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NUTRIÇÃO - Pecuária amiga do meio ambiente
rev 157 - março 2011

A pesquisa da Embrapa Rondônia tem estudado os resíduos gerados por uma agroindústria localizada no distrito de Nova Califórnia, na divisa com o Estado do Acre e a 370 quilômetros (km) do centro da capital de Rondônia, Porto Velho. São 364 famílias associadas ao projeto Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado (RECA), que produzem principalmente pupunha, castanha-do-Brasil e cupuaçu.

O plantio do mamãzinho pode ser feito em qualquer tipo de solo da Caatinga desde que não esteja em área sujeita a alagamento. Para isso, orienta-se a colheita dos frutos no período de safra, que vai de dezembro a março, na região. Após retirar as sementes, deve-se por para secá-las e, só então armazená-las por 30 a 60 dias até o momento do plantio.

Opções de alimentos que garantam nutrientes necessários às criações de gado ou mesmo de pequenos animais são sempre bem-vindas - especialmente por se tratarem de ser mais econômicas e resolverem a questão de falta de alimento em períodos de seca no ano. Este é o objetivo de duas linhas distintas de pesquisa - uma, desenvolvida pela Embrapa Rondônia, localizada em Porto Velho (RO), e a outra, pela Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE). O primeiro estudo avalia o aproveitamento de resíduos da agroindústria extrativista da região amazônica, ao passo que o segundo analisa a utilização de Jacaratia corumbensis O. kuntze - um arbusto com altura que varia de 2,5 metros (m) a seis m, conhecido mais popularmente por mamãozinho-de-veado, pelo fato de seus frutos serem consumidos frequentemente por animais silvestres como os tatus, cutias, seriemas, caititus e, em especial, os veados.

Nutriente amazônico

Avaliando a primeira pesquisa - em meio ao cenário amazônico - a ideia era beneficiar a atividade pecuária em função da indústria de extração de palmito e da semente de pupunha, do óleo de castanha-do-Brasil, da manteiga e da polpa de cupuaçu, por exemplo. De acordo com a coordenadora do estudo, Ana Karina Dias Salman, se aproveitados corretamente, os resíduos desse processamento podem servir de alimento para a criação de animais, além reduzirem o impacto ambiental. "Até o momento, as principais informações que obtivemos foi sobre o resíduo da extração da semente do fruto da pupunha", declara Salman. "Os produtores enfrentam um problema com esse resíduo porque o excesso de umidade favorece a proliferação de agentes patogênicos e isso foi verificado por outros pesquisadores daqui da Embrapa Rondônia - José Roberto Vieira Júnior e Cleberson Fernandes. No entanto, a pesquisadora Virgínia Álvares, da Embrapa Acre [em Rio Branco (RO)] fez alguns ensaios para testar tratamentos térmicos que aumentam o tempo de estocagem desse resíduo em temperatura ambiente sem alterar as características químicas desse resíduo e isso pode viabilizar a comercialização desse produto visando o uso na alimentação animal", atesta.

A pesquisa tem estudado os resíduos gerados por uma agroindústria localizada no distrito de Nova Califórnia, na divisa com o Estado do Acre e a 370 quilômetros (km) do centro da capital de Rondônia, Porto Velho. São 364 famílias associadas ao projeto Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado (RECA), que produzem principalmente pupunha, castanha-do-Brasil e cupuaçu.

Os pesquisadores analisam amostras dos resíduos provenientes de diferentes etapas da produção industrial, para indicar a composição química dos materiais, como teores de matéria seca, de gordura, de proteína, de carboidrato e sais minerais, componentes importantes para a nutrição animal.

Alternativa ao milho

Entre as bases de alimentos estudadas até agora, além do resíduo da extração da semente da pupunha, já há análises de teores de matéria seca, fibra, cinzas, proteína e extrato etéreo dos resíduos da extração do óleo da castanha-do-Brasil (denominado farelo de castanha), da extração da manteiga de cupuaçu (denominado torta de cupuaçu) e do beneficiamento do palmito de pupunha (entrecasca da pupunha). "Por essa análise inicial verificamos que todos têm potencial de uso na alimentação de bovinos, no entanto, estamos realizando ensaios de degradação ruminal desses resíduos para verificar como os animais aproveitam esses nutrientes no rúmen e, posteriormente, vamos conduzir ensaios para verificar o nível de inclusão dos mesmos na dieta de vacas em lactação", explica a pesquisadora.

Com exceção da entrecasca do palmito, que tem potencial de uso como alimento volumoso para ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos), os demais podem ser utilizados em substituição ao milho (que é a fonte de energia mais utilizada em ração animal) em dietas para ruminantes e monogástricos (aves e suínos). De acordo com Salman, o nível de substituição do milho por esses resíduos, no entanto, deve ser avaliado em experimentos específicos para cada espécie animal, uma vez que cada uma apresenta suas particularidades nutricionais.

A armazenagem desses resíduos, quando destinados à formulação de ração animal, deve ser feita seguindo os mesmos critérios dos ingredientes tradicionalmente utilizados na ração, ou seja, em local limpo, arejado, livre do ataque de insetos e ratos. "No caso de alimentos com alto teor de umidade, como o resíduo da extração da semente do fruto da pupunha, a secagem é obrigatória para neutralizar fatores antinutricionais e permitir a estocagem em temperatura ambiente", ressalta Salman.

