A
principal causa apontada por esse incremento está relacionada
à quebra da safra americana 2010/2011 de milho, que
sofreu perdas significativas. Os Estados Unidos (EUA) são
o principal produtor e chegam a ser responsável pela
oferta de 50% do total do grão produzido no mundo todo.
"Na verdade", conta o analista de mercado de milho
da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Thomé
Luiz Freire Guth, "na época que foi anunciada
essa projeção, esta chegou a ser a queda mais
baixa dos últimos 20 anos. A safra 2011/2012 também
está com risco de quebra porque foi plantada fora de
época - e em função do excesso de chuvas
que ocorreu em regiões produtoras de milho". Depois
desse cenário, as regiões produtoras americanas
foram afetadas por uma onda de calor e estiagem, que deve
impactar negativamente a produtividade.
Anterior à crise da safra dos EUA, o primeiro fator
que engatilharia o aquecimento da demanda seria a quebra da
safra de trigo forrageiro na Rússia em função
da seca. De acordo com Guth, o alimento compõe a base
da dieta dos rebanhos naquele país, e, com a falta
dele, os produtores se voltaram ao milho como substituto.
Igualmente, demais países europeus sofreriam com a
seca e majorariam a lista de compradores do cereal. "Houve
também outros fatores coadjuvantes como a possibilidade
de quebra de safra da Argentina e o aumento do consumo da
China", acrescenta.
Baixas na produção
Oferta e procura - este é o princípio que rege
a economia e é a partir dele que está relacionada
a flutuação dos preços, seja de qual
produto ou serviço for. Daí, a crescente procura
por milho e a perspectiva de níveis mais baixos desse
item tornaram-o supervalorizado. As vendas que ocorreram desde
então fizeram com que os níveis de estoque do
cereal despencassem significativamente.
Para muitos analistas de mercado, tradings (empresas especializadas
no comércio de commodities) e fundos especulativos,
o consenso a que se chega é da falta de credibilidade
de recuperação desses estoques nessa safra.
"Mesmo que os EUA consigam ter uma safra de cerca de
342 milhões de toneladas (t), ainda assim, o estoque
de consumo deles continuará baixo", avalia Guth.
No Brasil a produção também não
parece ter o mesmo desempenho de safras passadas. Apesar da
estimativa da safra 2010/2011, feita pela Conab, ser de 57,12
milhões de t (1,97% maior do que a previsão
da de 2009/2010), há indícios de que esse número
deva cair - só ainda não se sabe ao certo para
quanto. Segundo o especilista da Conab, é preciso muita
cautela com as informações alarmistas, feitas
muitas vezes só por base na observação
isolada dos acontecimentos.
O fato é que os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul e Paraná sofreram com a influência de
efeitos climáticos distintos na segunda safra de milho.
O primeiro, pela seca, e os demais, por intensas geadas. "Pode-se
dizer que a geada de Mato Grosso do Sul e do Paraná,
principalmente do Paraná, é a situação
mais drástica do que a seca de Mato Grosso", testifica
Guth que esteve em regiões produtoras paranaenses justamente
nos dias da intensa geada, ocorrida em 27 e 28 de junho. "Isso
porque, boa parte dessa safra foi plantada atrasada, fora
da janela de plantio. O pessoal resolveu arriscar, achando
que não poderia acontecer um efeito climático
que, de fato, é normal ocorrer nos meses de maio, junho
e julho. O problema todo é que a geada que veio para
o Estado foi mais forte que se imaginava".
O Brasil também foi prejudicado com a falta do produto
no início do ano também em função
do atraso no plantio da safra de verão, o que forçou
a venda dos estoques públicos do cereal. "Apesar
disso tudo, ainda é cedo para se apontar a extensao
das perdas, pois o Paraná, por exemplo, ainda atravessa
uma colheita muito incipiente. Tenho ouvindo muitos números,
como 40%, 50% ou 60% de quebra de safra. Certamente haverá
perdas, mas não há como dar crédito a
esse tipo de informação", pondera.
Mercados em competição
O grão conquistou uma dada importância tanto
para a alimentação humana como para compor a
dieta animal, especialmente para o setor de aves e suínos.
Diante da busca por garantia do cereal, a rixa ficou acirrada
entre compradores dentro e fora do País. A exportação
tem sido realmente mais atraente ao produtor, ao passo que
o mercado interno também tem feito pressão para
adquirir o produto.
Só para se ter uma ideia, Mato Grosso, por exemplo,
já vendeu 66% da safra de milho (antes mesmo de colher,
mais de 40% da produção já tinha sido
comercializada no mercado futuro).
Estima-se agora que os produtores mato-grossenses terminem
a colheita e segure um pouco esses grãos que lhe restam
para negociar e, até mesmo, especular um pouco o valor
a ser praticado por saca. Esse fato tem sido observado em
várias praças no País - particularidades
regionais de produção tem feito o milho se tornar
uma commodity equiparada à soja (só que esta
ainda mantem o patamar de maior relevância dentro do
mercado agrícola).
