"O
VÍRUS É SENSÍVEL À LUZ SOLAR,
AO AUMENTO DE TEMPERATURA, VARIAÇÕES DE PH,
DESINFETANTES, MAS É RESISTENTE AO CONGELAMENTO, O
QUE É IMPORTANTE QUANDO SE REFERE À COMERCIALIZAÇÃO
DA CARNE", EXPLICA RAUL MASCARENHAS, MÉDICO VETERINÁRIO
DA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE.
A
expectativa é que sejam disponibilizadas aproximadamente
560 milhões de doses para a imunização
de cerca de 208 milhões de cabeças, número
estimado do rebanho nacional.
Neste
ano, os investimentos para controlar a doença podem
alcançar R$ 59 milhões e serão aplicados
no apoio à manutenção e melhoria estrutural
dos serviços veterinários, capacitação
de pessoal, campanhas de vacinação estratégicas
e trabalhos de educação sanitária.
Já
começaram as campanhas de vacinação contra
a febre aftosa no País. A partir deste mês de
maio as ações se intensificam em todo o território
nacional para controlar esta doença considerada a de
maior importância econômica para a atividade pecuária
brasileira. A expectativa é que sejam disponibilizadas
aproximadamente 560 milhões de doses para a imunização
de cerca de 208 milhões de cabeças, número
estimado do rebanho nacional.
Em relação ao ano passado, ocorreram alterações
no cronograma em alguns Estados da região Nordeste.
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que anteriormente
realizavam a imunização em abril e outubro,
agora passarão a vacinar os rebanhos em maio e novembro,
assim como o restante das unidades federativas do Nordeste.
Em Goiás e Distrito Federal, o cronograma de imunização
também sofreu alteração. A vacinação
anual de todos os bovinos e bubalinos será realizada
em maio, enquanto os animais até 24 meses de idade
serão imunizados a partir de novembro. O único
Estado que começou a campanha já no mês
de abril (15) foi Roraima. O restante das unidades inicia
a imunização em maio, exceto Santa Catarina,
Estado considerado livre de febre aftosa sem vacinação.
"Esse é o calendário oficial até
o momento. Se houver necessidade de fazer alterações
por questões climáticas, como secas ou excesso
de chuvas, ou por dificuldade de execução plena
da vacinação, nós vamos avaliar. É
importante salientar que só ocorrerão mudanças
em caráter excepcional e que em qualquer situação
desse tipo, os pecuaristas serão comunicados com a
devida antecedência", explica o diretor do Departamento
de Saúde Animal (DSA) do Mapa, Guilherme Henrique Figueiredo
Marques.
Neste ano, os investimentos para controlar a doença
podem alcançar R$ 59 milhões e serão
aplicados no apoio à manutenção e melhoria
estrutural dos serviços veterinários, capacitação
de pessoal, campanhas de vacinação estratégicas
e trabalhos de educação sanitária. No
total, a previsão é destinar mais de R$ 93 milhões
para a Saúde Animal.
O governo federal afirma ter intensificado as ações
contra a febre aftosa nos últimos oito anos. No período
de 2003 a 2010, segundo o Mapa, os recursos passaram de R$
3,3 milhões, para R$ 55,9 milhões, o que representa
crescimento de 1.693,9%.
Em 2010, a taxa de cobertura vacinal de bovinos e búfalos
contra a doença alcançou 97,3%. Os Estados que
registraram os melhores resultados na vacinação
foram Mato Grosso, com 99,74%, Tocantins, com 99,52% e Mato
Grosso do Sul, com 99,41% dos animais imunizados.
Classificação
Atualmente,
15 unidades da federação são reconhecidas
pela Organização Mundial de Saúde Animal
(OIE) como livres de febre aftosa com vacinação:
Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe,
Tocantins e Distrito Federal. Além disso, detêm
esse status, a região centro-sul do Pará e os
municípios de Guajará e Boca do Acre, no Amazonas.
