Edições Anteriores
OVINOS - Intensificando o confinamento
rev 158 - abril 2011

A introdução da dieta de milho de grão interno chega à alimentação de ovinos em confinamento, permitindo maior ganho de peso e redução de custos em propriedades de todos os tamanhos.

O confinamento tem ganhado espaço entre os produtores de ovinos como uma alternativa viável para o aumento de lucros em propriedades de todos os tamanhos. A busca por mais produtividade em menor tempo e a custos reduzidos tem feito com que muitos deles busquem novos caminhos para alavancar os resultados. Na Fazenda Tangará, em Botucatu (SP), por exemplo, uma experiência proposta pela Presence (marca comercializada pela Evialis que tem substituído a Purina nos segmentos de ruminantes, equinos, peixes, camarões, aves e suínos) com a introdução da dieta do grão inteiro de milho na alimentação desses animais tem permitido um novo formato de confinamento com uma dieta energética e sem necessidade de produção e utilização de volumosos.

A ideia de oferecer o grão inteiro aos ovinos partiu do fato do alimento em questão sempre ter sido comumente utilizado em bovinos. Como a relação desses ruminantes é muito próxima, no que diz respeito à nutrição, foram necessários apenas alguns ajustes de fórmula e manejo alimentar para se adequar a dieta a essa espécie, conforme aponta Emerson Botelho, gerente de produtos de ruminantes da Presence. Um dos pontos em destaque é que os grãos, mesmo que inteiros, são de uma dimensão perfeitamente aceitável também por esses pequenos animais.

Na Fazenda Tangará, a dieta do grão inteiro foi aplicada em 700 animais e já há a previsão de que este número passe a 1,5 mil cabeças em breve. Para a propriedade, a mistura desenvolvida foi de 85% de milho de grão inteiro e 15% de concentrado, nesse caso o produto Confipeso Alto Grão. O milho entrou como fonte de energia e faz um papel mecânico de estímulo à força de movimento do rúmen, daí a necessidade de utilização do milho inteiro. A dieta proposta pela empresa é ofertada em quantidade equivalente a 2% a 3% do peso vivo dos animais, podendo variar conforme orientação dos técnicos, e deve ser oferecida somente para animais em confinamento com destino ao abate. Botelho explica que todos os trabalhos e indicações são no sentido de terminação da carcaça dos animais visando uma produção de carne de alta qualidade e rendimento frigorífico.

"Então é recomendado somente para engorda. No caso dos ovinos para se obter uma carne de melhor qualidade os animais devem ser abatidos ainda jovens, por volta dos 120 a 150 dias de idade, portanto usamos nesta fase. A variação do consumo de 2% a 3% do peso vivo dos animais é em função do maior ganho de peso versus segurança. Quanto mais se oferecer desta dieta aos animais mais eles comem, mas precisamos ter um limite para evitarmos transtornos digestivos que podem até levar a morte", conta. De acordo com ele, o tradicional e mais seguro é em torno de 2%, mas para os criadores mais experientes, com boa estrutura de alojamento, bom manejo nutricional e boa equipe pode-se aumentar a inclusão e desafiar os animais para uma maior produtividade.

Resultados

A fazenda foi a primeira oficialmente a realizar o teste com mensurações e pesagens. Foram 30 dias para obter os resultados, tempo para acabamento dos animais. Segundo Botelho, no experimento foi observado um aumento de cerca de 20% no ganho de peso dos animais, comparado à dieta anterior; melhor aproveitamento da carcaça; diminuição de problemas respiratórios, já que o trato não é em pó; aumento do escore do animal; trato mais rápido e diminuição do consumo de energia. Para Marcelo de Oliveira Caron e Silva, médico veterinário e produtor responsável pela criação, pode-se destacar dois ganhos principais, "os animais estão ganhando peso em curto prazo, assegurando a produtividade, e os custos, em função da exigência de pouca mão de obra, são reduzidos de maneira considerável", afirma.

