Pereira
é um típico 'guardião' da cultura caipira
e foi da vontade de voltar a estar próximo as suas origens
que ele, junto a um grupo de mais trinta pessoas que já
participavam efetivamente na organização de eventos
de Poloni, constituiu a OSCIP Sentimento Sertanejo, formada
institucionalmente há seis anos no município.
A sigla se refere à Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público, entidade similar a uma Organização
Não-Governamental (ONG).
Mas afinal, o que é o Sentimento Sertanejo? De acordo
com Pereira, presidente da entidade, a definição
não é necessariamente o sentimento daqueles que
efetivamente possuem esse estilo de vida, mas sim a paixão,
a valorização e o respeito de todos os que gostam
ou buscam um pouco dessa essência, da cultura e das raízes
do Brasil. "Do sertanejo vem à formação
do povo brasileiro. Assim, o foco fundamental da OSCIP é
resgatar essas origens. A ideia surgiu, pois notamos que se
está havendo uma banalização do que conhecemos
como cultura de raiz. Como temos afinidade especial com esse
meio e com as pessoas mais simples do interior, sentimos a necessidade
de disseminar e realizar ações que sejam válidas
para que haja um resgate cultural verdadeiro", conta.
Para que se cumpra esse objetivo, a organização
conta atualmente com três eventos e rigorosamente voltados
ao resgate dessa cultura de origem - o Poloni Rodeio Festival,
uma Violada e uma Via Sacra Rural. Recentemente, eles conquistaram
também a patente da marca Sentimento Sertanejo, o que
trouxe um novo momento para o amadurecimento e consolidação
do projeto. O que era uma manifestação local,
agora toma proporções audaciosas para promover
um resgate da cultura nacional com ações baseadas
no nome Sentimento Sertanejo. Em breve, uma linha de produtos,
como cds, violinhas e chaveiros, poderá ser comercializada,
gerando uma fonte de renda destinada aos custos e manutenção
do projeto. Um compromisso, em médio prazo, é
o desenvolvimento de iniciativas educacionais.
Poloni Rodeio Festival
Com um público diário entre cinco e sete mil visitantes,
o Poloni Rodeio Festival existe na cidade desde a década
de 1980 e nos últimos cinco ganhou esse nome e a coordenação
da OSCIP. Ele acontece sempre entre a última semana do
mês de outubro e a primeira semana de novembro reunindo
em quatro dias de realização os peões e
animais que mais se destacaram durante o ano nos famosos circuitos
de rodeio do País.
O diferencial do evento em relação aos demais
é exatamente o fato dele ocorrer de forma independente,
preservando não somente a qualidade técnica do
espetáculo, como também, e principalmente, as
particularidades essenciais e tradicionais da festividade. "O
que vemos claramente é que grande parte dos rodeios no
Brasil foram tomados pela indústria do entretenimento,
o que os descaracterizaram e desqualificaram totalmente. Em
Poloni, trabalhamos exatamente para que o rodeio mantenha suas
características iniciais de uma autêntica festa
de peão. Temos shows, certamente, mas que ocorrem de
forma secundária, pois não são o foco do
evento", ressalta Pereira.
No segmento, ele é referência e já é
considerado o rodeio mais técnico do País e para
alcançar esse objetivo, uma equipe de profissionais renomados
no setor, sob a responsabilidade final de Neto Oger (criador
de boi de rodeio e pentacampeão em Barretos), faz um
mapeamento das competições Brasil afora, selecionando
os melhores para as provas de montarias em touro e em cavalo
e provas de três tambores. "Já passaram pelas
pistas do evento animais famosos como os touros Agressivo e
Pesadelo, além de juízes conceituados, com credibilidade
para decisões, como Tião Procópio - que
introduziu o modelo norte-americano de rodeio no Brasil - e
Adriano Brosco, entre outros, que garantem um rodeio sério,
bem julgado", acrescenta o presidente da OSCIP.
Ainda segundo Daniel Pereira, o projeto vem crescendo, ganhando
visibilidade e respeito a cada edição realizada.
"Em Poloni, costuma-se ouvir o trinco da porteira, o que
é um símbolo para o peão e para o público
de que a festa vai começar. É apresentado um histórico
técnico e profissional dos animais e profissionais e
com isso quem está na arquibancada, na maioria das vezes,
já torce por alguns de preferência, pois sabe quantos
pontos eles costumam marcar em média, por exemplo. É
essa cultura de acompanhamento e domínio técnico
que visamos desenvolver", explica.
E essa receita tem funcionado tanto que no final do mês
de março, Daniel Pereira recebeu, pelo Poloni Rodeio
Festival, o Prêmio Troféu Arena de Ouro, o "Oscar
do Rodeio Brasileiro", como o melhor evento da categoria
do Brasil com público até 40 mil pessoas. A premiação
concedida pela Confederação Nacional de Rodeio
(CNAR) é a mais importante e respeitada do segmento.
Em 2011, o Festival será de 28 a 31 de outubro, no Recinto
de Exposições do Clube Espora de Ouro.
Violada e Catira
Cerca de 500 pessoas, incluindo aí os violeiros, de todo
o País participam anualmente da Violada realizada pela
OSCIP. Como não tem caráter comercial, o evento
é restrito e começou informalmente na propriedade
de Pereira, em baixo de uma mangueira que virou o palco das
apresentações. O ambiente é familiar e
um detalhe curioso é que nesse encontro os cozinheiros
são os homens. Sim, são eles quem vão para
o fogão, ou melhor, para a cozinha, preparar a comida,
com destaque à carne de porco e ao tradicional frango
cozido. As mulheres são responsáveis pela decoração
e venda de artigos típicos.
O local é totalmente ambientado e, tradicionalmente,
a cada ano um grupo de catira faz apresentações.
Já participaram artistas de São Paulo, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Também
há shows de viola com duplas como Goiano & Paranaense,
Turquin Violeiro & Fabiano, Maurício & Renato,
do Grupo Violado da Cidade de Santa Bárbara d'Oeste e
a presença de um grupo de pesquisadores que tem a viola
como objeto de estudo. "Nosso objetivo é buscar
os expoentes em cada região do Brasil, a exemplo do que
ocorre no Rodeio. A viola caipira é o instrumento mais
original do País, que, paralelamente à catira,
dança folclórica marcada pelas batidas das mãos,
dos pés e do coração dos dançarinos,
precisa ser resgatada e preservada".
Via Sacra Rural
A Via Sacra Rural corre entre a semana do natal e do ano novo,
de acordo com as datas desses feriados. É a comemoração
que marca o encerramento do ano e que tem como objetivo passar
por algumas vilas que mantêm as características
rurais, fazendo um giro por um trajeto por "vendas".
Os cerca de 100 a 150 participantes param nesses estabelecimentos
comerciais e em cada um deles permanecem por cerca de uma hora
e meia, degustando bebidas, porções e petiscos.
"Isso permite a aproximação com a comunidade
rural que vive nesses locais. A última parada é
sempre em um sítio tradicional, o do Antônio Lacotique,
conhecido popularmente na região como seu Toncha, que
aos 67 anos de idade nunca tomou uma injeção durante
toda sua vida. Ele tem a essência e vivência de
um verdadeiro sertanejo, é uma pessoa simples, que vive
onde nasceu e que é um exemplo de honestidade e dignidade",
finaliza Pereira resumindo que o grande diferencial dessa Via
Sacra é exatamente a oportunidade que ela oferece de
se valorizar cada localidade visitada e acompanhar a simplicidade
de tudo o que nelas é feito. "É uma experiência
ímpar, de valor único", reforça. |