O Estado de Santa Catarina é reconhecido pela OIE como
livre da doença sem vacinação. Em risco
médio estão Alagoas, Ceará, Maranhão,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí
e a região centro-norte do Pará. Em alto risco
encontram-se Roraima, Amapá e as demais áreas
do Estado do Amazonas.
Febre
aftosa
Sete
são os tipos conhecidos do vírus do gênero
Aphtovirus, que causam a doença - A, O e C, que circulam
pela América do Sul, África e Ásia; SAT1,
SAT2 e SAT3, que circulam na África; e, por fim, ASIA1
que está presente na Ásia. "Devido a isso,
as vacinas utilizadas no Brasil só apresentam somente
os tipos A, O e C", explica Raul Mascarenhas, médico
veterinário da Embrapa Pecuária Sudeste, em
São Carlos (SP). "O vírus é sensível
à luz solar, ao aumento de temperatura, variações
de Ph, desinfetantes, mas é resistente ao congelamento,
o que é importante quando se refere à comercialização
da carne". Mas mesmo o vírus sendo muito sensível,
um animal infectado pode eliminar bilhões de partículas
virais na saliva e, assim, esses patógenos conseguem
viajar dezenas de quilômetros carreados pelo ar.
Entre os sinais clínicos observados em animais acometidos
pela doença estão a febre e lesões na
boca, gengivas e língua, como aftas (daí, então,
o nome febre aftosa). As feridas dificultam o animal de se
alimentar e promovem o emagrecimento da rês. Além
disso, há ocorrência de salivação
e lesões entre os cascos.
Mal à saúde humana é questionável
ou quase insignificante. O fator preponderante, nesse caso,
é o aspecto econômico que um surto da doença
causa, como a queda da produção dos animais
e óbitos de animais jovens, principalmente, em função
de embargos econômicos às exportações
brasileiras, estabelecidos por países que conseguiram
se tornar livres da febre aftosa e que possuem medidas rígidas
de prevenção e controle.
"Tais embargos influenciam negativamente em toda a cadeia
produtiva indo desde a redução da entrada de
divisas no País até o aumento dos custos sociais,
decorrentes da elevação da marginalidade em
cidades afetadas pelo desemprego com o fechamento de frigoríficos,
os quais chegam a ser a principal fonte de rendas de muitas
famílias em algumas cidades", avalia Mascarenhas.
Nesse sentido, é mais do que urgente fazer com que
o todo o rebanho seja imunizado. Os cuidados durante a vacinação
são gerais e devem-se obedecê-los com disciplina,
pois interferirão na qualidade final da imunização
do gado. Segundo o médico veterinário da Embrapa
Pecuária Sudeste, em termos gerais, as vacinas devem
estar a todo tempo resfriadas entre 4°C e 8°C (temperatura
normal de geladeira) para a conservação do medicamento.
Como preparativo para a vacinação dos animais,
elas poderão ser acondicionadas numa caixa de isopor
com gelo, que deverá estar sempre fechada. Horários
de temperaturas mais amenas são os ideais para se fazer
esse manejo, em animais saudáveis e bem nutridos, nas
doses corretas recomendadas pelo fabricante, dentro do prazo
de validade estabelecido, com o uso de pistolas de aplicação
limpas e rotacionando as agulhas constantemente [confira no
quadro, 'Os passos para a imunização', para
mais detalhes na hora do manejo com o rebanho].
"Uma das grandes falhas ocorre quando a geladeira destinada
à colocação das vacinas em uma propriedade
é muito manipulada e oscila sua temperatura interna,
principalmente por servir para colocação de
alimentos, água e outros produtos. A geladeira destinada
às vacinas só deve conter as mesmas", alerta
Mascarenhas.
Histórico
A
doença foi detectada na Itália, em 1514. No
Brasil, o primeiro registro ocorreu em 1895, no Triângulo
Mineiro. Como prevenção, o Ministério
da Agricultura realiza ações desde 1934, quando
foi publicado o Regulamento do Serviço de Defesa Sanitária
Animal. Mas as instruções específicas
para o controle da aftosa, que incluía a vacinação,
foram definidas em 1950, e as campanhas organizadas tiveram
início em 1965.
