"SOMENTE
EM 2010, A BASF INVESTIU €393 MILHÕES NA BUSCA
DE INOVAÇÕES PARA A AGRICULTURA, O QUE REPRESENTA
26% DE INVESTIMENTO DO GRUPO BASF EM TODO O MUNDO", CONTABILIZA
MARKUS HELDT, PRESIDENTE MUNDIAL DA DIVISÃO DE PROTEÇÃO
DE CULTIVOS DA MULTINACIONAL.
"A IDEIA FOI UNIR AS FORÇAS DA BASF E EMBRAPA
PARA A OBTENÇÃO DA CULTIVANCE QUE ESTARÁ
DISPONÍVEL AOS PRODUTORES NA SAFRA 2012/2013. OS INVESTIMENTOS
DESSE PROJETO SÃO DA ORDEM DE R$ 20 MILHÕES
NO TOTAL", AFIRMA LEANDRO MARTINS, DIRETOR DE PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO DA UNIDADE DE PROTEÇÃO DE
CULTIVOS DA BASF PARA AMÉRICA LATINA.
BUSCAMOS INDIVÍDUOS QUE PUDESSEM CONFERIR RESISTÊNCIA
À FERRUGEM. AS CULTIVARES TMG 7161 RR E A TMG 7162
RR, POR EXEMPLO, FORAM OBTIDAS A PARTIR DE MATERIAL ORIGINADO
DE TAIWAN, QUE EMBORA NÃO ESTÁ ADAPTADO AO BRASIL,
POSSUI RESISTÊNCIA À DOENÇA", EXPLICA
ROMEU KIIHL, PESQUISADOR DA TMG.
"ESSE AVANÇO ESTÁ EM SINTONIA COM O NOSSO
COMPROMISSO DE SUSTENTABILIDADE FOCADO EM AUMENTO DE PRODUTIVIDADE,
PRESERVAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS E MELHORIA
NA QUALIDADE DE VIDA DOS AGRICULTORES", AFIRMA ANDRÉ
DIAS, PRESIDENTE DA MONSANTO DO BRASIL.
O estudo "Perspectivas Agrícolas 2010-2019",
elaborado conjuntamente com pesquisadores e especialistas
da Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação (FAO) e da
Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), prevê estatisticamente
o que há tempos já se alardeava aos quatro cantos
do mundo - a escassez de alimentos em nível planetário.
A mesma pesquisa vislumbra o Brasil como o ator principal
no papel de país com o melhor crescimento da produção
agrícola nesta próxima década. No geral,
grande parte dos alimentos terão índices de
crescimento abaixo ou equiparado à taxa de alta do
índice demográfico - o açúcar,
por exemplo, tem a previsão de ser o produto com a
maior diferença porcentual entre os demais analisados,
com alta de 1,4% na produção e 1,8% no consumo.
O incremento estimado do setor agrícola brasileiro
chegará a mais de 40% até 2019 quando comparado
ao período 2007/2009. Ucrânia tem uma projeção
de alta de 29%, ao passo que Rússia e China devem chegar
a 26%. Índia também pode alcançar um
crescimento significativo de 21%.
Nesse sentido, pesquisas na área de biotecnologia são
as mais visadas, especialmente, pelo setor privado, atraído
pela demanda por soluções que possam garantir
a competitividade no mercado das commodities. Daí,
a razão em investimentos da BASF, empresa química
alemã, da Tropical Melhoramento & Genética
(TMG) e da multinacional americana Monsanto em pesquisa e
desenvolvimento de cultivares que atendam à necessidade
de maior produção em menor área, com
resistência a pragas e doenças, entre outras
características.
Acordo de cooperação
Em 17 junho, a BASF anunciou o acordo de cooperação
mútua com a Embrapa, com o objetivo de desenvolvimento
de novas tecnologias de interesse comum de ambas as partes.
Entre as áreas contempladas durante o contrato que
inicialmente é de cinco anos, podendo ser estendido
a mais cinco, estão biotecnologia, melhoramento genético,
fertilidade e mecanização de solos, proteção
de plantas e fisiologia vegetal.
O 'namoro' entre as duas instituições vem de
longa data e já rendeu frutos promissores, como a segunda
variedade de soja transgênica do País (e a primeira
desenvolvida nacionalmente) resistente a herbicidas e a obtenção
de um híbrido de arroz igualmente tolerante ao controle
químico de combate a plantas daninhas. Em outra parceria,
agora com Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), o grupo deverá
trazer aos produtores brasileiros uma opção
de cana-de-açúcar transgênica com promessa
de ser mais produtiva. Para Eduardo Leduc, vice-presidente
sênior da Unidade de Proteção de Cultivos
para a América Latina da BASF, essa cooperação
faz parte de uma estratégia do grupo em unir a força
mercadológica com a força da pesquisa. "Somos
uma empresa que tem a expertise no desenvolvimento de negócios
e produtos, mas não detemos todo o conhecimento da
área agrícola, coisa que a Embrapa tem e com
muita riqueza de detalhes e particularidades de cada lavoura.
Então, por que não consolidar mais uma vez esse
acordo? Por isso resolvemos dar continuidade ao que já
estava dando certo", frisa.
