O germoplasma é o elemento dos recursos genéticos
que permite a manipulação da variabilidade de
tipos entre e dentro da espécie, com fins de utilização
para a pesquisa em geral, especialmente para desenvolvimento
de melhoramento da planta atravé da biotecnologia.
"Se nós pegarmos os últimos dez anos",
diz Balardin, "houve uma mudança em termos de
ciclo, de grupo de maturação por questões
comerciais, e, também, em função da própria
ferrugem, houve uma antecipação de plantio e
um encurtamento de ciclo. Essa combinação de
fatores, associada com materiais novos sendo lançado
no mercado, favoreceu a predominância de variedades
com alto potencial produtivo. A partir daí, se começou
observar uma rusticidade da soja decrescente. Isso quer dizer
que ela se torna cada vez mais vulnerável a pragas
e doenças. O fato motivou, de certa forma, o aumento
de pulverizações, porque o produtor começou
a perceber que se ele antecipar e aumentar o período
de proteção ele garantiria um ganho correspondente
em produtividade".
Resposta genética
Pressões de mercado, da pesquisa e dos tratos culturais
acabaram fortalecendo a expansão da lavoura e assim
foi possível ampliar o rendimento por saca por hectare.
A princípio, para a obtenção desse feito
era necessário garantir a manutenção
da saúde da planta, para que assim ela pudesse desempenhar
o melhor papel possível para encher os grãos.
Ao se decidir pela alta produtividade, decide-se também
que o germoplasma da planta desloque grande de energia (ou
carboidrato) à parte aérea do vegetal, em consequência,
pouco sobra para a raiz. Segundo Balardin, isso acarreta numa
diminuição da agressividade radicular, que será
ainda mais fragilizada em funçãodo próprio
método de plantio.
Para se plantar mais rápido, opta-se por equipamentos
com discos - e não mais o sulcador. Isso fez com que
a raiz da soja ficasse mais na parte superficial do solo.
Ainda, para tornar mais rápida e barata a semeadura,
retirou-se o adubo da linha e o pôs a lanço.
"Na minha opinão, estamos numa busca excessiva
pela questão da alta produtividade. Talvez não
seja politicamente correta essa afirmação, mas
é uma preocupação que tenho. Hoje, uma
plantadeira média custa cerca de R$ 200 mil. Se tu
jogares a linha de adubo, você tem de aumentar a potência
do trator para puxar essa plantadeira, e aí ela vai
custar mais uns R$ 100 mil... Essa equação é
simples na cabeça do produtor - tira a linha de adubo!
Isso não e uma crítica. Eu, como produtor, faria
a mesma coisa".
Bem próximo ao inimigo
A questão volta-se contra a segurança fitossanitária
da plantação. Pois, a concentração
das raízes da planta na parte superficial do solo faz
com que elas estejam justamente na camada onde estão
os fungos causadores de doenças. Segundo Balardin,
essa é a primeira faixa a qual possui 15 centímetros
de profundidade. Ainda, soma-se a questão de dificuldade
para absorção de nutrientes e de água
nesse extrato, aliado a um comprimento de raiz um tanto curto.
Estudos indicam que a planta possui genética e fisiologia
para alcançar 1,2 metro de raiz.
"O meu potencial produtivo está limitado pela
questão fitossanitária ou ele está limitado
pelas questões fisiológicas? Ou os dois?",
indaga Balardin. "E, ainda, eu agravo a questão
fisiológica com um manejo de semeadura, uma utilização
de solo com muita monocultura... Soja e milho. O que está
ocorrendo? A doença é uma consequência
da vulnerabilidade da planta. Aí, ela entra como oportunista".
Diante de toda essa conjuntura exposta pelo pesquisador, o
desenvolvimento da sojicultura no País sugere que mais
se tem criado condições para a planta se tornar
vulnerável. O País tem potencial para produzir
mais por quilos por hectare, em função de disponibilidade
de área e clima, e, também, pelo avanço
em termos de pesquisa e tecnologia, especialmente quando o
assunto é a produção de cultivares. Atualmente,
são contabilizadas 867 para as espécies Glycine
max (L.) Merr. e Neonotonia wightii (Wight et Arn.) J.A. Lackey
= Glycine javanica L. no Registro Nacional de Cultivares (RNC),
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa). "Pegando apenas o Rio Grande do Sul, tem umas
oito ou dez cultivares que predominam, no entanto há
mais de 100 registradas para aquele Estado. Se for para Mato
Grosso, deve ter mais de 300 registradas", ressalta Balardin.
Essa é uma quantidade maciça de material genético
que passa despercebido pelos campos. Fica em produçao,
na melhor das hipóteses, em quase três safras
e depois sai. Deve-se considerar, nesse caso, que o tempo
de obtenção de cada germoplasma seja, por exemplo,
leva cerca de seis anos. Depois, mais três anos para
chegar ao mercado. De acordo com Balardin, isso não
permite conhecer esse material, pois há um fluxo constante
de variedades que são lançadas no mercado -
sempre, uma versão melhor ou mais produtiva toma o
lugar de versões mais antigas. De fato um avanço,
mas que também guarda peculiaridades. "Faço
ensaios com cultivares a quase dez anos. A maior dificuldade
que tenho é repetir o estudo com a mesma variedade
três anos consecutivos. O máximo que consigo
são dois anos. Isso porque a variedade mudou e, aí,
já nem faz mais sentido trabalhar com materiais antigos".
Contextualizar as ações
A saída, para o pesquisador, tem de partir de análise
contextual da produção, e não, somente,
através de soluções pontuais - como a
administração do defensivo tal para controlar
o problema "x" ou "y". A integração
dos fatores produtivos como a questão do solo, do clima
(ou fatores ambientais), dos recursos naturais e biológicos
são pontos estariam envolvidos para a concepção
de uma agricultura focada no incremento dos rendimentos e
que também promova a melhoria fitossanitária
da lavoura.
"Hoje estamos num grau de sofisticação
de processo tão grande que, erros na data de semeadura,
erros no arranjo de plantas e equívocos na hora de
semear vão ter repercussão no final. Estive
recentemente nos Estados Unidos e vi um problema sério
que nós vamos ter aqui, é a questão de
resistência de plantas daninhas", destaca Balardin.
Nesse sentido, o ideal é se pensar o manejo da lavoura
de forma integrada e ainda a área da pesquisa tem de
buscar um germoplasma equilibrado na questão produtividade
e maior tolerância ou menor sensibilidade às
ações de pragas e doenças. Segundo o
pesquisador, entre as estratégias atuais para tornar
a planta mais eficiente, do ponto de vista fisiológico,
está a otimização do aproveitamento da
água e da captação de luz solar.
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