Os pioneiros nessa ação foram os Estados do
Rio Grande do Sul, que vacinou 2,07 milhões de bovinos,
do total de 11,6 milhões, e o Paraná, que imunizou
3,8 mil bovinos, de 3,4 milhões de animais estimados
na época.
Em 1976 foi registrado o maior número de focos da doença,
com 10,2 mil casos. Desde abril de 2006, o Brasil não
registra nenhum caso, sendo o último em Mato Grosso
do Sul.
Os
passos para a imunização
[Fonte: Embrapa Gado de Corte]
Na
hora de comprar e armazenar
o Comprar vacinas somente com selo de garantia e de revendedores
idôneos;
o Verificar as instruções de uso e a data de
validade do produto;
o Nunca congelar as vacinas. A maioria delas deve ser conservada
em ambiente refrigerado, entre +2°C e +8°C;
Na
hora de transportar
o Transportar as vacinas em caixa térmica, na proporção
de três partes de gelo para uma parte de frascos, e
vedar a mesma com fita adesiva;
Na
hora de vacinar
o Vacinar somente os animais sadios;
o Verificar se todos os animais dos lotes estão sendo
vacinados;
o Aplicar as vacinas nos locais indicados pelos fabricantes.
É recomendada a aplicação na tábua
do pescoço, seja no músculo (intramuscular)
ou embaixo da pele (subcutânea);
o Certificar que a agulha é adequada para o tipo de
produto (oleoso ou aquoso) e a seringa/pistola está
calibrada para a dose a ser injetada. Para vacinas oleosas
(ex. contra febre aftosa) podem ser utilizadas agulhas 10x15
ou 15x15 para aplicação subcutânea e 30x15,
para intramuscular;
o Agitar o frasco de vacina sempre antes de preencher a seringa
ou pistola, bem como nas recargas, evitando bolhas de ar;
o Manter a seringa ou pistola e o frasco em uso dentro da
caixa de isopor enquanto não estiver aplicando a vacina;
o Utilizar seringas e agulhas limpas e desinfectadas por fervura
durante pelo menos 15 minutos (colocar os materiais após
o início da fervura) e mantê-las em local limpo
no decorrer dos trabalhos;
o Durante a vacinação, trocar de agulha com
frequência, por exemplo, a cada 10 animais ou recarga;
o Lavar, desinfectar e secar agulhas, seringas ou pistolas
ao final dos trabalhos;
o Conter os animais para a aplicação da vacina,
pois isto diminui o risco de quebra de agulhas, refluxo, perda
de doses e acidentes com trabalhadores e animais;
o Vacinar os animais preferencialmente nos períodos
mais frescos do dia, com tranquilidade e sem correrias, evitando
assim estresses desnecessários.
Recomendações
gerais
o Não vacinar animais doentes ou submetidos a atividades
desgastantes, como longas caminhadas ou viagens. Aguardar
que os animais descansem ou se recuperem antes de vaciná-los,
pois é preciso que estejam em boas condições
nutricionais e de saúde para responderem adequadamente
à vacinação;
o Nunca utilizar agulhas tortas, enferrujadas, com pontas
rombudas, aparência de sujas ou que tenham caído
no chão;
o Não usar desinfetantes para limpeza de seringas e
agulhas, pois estes podem interferir na ação
de algumas vacinas;
o Não aplicar a vacina em regiões do animal
que estejam com barro ou esterco;
o Evitar a aplicação de vacinas em regiões
de carnes nobres como linha dorso-lombar e posterior;
o As vacinas devem ser aplicadas sempre antes do aparecimento
das doenças, como medida preventiva, e não durante
a ocorrência do surto no rebanho;
o Os restos de vacinas devem ser destruídos, pois a
introdução repetida de agulhas no frasco predispõe
à contaminação do produto e pode provocar
abscessos nos animais vacinados.
|