Essas
pragas que ficam no solo atacam a lavoura ocasionando prejuzos
que podem aumentar potencialmente a cada safra, caso não
se estabeleça diversas práticas de manejo para
controlar esses vermes - e mesmo assim, o produtor ainda terá
de conviver com esses maus hóspedes, já que
é impossvel erradica-los totalmente da área.
" Os nematoides e os demônios nunca nos darão
trégua!", alerta (em tom bem humorado) Jaime Maia
dos Santos, nematologista e pesquisador da Universidade Estadual
Paulista "Julio de Mesquita Filho" (Unesp), do campus
de Jaboticabal (SP). "Nunca o produtor vai se livrar
dos nematoides. Se ele abaixar a guarda, levará um
soco. Em vez disso, temos de aprender a conviver com essa
praga".
Essa convivência implica no estabelecimento de um manejo
integrado na propriedade - a partir da união de açõess,
práticas e tecnologias que vão gradualmente
desacelerar o crescimento populacional desses agentes patológicos.
Além de P. brachyurus, as espécies Meloidogyne
javanica, Meloidogyne incognita (nematoides de galha), Heterodera
glycines (nematoide de cisto) e Rotylenchulus reniformis (nematoide
reniforme) são destacadas como principais para a sojicultura.
"Em algumas áreas estão ocorrendo, também,
o nematoide Tubixaba sp. O produtor deve focar o controle
a partir das espécies que estão presentes na
área dele e, ainda, tem de ficar vigilante para não
deixar que outras sejam introduzidas na fazenda. O barro aderido
aos pneus e engrenagens de máquinas e veículos
transporta muito facilmente os nematoides de uma área
para outra", ressalta Santos.
Táticas
Entre as diretrizes para se estabelecer um manejo adequado
estão a adoção de práticas culturais
(destruição de restos da cultura anterior, rotação
com não hospedeira, pousio da área e introdução
de culturas antagonistas), o uso de variedades resistentes
e também os controles químico (tratamento de
sementes) e biológico.
Para a nematóloga e pesquisadora da Aprosmat, Neucimara
Rodrigues Ribeiro, o monitoramento da área é
o passo primordial para que sejam aplicadas as ferramentas
adequadas de controle - pois para cada espécie, exige-se
um manejo diferenciado em áreas específicas,
pois os nematoides não ocorrem em todo o terreno. "Não
adianta fazer o uso de uma ferramenta isolada e achar que
isso terá bons resultados. O correto é utilizar
a maioria. Hoje, se consegue um bom resultado usando variedades
resistentes para o controle de determinadas espécies.
A rotação ou pelo menos a sucesso de culturas
não hospedeiras ou antagonista é muito importante
para quebrar o ciclo dos nematoides", diz Ribeiro.
"Se o produtor já sabe que na propriedade dele
tem a espécie "x"ou "y", é
sobre esta que ele deve dirigir sua atenção",
acrescenta Santos. A partir daí, de acordo com o pesquisador
da Unesp, o agricultor deve acompanhar a dinâmica da
população dessa praga e, assim, deve adotar
as intervenções para reduzi-la. "Ele não
deve esperar ocorrer o prejuzo, ou seja, ele não
deve esperar aparecer reboleiras no campo para, então,
sair correndo atrás do prejuízo. Isso não
é agricultura sustentável! Na agricultura sustentável,
nós nos antecipamos à praga".
Estratégia de controle
A título de demonstração do que pode
ser feito, Santos traça um plano de controle de nematoide,
em regiões onde há a safra de inverno. Nesses
lugares, por exemplo, planta-se a soja no final de setembro
ao início de outubro. Colhe-se em fevereiro ou março.
Posteriormente, semeia-se um milho resistente a P. brachyurus
(se este for o estiver presente). Então, a colheita
desse milho será de junho a julho, e, aí, volta-se
com a soja em meados de setembro a outubro.
"No período de março a setembro, nesse
exemplo hipotético, a praga ficou sem alimento",
frisa Santos. "É compreensível que a densidade
da sua população sera consideravelmente reduzida,
a ponto de não comprometer a cultura subsequente, especialmente,
se o produtor escolher uma cultivar de soja que seja menos
suscetível a praga para o proximo plantio na área
e se ele utilizar semente desse material tratada para o controle
do nematoide".
Noutra situação, se o produtor plantou soja
na safra de verão atual e observou a ocorrência
de muitas galhas causadas por M. javanica, o principal nematoide
de galha da soja, ele pode instalar o algodâo nessa
área, no próximo plantio. Nesse caso, não
teria problemas com esse nematoide, pois essa espécie
não ataca o algodão e, ainda, já estaria
reduzindo a população da praga no solo para
o plantio que viria depois do algodão. E a população
que restaria não seria capaz de comprometer a próxima
cultura, mesmo se esta for suscetível ao nematoide.
"Se o agricultor tratar a semente desse material, então,
aí, ele estaria se livrando do problema, mesmo, ainda
nessa próxima safra!", enfatiza o pesquisador.
"Para isso, énecessário fazer um criterioso
controle de plantas daninhas dentro da cultura do algodão,
pois estas poderiam hospedar o nematoide. O produtor tem de
ficar vigilante e não baixar a guarda, daí para
frente. Caso contrário, volta tudo ao que era antes".
