No
Brasil, a preocupação recai sobre a buva (Conyza
bonariensis e Conyza canadensis), o azevém (Lolium
multiflorum) classificadas como resistentes, e quatro tolerantes
- o leiteiro (Euphorbia heterophylla), corriola ou corda-de-viola
(Ipomoea sp.), trapoeraba (Commelina sp.) e a poaia-branca
(Richardia brasiliensis). No entanto, ainda há demais
plantas que têm merecido a observação
em termos de resistência ao controle químico
tanto aqui no Brasil como nos demais países produtores
de grãos.
De acordo com o pesquisador, Leandro Vargas, especialista
em manejo e controle de plantas daninhas da Embrapa Trigo,
em Passo Fundo (RS), a unidade de pesquisa tem liderado um
projeto desde fevereiro desde ano em conjunto com a Embrapa
Soja, Embrapa Milho e Sorgo, Universidade Federal de Pelotas,
e a Esalq com objetivo de identificar, mapear e monitorar
as áreas com resistência no Brasil. "Na
safra de soja de 2010/2011 foram avaliados na Embrapa Trigo
mais de 100 casos de suspeita de resistência, sendo
64 casos de suspeita de resistência em leiteiro; nove
casos de suspeita em buva, cinco casos de suspeita em azevém
e 25 casos de suspeita em capim pé-de-galinha. Todas
as amostras (casos) de azevém e buva foram positivos
para resistência. Já os testes com leiteiro e
pé-de-galinha foram todos negativos, indicando que
os casos avaliados se tratavam de falhas de controle e não
resistência. Para controle eficiente dessas espécies
deve-se observar o estádio vegetativo da planta daninha
e a dose indicada na bula do produto", afirma.
Pela porta dos fundos
O problema todo incide no uso mais do que maciço de
um único princípio ativo - o glifosato. O produto
foi disposto aos agricultores brasileiros em meados dos anos
de 1970 e foi muito aplicado como dessecante no período
de entressafra, no sistema de semeadura direta, assim como
em áreas não cultivadas, como pomares e reflorestamentos.
A opção pelo herbicida cresceu ainda mais com
a entrada oficial em 2005 da soja transgênica que possui
tolerância ao glifosato.
No entanto, a cultivar já era utilizada desde meados
de 1995, vinda clandestinamente da Argentina, país
onde a tecnologia já era permitida, segundo Vargas.
"Antes mesmo da soja RR [Roundup Ready] ser oficializada
comercialmente já havia casos de resistência
a plantas daninhas, mas os produtores não chegaram
a alertar". Os dois primeiros casos de resistência
ao produto no Brasil foram identificados no Rio Grande do
Sul, com o azevém em 2003 e a buva em 2005.
O fato é que a tecnologia da soja transgênica,
que permite o uso do glifosato em pós-emergência
da soja sem afetar a cultura, significou para os produtores
a oportunidade de controlar as plantas daninhas de forma fácil,
eficiente e com relativo baixo custo. A rede de estudos, a
qual o pesquisador da Embrapa Trigo faz parte, estima que
há casos em que o custo com herbicida foi reduzido
em mais de 80%, o que viabilizou o cultivo da oleaginosa em
alguns anos como em 2005. Para a comunidade científica,
essa tecnologia apresentou-se como uma importante alternativa
para incrementar o manejo das plantas daninhas, como o leiteiro
e o picão-preto (Bidens pilosa) resistentes ao imazaquin.
Em termos gerais, os herbicidas possuem diversas classificações
e atuam em pontos específicos da planta - lá,
promovem alterações nas rotas metabólicas
do organismo (grosso modo, eles afetam a alimentação
do vegetal, que acaba morrendo de fome).
A tecnologia da soja transgênica foi aceita e recomendada
pela comunidade científica e adotada rapidamente pelos
produtores. Entretanto, todos foram pegos de surpresa com
a rápida seleção de espécies daninhas
em resposta ao uso repetido do glifosato. A pressão
de infestação dessas invasoras foi aumentando
gradativamente ajudadas por fatores como, o cultivo do milho
na safrinha sem o uso de herbicidas ou pelo uso de subdoses,
pela própria movimentação das colheitadeiras
que se configuraram como importantes agentes de disseminação,
e pelo próprio agravamento do problema da resistência.
