Os
marcos históricos de área em MT remontam à
safra 1996/1997 a qual registrava 55,2 mil ha, que saltou
para 109,9 mil ha na safra 1997/1998; logo depois, no período
1998/1999 a área destinada ao cultivo somava já
203,3 mil ha.
Do ano safra de 2000/2001 até este de 2010/2011, o
Estado de Mato Grosso registra uma média de 442,2 mil
hectares (ha) cultivados com o algodão, de acordo com
dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão
vinculado ao Ministério de Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa). No entanto, a estimativa da área
para a safra 2010/2011 chega a 703,80 ha - ou 64,40% maior
que a área verificada na safra anterior - que deverá
render 2.681.500 toneladas de algodão em caroço.
Já Mato Grosso do Sul gira em torno de uma área
46,3 mil ha. Neste ano safra, a Conab estimou um incremento
de 59,07% na área, ou 61,4 mil ha no total. E não
se trata de uma área qualquer, mas sim de uma capaz
de garantir uma média de 3.677,55 quilos por hectare
(kg/ha) de algodão em caroço, isso se considerar
os resultados desde a safra 2000/2001 - trata-se do melhor
rendimento averiguado pela Conab em todo o País.
Mato Grosso do Sul foi justamente o Estado escolhido pelo
pai de Walter Schlatter para dar continuidade à produção
agrícola da família que se baseava na soja e
algodão. "Em Chapadão do Sul (MS), nossa
produção começou em 1995 para 1996. Meu
pai já plantava algodão no Estado do Paraná
desde a década de 1970. Aí, nós transferimos
nossa propriedade para MS. (...) O Grupo Schlatter foi o pioneiro
no cultivo nessa região no norte de Mato Grosso do
Sul", afirma o produtor.
Atualmente a região norte de Mato Grosso do Sul é
o destaque da produção algodoeira. Além
de Chapadão do Sul, também há força
no cultivo da fibra os municípios de Costa Rica e São
Gabriel do Oeste. "Nesses municípios o cultivo
é feito dentro de uma visão de sistemas de produção",
ressalta Fernando Mendes Lamas, pesquisador na área
de sistemas de produção de algodão da
Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS). "Essa
cultura é desenvolvida fundamentalmente em áreas
onde anteriormente havia sido cultivada soja. Nessas regiões
temos pouca monocultura, normalmente o algodoeiro é
cultivado dentro de uma visão de sistemas de produção
na qual estabelece uma rotação de culturas.
Isso é o que faz a diferença em termos de produtividade.
Fazem parte desse sistema de rotação a soja,
o algodão e o milho, mas, predominantemente a soja".
O estabelecimento de um programa de rotação
de culturas serviu como um motor para a produtividade sul-mato-grossense.
Exemplo disso é o trabalho feito pelo Grupo Schlatter,
que já detinha uma certa especialidade na cultura da
fibra. "Saímos do Paraná com as culturas
de soja e algodão e viemos trabalhar em Mato Grosso
do Sul. Primeiro com a soja e milho, depois entrou o algodão.
(...) Uma palavra interessante que meu pai falava e sempre
passou para nós era diversificação e
não só pensar em escala", relembra Schlatter.
Além de Chapadão do Sul, o grupo também
produz em Costa Rica e nos municípios de Chapadão
do Céu e Mineiros no Estado de Goiás. "Em
MS, temos uma área em torno de 9 mil ha, desses, 6
mil ha são reservados para o cultivo do algodão.
(...) Quanto aos preços praticados atualmente, eles
incentivaram aumentar a nossa área em 25% da safra
de 2009/2010 para esta de 2010/2011. Só que para a
safra 2011/2012 vou manter a área, porque os preços
parecem já dar sinais de recuo".
Clima e solo
A escolha do algodão em MS se deveu à cultura
se encaixar adequadamente no programa de rotação
de culturas, além disso, o retorno econômico
se destaca como satisfatório atualmente. "Se pegarmos
uma média histórica, o algodão dá
um lucro para o agricultor 2,5 vezes maior do que a soja e
quatro vezes maior do que o milho", compara Lamas.
As condições de clima e solo muito favoráveis
ao cultivo do algodoeiro também são responsáveis
pelo alto rendimento por hectare. De acordo com o pesquisador
da Embrapa Agropecuária Oeste, o período de
chuvas bem definido, compreendido de outubro a abril, permite
que o algodão seja colhido numa época do ano
em que a probabilidade de ocorrência de chuva seja extremamente
baixa, isso assegura um produto de elevada qualidade.
