A
nova variedade apresenta potencial produtivo em torno de seis
mil quilos por hectare, enquanto outras em uso no Estado de
São Paulo produzem cerca de três mil, exceto o
IAC 370 que tem rendimento idêntico ao Mojave, de acordo
com o pesquisador do IAC, João Carlos Felício.
"Esses resultados podem variar de acordo com a região
e as condições de clima e solo, mas em condições
ideais o produtor consegue atingir esses valores", explica.
A nova variedade apresenta ainda espigas grandes e alto potencial
de inflorescência, responsável pela geração
dos grãos.
De acordo com o pesquisador, a aplicação de defensivos
agrícolas nas lavoras do IAC 385 Mojave pode ser reduzida
em pelo menos 30%. Isso porque a nova variedade possui moderada
resistência à ferrugem da folha, às manchas
foliares causadas por helmintoporiose e à brusone. As
três são consideradas as principais doenças
do trigo. "Geralmente o produtor faz de duas a três
aplicações de defensivos agrícolas nas
lavouras. Com essa moderada resistência, são necessárias
apenas duas pulverizações. Isso em condições
propícias de clima e solo", explica.
O IAC 385 Mojave tem características de trigo melhorador
e é utilizado para fabricação de pães
especiais, como pão de forma e panetone, e para melhorar
outras farinhas de qualidade inferior. De acordo Felício,
são três os tipos de farinhas existentes: tipo
melhorador, tipo pão e para consumo doméstico.
"O que determina a qualidade da farinha é a quantidade
de glúten, ou seja, a proteína expressa no teor
de glúten úmido, e a força de estabilidade
da massa. O novo trigo apresenta 31% de glúten úmido,
o que é muito bom e confere estabilidade da massa, no
mínimo, de 14 minutos", explica o pesquisador.
A força de glúten e a estabilidade correspondem
ao tempo em que a farinha resiste nas máquinas para o
processo de fabricação do pão, por exemplo.
"Se os grãos de trigo não têm essa
característica, quando forem bater a massa para fazer
alguma receita, ela vai ficar elástica, parecendo um
chiclete e isso não é bom para o resultado final
do produto, pois o miolo do pão apresenta muita umidade",
afirma.
De acordo com Felício, a cor branquinha do miolo do pão
atrai o consumidor final e, consequentemente, os moinhos, que
compram mais rapidamente em razão da preferência
por farinhas com coloração branca. A nova variedade
do IAC possui também esta característica. O aparelho
que classifica a cor registra variações de zero
(cor preta) a 100 (cor branca). O IAC 385 Mojave tem classificação
94, o que lhe garante alto potencial para coloração
branca. "Entre 92 e 94 na escala, o trigo é branco,
menos que isso a farinha já é um pouco avermelhada.
Desconheço uma variedade no mercado que esteja acima
desse valor atingido pelo IAC 385 Mojave", ressalta. A
aparência da farinha de trigo tem relação
direta com a comercialização.
Desenvolvida para colheita mecanizada - que corresponde ao método
utilizado em quase 100% dos trigais - a variedade possui porte
baixo, de 85 cm a 90 cm, e moderada resistência ao acamamento,
responsável por fazer as plantas caírem, impedindo
a colheita por máquinas. Ele é também resistente
à debulha natural.
O novo produto do IAC tem ciclo médio, variando de 130
a 140 dias, possibilitando ao agricultor plantar diversas variedades
para colher em períodos diferentes. "De cada 20
hectares que se planta em um dia, se colhe dez no mesmo período.
Isso acontece porque o período do dia propício
para a colheita é das 10 às 18 horas, depois disso,
o grão umedece e a máquina não consegue
bater. Por isso é necessário que o produtor plante
variedades com ciclos diferentes para conseguir colher com maior
facilidade", afirma.
O cultivo está recomendado para a região de Capão
Bonito, no Sudoeste Paulista. A expectativa é que no
próximo ano se estenda também para região
de Assis, no Médio Paranapanema. As sementes da nova
variedade estão sendo produzidas e devem ser disponibilizadas
aos produtores em 2012.
Produção
São Paulo é hoje o quarto Estado que mais produz
trigo no País, com produção em torno de
250 a 300 mil toneladas e possui 45 mil hectares plantados.
O Brasil é o segundo País que mais importa o grão,
ficando atrás somente do Egito. "Consumimos 10 milhões
de toneladas de trigo e produzimos apenas cinco milhões.
Importamos principalmente de países como Argentina, Paraguai
e Uruguai", diz o pesquisador do IAC.
De acordo com Felício, o Brasil já produziu mais
esse grão. A explicação está na
exigência de alta tecnologia. "O sucesso de uma produção
não depende só das variedades cultivadas, mas
também da forma como colhe, seca, armazena e comercializa",
afirma. |