"A
produção mundial de 2009/2010 era estimada em
cerca de 260 milhões de toneladas, e a produção
que está sendo esperada é de 256 milhões.
O consumo, no ano passado, que estava estimado em 239 milhões
vai passar para 255 milhões. A China é a grande
responsável pela sustentação desse consumo
mundial", avalia a analista de soja da Conab.
A área plantada com soja teve uma ampliação
de 2,4%, e alcançou 24 milhões de hectares,
segundo estima pesquisas da Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa). A produção, por sua
vez, cresceu 2,3%, chegando a 70,3 milhões de toneladas
(t). A colheita do grão começou no Rio Grande
do Sul e continua nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Goiás e Paraná. A pesquisa foi realizada
por 68 técnicos da Conab, no período de 21 a
24 de fevereiro. Foram ouvidos representantes de cooperativas
e sindicatos rurais, de órgãos públicos
e privados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste,
além de parte das regiões Norte e Nordeste.
Já para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a produção da oleaginosa é esperada
em 69 milhões de t, segundo as pesquisas do mês
de fevereiro. De acordo com o órgão, este acréscimo
se deve a uma reavaliação positiva de 1,8% no
rendimento, já que as condições climáticas
permanecem favoráveis nos principais centros produtores.
No Paraná, segundo maior produtor nacional, a área
prevista é de 4.501.588 hectares (ha). No Estado, a
colheita já foi concluída em 5% da área
total ocupada com a cultura. Na porção centro-sul
e sudoeste paranaense, onde a oleaginosa foi plantada mais
tardiamente, as lavouras, de um modo geral, atravessam os
estágios de floração e frutificação.
Já nas regiões norte e oeste do Estado, onde
as lavouras foram semeadas mais cedo, os estágios mais
importantes são os de frutificação e
maturação, com as mais avançadas já
sendo colhidas. A produção esperada de 13,9
milhões de t encontra-se majorada em 1,1%, para um
rendimento médio de 3.097 kg/ha, superior em 1,0%,
segundo os dados do IBGE.
Goiás também influenciou o crescimento da produção
nacional. Com o avançar da colheita, no sudoeste goiano,
estão sendo registrados rendimentos médios de
55 sacas por ha. Influenciado pelos ótimos resultados
deste início de colheita, o rendimento médio
do Estado foi revisto para 3.175 kg/ha (+11,8%), sendo projetada
nesta avaliação uma produção de
8,0 milhões de t. Em Mato Grosso do Sul a situação
é similar. As condições climáticas
favoreceram a cultura e, apesar de ter sido mantida a área,
houve reajuste de 5,2% no rendimento e, por conseguinte, na
produção que passa a ser estimada em 5,3 milhões
de t.
Muita precaução
Para a analista do mercado de soja da Conab, Nilva Claro Costa,
as precauções em relação às
condições climáticas esperadas e o efeito
climático não tão severo como se pensava
influenciaram positivamente a produção brasileira.
"Em setembro de 2010, quando se iniciava o plantio, havia
todo um receio do fenômeno La Niña. Com base
nessa informação os produtores, em especial,
os que tiveram esse dado a tempo, seguiram a risca as recomendações
técnicas. Como plantar as variedades resistentes e
não plantar em determinadas épocas", afirma
Costa. "Então, eles esperaram o veranico passar.
Em Mato Grosso, por exemplo, a safra está sendo colhida
mais tarde, exatamente porque fora semeada tardiamente. Houve
ainda a questão do seguro agrícola, porque,
se os produtores plantassem sem as recomendações
devidas, e aí então viesse a ocorrer algum problema,
eles então não teriam a garantia do seguro".
No quesito produtividade, a safra 2010/2011 cai nacionalmente
comparando-se a de 2009/2010, de acordo com a analista da
Conab. No ano agrícola anterior foi estimado um rendimento
de 2.927 quilos por ha (kg/ha) contra 2.906 kg/ha previstos
para a safra deste ano - uma leve queda de 0,72%. "Estamos
ganhando em termos de área que passou de 23,5 milhões
de ha para 24,1 milhões, ou seja, um aumento de 2,8%
aumento de área da soja em todo o País. A porção
centro-sul passou de 21 milhões para 21,6 - o que representa
uma incremento de 2,5% na área cultivada", contabiliza
Costa.