Histórico de resistência
O capítulo de se escreve atualmente para a produção
agrícola brasileira já ocorreu anteriormente,
só que com outros personagens. O Capim-marmelada e
o leiteiro, por exemplo, foram os de grandes problemas que
ocorreram nas lavouras de soja no início dos anos de
1980. Na época foram lançados herbicidas de
dois grupos químicos.
Chegou-se a ouvir que o problema tinha definitivamente acabado.
No entanto, biótipos de leiteiro, picão-preto
e capim-marmelada resistentes foram selecionados e se dispersaram
pelas lavouras em consequência do uso contínuo
desses produtos.
Em meados dos anos de 1990, essas mesmas espécies,
através de biotipo resistentes, trouxeram novamente
grandes transtornos aos agricultores brasileiros. "A
pressão de infestação das plantas daninhas
foi aumentando gradativamente ajudadas por fatores como, o
cultivo do milho na safrinha sem o uso de herbicidas ou pelo
uso de subdoses, pelas colhedeiras que são importantes
agentes de disseminação, e pelo próprio
agravamento do problema da resistência", explica
Dionísio Grazziero, pesquisador da Embrapa Soja e também
especialista em manejo com plantas daninhas.
No início de 2000, a presença das infestantes
nas áreas de produção era semelhante
ou pior que nos anos de 1980. Outras mais espécies
entrariam na lista de resistência ao controle químico
no Estado do Paraná, a exemplo da nabiça, da
losna-branca, do capim-colchão e do capim-pé-de-galinha.
Até biótipos de picão-preto resistentes
de nível baixo a atrazina foram encontrados no milho
safrinha.
"É corrente a afirmação de que herbicidas
não causam resistência, mas selecionam os biótipos
resistentes, que existem na natureza. O uso continuado de
produtos com o mesmo mecanismo de ação elimina
os indivíduos suscetíveis, e deixam sobreviver
os resistentes, cuja população com o tempo passa
a dominar área", afirma Grazziero.
Manejo integrado
Mesmo que existam soluções técnicas comprovadamente
eficientes, como foi o caso do cultivo do trigo ou da aveia
que, associados com o uso de alguns produtos na cultura e
na pós-colheita, desempenharam papel fundamental no
controle da buva, a rotação de culturas, rotação
de mecanismos de ação, integração
de métodos de controle e limpeza das máquinas
tornaram-se também ações que podem ajudar
na prevenção e no manejo integrado das plantas
resistentes. "Não podemos esquecer que muitas
espécies aproveitam os períodos de pousios na
entressafra para se multiplicar. E é justamente na
entressafra que temos uma grande oportunidade para manejar
as plantas e reduzir seu banco de sementes", atesta Grazziero.
No que se refere ao controle químico, o impacto da
seleção de espécies está intimamente
ligado ao custo de produção, já que o
produtor terá de utilizar outros herbicidas na área,
normalmente com custo superior ao do glifosato e com menor
eficiência, resultando em maior gasto com herbicida,
menor controle e perdas na produção. O custo
de herbicidas graminicida susbtitutos é de aproximadamente
dez vezes maior, e de herbicidas de folhas largas pode variar
de duas a oito vezes o custo do glifosato.
Recomendações gerais
Nas áreas onde ocorrem plantas resistentes recomenda-se:
a) não usar, mais do que duas vezes seguidas na mesma
área, herbicidas com o mesmo mecanismo de ação;
b) implantar um sistema de rotação de mecanismos
de ação de herbicidas eficazes sobre as espécies-problema;
c) Após a aplicação do herbicida, as
plantas que sobreviverem devem ser arrancadas, capinadas,
roçadas, ou seja, controladas de alguma forma para
evitar a produção e disseminação
de sementes na área;
d) implantar programa de rotação de culturas.