Do inferno ao céu
De maio de 2010 para cá, o que favoreceu também
esse aumento de preços foi a questão de volume
de escoamento feito através do Prêmio para Escoamento
da Produção (PEP), que serviu de incentivo à
exportação. Esta ferramenta, disponibilizada
pela Conab, é uma subvenção econômica
concedida àqueles que se disponham em adquirir o produto
indicado pelo governo federal, diretamente do produtor rural
e (ou) sua cooperativa, pelo valor de referência fixado
(Preço Mínimo), promovendo o seu escoamento
para uma região de consumo previamente estabelecida.
Logo depois os preços começaram a melhorar no
mercado externo o que levou o produtor a vender mais o produto
lá fora. Com a falta de milho, houve um descompasso
entre a oferta e a demanda que jamais se imaginava, o que
culminou em vendas de volume que nem supriam a necessidade
da mercadoria. "Chicago [Chicago Board of Trade (CBOT),
a Bolsa de Valores de Chicago] chegou num patamar que, historicamente,
nunca havia chegado - como o milho ser negociado próximo
a US$ 8 o bushel [unidade que representa 25,401168 quilos]",
diz Guth.
As perspectivas
Tudo o que pode ser previsto só serve para ilustrar
um cenário ou uma tendência, e não há,
nesse caso, como ponturar se isso realmente irá ou
não ocorrer. Nesse sentido, o especialista da Conab
pondera que se o Brasil tiver condições climáticas
favoráveis, se houver o plantio da soja na época
recomendada, então, Mato Grosso plantará a soja
precoce, para tentar colher no final de dezembro. Daí
o Estado poderá plantar milho a "dar com pau".
É possível que os gaúchos e os catarineneses
se animem e também façam um incremento da área.
O Paraná pode até deixar esse aumento de área
para a safrinha. "Atualmente, é muito difícil
de se lidar com a primeira safra desse cereal pois ela está
muito próxima à da safra de soja, e esta tem
garantido rentabilidade muito boa. Algumas regiões,
como no Paraná, não dariam para aumentar a área
- o que pode ocorrer é o uso de terras de outras culturas,
como o feijão.
Feito isso, o País poderia chegar próximo a
60 milhões de t de milho (no total das duas safras).
Mas para isso, o clima teria de ajudar, pois em termos de
tecnologia a produção do cereal estaria bem
resolvida no Brasil.
Ainda, há uma tendência de os EUA não
conseguirem atingir a produtividade. Se eles quebrarem a safra
novamente o preço então se manterá em
alta no mercado externo. A projeção de plantio
do milho americano é a partir de maio. Se chegar em
meados de junho e julho e a produção americana
se recuperar, aí os preços então começariam
a cair. "Se eles recuperarem o patamar de 345 milhões
de toneladas, é provável que os preços
voltem para a casa de US$ 3, o que era anteriormente".
A dinâmica da agricultura brasileira tem crescido a
cada ano, especialmente pelo uso de tecnologia - seja com
sementes de variedades mais produtivas e adaptadas e manejo
correto com a lavoura, feitos na época certa. Esse
desenvolvimento da lavoura tem aberto novas fronteiras de
produção que hoje percebem a importância
do cultivo do grão, como em alguns Estados do Nordeste.
Diante dessa realidade, o que resta ao País é
estabelecer uma competitividade com mercados como EUA e Argentina.
Apesar de haver um aumento no consumo de milho, o interessante
para economia também seria focar a exportação.
Nesse ponto, o que pesa é falta de atratividade do
produto brasileiro no porto, por ser encarecido pelo custo
logístico.
Nada supera 2007
Apesar da alta verificada nessa última safra, esta
nem se compara à de 2006/2007, na qual foram registrados
os maiores preços do milho em todo período pesquisado
pelo Cepea. "Problemas com o trigo e milho no mercado
externo", destaca Lucilio Rogerio Alves, pesquirador
da área de grãos do Cepea, "em função
da crise de produção deram a oportunidade ao
Brasil a exportar a mercadoria. Mercados como o da Europa
e do Oriente Médio vieram bater à nossa porta
e aí nos consagramos com o recorde de exportação".
A alta mais significativa naquele período compreende
os dias 10 de julho e 6 de dezembro de 2007. O valor da saca
saltou de R$ 18,64 para R$ 34,62, o que representou uma alta
de 85,73%, num espaço de tempo de quase cinco meses
(ou 146 dias).
A restrição de oferta no mercado interno deixou
compradores preocupados e a intervenção governamental
foi essencial para atendimento da demanda doméstica.
Algumas informações de preços nos mercados
internos e externos chamaram a atenção em 2007.
Na CBOT, a alta observada entre a média de janeiro
e dezembro daquele ano foi de 7,7%, depois de terem subido
52% no último trimestre de 2006. A média de
preços em 2007 foi aproximadamente de 60% maior que
as dos últimos três anos.
O ano anterior - 2006 - fora justamente o oposto. Nele, em
30 de março, era registrada a cotação
mais baixa do produto averiguada pelo Cepea desde 2004. A
saca de milho chegou a uma média de R$ 13,32 naquele
dia.
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