Botelho acrescenta que atualmente a empresa tem feito novos acompanhamentos a fim de obter dados de vários lotes e confirmar ainda mais os resultados. Segundo ele, outras propriedades têm experimentado a dieta e está evidenciada a padronização em tamanho e peso, bem como na qualidade de cobertura de gordura e qualidade da carne (sabor e maciez) dos animais confinados com esta dieta. "São itens importantes da cadeia da carne para ofertar ao consumidor uma carne sempre igual em qualidade e porções. Muitos frigoríficos ou 'boutiques' de carne pagam de forma diferenciada ao produtor que possui animais de melhor qualidade de carcaça", observa.

Outro benefício da dieta, destacado por Botelho, diz respeito à facilidade da mistura que pode ser feita por uma única pessoa direto no cocho dos animais, o que reduz necessidade de mais mão de obra e de maquinários. "Com a retirada do volumoso da dieta o produtor não precisa se preocupar em plantar, colher e armazenar desse alimento. Assim retiramos os riscos desta operação, os custos diretos e indiretos e a necessidade de maquinários específicos, facilitando, e muito, o manejo no momento de administrar a dieta aos animais".

Adaptação

Para alterar o formato do confinamento, é preciso que os animais passem por um período de adaptação, a fim de reduzir o estresse. A Presence aponta que é fundamental que todos já estejam acostumados a comer em cochos, para garantir que ganhem peso. A partir de resultados obtidos em estudos de campo, a empresa sugere duas técnicas para adaptação - em piquetes ou partes do pasto cercado ou dentro dos currais de confinamento.

"Na verdade a orientação de adaptação é de preparar os animais a esta nova dieta. Normalmente eles estão no pasto e precisam aprender a comer no cocho e perder o medo da movimentação e aproximação das pessoas e principalmente adaptar as bactérias do rúmen a nova dieta. Quanto à questão de adequar a alimentação em cocho isto é muito importante porque estamos falando de um confinamento de apenas 30 dias, se os animais demorarem de dois a três dias para se adaptarem e conseguirem comer os 2% indicados estamos falando em perda de 10% do tempo em confinamento, o que é muito tempo e por consequência resulta em menor peso de abate", explica o gerente.

Quanto à questão da adaptação do rúmen, ele garante que esta é primordial. O rúmen, a maior porção do estômago dos ruminantes, é cheio de bactérias, fungos e protozoários que fazem a digestão dos alimentos para o animal. Assim se o animal está acostumado a se alimentar de pasto, ele terá uma maior concentração de bactérias que realizam a fermentação de capim e poucas especializadas na digestão dos grãos.

"Então a fase de adaptação irá fazer com que aumente as bactérias que digerem os grãos e reduza as que digerem capim. Quanto ao tempo, o ideal seriam 21 dias, mas temos casos que o rebanho vai direto ao confinamento sem passar pela fase de adaptação", exemplifica. De acordo com ele, isto acontece em função de como é o manejo antes do confinamento, pois se há animais que foram criados somente com pasto e mineral a adaptação será mais longa, o inverso ocorre quando se tem indivíduos que desde o nascimento têm acesso à ração em sua dieta, nesse caso a adaptação será mais curta ou até mesmo nula.

Caprinos em confinamento

Também a criação de cabras tem dado resultados positivos quando o assunto é confinamento. Isso é o que aponta o estudo comparativo de custo-benefício na produção de forma confinada x extensiva coordenado pelo professor Heraldo César Gonçalves, do departamento de Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Campos Botucatu. Depois de quase dois anos de trabalhos, ele afirma que não há um modo ideal para se criar rebanhos, mas a pesquisa mostra as diferenças substanciais na qualidade do leite e da carne dos animais criados em confinamento.

Segundo o pesquisador, produzir leite de cabra em criações confinadas garante não só uma produção 60% maior em comparação ao rebanho criado no pasto, como também gera leite com menores teores de proteínas, gordura e no caso da carne não é diferente. "A produção de animais confinados para o abate apresentou um excelente resultado. A melhor qualidade da carne das cabras criadas em confinamento pode até mesmo ser notada visualmente", ressalta Gonçalves. Apesar dos resultados apontados, ele aconselha que essa pesquisa sirva de referência para o produtor avaliar o desempenho da própria criação e, por consequência, ele possa optar pelo modo que se adapte melhor as suas possibilidades e objetivos.


Edicões de 2011
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES