Luciano
Silva Rodrigues, gerente de produto da Unidade Bovinos da Bayer
Saúde Animal, destaca que as helmintoses, ou verminoses,
têm uma capacidade de multiplicação altíssima,
tornando sua erradicação praticamente impossível.
Uma vaca com verminose, por exemplo, pode contaminar as pastagens
com mais de 800 mil ovos de vermes por dia, sendo que os ovos
e larvas de vermes podem permanecer viáveis por até
seis meses no solo. "As verminoses podem acarretar perdas
de peso médio de 40 kg por cabeça/ano, comprometer
20% da produção leiteira de uma vaca, gerar queda
na fertilidade e, em alguns casos, até a morte de animais",
ressalta.
Ele explica que na maioria das situações, contudo,
os animais têm vermes sem que mostrem qualquer sintoma
(infecção subclínica). Porém, mesmo
sem apresentá-los, a verminose reduz a ingestão
e conversão dos alimentos. "O custo com o controle
estratégico é baixo se avaliarmos os prejuízos
decorrentes destes inimigos ocultos. Mas um programa de controle
estratégico deve ser realizado com critérios baseado
no uso de produtos de qualidade e no ciclo de vida dos vermes",
pontua, acrescentando que muitos produtores se preocupam em
combater somente os parasitos que são visíveis
(carrapatos, bicheiras, mosca-do-chifre e bernes) e não
percebem que um animal aparentemente sadio tem por dentro helmintos
prejudicando-o.
Para implantar um controle estratégico realmente eficaz,
alguns fatores devem ser considerados no planejamento dessa
tarefa. Fazer a divisão de lotes com animais da mesma
idade, a rotação de princípios ativos com
administração na época certa e na dose
certa, o manejo adequado das pastagens, o uso do pasto rotacionado
que reduz a infestação no ambiente, e, finalmente,
a vermifugação animais recém-adquiridos
pelo menos dois dias antes de entrar em contato com os outros
animais são as soluções apontadas por Rodrigo
da Cruz Costa Santos, gerente de produtos da Vallée.
"O controle estratégico de parasitos deve ser feito
todos os anos, ininterruptamente e tem como objetivo o aumento
da eficiência do tratamento, através da diminuição
da contaminação das pastagens e a minimização
dos problemas de resistência. Interromper o processo num
ano em que os animais estão aparentemente sadios fará
com que as pastagens se reinfestem. Para que um programa de
controle de parasitos seja eficiente e econômico é
preciso ter conhecimento da biologia desse agente patológico,
da epidemiologia do local e fazer o uso correto e racional de
antiparasitários", adverte.
Controle 5-7-9
De forma simplista, Elio Moro, gerente técnico da Unidade
de Negócios de Bovinos da Pfizer Saúde Animal,
declara que o melhor plano de vermifugação, tanto
em termos de eficiência do produto quanto em termos de
retorno econômico, é o tratamento ou controle estratégico
das verminoses, também conhecido como controle estratégico
de verminose 5-7-9. O esquema tem por objetivo concentrar os
tratamentos em determinadas épocas do ano, nas quais
se busca aliar o efeito do ambiente nos parasitos na pastagem
ao efeito do vermífugo sobre os parasitos que se encontram
no interior do animal. "Na região Centro-Oeste do
Brasil, por exemplo, os tratamentos estratégicos são
feitos em maio, julho e setembro, onde as condições
ambientais (seca) não favorecem a sobrevivência
dos parasitos no ambiente. Portanto, ao tratarmos os animais
nesses meses estamos melhorando tanto a eficiência dos
produtos quanto o retorno financeiro do pecuarista".
Quanto mais jovem, maior o risco
Em linhas gerais, estudos apontam que animais mais jovens são
mais suscetíveis aos parasitos internos. Helio Moro conta
que é um erro muito comum nas fazendas é fazer
o mesmo tratamento para todas as categorias animais. "O
impacto econômico da verminose nos animais jovens é
muito expressivo e por isso esses animais merecem uma atenção
especial dentro do rebanho. De forma geral, recomenda-se tratar
os bezerros contra verminoses entre quatro e cinco meses de
idade. A partir daí os animais entrariam no processo
5-7-9, que é essencialmente preventivo".
Para João Batista Catto, médico veterinário
e pesquisador da Embrapa Gado de Corte, é importante
considerar que as verminoses causam mais prejuízos entre
o desmame e dos 18 aos 24 meses de idade. A partir daí,
os bovinos ficam bastante resistentes a esse problema e, desde
que sejam adequadamente alimentados e manejados, não
há mais necessidade de tratá-los. De acordo com
ele, na maior parte do território brasileiro o desmame
ocorre no início da estação seca, assim,
além do estresse do desmame, a disponibilidade e principalmente
a qualidade (proteína) das pastagens diminui muito.
