a pesquisadora
que vem acompanhando a pesquisa e a eficiência dos produtos
desde o início com a criação da rede.
Em termos de atuação, cada fungicida vai agir
num processo metabólico distinto do fungo. As estrubirulinas,
por exemplo, (como azoxistrobina, piraclostrobina, entre outros
terminados em 'strobina') vão interromper a respiração
do fungo. Já os triazóis (terminados em 'conazol')
são inibidores da biossíntese de ergosterol
- trocando em miúdos, de acordo com Godoy, isso impedirá
a formação da parede (tecido) celular do fungo
e aí ele acaba morrendo.
Independência
Um
produto bom para o registro é aquele que mantem uma
média de 80% de controle ou acima disso - e isso é
o que tem mostrado basicamente os ensaios da rede. A grande
vantagem ao produtor está justamente no respaldo da
pesquisa científica para apresentar a eficácia
dos produtos. "Esta é de fato a grande vantagem
desse estudo - ser independente, pois, antes de começarmos
a fazer isso, as empresas recomendavam os produtos, e os sojicultores
não tinham acesso a dados que comparassem essas formulações
de uma forma mais abrangente. Foi então a partir de
2003/2004, com a formação dessa rede, podemos
comparar tudo que o produtor tem de opção",
frisa Godoy.
Dessa forma o produtor poderá avaliar os produtos que
mais vão lhe garantir o melhor custo/benefício.
E só vai perder com ferrugem, se atrasar com o controle.
Se deixar primeiro a doença entrar, para depois tratar,
ele pode perder produtividade. "Às vezes esse
atraso ocorre não intencionalmente, mas em função
do próprio clima. Se começa a chover, ele não
consegue entrar com esse controle, e é justamente nessa
condição climática que a doença
explode. Então, muitas vezes não é culpa
do produtor, o clima de desfavorece a aplicação
no momento correto, e com isso há o atraso no controle
e risco de perda de produtividade", pondera a especialista.
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