A
ideia de oferecer o grão inteiro aos ovinos partiu do
fato do alimento em questão sempre ter sido comumente
utilizado em bovinos. Como a relação desses ruminantes
é muito próxima, no que diz respeito à
nutrição, foram necessários apenas alguns
ajustes de fórmula e manejo alimentar para se adequar
a dieta a essa espécie, conforme aponta Emerson Botelho,
gerente de produtos de ruminantes da Presence. Um dos pontos
em destaque é que os grãos, mesmo que inteiros,
são de uma dimensão perfeitamente aceitável
também por esses pequenos animais.
Na Fazenda Tangará, a dieta do grão inteiro foi
aplicada em 700 animais e já há a previsão
de que este número passe a 1,5 mil cabeças em
breve. Para a propriedade, a mistura desenvolvida foi de 85%
de milho de grão inteiro e 15% de concentrado, nesse
caso o produto Confipeso Alto Grão. O milho entrou como
fonte de energia e faz um papel mecânico de estímulo
à força de movimento do rúmen, daí
a necessidade de utilização do milho inteiro.
A dieta proposta pela empresa é ofertada em quantidade
equivalente a 2% a 3% do peso vivo dos animais, podendo variar
conforme orientação dos técnicos, e deve
ser oferecida somente para animais em confinamento com destino
ao abate. Botelho explica que todos os trabalhos e indicações
são no sentido de terminação da carcaça
dos animais visando uma produção de carne de alta
qualidade e rendimento frigorífico.
"Então é recomendado somente para engorda.
No caso dos ovinos para se obter uma carne de melhor qualidade
os animais devem ser abatidos ainda jovens, por volta dos 120
a 150 dias de idade, portanto usamos nesta fase. A variação
do consumo de 2% a 3% do peso vivo dos animais é em função
do maior ganho de peso versus segurança. Quanto mais
se oferecer desta dieta aos animais mais eles comem, mas precisamos
ter um limite para evitarmos transtornos digestivos que podem
até levar a morte", conta. De acordo com ele, o
tradicional e mais seguro é em torno de 2%, mas para
os criadores mais experientes, com boa estrutura de alojamento,
bom manejo nutricional e boa equipe pode-se aumentar a inclusão
e desafiar os animais para uma maior produtividade.
Resultados
A fazenda foi a primeira oficialmente a realizar o teste com
mensurações e pesagens. Foram 30 dias para obter
os resultados, tempo para acabamento dos animais. Segundo Botelho,
no experimento foi observado um aumento de cerca de 20% no ganho
de peso dos animais, comparado à dieta anterior; melhor
aproveitamento da carcaça; diminuição de
problemas respiratórios, já que o trato não
é em pó; aumento do escore do animal; trato mais
rápido e diminuição do consumo de energia.
Para Marcelo de Oliveira Caron e Silva, médico veterinário
e produtor responsável pela criação, pode-se
destacar dois ganhos principais, "os animais estão
ganhando peso em curto prazo, assegurando a produtividade, e
os custos, em função da exigência de pouca
mão de obra, são reduzidos de maneira considerável",
afirma.
Botelho acrescenta que atualmente a empresa tem feito novos
acompanhamentos a fim de obter dados de vários lotes
e confirmar ainda mais os resultados. Segundo ele, outras propriedades
têm experimentado a dieta e está evidenciada a
padronização em tamanho e peso, bem como na qualidade
de cobertura de gordura e qualidade da carne (sabor e maciez)
dos animais confinados com esta dieta. "São itens
importantes da cadeia da carne para ofertar ao consumidor uma
carne sempre igual em qualidade e porções. Muitos
frigoríficos ou 'boutiques' de carne pagam de forma diferenciada
ao produtor que possui animais de melhor qualidade de carcaça",
observa.
Outro benefício da dieta, destacado por Botelho, diz
respeito à facilidade da mistura que pode ser feita por
uma única pessoa direto no cocho dos animais, o que reduz
necessidade de mais mão de obra e de maquinários.
"Com a retirada do volumoso da dieta o produtor não
precisa se preocupar em plantar, colher e armazenar desse alimento.
Assim retiramos os riscos desta operação, os custos
diretos e indiretos e a necessidade de maquinários específicos,
facilitando, e muito, o manejo no momento de administrar a dieta
aos animais".
Adaptação
Para alterar o formato do confinamento, é preciso que
os animais passem por um período de adaptação,
a fim de reduzir o estresse. A Presence aponta que é
fundamental que todos já estejam acostumados a comer
em cochos, para garantir que ganhem peso. A partir de resultados
obtidos em estudos de campo, a empresa sugere duas técnicas
para adaptação - em piquetes ou partes do pasto
cercado ou dentro dos currais de confinamento.
"Na verdade a orientação de adaptação
é de preparar os animais a esta nova dieta. Normalmente
eles estão no pasto e precisam aprender a comer no cocho
e perder o medo da movimentação e aproximação
das pessoas e principalmente adaptar as bactérias do
rúmen a nova dieta. Quanto à questão de
adequar a alimentação em cocho isto é muito
importante porque estamos falando de um confinamento de apenas
30 dias, se os animais demorarem de dois a três dias para
se adaptarem e conseguirem comer os 2% indicados estamos falando
em perda de 10% do tempo em confinamento, o que é muito
tempo e por consequência resulta em menor peso de abate",
explica o gerente.
Quanto à questão da adaptação do
rúmen, ele garante que esta é primordial. O rúmen,
a maior porção do estômago dos ruminantes,
é cheio de bactérias, fungos e protozoários
que fazem a digestão dos alimentos para o animal. Assim
se o animal está acostumado a se alimentar de pasto,
ele terá uma maior concentração de bactérias
que realizam a fermentação de capim e poucas especializadas
na digestão dos grãos.
"Então a fase de adaptação irá
fazer com que aumente as bactérias que digerem os grãos
e reduza as que digerem capim. Quanto ao tempo, o ideal seriam
21 dias, mas temos casos que o rebanho vai direto ao confinamento
sem passar pela fase de adaptação", exemplifica.
De acordo com ele, isto acontece em função de
como é o manejo antes do confinamento, pois se há
animais que foram criados somente com pasto e mineral a adaptação
será mais longa, o inverso ocorre quando se tem indivíduos
que desde o nascimento têm acesso à ração
em sua dieta, nesse caso a adaptação será
mais curta ou até mesmo nula.
Caprinos em confinamento
Também a criação de cabras tem dado resultados
positivos quando o assunto é confinamento. Isso é
o que aponta o estudo comparativo de custo-benefício
na produção de forma confinada x extensiva coordenado
pelo professor Heraldo César Gonçalves, do departamento
de Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Campos
Botucatu. Depois de quase dois anos de trabalhos, ele afirma
que não há um modo ideal para se criar rebanhos,
mas a pesquisa mostra as diferenças substanciais na qualidade
do leite e da carne dos animais criados em confinamento.
Segundo o pesquisador, produzir leite de cabra em criações
confinadas garante não só uma produção
60% maior em comparação ao rebanho criado no pasto,
como também gera leite com menores teores de proteínas,
gordura e no caso da carne não é diferente. "A
produção de animais confinados para o abate apresentou
um excelente resultado. A melhor qualidade da carne das cabras
criadas em confinamento pode até mesmo ser notada visualmente",
ressalta Gonçalves. Apesar dos resultados apontados,
ele aconselha que essa pesquisa sirva de referência para
o produtor avaliar o desempenho da própria criação
e, por consequência, ele possa optar pelo modo que se
adapte melhor as suas possibilidades e objetivos. |