PARA
CÉLIO PORTO, SECRETÁRIO DE RELAÇÕES
INTERNACIONAIS DO AGRONEGÓCIO DO MAPAA NEGOCIAÇÃO
REPRESENTA UMA OPORTUNIDADE IMEDIATA COMO TAMBÉM DE
RÁPIDO CRESCIMENTO PARA O FUTURO.
Pela primeira vez, a China abre o mercado para a carne suína
brasileira. A expectativa é de que a negociação
abra um novo ciclo para o segmento. Na prática, como
o potencial dessa demanda pode afetar, de imediato, a produção
nacional?
Foram cinco anos de negociação, até que
no último mês a China anunciou a abertura de
mercado para a carne suína brasileira. Inicialmente,
três unidades, das 13 inspecionadas no final de 2010
estão habilitadas para vender essa carne àquele
País, mas a perspectiva é de que o número
aumente em breve, dado que a China é o maior consumidor
mundial de carne suína com volume per capita equivalente
a 37 quilos por habitante/ano, o que somado correspondeu a
50 milhões de toneladas do produto em 2010, conforme
apontam dados da Associação Brasileira da Indústria
Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), já para os próximos
meses, há a previsão de que o governo chinês
amplie a lista de frigoríficos exportadores de suínos
e aves, período em que se pretende sanar todas as dúvidas
e questionamentos dos chineses em relação às
demais indústrias. Diante desse contexto, a abertura
tem sido muito comemorada pelo setor, mas o momento ainda
é de cautela, segundo apontam alguns especialistas.
Na opinião de Pedro de Camargo Neto, presidente da
Abipecs, é sempre importante ressaltar que o que se
foi obtido foi uma ruptura, com a conclusão de um processo
de aprovação sanitária para a China.
"Temos agora a oportunidade de avaliar a competitividade
do Brasil naquele mercado, compreender o tipo de corte que
desejam e conseguirmos vender. A demanda sendo forte serão
os importadores chineses que ajudarão a ampliar o número
de estabelecimentos. O primeiro passo foi dado", pontua.
Como a abertura é bastante recente, ele adverte que,
apesar da China ser um mercado bastante promissor, os produtores
brasileiros necessitam estar atentos antes de qualquer novo
passo para atender mais e melhor aquele País. "É
preciso primeiro conhecer o mercado, pois não se pode
colocar o carro à frente dos bois. Os investimentos
ocorrerão junto com a demanda que, esperamos, seja
forte. O Brasil tem qualidade, pode ter quantidade e a competitividade
dos cortes precisa ainda ser melhor compreendida. Por outro
lado, temos ainda problemas muito sérios com a questão
cambial, logística e carga tributária",
conta ele, lembrando que a China deve se tornar importante
importadora. "Hoje os volumes importados ainda variam
muito de um ano para outro. Vamos aguardar. O que conseguimos
agora é participar, iniciar o caminho para esse novo
comércio".
Para Célio Porto, secretário de Relações
Internacionais do Agronegócio do Mapa, a decisão
do governo da China representa uma oportunidade imediata como
também de rápido crescimento para o futuro.
"Os chineses respondem por 50% da carne suína
produzida no mundo, porém estão cada vez mais
aumentando a renda per capita e devem ampliar o consumo de
carnes", afirma.
Sobre os impactos imediatos que a negociação
pode causar na cadeia produtiva, Fabiano Coser, diretor executivo
da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos
(ABCS), também considera a comemoração
válida, destacando a importância de prudência.
"É uma notícia impactante, pois, desde
a abertura do mercado da Rússia no início dos
anos 2000, não tínhamos uma novidade tão
importante em termos de comércio internacional. Chegamos
ao auge da exportação em 2005, mas desde então
o Brasil não cresce. Já estamos há seis
anos com as exportações estagnadas e o mercado
chinês, apesar da China ser o maior produtor mundial,
está aumentando e irá precisar importar suína.
Até então eles não apareciam no cenário
mundial como grandes importadores mundiais, mas agora realmente
não tem uma capacidade de expansão tão
rápida quanto à demanda", afirma.
Segundo o representante da ABCS, o acordo com os chineses
pode vir a representar um impacto muito grande, de até
30% do valor das exportações, em um primeiro
momento algo em torno de até 150 mil toneladas. "Por
esse motivo, o Brasil não precisa ter muita pressa,
porque no momento o País nem teria essa oferta já
que se tirássemos hoje do mercado brasileiro 150 mil
toneladas de carne suína realmente teríamos
uma inflação de demanda aqui dentro, o que para
o setor não é interessante. Temos consolidado
as posições de crescimento no mercado doméstico
e nos preparado para absorver tanto esse aumento de demanda
no Brasil, quanto esse possível aumento de demanda
no mercado externo com a abertura da China", observa.
Coser afirma ainda que a cadeia produtiva está muito
bem organizada, eficiente e tem condições e
estrutura de atender a demanda em um curto prazo, considerando
um período de um ano e meio a dois anos. Para ele,
a principal vantagem do Brasil em relação aos
principais seus concorrentes (Estados Unidos, União
Europeia e Canadá) está em sua competitividade,
com diferencial incomparável em termos de áreas,
grãos, água, por exemplo. "Podemos aumentar
nossa produção, enquanto os outros têm
limitações sérias em relação
a meio ambiente e grãos. Temos também uma capacidade
muito grande de transformar nosso grão em carne, o
que já é feito com sucesso em aves e bovinos.
Então, quando você exporta carne você agrega
valor ao grão, ao invés de exportar farelo de
soja para a China, vamos agora exportar carne suína.
Esse é o grande ponto positivo".
Por fim, ele adverte que é preciso ficar de olho no
mercado chinês e outros, mas sem perder o foco no mercado
brasileiro e outros compradores, como a própria Rússia.
"Para se tornar um grande exportador, é preciso
ter um grande mercado doméstico, pois no caso de acontecer
algum problema nas vendas externas, é necessário
ter onde absorver essa produção. É esse
trabalho que a suinocultura vem trilhando para se tornar um
grande consumidor ao mesmo tempo em que se prepara para aumentar
suas exportações. É esse caminho que
temos trabalhado ao longo dos anos e em 2010 já fechamos
com um consumo per capita de 14,5 e vamos superar esse ano
os 15 quilos tranquilamente. Este é o momento de, também
internamente, aproveitar esse 'boom' de crescimento e realmente
mostrar ao brasileiro o potencial e o sabor da carne suína".
Comércio
bilateral
De
acordo com o Mapa, desde 2008, a China é o principal
comprador de produtos agropecuários brasileiros. Nos
últimos três anos, exportações
brasileiras para a China cresceram 214%, passando de US$ 3,5
bilhões em 2007 para US$ 11 bilhões em 2010.
O complexo soja (óleo, grão e farelo) lidera
as compras chinesas, com US$ 7,9 bilhões ou 20 milhões
de toneladas. Dos três subprodutos, o grão representa
a maior parcela das importações - US$ 7,1 bilhões.
O Brasil também exporta para a China produtos florestais
(madeira, cortiça, celulose e subprodutos) totalizando
US$ 1,28 bilhão.
O valor total das exportações do complexo sucroalcooleiro,
que compreende açúcar e etanol, é de
US$ 514,77 milhões, sendo US$ 514,76 milhões
referentes à importação de açúcar.
A China também importa carne bovina e de frango do
Brasil. No ano passado, as importações do produto
renderam US$ 225,6 milhões, dos quais US$ 219,6 milhões
referem-se à carne de frango. No ano passado, o Brasil
foi o principal fornecedor de carne de aves para os chineses.
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