Um
exemplo desse reconhecimento ao trabalho do produtor é
o Marfrig Club, lançado oficialmente pela Marfrig Alimentos,
durante a Feicorte 2011 - feira ocorrida em junho, em São
Paulo (SP).
A iniciativa consiste no fomento das boas práticas
da bovinocultura de corte brasileira, formando um grupo de
fornecedores com estrutura e processos capazes de atender
às exigências do mercado interno e externo, favorecendo,
ainda o desenvolvimento dos projetos pecuários participantes,
conforme explica Leonel Almeida, gerente de pecuária
da Marfrig e coordenador do programa. Hoje, são cerca
de 100 estabelecimentos credenciados, de diversos perfis e
tamanhos. Como o objetivo é reconhecer os fornecedores
que trabalham de forma a aplicar as boas práticas,
o que é levado em conta é a organização.
O Marfrig Club teve início na região de Promissão
(SP) e está presente também em outras plantas
do Brasil Central, em Mineiros (GO), Bataguassu (MS), Tangará
da Serra e Paranagatinga (MT), além de outras quatro
no Rio Grande do Sul, em Alegrete, Bagé, São
Gabriel e Capão do Leão. Segundo o coordenador,
o projeto segue em expansão para outras localidades.
O atual formato do programa surgiu em outubro de 2010, para
dar resposta aos compradores do grupo. Eles que, por sua vez,
estão cada vez mais preocupados com questões
sobre a procedência dos animais, a responsabilidade
social e o ambiente no qual esses animais estão sendo
criados. "Esses são os três pilares que
baseiam o sistema Marfrig Club e que devem ser respeitados
pelos pecuaristas. Para cada item, há informações
específicas, como por exemplo, para os animais, é
preciso saber itens como bem-estar (manejo, alimentação,
biossegurança, rastreabilidade, origem e idade); para
a parte social, condição de trabalho e habitações,
normas trabalhistas, educação e incentivos,
entre outras; e para o meio ambiente, como estão as
condições de água, solo, vegetação,
manipulação e destino final de resíduos",
destaca.
Esses foram alguns dos requerimentos dos clientes e para que
a empresa pudesse os responder de forma padronizada, foi criado
um protocolo que, diante dessas dúvidas, foi levado
às fazendas para que os pecuaristas verificassem se
ele, na prática, poderia ser aplicado. "Isso porque
não adiantaria nada solicitar alguma ação
que não pudesse ser executada. Alguns pontos passaram
por adequações até que no mês de
outubro, chegou-se a esse modelo de protocolo, que nada mais
é do que um roteiro para termos uma base para comparação
entre uma propriedade e outra".
Desde então, há uma equipe técnica com
cerca de 15 profissionais, entre zootecnistas e médicos
veterinários, que visita e orienta, sem custo nenhum,
os produtores e explica, em cada ponto, o que pode ser feito
para atender esse check list e o produtor pode se adequar
da maneira e no tempo que for viável. "São
coisas bem práticas. Costumamos dizer que a maioria
do que é verificado, já é feito, mas
é que, às vezes, ele não tem o hábito
de fazer o registro. Por isso, para cada ponto, priorizamos
que se faça controle, seja em uma planilha, num caderno,
alguma coisa que informe. Isso nos gera uma evidência
de que determinada ação, dentro de cada um dos
pilares, foi realizada".
Categorias
A adesão ao Marfrig Club ocorre de duas maneiras: partindo
da indústria ao produtor ou no caminho inverso, no
qual o fornecedor deve procurar o departamento de compra de
gado da unidade que o direcionará ao técnico
mais próximo. De acordo com a quantidade de itens que
estão de acordo, as propriedades são classificadas
em cinco categorias, a partir da Iniciante (até 75%),
na qual Bronze (75 a 84,9%), Prata (84 a 94,9%), Ouro (acima
de 95%) e Platinum (acima de 95% e habilitadas à exportação).
No total, são 63 itens.
