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FRUTAS - Hortifruticultura mecanizada
rev 158 - abril 2011

Mesmo com a mecanização dos trabalhos, a Almadén não reduziu o número de colhedores de uva, mantendo os mesmos 150 contratados em 2010, que atuam em 300 ha.

"Equipamentos de auxílio à colheita não mecanizam todo o processo e, consequentemente, não tiram o empregado do campo. Nesse caso, eles melhoram as condições de colheita e ajudam o trabalho com o uso de menos esforço", diz Ferreira.

A introdução de tecnologias dependerá de condições da lavoura, viabilidade econômica e, igualmente, a própria adesão do produtor, pois se trata de uma quebra de paradigma.

Neste ano a Vinícola Almadén, integrante da Miolo Wine Group, localizada na região da Campanha, em Santa do Livramento (RS), iniciou um tipo de colheita até então não visto aqui no País - tratava-se da ceifa totalmente mecanizada da safra 2011 de uvas, iniciada em 25 de janeiro. Entre as variedades brancas estavam gewurztrminer, chenin blanc e sauvignon blanc, e, as tintas gamay. A empresa estimou um resultado de 4,5 milhões de quilos de uva para a safra deste ano.

O exemplo dessa propriedade gaúcha reflete, de certa forma, como vem se desenvolvendo o mercado de máquinas e implementos de auxílio para a colheita, total ou parcial, em lavouras que culturalmente não dependiam desse tipo de tecnologia no Brasil.

"Lavouras de frutas e hortaliças têm um aspecto de dificuldade para implantação de sistemas totalmente mecanizados de colheita em função destes oferecerem maior risco de dano à fruta ou à hortaliça", explica o especialista em tecnologia de pós-colheita em lavouras de frutas e hortaliças, Marcos David Ferreira, pesquisador da Embrapa Instrumentação, localizada em São Carlos (SP). "Nesse sentido, é complicado fazer a substituição do trabalho humano no processo de colheita".

No entanto, no caso das uvas da Almadén, a utilização da colheita 100% mecanizada veio agregar mais ritmo à produção de vinhos. E aí, mora uma questão preponderante à introdução dessa tecnologia - a fruta (e aí, pode-se incluir também o café) ou a hortaliça são destinadas especificamente à indústria - que na maioria das vezes não vai se ater à qualidade física dos frutos.

Há exemplos, como a lavoura de tomate, que podem ser totalmente mecanizados. "Neste caso, são tomates voltados para a indústria, e estima-se que aqui no Brasil ela realiza a colheita mecanizada de mais de 70% da produção. O mesmo pode ser observado em pomares de pêssego e ameixa, nos Estados Unidos (EUA). Lá, essa inserção da tecnologia é mais influente em função das indústrias", destaca Ferreira.

Uva

Para a colheita da uva, a tecnologia teve de ser trazida da França. De acordo com a vinícola gaúcha, desde o dia 2 de fevereiro, a máquina da marca Pellenc, faz a colheita mecânica de cerca de 200 hectares (ha) de parreirais, que corresponde a um terço de toda área produtiva da vinícola. O investimento chegou a R$ 500 mil na aquisição da máquina e na reforma dos vinhedos para viabilizar o trabalho do equipamento.

Os parreirais antigos tiveram as estruturas de sustentação revitalizadas, e foram estreitados e elevados para se adequarem ao tamanho da máquina, que "abraça" as parreiras para fazer a colheita. O equipamento é tracionado por um pequeno trator e envolve as parreiras. A movimentação interna da máquina derruba numa esteira frutos e folhas - estas últimas descartadas pela ação de um sistema de ventilação.

Mesmo com a mecanização dos trabalhos, a Almadén não reduziu o número de colhedores de uva, mantendo os mesmos 150 contratados em 2010, que atuam em 300 ha. Para o próximo ano, a vinícola pretende preparar mais 100 hectares para a colheita mecânica, o que refletirá num investimento de R$ 250 mil.