A rotação de culturas oportuniza a utilização
de um número maior de mecanismos de ação
herbicidas;
e) limpar máquinas e equipamentos para evitar a disseminação
das plantas daninhas resistente. Cuidados especiais devem
ser adotados nos condomínios agrícolas, onde
as máquinas são usadas de forma comunitária.
Buva
De forma geral recomenda-se que o manejo de buva resistente
ao glifosato seja realizado continuamente e com ações
comunitárias como a eliminação de plantas
que crescem nas margens de estradas, pois suas minúsculas
sementes disseminam-se pelo vento com muita facilidade.
Aproveitar as oportunidades de manejo de buva (no inverno,
na dessecação pré-semeadura e controle
ou catação na pós-emergência da
cultura de verão) é fundamental para ter sucesso
no controle.
No Rio Grande do Sul, o cultivo da área com trigo,
centeio ou aveia diminui o número de daninhas quando
comparado com áreas não cultivadas, deixadas
em pousio. A implantação de culturas que permitam
a colheita de grãos, como trigo ou espécies
que possam ser utilizadas somente para cobertura do solo,
como aveia, ervilhaca ou nabo forrageiro, entre outras são
boas alternativas.
A Brachiaria ruziziensis também é uma boa opção
para regiões mais quentes como Paraná, e o seu
uso pode ser feito no sistema lavoura-pecuária, junto
com o milho safrinha ou mesmo apenas para ocupação
de área e formação de cobertura morta.
A associação do efeito supressor das culturas
com uso de herbicidas proporciona controle satisfatório
de buva, na maioria dos casos. Os herbicidas usados na cultura
do trigo, como iodosulfurom, metsulfurom e o 2,4-D controlam
buva, mas seu uso deve atender as recomendações
de uso para a cultura e para a planta daninha com relação
ao estágio, época de aplicação
e dose [confira a tabela 'Alternativas de herbicidas para
uso em um programa de controle químico de buva resistente
e sensível ao glifosato'].
Azevém
São muitos os casos de falhas no controle do azevém
antes da semeadura do milho e da soja. O controle dos biótipos
de azevém resistentes ao glifosato, de forma geral,
é obtido com uso dos herbicidas graminicidas "fops"
e "dims" [confira a tabela 'Herbicidas graminicidas
e não-seletivos que controlam azevém resistente
e sensível ao glifosato]. Na cultura do milho, as triazinas
e o nicosulfuron, entre outros, são boas alternativas
de controle do azevém.
É importante o planejamento do controle antes da semeadura
(15 a 20 dias antes da semeadura da soja) de forma a permitir
o controle do azevém em tempo suficiente para evitar
os efeitos negativos da competição sobre a cultura.
Além disso, em caso de uso de graminicidas, deve-se
levar em consideração que alguns deles possuem
efeito residual e podem afetar culturas como o milho, o trigo
e a cevada.
Vale destacar que alguns herbicidas graminicidas podem apresentar
residual de solo e afetar cultura como milho, trigo e cevada.
Para evitar problemas deve-se respeitar os períodos
de carência recomendados.
Capim-amargoso
O
controle de biótipos resistentes envolve o uso de graminicidas
pós-emergentes e alguns herbicidas que atuam como pré-emergentes.
Quando ocorre durante o desenvolvimento da cultura da soja,
o fechamento das entrelinhas mostrou ser um grande auxiliar
na ação dos herbicidas. Plantas adultas que
se desenvolvem na entressafra são difíceis de
serem controladas. Assim, o maior risco está em se
tentar o controle de plantas já desenvolvidas, pois
requerem altas doses e aplicações sequenciais
com intervalos de 25 a 30 dias.
Não são raros os casos de rebrota, o que reforça
a importância da eliminação das plantas
novas. A integração do controle mecânico
com o químico pode trazer resultados em plantas desenvolvidas,
mas em grandes áreas essa alternativa tem baixo rendimento,
é onerosa, e de pouca viabilidade prática. Quando
cortadas após a passagem da automotriz, as touceras
devem ser tratadas com herbicidas cerca de 15 a 20 dias após.
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