Mercado bombando
Já em relação às exportações,
segundo a Conab, o País fechou em 2010 embarques de
29,73 milhões de t. Neste ano estimam-se embarques
até maiores em função da aceleração
dos contratos futuros de lavouras como as de Mato Grosso onde,
de acordo com Costa, mais de 60% da lavoura estão vendidas.
"Os preços no mercado internacional estão
em alta, e começou exatamente no mês de julho
do ano passado, foi quando pulou a comercialização
que, até então, seguia muito lenta, diante das
incertezas. Foi então a partir daquele mês, em
Mato Grosso, que começou o fluxo normal de comercialização
dos grãos", frisa. Em termos de preços,
a média de Mato Grosso, em fevereiro, girou em R$ 42,12
a saca de 60 kg, e no Paraná, R$ 46,5. "Para se
ter uma ideia, a média de fevereiro de 2010, em Mato
Grosso, era de R$ 26 a saca e de R$ 32 no Paraná",
compara a analista da Conab.
Essa euforia toda - analisando tão somente as relações
de oferta e demanda - está relacionada justamente ao
aumento de consumo mundial e a baixa oferta do grão
entre todos os países produtores. "A produção
mundial de 2009/2010 era estimada em cerca de 260 milhões
de t, e a produção que está sendo esperada
é de 256 milhões, ou seja, uma queda de quase
quatro milhões de t. O consumo, no ano passado, que
estava estimado em 239 milhões vai passar para 255
milhões - um aumento de quase 6,7%. A China é
a grande responsável pela sustentação
desse consumo mundial", avalia.
Já no quesito custos, há uma ressalva a se fazer
- se por um lado há indícios que a implantação
da lavoura fora favorecida em função da aquisição
de insumos mais baratos, por outro, vem o alto custo da logística
de todo o sistema, em especial, o frete que está muito
caro. As estimativas da Conab giram num custo de transporte
de grãos de R$ 270 por tonelada - na melhor das hipóteses
- no trajeto Sorriso (MT) a Paranaguá (PR), no pico
de safra. "Então, grande parte desse diferencial
vai ficar com a transportadora, que por sua vez, diz que não
fica porque tem o custo Brasil", declara Costa.
Safra
histórica de menor incidência da ferrugem asiática
A
ocorrência da doença teve um impacto bem menor
nesta safra de 2010/2011 em função de um inverno
mais rigoroso registrado no final de 2010, o que levou até
o atraso no plantio em muitas regiões produtoras do
grão, segundo avalia o pesquisador da Embrapa Soja,
Rafael Soares. "Como o fungo causador da doença
é dependente de água, e houve chuvas abaixo
do esperado, ele não conseguiu então causar
tantos danos à lavoura. Outro aspecto que também
ajudou a produção foi a adoção
do vazio sanitário, período no qual não
há a presença da planta nos campos - pois o
fungo só sobrevive com a planta viva", destaca
Soares.
Há indícios de que a seca tenha sido, em média,
mais forte que as médias históricas. Isso explica
os registros mais baixos de ocorrência da doença
das últimas cinco safras - 707 ocorrências em
todo o País, até o dia 9 de março. Panorama
totalmente oposto do registrado na safra passada, na qual
foram contabilizadas 2.370 ocorrências.
Mesmo tendo afetado a disseminação da doença
pelos campos, a seca não foi suficiente para também
influir negativamente na produção do grão,
pois segundo o especialista, na época em que a planta
necessitava de água, houve a ocorrência de chuvas.
O desenvolvimento da lavoura segue em algumas regiões
em função do atraso do plantio - estas que podem
estar mais sujeitas à incidência maior da doença
ou mesmo prejudicada pelas constantes chuvas que vêm
afetando produtores no Paraná e em Mato Grosso do Sul,
por exemplo.
Quanto à informação sobre as aplicações
de fungicidas, ainda não há um balanço
do Consórcio Antiferrugem, entidade público-privada
que trabalha no combate à ferrugem asiática
da soja. Na safra de 2009/2010, foram registradas 2,4 aplicações,
em média, nas regiões pesquisadas pelo órgão.
A atenção agora se volta a doenças que
não são tão agressivas a lavoura, mas
que causam certos incômodos ao produtor, como é
o caso da mancha-alvo e da antracnose, também de origem
fúngica, mas que ainda não possuem um produto
que as controle efetivamente. Outro aspecto que as favorece
é que, mesmo com a ausência da planta nos campos,
esses agentes ainda ficam em restos culturais, e, assim, podem
pular de uma safra a outra de soja.
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