Outro fator preponderante para o desenvolvimento da cultura
algodoeira em MS foi a migração das áreas
cultivadas do sul para o norte do Estado. "Lá
no sul tinha uma mudança climática - uma diferenciação
no clima. Isso ocorreu por volta de 2000 pra cá, mais
ou menos, e foi para o norte onde há um clima mais
definido. Nós temos um verão com chuvas a partir
de outubro e cessam em abril (...), aí temos os meses
de maio, junho e julho para fazer a colheita. Isso possibilita
ter uma safra cheia pelo fato de não ter muita perda
por excesso de chuva. Aliado a esse período de pluviosidade
bem definido também temos uma altitude favorável
para o cultivo. Hoje, os melhores algodões do País
estão nas regiões mais altas, de 700 metros
a 800 metros acima do nível do mar", acrescenta
Schlatter.
Gigante de fibra
Assim como em Mato Grosso do Sul, a cultura algodoeira foi
introduzida em meados da década de 1990 em Mato Grosso
em função de servir também como uma opção
de rotação. "Nessa época, apareceu
uma doença na soja, chamada cancro da haste, e a única
alternativa para conviver com a doença era a partir
do estabelecimento de rotação de culturas, pelo
fato de não haver variedade de soja resistente",
explica Lamas. "Foi a partir daí que o algodão
entrou no Estado - e encontrou por lá uma predominância
de condições de clima e solo extremamente favoráveis
à produção, e encontrou também
na região um produtor com altíssima capacidade
empreendedora", destaca. Este aspecto foi também
responsável pelo surgimento da primeira entidade de
classe que congregava produtores de algodão do Brasil,
a Associação Mato-grossense de Produtores de
Algodão (Ampa). "Ela foi, inclusive, a semente
da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
(Abrapa)", afirma Lamas.
Os marcos históricos de área em MT remontam
à safra 1996/1997 a qual registrava 55,2 mil ha, que
saltou para 109,9 mil ha na safra 1997/1998; logo depois,
no período 1998/1999 a área destinada ao cultivo
somava já 203,3 mil ha e continuou crescendo.
A importância econômica da fibra fez surgir a
primeira iniciativa do País que beneficiava a cotonicultura
mato-grossense. A partir do Programa de Incentivo à
Cultura do Algodão (Proalmat), criado pela Lei Estadual
6.883 de 02/06/1997 e regulamentado pelo Decreto nº 1.589
de 18/07/1997, os cotonicultores tinham redução
de 75% do ICMS do produto. O fundo foi criado na gestão
de Dante Martins de Oliveira (governador nos mandatos de 1995
a 1999 e de 1999 a 2002).
"MT tem um potencial enorme. Para se ter uma ideia lá
são cultivados seis milhões de hectares de soja
no verão. Então, se fosse utilizado um porcentual
de 10% a 20% dessa área para fazer rotação,
o Estado poderia passar facilmente da casa de 1 milhão
de hectares cultivados com algodão, tranquilamente",
estima o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.
Aliado ao profissionalismo dos produtores da região,
outro destaque vai para a predominância de grandes grupos
na produção algodoeira. Sobre este aspecto explica-se
o alto uso de tecnologias para sustentar ainda mais a pujança
do Estado.
O ciclo do maior e do melhor
Mato Grosso. A época de semeadura vai de dezembro até
fevereiro. A colheita vai de junho a até final de agosto,
ou mesmo setembro. O custo total da lavoura gira em torno
de R$ 4.500 por hectare.
Mato Grosso do Sul. O período de plantio se concentra
em dezembro e a colheita vai de junho a agosto. A Conab, estima
que o custo, por exemplo, em Chapadão do Sul, fique
por volta de R$ 4.700 por ha. Em ambos Estados, o que mais
impacta é o custo de fertilizante, agrotóxico,
inseticida, herbicida e fungicida.
Fios de muita qualidade
A fibra de algodão tem alguns parâmetros, como
por exemplo, sua finura, a qual é expressa pelo índice
micronaire. O ideal é que o algodão tenha esse
índice entre 3.9 e 4.2, e o algodão dessa região
do Cerrado está dentro desses limites. Quanto ao comprimento
da fibra, o que se registra em média são fios
entre 32 milímetros (mm) e 34 mm. A uniformidade de
comprimento é superior a 85% e a resistência
é superior a 20 gramas força por tex. "Isso
quer dizer uma fibra bem resistente e o que a indústria
têxtil quer comprar. No entanto a qualidade de fibra
é influenciada tanto pela variedade plantada como pelas
condições ambientais, então, hoje, são
produzidas e cultivadas variedades que permitem a obtenção
de fibras de boa qualidade", conclui Lamas.
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