Em termos econômicos, o que se percebe é que essa inclusão de subprodutos agroindustriais na alimentação animal reduz os custos com a alimentação no sistema de produção animal. No entanto, é preciso que a viabilidade econômica da inclusão desses ingredientes na dieta seja avaliada em ensaios de desempenho dos animais.

Além da Embrapa Rondônia, fazem parte do projeto a Embrapa Acre, Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ), Faculdades Integradas Aparício Carvalho (Fimca) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater-RO).

A opção da Caatinga

Quando a seca no semiárido nordestino atinge o período mais crítico, entre os meses de agosto e dezembro, o mamãozinho-de-veado flora e frutifica com abundância. O "segredo" da planta é o mesmo que possui os pés de umbuzeiro - a raiz em forma de batata, tecnicamente chamada de xilopódio ou túbera, que armazena água e substâncias nutritivas numa quantidade que vai permitir a planta atravessar vários meses de estiagem que caracteriza o clima semiárido. Em alguns pés de "mamãozinho" já foram colhidas batatas com 546 quilos (kg).

Na época de escassez de alimento para os rebanhos, pequenos agricultores ou agricultores familiares costumam recorrer à retirada dos xilopódios dessas plantas como uma das poucas alternativas de alimento para fornecer aos animais. Com o objetivo de domesticar essa planta para a melhor aplicação nesse tipo de criação de pequenos rebanhos, Nilton de Brito Cavalcante, especialista em extensão rural da Embrapa Semiárido, vem estudando a planta há cerca de 14 anos. De acordo com o pesquisador, o extrativismo do "mamãozinho" nos períodos críticos de seca é um indicador da importância que têm a planta para os pequenos criadores de poucos recursos técnicos e financeiros. O corte indiscriminado nessas épocas diminui a população da espécie e ao longo do tempo pode se tornar uma ameaça concreta à extinção da planta.

Nesse sentido, um dos pontos da pesquisa foi demonstrar aos produtores como poderia se estabelecer o cultivo dessa planta com o objetivo de multiplicá-la e, assim, servi-la como alimentação às criações.

Na pesquisa, Cavalcante entrevistou agricultores, fez testes em campo experimental e realizou análises laboratoriais de J. corumbensis. Em termo de matéria seca, foi registrado 30% de proteína nas folhas e ramos novos, e 12% no tubérculo. E água há em abundância - cerca de 78%, que pode suprir parte das necessidades dos animais no período de seca. "Portanto a espécie é uma boa fonte de nutriente e de água para os animais", enfatiza.

Parte da pesquisa foi dedicada à entrevista com agricultores e a medição da população das plantas de "mamãozinho" em comunidades dos municípios de Juazeiro, Curaçá, Uauá e Jaguarari, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Lá foram encontradas densidades que variaram de sete a 16 pés por hectare (ha).

Segundo o especialista, com mão de obra familiar, pouco recurso financeiro e conhecimento básico, é possível o pequeno criador do semiárido fazer essa quantidade crescer para até 7.500 plantas/ha no espaçamento de 1,5 x 1,5 m em área de caatinga degradada, ou então repovoar a vegetação nativa com 1.200 pés/ha.

"Como o peso médio da raiz no primeiro ano de cultivo alcança 3,46 kg, nas duas situações, o agricultor vai dispor de um bom volume de reserva forrageira para o rebanho dele", afirma Cavalcante.

Plantio

Mais do que constatar o potencial forrageiro da espécie, o pesquisador definiu práticas de manejo de cultivo que os agricultores podem adotar, da mesma forma se faz com o capim, a palma, ou mesmo o feijão. Uma delas é que o plantio pode ser feito em qualquer tipo de solo da caatinga desde que não esteja em área sujeita a alagamento.

Para isso, o pesquisador orienta a colheita dos frutos do mamãozinho no período de safra, que vai de dezembro a março, na região. Após retirar as sementes, deve-se por para secá-las e, só então armazená-las por 30 a 60 dias até o momento do plantio.

O agricultor pode fazer o cultivo direto depositando de três a cinco sementes em covas com três a quatro centímetros (cm) de profundidade. "O ideal, porém, é que o plantio seja feito em canteiros. Posteriormente, são repicadas para sacos com substrato de solo, areia e esterco que, passados 60 dias da germinação, devem ser levadas para o campo. O transplantio deve ocorrer entre os meses de janeiro e abril para um melhor desenvolvimento das mudas", explica Cavalcanti.

A melhor data para o plantio das mudas no campo é logo após as primeiras chuvas. Uma planta adulta de "mamãozinho" chega a produzir 680 frutos por safra e cada um deles chega a conter até 14 sementes.
O pesquisador da Embrapa Semiárido ressalta também que o plantio do mamãozinho-de-veado pode ser feito também na forma de consórcio com outras culturas, a exemplo do milho, feijão, palma forrageira, áreas de pastagens, ou na própria caatinga. "O agricultor só precisa distribuir as covas de forma que a distância entre as plantas seja de 1,50 m. O espaçamento nas entrelinhas, por sua vez, passa a depender da espécie consorciada. O porcentual de germinação das sementes chega a até 80%", testifica.

É recomendada ainda uma capina no final do período das chuvas. Após um ano de plantio, os agricultores já podem fazer a colheita, mas quanto mais tempo as plantas ficarem no campo, maior será o desenvolvimento da batata.

A grande vantagem do cultivo dessa planta é que após o plantio não é preciso mais se preocupar com o mamãozinho - a condição de nativa da caatinga garante a adaptação da espécie às adversidades climáticas da região.


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