A troca de experiências e o inter-relacionamento gerado
por esse contrato público-privado também servirá
para que a BASF passe a entender um pouco mais sobre os processos
e particularidades de cultivo em outras regiões fora
da realidade europeia, de acordo com Markus Heldt, presidente
mundial da Divisão de Proteção de Cultivos
da multinacional. Ele também ressalta a importância
do desenvolvimento na área de pesquisa para dinamizar
o setor agrícola que está claramente visado
por conta das perspectivas de crescimento e pela demanda por
mais alimentos.
"Somente em 2010, a BASF investiu €393 milhões
na busca de inovações para a agricultura, o
que representa 26% de investimento do grupo BASF em todo o
mundo. Isso significa uma aplicação de cerca
de mais de um milhão de euros por dia na área
de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)", contabiliza
Heldt.
Dessa nova cooperação dois projetos já
estão em andamento. Um deles, desenvolvido pela Embrapa
Soja, em Londrina (PR), está voltado ao estudo de uma
bactéria destinada ao manejo do fungo causador da ferrugem
da soja, e outro que avalia um sistema de inoculação
a partir de uma bactéria fixadora de nitrogênio
para a lavoura canavieira, pesquisa esta conduzida pela Embrapa
Agrobiologia, em Seropédica (RJ). Ao longo do contrato,
outros trabalhos das demais unidades da Embrapa poderão
ser contemplados, justamente por não haver limite de
projetos de atuação mútua. Por este motivo,
ainda não há perspectivas do quanto será
o total dos investimentos.
Cultivance
A filosofia de acordos entre a BASF e demais entidades de
pesquisa são resultados do que a empresa denomina como
"Open Innovation" - ou Inovação Aberta
- o qual se estabelece a partir dessa interação
para o alcance de objetivos em comum. "O Top Ciência,
por exemplo", diz Leandro Martins, diretor de Pesquisa
e Desenvolvimento da Unidade de Proteção de
Cultivos da BASF para América Latina, "abriu o
conceito de Open Innovation há cerca de seis anos.
Trata-se de uma iniciativa na qual trazemos pesquisadores
das mais variadas áreas para estarem em contato com
um problema e, a partir de então, eles têm de
buscar soluções ou propostas de solução
para a BASF".
A obtenção da Cultivance - a soja geneticamente
modificada resistente a herbicidas - destaca-se como uma das
primeiras do grupo nessa linha de pensamento. Ao nascer em
1996, o projeto se tornaria o marco para ambas as instituições
no desenvolvimento de um produto genuinamente brasileiro.
"A BASF identificou um gene de uma planta, que ao passar
pelo processo de aplicação de um herbicida,
ela de fato não morria. Imaginou-se, então,
se houvesse uma soja com essa característica",
pontua Martins.
A ideia foi unir as forças da BASF e Embrapa para a
obtenção dessa cultivar que estará disponível
aos produtores na safra 2012/2013. Os investimentos desse
projeto são da ordem de R$ 20 milhões no total.
Cultivance será uma alternativa à variedade
transgênica da Monsanto que é resistente ao glifosato
(herbicida também disponibilizado por essa multinacional
e que atualmente é o mais utilizado nas lavouras de
soja do Brasil). De acordo com Martins, a partir do sistema
de produção com a nova tecnologia, o produtor
terá mais uma opção de controle químico
contra invasoras na plantação, inclusive em
termos de manejo de resistência. "Sabemos que hoje
há muitas áreas produtoras dessa oleaginosa
ou mesmo plantas daninhas em que o glifosato não funciona
mais em função da resistência causada
a esse tipo de vegetação", destaca.
Cana transgênica
Na mira da lista dos organismos geneticamente modificado (OGMs)
está também uma das lavouras de maior expansão
no País - a de cana-de-açúcar. A aliança
com o CTC foi oficializada em meados do final de 2009 para
o início de 2010.
Entre as diretrizes da pesquisa está a obtenção
de cultivares de alta produtividade (em média, 25%
mais aptas à produção de sacarose) e
tolerantes à seca. A expectativa é introduzir
essa novidade no mercado brasileiro daqui a dez anos. O estudo
ainda prevê a possibilidade de as empresas avaliarem
futuramente a característica de tolerância aos
herbicidas nas variedades.
"Trata-se então do conceito semelhante ao da Cultivance",
compara Martins. "O CTC é um centro especializado
em cana, que é um campo no qual a BASF não tem
muita expertise. Então, nós identificamos alguns
genes que podem ajudar a cana produzir mais, e o CTC, com
todo o seu conhecimento da planta, incorporará essa
característica nela".
Arroz
A variedade foi obtida pelo processo convencional de seleção
(cruzamento entre plantas) e garante, atualmente, resistência
ao herbicida da BASF, Clearfield, que mata o arroz selvagem
(vermelho) que usualmente costuma crescer em meio à
plantação.
A parceria fora iniciada por volta de 2003, e contou com o
apoio do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), com sede
em Porto Alegre (RS), e da Embrapa. O resultado culminou com
o híbrido Sinuelo BRS que se destaca por ser muito
produtivo que as linhagens convencionais, além de conferir
a tolerância ao controle químico do arroz vermelho.