"Para um produtor que está no Iniciante, por exemplo,
queremos dar todas as condições possíveis
para que ele chegue ao nível máximo, esse é
o objetivo. As vantagens são que, por ter uma propriedade
organizada, ele recebe um diferencial nos preços que
sobrepõe a qualquer outra premiação dele.
Por exemplo, se tiver um animal que está na lista Trace
- habilitada à exportar para Europa-, ele recebe essa
premiação e além disso soma-se à
ela a premiação referente ao Marfrig Club",
conta Almeida observando que a bonificação em
dinheiro só acontece na categoria Platinum. De bronze
a ouro, os benefícios são em forma de descontos
nos preços dos produtos oferecidos por empresas parceiras,
atuantes em nutrição, sanidade animal e sementes.
Apenas para o caso da categoria Platinum, há uma certificação
de conformidade, com auditoria feita por empresa terceirizada,
cuja validade é de um ano. Para as demais, se a fazenda
não conseguir aumentar de categoria dentro de seis
meses, ela volta para a base "Iniciante", novamente.
"Como o número de acerto é muito pouco
para se passar de uma categoria à outra, esse avanço
pode ser feito e os participantes têm esse tempo máximo
para alcançá-lo. O importante é o progresso.
Como a maioria dos itens são cumpridos, fica mais fácil
ainda de avançar nos procedimentos. É claro
que não queremos punir ninguém, tudo é
negociável, pois em muitos casos, podem haver situações
que são alheias ao trabalho feito", lembra.
Para Leonel Almeida, a importância da proximidade com
o produtor garante a esses dois agendes a possibilidade de
interação e troca de informações.
Pensando na questão da sustentabilidade, juntam-se
as eficiências na cadeia. O frigorífico, por
exemplo, é eficiente em comprar o animal, abatê-lo
e processar essa carne que vem de um fornecedor cuja sua esperteza
é produzir. O que buscamos é aliar essas forças
disponibilizando uma mercadoria que certamente traz mais qualidade
vinda de uma sequência que foca essas boas práticas
que estão sendo documentadas. Todos esses pecuaristas
estão preocupados em melhoria contínua. O que
fazemos é reconhecer que o trabalho é bem vindo,
é bem quisto e por isso tem um valor diferenciado",
finaliza.
Primeira certificada
A Fazenda Caramuru, de Inúbia Paulista (SP), foi a
primeira certificada dentro do Marfrig Club. A propriedade,
que está no programa desde sua implantação,
trabalha há 15 anos com confinamento e faz também
o sistema de cria, recria e engorda das raças Nelore
e Angus. São cerca de oito mil animais, sendo metade
deles confinados. Além de estar habilitada a exportar
para Europa, mantem a certificação GlobalGAP.
De acordo com o diretor do Grupo Agropastoril Fazenda Caramuru,
Décio Rother Filho, esses dois pontos contribuíram
para que o empreedimento fosse procurado para estar no programa
e para que fosse o primeiro certificado. "Já estávamos
dentro da conformidade da maior parte dos itens exigidos e,
paralelamente a isso, temos a lista Trace, que também
é um diferencial. Para nós, tem sido interessante
o retorno financeiro que essa participação nos
tem proporcionado. Em algumas vendas, ele é somado
a outras bonificações que recebemos por também
estarmos no Programa Fomento Angus do Marfrig e fornecermos
animais para cota Hilton, o que torna o preço base
ainda mais compensador", diz.
Outro fator que Rother destaca é a força e o
estreitamento entre os dois elos. "Aumenta nossa relação
como parceiros, isso vai além do tratamento fornecedor-comprador.
É gratificante que conheçam nosso trabalho,
o valorizem e nos remunerem por ele agregando um valor adicional",
comenta. Ele também pontua a importância da rotina
da propriedade que identifica e rastreia todo o rebanho, faz
o controle de produtos e atividades, e investe no treinamento
e atualização de seus funcionários, levando
em conta as bases do desenvolvimento animal, social e ambiental.
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