Laranja

O parque citrícola do País também possui o emprego de maquinários, inclusive nacionais, para realização da colheita. No entanto, Ferreira pondera que isso ainda representa um nicho de mercado muito específico e diminuto. "A respeito da laranja, a colheita totalmente mecanizada nos EUA teve maior desenvolvimento em função das características de solo, variedades e sistemas de produção. Aqui no Brasil há uma série de fatores de limitam a introdução dessa tecnologia com a tipologia de solo, as variedades produzidas, que são diferentes das cultivadas nos EUA, a disposição da lavoura e a própria resistência dos citricultores brasileiros", analisa o pesquisador.

No caso norte-americano, a adaptação 100% mecânica teve influência do solo ser arenoso em muitas regiões. Um dos tipos de máquina que faz a colheita naquele país chacoalha e balança a árvore, derrubando os frutos numa esteira, recolhendo-os. Essa característica do solo aliado ao tipo de variedade produzida permite a melhor movimentação da árvore sem causar dano à planta.

"Já no Brasil, como a maior região produtora está em São Paulo, onde há maior incidência de solos argilosos, em alguns casos latossolos, essa chacoalhada no pé de laranja poderia causar danos às plantas, com risco de quebrar galhos e até mesmo o pé", explica Ferreira.

Nesse sentido, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias para auxiliar a colheita humana e oferecer melhores condições de trabalho à mão de obra tem sido uma das linhas de pesquisa da Embrapa Instrumentação. "Equipamentos de auxílio à colheita não mecanizam todo o processo e, consequentemente, não tiram o empregado do campo. Nesse caso, eles melhoram as condições de colheita e ajudam o trabalho com o uso de menos esforço", atesta.

Uma solução para os pomares de laranja está em andamento, através de uma parceria da Embrapa Instrumentação com uma grande indústria de suco de laranja do País.

Alegoria carnavalesca?
Não, uma plataforma de colheita


Pode-se dizer que atualmente grande parte da colheita de citros ainda é manual no País, cerca de 80%, 90% ou mais, de acordo com o pesquisador. Em alguns aspectos, esse processo traz algumas perdas com a derriça (derrubada de frutos) pelo fato de os colhedores não alcançarem os frutos mais altos - com o uso de varas, os trabalhadores cutucam esses frutos para então caírem ao chão, o que leva a danos físicos à laranja.

O equipamento, ainda em fase de testes, trata-se de um tipo de plataforma autopropelida (que possui um sistema próprio de locomoção, com motorização). Nela ficam fixos de seis a oito colhedores de laranja e podem levantá-los a alturas próximas às copas e assim alcançar os frutos, sem necessidade da derriça.

Pode-se dizer que ela trabalharia como um carro alegórico de escola de samba, o qual possui uma plataforma que sustenta e eleva os colhedores. Em geral, seis ficam no equipamento, dois na parte de baixo e quatro na parte de cima, ou vice-versa, dependendo da lavoura.

Inteligência artificial a serviço do campo

Métodos mecânicos aplicados à agricultura vêm ganhando maior espaço em função até dos rumos da mão de obra atualmente existentes nos países. Nos EUA, por exemplo, ainda é possível encontrar pessoal para a realização das colheitas, pela proximidade das regiões produtoras norte-americanas com áreas de maior concentração de povoamento latino. "Já no caso da Austrália, torna-se complicado a disponibilidade de trabalhadores para a realização de atividades braçais. Lá, por exemplo, há equipamentos que poderiam ser facilmente aplicados aqui no Brasil, como é o caso da colheita de melão", afirma Ferreira.

Um tipo de esteira móvel acompanha os colhedores que retiram os frutos e os coloca nela, daí, são levados para uma espécie de tenda. Para o pesquisador da Embrapa, são tecnologias que possuem seus prós e contras, e a introdução delas dependerá de condições da lavoura, viabilidade econômica e, igualmente, a própria adesão do produtor, pois se trata de uma quebra de paradigma, ou seja, uma mudança de pensamento. Neste caso, trazer o uso da mecanização para algo que era desenvolvido manualmente.