Controle químico
A simples proteção da semente mostrara, quando
introduzida no País, a alta capacidade que a técnica
surtiria nos campos de soja brasileiros. Daí, pode-se
dizer que a produção da oleaginosa ganhou um
salto em rendimento. Com o tempo, a ferramenta ganhou novas
caras e, agora, além de combater fungos pode proteger
a soja de nematoides, como é o caso do tratamento de
sementes da Syngenta, o Avicta Completo. "O controle
químico é mais uma ferramenta, mas deve ser
usada com cautela", avalia Ribeiro. "Hoje sabemos
que o residual dele é de 30 dias, no máximo,
e que no final do ciclo a população estará
alta da mesma forma. Se o produtor não fizer nada na
entressafra, poderá ter problemas na safra seguinte".
Para a pesquisadora da Aprosmat, o produtor deve ter muita
responsabilidade ao usar (corretamente) essa tecnologia. Aí,
independente se for um produto uma variedade resistente -
ambas as tecnologias foram possíveis pelo empenho de
anos e anos em pesquisa e desenvolvimento; se usadas incorretamente,
é possível que esse incremento seja "queimado"
em poucas safras. "Na minha opinião, os nematicidas
são mais uma ferramenta que, se usada com responsabilidade,
contribui, mas que o produtor deve avaliar o custo-benefício".
A mesma linha de raciocinio é compartilhada pelo pesquisador
da Unesp que atesta benefício do produto, mas não
há como ancorar o manejo apenas com o uso do nematicida.
"O dano que os nematoides causam a planta no estágio
de desenvolvimento inicial (plântula) é muito
mais sério porque compromete a formação
do sistema radicular", explica Santos. "Se o ataque
ocorre depois, em alguma porção do sistema radicular,
o dano poderia não ser tão acentuado. Se o tratamento
da semente protege a plântula por uns 30 dias, a fase
crítica passou. O sistema radicular foi formado e,
dependendo da intensidade do ataque, a planta escapa ao dano.
É isso que se busca com o tratamento da semente".
Por isso, em densidades de população mais altas
no solo, o tratamento da semente requer que se adote uma prática
de redução da população do nematoide,
previamente, para que se tenha um resultado compensador. Como
o tratamento da semente protege a planta, também, de
outras pragas e doenças iniciais da cultura, o benefício
se torna mais evidente.
Contudo, Santos pondera que o estabelecimento de uma agricultura
sustentável não pode depender somente de químicos.
Os nematicidas não tem ação seletiva,
portanto, o uso intensivo dessa prática causaria desequilíbrios
com o tempo, agravando a situação. "É,
pois, necessário que outras práticas de manejo
também sejam utilizadas para minimizar o estresse causado
ao ambiente pelos químicos".
Controle biológico
Já há produtos biológicos no mercado
que tem pronunciado efeito sobre o controle de nematoides,
tanto em soja quanto em outras, de acordo com Santos. O interesse
por essa alternativa de controle écada vez maior, mas
os resultados que se tem mostrado a partir desse tipo de tecnologia
- sozinho - também não resolve o problema.
Em caso de infestações muito altas, por exemplo,
o controle biológico isolado não é suficiente.
Se associado a praticas de manejo que reduzam a população
da praga sua eficiência é consideravelmente melhorada.
"Em parte, é fácil se entender o porque
disso", analisa Santos. "Os nematoides de galha,
assim como as espécies de Pratylenchus são endoparasitos.
Quando a cultura está em fase de crescimento, a maior
parte da população desses nematoides estará
dentro das raízes e, portanto, estará protegida
da ação dos agentes do controle biológico
que não penetram nas raízes para capturá-los".
Nos casos em que os agentes são aplicados junto às
sementes ou no sulco de plantio, usualmente, dá-se
o caso de que a população do agente e (ou) o
seu estágio de desenvolvimento não proporcionam
o controle dos nematoides em densidades mais altas no solo.
Entretanto, os resultados a campo, em vários casos,
estão indicando que essa alternativa será melhorada
com formulações, seleção de agentes
e isolados mais eficazes para determinados nematoides, melhorias
de métodos de aplicações e ate mesmo
a adequação de práticas de preparo do
solo que melhorem o desempenho desses agentes.
Parasito no solo
Nematoides são animais invertebrados do grupo dos vermes
cilíndricos. Isto é, a secão transversal
do corpo deles é cilíndrica. Isto para diferenciá-los
dos vermes chatos que não são nematoides. Há
espécies que parasitam humanos, mamíferos, aves
e peixes; há outras que se alimentam de fungos, bactérias;
há também aquelas que se alimentam de outros
nematoides (canibais) e outras se alimentam de plantas. Uma
espécie que se alimenta de planta não se alimenta
de animais e vice-versa. Existe várias espécies
importantes que são parasitos da soja em todo mundo
- estas são capazes de causar danos relevantes e (ou)
perdas significativas. Possuem um estilete bucal característico,
que possibilita a injeção de substâncias
tóxicas no interior de células vegetais e a
posterior ingestão de meio liquido nutritivo produzido
por elas. Parasitam principalmente os orgãos subterrâneos,
em especial as raízes, nas quais podem levar ao aparecimento
de más formações, a exemplo de engrossamentos
típicos como as galhas (induzidas mais comumente por
fêmeas de Meloidogyne) ou áreas de tecido desorganizado,
já morto, de tonalidade pardo-escura ou negra evidenciando
necrose extensiva, como no caso de P. brachyurus.
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