"Como os animais nessa idade ainda não desenvolveram
imunidade aos parasitos é nesse período que os
bovinos sofrem mais por causa das verminoses. Os prejuízos
podem ocorrer pelo menor ganho ou maior perda de peso ou mesmo
por mortes. Depende da relação entre o quanto
os animais estão parasitados e como estão sendo
alimentados (quantidade e qualidade). Meses antes do desmame
os bovinos já são bastante parasitados, mas a
dieta de leite (proteína) reduz o efeito da verminose",
salienta.
O momento certo de iniciar o tratamento, no entanto, depende
do sistema produtivo e, segundo o pesquisador, em sistema com
maior tecnologia empregada - em que os animais após o
desmame entram na fase de terminação superprecoce
em pastagens de alta qualidade e com disponibilidade de ração
ao rebanho - o uso da vermifugação antes do desmame
resulta em benefício/custo positivo. "Em sistemas
em que os animais serão mantidos a pasto para recria
por um ou dois anos, para a maior parte do Brasil (Sudeste e
Centro-Oeste), a vermifugação deve ocorrer durante
o período seco. Estudos mostram que é nesse período
que o produtor terá maior retorno no investimento com
esses tratamentos. Animais com mais de dois anos, machos ou
fêmeas, quando bem alimentados não necessitam ser
tratados", acrescenta Catto.
Fêmeas em Peri-parto
As fêmeas em período de peri-parto (cerca de duas
semanas antes do parto e uma semana após o parto), ficam
com o organismo mais fraco para combater esse tipo de parasito.
Entretanto, João Batista Catto, aponta que o fenômeno
do peri-parto, embora já tenha sido observado nas vacas,
é muito mais característico e importante nas ovelhas.
Ele afirma que não existem na literatura informações
que permitam com segurança indicar o tratamento (com
retorno econômico) para as vacas. "Como dito anteriormente
os bovinos entre 18 e 24 meses ficam bastante resistentes as
verminoses. De um modo geral, no Brasil, o primeiro parto em
bovinos de corte, ocorre após essa idade. Em sistema
de gado de leite e em rebanhos selecionados de gado de corte
ocorre o primeiro parto antes dos 24 meses, assim o tratamento
seria indicado apenas nessas situações",
comenta.
Já Rodrigo Santos diz que para esta categoria é
recomendada a vermifugação 30 dias antes do parto
ou nos meses anteriores ao pico de parição. No
caso da região Centro-Oeste, por exemplo, a vermifugação
pode ser feita nos meses de agosto e setembro. "Deve-se
observar o princípio ativo utilizado, para não
interferir no feto em gestação. O manejo dessa
vermifugação é muito importante, mas a
aplicação do vermífugo deve ser feito com
todo cuidado e calma", esclarece.
Por fim, Luciano Silva Rodrigues, lembra ainda que o controle
estratégico da verminose inclui vermifugações
em épocas pré-determinadas de todos os animais
de cria e recria, independentemente de apresentarem sintomas
ou não. "Apesar dos animais com idade de até
24 meses serem os que mais sofrem com a verminose gastrintestinal,
é válido saber que ainda no útero os bezerros
podem ser contaminados por vermes. Deve-se vermifugar os animais,
no início do confinamento e vermífugá-los
também quando forem colocados em piquetes sob o sistema
de rotação de pastagem", conclui.
Elio Moro completa dizendo que essa indicação
de tratamento baseia-se no fato de que nesse período
as fêmeas prenhes produzem determinados hormônios
que causam uma imunossupressão (diminuição
da imunidade), tornando-as mais sensíveis às verminoses.
Outro beneficio de tratar as matrizes nesse período é
que haverá redução na contaminação
das pastagens, reduzindo o desafio de infestação
parasitária dos bezerros quando estescomeçarem
a pastejar. Dessa forma, é possível explorar de
forma mais eficiente o potencial de crescimento, desenvolvimento
e ganho de peso da bezerrada.
Divisão de rebanho e tratamento recomendado:
Categoria Tratamentos
Bezerros Aos 4 meses de idade e na desmama.
Desmama até 24 - 30 meses 3 tratamentos, com o 1º
tratamento no início do período seco.
Boi de engorda Quando for colocado em pasto vedado ou confinamento.
Vacas 30 dias antes do parto.
Fonte: Embrapa - CNPGC |