Na colheita de laranja, por exemplo, com a utilização do equipamento de auxílio, haverá benefícios, mas também problemas, que podem ser controlados. O que foi observado pelo pesquisador, durante os testes com os trabalhadores na plataforma, é que a remuneração, antes feita individualmente, no sistema de colheita manual, deverá passar a ser grupal - nesse sentido o grupo teria de encontrar uma forma de trabalhar com máximo de sincronia. "Uma saída interessante foi a utilização de um aparelho de som, seja ligado num CD, ou numa rádio, para 'embalar' o processo de colheita. Isso garantiu a sintonia dos colhedores e melhorou as condições de trabalho, tornando o ambiente mais agradável".

Acerca das mudanças relativas a disponibilidade de mão de obra na lavoura, são necessários estudos específicos para mensurar em que pé o Brasil está em termos de oferta. No entanto, é possível perceber que isso aos poucos vem mudando, conforme o aumento de índices de escolaridade da população, que influi numa menor participação de trabalhadores rurais.

Em termos de desenvolvimento de áreas para a introdução de tecnologias de colheita mecanizada, as lavouras de laranja e melão podem ser as que mais devam se desenvolver futuramente segundo Ferreira. "A laranja pelo fato da alta demanda e a importância que a cultura tem na produção nacional, em especial, em São Paulo. O melão, também, pela demanda e a facilidade de introdução do equipamento que dinamizaria o processo de colheita sem prejudicar os frutos", conclui.

O balanço que faltava nos cafezais brasileiros

É fruto, inicialmente, mas que depois gera os grãos valiosos para a produção de uma bebida tradicional no mundo todo. O café também foi uma lavoura na qual a tecnologia 100% mecanizada chegou no País desde a década de 1990, a partir de máquinas da Case IH.

Atualmente, a empresa dispõe de dois modelos de colhedoras para a cafeicultura - Coffee Express 100 (tracionada) e Coffee Express 200 (autopropelida), máquinas nacionais, montadas na fábrica da Case IH em Piracicaba (SP). "O sistema de colheita dos dois modelos é o mais moderno do mercado", declara Roberto Biasotto, especialista da Case IH, "alcançando um alto padrão de rendimento mesmo em terrenos com declividade acentuada, além de colherem seletivamente, uma vez que contam com um dispositivo de regulagem hidráulica de vibração, possibilitando ao operador escolher a melhor opção de acordo com o estágio de maturação do grão que será colhido".

Basicamente a máquina reproduz o sistema manual de colheita, realizando a derriça dos grãos através de vibração e do contato de um grupo de varetas instaladas na máquina, segundo Biasotto. A partir da derriça, o grão cai num sistema de transporte, passando pelo sistema de limpeza que vai eliminar as impurezas, chegando ao sistema de descarga.

A produtividade da máquina depende de algumas variáveis, entre elas, a principal é a condição da lavoura e a produtividade do cafeeiro. "Em um ensaio realizado recentemente pela Universidade Federal de Lavras [em Minas Gerais], em uma lavoura com produtividade beneficiada esperada de 54 sacas por hectare, utilizando o conceito de duas passadas, 96,3% dos frutos foram retirados das plantas. A capacidade de colheita verificada girou entre 1,5 e 3 horas por hectare", destaca o especialista da Case IH.

Graças ao sistema de espinha de peixe, o volume de perda dos dois modelos é bastante reduzido, uma vez que ele evita que os grãos caiam fora do sistema, minimizando o desperdício.

Em geral, são modelos simples de serem operados. "A Coffee Express 100, diferente das outras máquinas existentes no mercado, precisa de apenas um operador, que a partir do trator, controla também a colhedora através de um controle remoto. O equipamento possui uma altura máxima de 3,975 metros e centro de gravidade baixo, o que lhe confere excelente estabilidade para trabalhar em declives acentuados, de até 12%, com segurança", ressalta Biasotto.

Já a Coffee Express 200, por suas duas rodas traseiras e uma dianteira, oferece grande facilidade de manobra nos finais de rua, carreadores e giradores estreitos. A tração é independente e permite girar em forma de compasso. Além disso, possui o menor raio de giro da categoria, de 3,5 metros. Possui ainda pistões hidráulicos nas rodas, que garantem um perfeito nivelamento com o chão, um recurso que assegura melhor estabilidade, mesmo em terrenos acidentados.


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