Soja inox
A ideia de produzir uma planta que conferisse resistência
ao fungo causador da ferrugem asiática - Phakopsora
pachyrhizi - foi um feito de sucesso para a TMG, empresa fundada
no ano de 2001, por produtores de sementes e de grãos,
pesquisadores e técnicos agropecuários.
A empresa anunciou recentemente as variedades da soja Inox
para a região Sul do País, ambas transgênicas,
conferindo resistência ao glifosato, Roundup Ready (RR)
- são elas a TMG 7161 RR e a TMG 7262 RR. A primeira
trata-se de uma cultivar de tipo de crescimento indeterminado,
com resistência à podridão da raiz. Ainda
possui um ciclo precoce com maturação relativa
de 6.1, o que possibilita a prática da segunda safra
de milho. É indicada para semeadura a partir de 15
de outubro, em solos de boa fertilidade.
Já a TMG 7262 RR também se caracteriza pela
precocidade e por um crescimento indeterminado. A cultivar
se enquadra no ciclo de maturação 6.2 e dever
ser semeada a partir de 10 de outubro. Para o futuro, a empresa
revela lançamentos de variedades de soja Inox resistente
a nematoide de cisto e associada à tecnologia Cultivance.
Desde a safra de 2008/2009, a empresa disponibiliza variedades
transgênicas adaptadas para a região Sul, como
as TMG 4001 RR, TMG 1066 RR, TMG 1067 e TMG 1161. Na região
do Cerrado, o grupo se destacou em lançar cultivares
da soja RR com tolerância aos nematoides de galhas e
de cisto; e também superprecoces, como a TMG 123 RR,
que confere tolerância à chuva na colheita e
resistência ao nematoide de cisto.
A inserção da tecnologia Inox se iniciou no
Cerrado, através das cultivares TMG 801 e TMG 803.
De acordo com um dos pesquisadores da instituição,
Romeu Kiihl, o processo para se chegar a essa característica
de resistência ao P. Pachyrhizi foi bastante árduo,
com direito a milhares de cruzamentos de plantas exóticas
e plantas adaptadas às condições regionais
do Brasil ou de regiões vizinhas como a Argentina.
"Tivemos acesso ao maior banco de germoplasma do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos [USDA], o qual possui uma
vasta coleção de plantas de várias partes,
resultado da longa história do cultivo da soja no mundo.
Nós temos uma cópia desse banco aqui, assim
como a própria Embrapa possui. A partir daí
buscamos indivíduos que pudessem conferir resistência
à ferrugem. As cultivares TMG 7161 RR e a TMG 7162
RR, por exemplo, foram obtidas a partir de material originado
de Taiwan, que embora não está adaptado ao Brasil,
possui resistência à doença", explica
Kiihl.
Para as variedades do Brasil Central fontes de Taiwan e China
tiveram de ser cruzadas com materiais adaptados àquela
região. Em termos práticos, a tecnologia confere
à planta maiores condições de conviver
com a doença no campo.
A resistência não é ampla em função
justamente de haver uma variabilidade de raças do fungo,
além da própria ação de mutação
desse agente patológico de safra a safra. No entanto,
a inovação permite minimizar os custos de aplicação
de fungicidas pela metade, ou até mais que isso em
alguns casos.
Intacta
RR2 PRO
Por
fim, a Monsanto apresentou ao mercado no início deste
ano a mais nova tecnologia da empresa para soja, que promete
revolucionar as lavouras do País - resultado de dez
anos de pesquisa e estudos e com cerca de US$ 100 milhões
investidos.
Trata-se da variedade Intacta RR2 PRO, que reúne três
soluções em uma só planta, como (1) produtividade,
através da seleção e inserção
de genes em regiões do DNA que estimulam essa característica;
(2) proteção contra as principais lagartas que
atacam a cultura da soja; e (3) tolerância ao glifosato
proporcionada pela tecnologia RR.
O produto traz a promessa de viabilizar práticas agrícolas
sustentáveis ao reduzir o uso de inseticidas para o
controle das principais lagartas da soja. "Esse avanço
está em sintonia com o nosso compromisso de sustentabilidade
focado em aumento de produtividade, preservação
de recursos naturais e melhoria na qualidade de vida dos agricultores.
Além disso, mantém a eficácia, o amplo
espectro de ação e a flexibilidade da tecnologia
RR", afirma André Dias, presidente da Monsanto
do Brasil.
Os estudos dessa inovação começaram nos
laboratórios da empresa nos EUA e os testes de campo
no Brasil tiveram início na safra 2006/2007. A nova
soja da Monsanto foi aprovada pela Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio) no dia 19 de agosto
de 2010.
A exemplo do que ocorreu com a tecnologia RR, a Monsanto também
pretende licenciar a novidade para outras empresas de melhoramento
genético de soja. Como o projeto está na fase
final de pesquisa e desenvolvimento, a cultivar deve estar
apta a ser comercializada após o registro e as aprovações
para importação em mercados estratégicos
para a empresa.
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