Falta
ainda uma mão de obra qualificada que possa atender as
necessidades do setor logístico do País. Nesse
caso, não só a perda grãos pela estrada
é passível de ocorrer como também a perda
do veículo como um todo - isso tudo em função
de má condução.
Se há um gargalo imensurável até hoje na
produção brasileira de grãos, este pode
ser o transporte rodoviário - que leva a mercadoria até
os portos ou mesmo unidades de armazenamento espalhadas no País
- e, ao longo desse trajeto, o resultado da safra pode acabar
se espalhando pelas rodovias e estradas.
No sentido de reduzir as perdas de grãos, as montadoras
de caminhões e implementos que, efetivamente transportarão
a carga, buscam um modelo de veículo de transporte logístico
que garanta o quesito de redução de perdas durante
a viagem da mercadoria, com ações que vão
direta e indiretamente solucionar essa questão.
Em termos diretos, o implemento produzido tem a maior responsabilidade
nesse caso. Opções de carretas graneleiras, basculantes,
em diferentes tipos de eixos e capacidades são as linhas
de produtos que esse segmento trabalha para atender as necessidades
de frotistas, produtores rurais, transportadoras de carga e
motoristas autônomos.
Uma das saídas encontrada pela Randon - empresa brasileira
especializada há mais de 60 anos na produção
de implementos para caminhões -, por exemplo, foi o desenvolvimento
de um sistema de vedação de maior acurácia
que, de acordo com Cesar Pissetti, diretor comercial da empresa,
resolveu 100% o problema de perdas com grãos no acondicionamento
da carga na carreta. Outra inovação concomitante
a do sistema de vedação foi a reestruturação
da caixa de carga - ambas as tecnologias não são
novidades, foram lançadas em 2005, mas mantêm-se
atualizadas pelo fato de terem se demonstrado eficientes e que
ainda garantam os resultados. "Essa nova caixa de carga
é feita a partir de uma estrutura - composit - que chamamos
de 'Ecoplate'. (...) Trata-se de um painel de madeira reflorestada
de pinus, forrado com aço galvanizado e com polímero.
Antes, usávamos o compensado naval para forrar as laterais
como revestimento, mas esse novo material trouxe maior resistência,
sem contar que é ecológico, pois é obtido
de madeira reflorestada, além de ser totalmente reciclável",
declara Pissetti.
A utilização desse incremento na estrutura da
carreta reforçou ainda mais a caixa de carga, e isso
contribuiu para a absorção da pressão exercida
pela própria mercadoria transportada. "Quando o
motorista ou transportador está em condições
difíceis de estrada, com irregularidades, muitos buracos
e desníveis - situação que ocorre frequentemente
no transporte de grãos - isso faz com que o chassi se
movimente muito pela característica de flexibilidade,
contudo, esse sistema de vedação que desenvolvemos
absorve todo esse movimento que existe, mesmo em situações
mais críticas", atesta Pissetti.
Graneleiros e basculantes
O mais recente lançamento deste ano da Randon foi o graneleiro
da linha R, que trouxe uma série de inovações,
como arcos que facilitam a descarga, permitindo a abertura nas
laterais, sem precisar descobrir totalmente a lona e retirar
os arcos.
Design com cantos arredondados e entre outros itens, como uma
caixa de acomodação de mantimentos mais adequada
e segura, fazem parte dessa nova linha de produtos da empresa.
O sistema elétrico e de sinalização também
foram modificados. A iluminação, por exemplo,
agora é através de sistema LED, ao invés
de lâmpadas convencionais.
Outra opção que vem sendo buscada pelos clientes,
segundo Pissetti, é a utilização de carretas
basculantes como implemento do caminhão para o transporte
de grãos. "Trata-se de um produto de aço
todo fechado, que tem uma rapidez de descarga em comparação
ao graneleiro. (...) Agora estamos fazendo ele numa estrutura
de aço de alta resistência, o que garantiu ao produto
maior competitividade. Hoje tem cliente que opta pelo semirreboque
basculante, que também é mais versátil,
pois pode fazer o transporte de outros materiais como fertilizantes.
Só perde em termos de capacidade de carga em relação
à carreta graneleira".
Mais robustez, potência e economia
Já referente ao cavalinho do caminhão, as ações
para redução de perdas de grãos podem ser
mensuradas indiretamente através da produção
de um veículo de maior resistência (transportará
maior quantidade de grãos em função de
uma vida mais longa), capaz de suportar toda a falta de infraestrutura
das estradas brasileiras (não falharia mesmo em situações
bem drásticas, desde que conduzido de maneira adequada),
com aptidão em suportar longas jornadas de trabalho e,
em especial, com o menor consumo de combustível - um
dos maiores problemas econômicos para o transporte de
grãos no País.
"Nossa tecnologia nesse sentido está ligada ao desenvolvimento
de produtos mais confiáveis, capazes de suportar as condições
das rodovias do País", ressalta Rogério Gil
Costa, supervisor de Marketing de Produtos de Caminhões
da MAN para a América Latina, pertencente ao Grupo Volkswagen.
"Um dos recursos que veio ajudar o transportador foi justamente
a motorização eletrônica que o avisa em
caso de manobras ou procedimentos incorretos durante a condução
do veículo".
