"Uma
vez instalada na lavoura de soja, a doença não
sai mais, e assim, o produtor tem de conviver com ela pelo
fato de o fungo conseguir permanecer por vários e vários
anos no solo", ressalta.
O mofo branco, nos últimos seis anos, cresceu violentamente
em importância para a cultura da soja. Já houve
registros de danos - em pontos isolados - que chegaram a comprometer
40% a 60% da lavoura, no entanto, em média, as perdas
giram em torno de 10%. Estima-se hoje que esse mal esteja
presente em cerca de 2,7 milhões de hectares de área
de soja, ou algo em torno de 10% a 11% da área cultivada
da oleaginosa no País. As condições mais
favoráveis ao desenvolvimento do fungo são em
áreas com temperaturas mais amenas, com médias
abaixo de 25º C - no Cerrado, as áreas mais altas
podem apresentar essas condições.
A convivência com mofo branco deve envolver todo um
manejo que passa pela aquisição de sementes
certificadas, tratamento dos grãos destinados ao plantio,
aplicação de fungicidas em época adequada,
além de todo trabalho de rotação de culturas
não hospedeiras e cuidados na hora da colheita.
Campo farto
Outro fator preponderante para a perpetuação
do fungo nas lavouras Brasil afora também se relaciona
a quantidade de espécies suscetíveis a ele.
Segundo Meyer, atualmente há cerca de 400, incluindo
aí plantas daninhas, que viabilizam o patógeno
e, dessa forma, contribuem para que ele tome conta dos campos.
Entre as lavouras hospedeiras estão o algodão,
o feijão, o tomate e a ervilha. "Se não
houver controle efetivo, essa doença se espalhará
mais e mais pelo solo tornando inviável o cultivo de
qualquer uma dessas lavouras", alerta o pesquisador.
Os primeiros sintomas são manchas aquosas que evoluem
para coloração castanho-clara e logo desenvolvem
abundante formação de micélio branco
e denso (como uma película de algodão sobre
o vegetal). O fungo é capaz de infectar qualquer parte
da planta, porém, as infecções iniciam-se
com frequência a partir das inflorescências e
das axilas das folhas e dos ramos laterais. Ocasionalmente,
nas folhas, podem ser observados sintomas de murcha e seca.
Em poucos dias, o micélio transforma-se em massa negra
e rígida, o esclerécio, que é a forma
de resistência do fungo. Os esclerécios variam
em tamanho, e podem ser formados tanto na superfície
como no interior da haste e das vagens infectadas.
A fase mais vulnerável da planta vai do estádio
da floração plena ao início da formação
das vagens. Esclerécios caídos ao solo, sob
alta umidade e temperaturas entre 10ºC e 21ºC, germinam
e desenvolvem na superfície do solo demais estruturas
do fungo, chamadas apotécios. Estes produzem ascósporos
(ou esporos) que são liberados ao ar e são responsáveis
pela infecção das demais plantas. A transmissão
por semente pode ocorrer tanto através de micélio
dormente (interno) quanto por escleóácios misturados
às sementes.
Cuidados com a sementeira
Daí, então, deve-se iniciar o controle do mofo
branco - com o uso de sementes certificadas, beneficiadas
e devidamente tratadas a partir de produtos adequados. "Nossa
legislação não permite que haja esclerócios
em meio às sementes", afirma Meyer. "Nesse
sentido, sementes que estão registradas pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estão
livres dessas partículas de S. sclerotiorum, eliminados
no processo de beneficiamento. Por isso o produtor tem de
sempre adquirir sementes certificadas, de boa procedência
e qualidade.
No caso de produtores que fazem uso de grãos próprios
para estabelecer o cultivo, é essencial que se observe
se o material colhido não veio de áreas com
infestação de mofo branco, se foi feito o devido
beneficiamento para a retirada de possíveis esclerócios
e, também, se as sementes foram tratadas com fungicidas
apropriados.
Em geral, esse tratamento é composto por misturas de
dois ingredientes ativos (um de contato e outro sistêmico)
que são eficientes na erradicação desse
fungo que, às vezes, pode estar aderido à semente.
Meyer destaca que, na última Reunião de Pesquisa
de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB), foram
aprovadas já para essa safra algumas classes de fungicidas
para o controle da doença tanto para a parte aérea
da planta (em pulverizações) como para o tratamento
de semente em si - dois produtos, à base do princípio
ativo fluazinam, estão devidamente registrados pelo
Mapa. "De fato são fungicidas de um custo bastante
elevado se comparado, por exemplo, com o custo de controle
da ferrugem, mas em áreas onde a doença já
esteja se agravando, a opção deve ser estudada
para ter o menor número possível de plantas
infectadas. Outro princípio ativo que deve ter aprovação
em breve e procimidona", diz Meyer.
Química e física
No caso do controle quÍmico, a época ideal se
dá com o período de floração da
soja, pelo fato de assegurar o melhor desenvolvimento dos
grãos. O combate propriamente físico ao fungo
pode ser feito a partir do controle biológico. Outras
espécies de fungos são classificadas como antagônicas
a S. sclerotiorum e, por isso, atuariam como agentes de equilíbrio
fitossanitário. Mas para que isso ocorra é necessário
haver uma palhada de cobertura no solo nos campos de soja,
a qual resultará em sombreamento e umidade, ou seja,
as condições adequadas para o estabelecimento
desses tipos de fungo. Ainda, a expresso física
pode relacionar o estabelecimento de rotação
de culturas não hospedeiras para diminuir a incidência
e o progresso de infestação da doença.
"Gramíneas, de forma em geral, como o arroz, o
milho, e a braquiária são interessantes opções
para se estabelecer na região do Cerrado", frisa
o pesquisador da Embrapa Soja. "Esta última é
especialmente uma boa opção para propriedades
que possam implantar a integração lavoura-pecuária.
Na Região Sul, as culturas como o trigo, a aveia e
a cevada destacam-se como saídas viáveis à
rotação".
Ainda são recomendadas práticas como a eliminação
de plantas hospedeiras do fungo, adubação adequada,
aumento do espaçamento entrelinhas, reduzindo a população
ao mínimo recomendado, para evitar o acamamento e facilitar
a ventilação e a penetração dos
raios ultravioleta do sol, que diminuem a incidência
do mofo branco.
Atenção aos maquinários
Por fim, outro cuidado que deve se ter é em relação
à limpeza das máquinas agrícolas como
plantadeiras e colheitadeiras - ainda mais pelo fato de haver
a prestação de serviços de plantio e
colheita àqueles produtores que não detém
máquinas próprias. Esses equipamentos têm
de ser muito bem limpos ao passarem de uma área a outra.
"Se uma colheitadeira, por exemplo, colhe numa área
de soja que tenha mofo branco, provavelmente, no interior
dela vai ficar esclerócios, que podem propagar a doença
em áreas que não havia registros da incidência
do fungo", conclui.
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