O motor é parte de um sistema autônomo que reconhece
os melhores níveis de dirigibilidade e assim trabalha
supervisionando o trabalho do motorista, tanto em relação
a velocidades a serem empregadas como em mudança de transmissão.
Costa também destaca a introdução de sensores
no caminhão que funcionam como uma espécie de
radar para demais veículos. Quando estiver a cerca de
50 metros de distância de um, por exemplo, o dispositivo
aciona avisando o motorista.
"São itens de segurança e conforto que foram
desenvolvidos pensando no retorno econômico do próprio
caminhão, pois quanto mais robusto ele for e poder suportar
as condições de estrada adversas por mais tempo,
o proprietário garantirá mais rendimento com esse
bem", avalia Costa. Isso, consequentemente, refletirá
em redução de perdas, se for analisado o tempo
de uso do caminhão e a confiabilidade dele na estrada.
"Claro que essas são questões relativas à
concepção do veículo em si, daí
também dependerá da postura do motorista ao transportar
a carga", alerta.
A mesma avaliação - a da postura do condutor -
é compartilhada por Celso Mendonça, gerente de
pós-venda da Scania do Brasil. "No quesito consumo
de combustível, por exemplo, que compreende os maiores
gastos na atividade de transporte no País, cerca de 40%
a 50%, temos desenvolvido ferramentas tecnológicas no
veículo que minimizam esses gastos, mas se não
houver um motorista bem capacitado no volante, não há
como ocorrer essa redução realmente", diz.
Nesse sentido a eficiência no melhor uso do caminhão
se baseia em três aspectos, de acordo com Mendonça
- o técnico (recursos e tecnologias dispostos no equipamento),
o humano e o de serviços (aí se inserem as manutenções
adequadas feitas por profissionais capacitados e a utilização
de componentes e peças originais).
Habilidade ao volante
Um item de relevância apontado por Costa e Mendonça,
e que merece uma atenção especial, é o
lado humano - especificamente, o motorista do caminhão.
De acordo com os especialistas, falta ainda uma mão de
obra qualificada que possa atender as necessidades do setor
logístico do País. Nesse caso, não só
a perda grãos pela estrada é passível de
ocorrer como também a perda do veículo como um
todo - tudo em função de má condução.
Enfocando uma melhoria de qualidade dessa mão de obra,
tanto a Volkswagen e a Scania mantêm ações
como cursos e programas de treinamento de condutores. "Estamos
na terceira ou quarta geração de empresas de transporte
aqui no País, e com isso, há uma formação
de gestores que estão mais de olho em novas tecnologias
e preocupadas com esse profissional responsável pela
entrega dessa carga Brasil afora", frisa Costa.
Cursos de um dia são aplicados a motoristas pela Scania,
enfatizando a forma segura e mais econômica de se dirigir
o caminhão. O conhecimento mais detalhado dos recursos
do equipamento também é uma forma de aperfeiçoamento
do condutor que passará a entender melhor a máquina
que vai dirigir. No caso da montadora, há um dispositivo
chamado Scania Driver Support que faz um alerta se o motorista
fizer alguma 'barbeiragem' sequer, informando-o o melhor procedimento
a se fazer. "O próprio sistema até parabeniza
o motorista ao fazer uma escolha correta em determinada hora
quando é necessária a tomada de decisão
por parte do condutor", acrescenta Mendonça. Entre
os benefícios adicionais desse recurso também
se destaca a diminuição do consumo de combustível
e a emissão de gases poluentes.
Outros recursos dispostos pela empresa é o Opticruise,
caixa de câmbio automatizada que facilita a condução
e ajuda o motorista a ter um desempenho uniforme, reduzindo
o número de troca de marchas e o desgaste do veículo,
e o Scania Retarder, freio auxiliar que interage com o freio
motor, fornecendo total controle da velocidade ao toque de um
botão ou pedal do veículo. De acordo com a montadora,
juntos, os três recursos podem representar uma economia
de aproximadamente 15% de combustível a cada viagem.
Desafio é a nossa infraestrutura
Um item externo às questões do homem e da máquina
é o que representa os maiores desafios para a garantia
da entrega segura da produção brasileira - a infraestrutura
do sistema de estradas e rodovias do País. O recente
episódio de problemas estruturais em quatro pontes, entre
Curitiba e Paranaguá, no Estado do Paraná, devido
às fortes chuvas que caíram na região,
mostram a fragilidade em que se encontra o sistema rodoviário
nacional.
Em outro aspecto, essa mesma precariedade das estradas também
faz com que o desenvolvimento de novos produtos seja feito com
maior tempo - tanto na parte de testes dos componentes como
em estudos a campo dos veículos. Segundo Costa, são
estimados de quatro a cinco anos para a concepção
de um caminhão - do primeiro esboço da ideia até
o produto finalmente chegar à concessionária.
Muito em breve a MAN deverá lançar no mercado
um caminhão que entrará num nicho ainda não
trabalhado pela marca, os caminhões extrapesados - que
complementará a família desse tipo de veículo
da montadora. Motores, potência e cilindradas maiores,
entre outros aspectos devem fazer o diferencial dessa nova de
linha de caminhão da empresa. |