Do
total de nitrogênio presente nas forragens, 10% a 30%
está na forma de nitrogênio não proteico.
Nos ruminantes, o nitrogênio dietético na forma
de proteína verdadeira e nitrogênio não
proteico sofrem ação da população
microbiana ruminal.
Concentrados energéticos e proteicos proporcionam maior
suprimento de nutrientes digestíveis e, consequentemente,
maior ganho de peso e produção de leite, contudo
- sob o aspecto econômico - a classe produtora tende
à produção a pasto em função
de custos menores.
A alimentação bovina pode ser divida em quatro
grupos básicos - (1) Energia, no qual se inserem os
nutrientes digestíveis totais (NDT), aí há
a soma de proteína bruta digestível, carboidratos
fibrosos digestíveis, carboidratos não fibrosos
digestíveis e extrato etéreo digestível;
(2) Proteína, especificamente a proteína degradável
no rúmen e a não degradável no rúmen;
(3) Minerais, entre eles, os macrominerais, como cálcio
(Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), sódio
(Na), potássio (K) e enxofre (S), e os microminerais,
como cobre (Cu), zinco (Zn), ferro (Fe), manganês (Mn),
iodo (I), cobalto (Co) e selênio (Se); e (4) Vitaminas,
em destaque as lipossolúveis (que se dissolvem na gordura)
como a A, D, E e K; e as hidrossolúveis (que se dissolvem
na água) como a tiamina, riboflavina, niacina, B6 (piridoxina,
piridoxal e piridoxamina), ácido pantotênico,
colina, folacina, biotina, B12 e vitamina C.
Todos esses elementos que formam - grosso modo - essa sopa
de letrinhas são os itens essenciais que devem constar
na alimentação do rebanho. Para Rogério
de Paula Lana, especialista em nutrição animal
e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV),
todos esses nutrientes são importantes, desde os macronutrientes,
como energia e proteína até os micronutrientes,
como os microminerais e vitaminas. Se bem elaborada, a ração
terá o efeito esperado - em termos de ganho de peso
por animal por dia, além de provar-se economicamente
viável ao produtor.
Água
O item, a princípio, merece um melhor destaque pelo
simples fato de ser extremamente vital para grande parte dos
animais, de modo geral. "A água é o nutriente
mais importante no corpo animal, uma vez que este pode perder
praticamente todo lipídio e 50% da proteína,
mas se perder 10% da água, pode ser fatal", destaca
Lana. "O conteúdo de água varia de 95%
na fecundação a 50% no animal adulto (70% em
animal magro). Já nos alimentos, as forragens verdes
apresentam em torno de 80% de água, os grãos
de 10% a 12%, os fenos de 10% a 15% e as silagens por volta
de 70%", calcula.
É através desse elemento que são realizadas
operações no organismo do animal, como o transporte
de nutrientes para todas as parte do corpo, as excreções
(ureia), as secreções, a manutenção
da temperatura corporal, e também o auxílio
no amaciamento do alimento durante o processo de mastigação
e a assimilação dos nutrientes pelo organismo.
Carboidratos
No rúmen bovino os carboidratos, que podem ser representados
por celulose, hemicelulose, pectina, amido, mono e dissacarídeos,
fermentam para geração dos ácidos graxos
voláteis (AGV) - a fonte de energia utilizada pelo
animal. "A produção de AGV depende da dieta,
em que fontes de proteínas favorecem a produção
de butirato e aumenta a relação proporcional
de acetato por propionato (acetato:propionato). O amido reduz
e a celulose aumenta a relação acetato:propionato.
Embora ocorram estas alterações nos padrões
de fermentação ruminal, sempre ocorre predominância
do acetato em relação ao propionato e este em
relação ao butirato", destaca Lana.
A produção de AGV também está
relacionada ao consumo de alimento. O baixo consumo causa
baixa taxa de passagem, o que favorece a produção
de acetato. Já a presença de lipídios
e ionóforos (monensina e lasalocida) favorecem a produção
de propionato - este também é favorecido por
baixa acidez ruminal (pH). "O controle da acidez ruminal
em altos níveis de concentrado na dieta pode ser feito
pelo uso de agentes tamponantes, como o bicarbonato, e também
pelo uso de fibra efetiva (fibra longa), que estimula a mastigação
e a salivação", destaca.
Proteínas
As proteínas são formadas por compostos formados
por sucessivas aglomerações de moléculas
- polímeros - de aminoácidos, constituídos
de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio
e enxofre. Do total de nitrogênio presente nas forragens,
10% a 30% está na forma de nitrogênio não
proteico. Nos ruminantes, o nitrogênio dietético
na forma de proteína verdadeira e nitrogênio
não proteico sofrem ação da população
microbiana ruminal. A proteína dietética apresenta
degradação variável de 30% a 100% em
função da fonte e processamento do alimento,
com média em torno de 60%. Parte da proteína
dietética que escapa à degradação
ruminal e a proteína microbiana fluem em direção
ao intestino delgado, sendo digeridas e absorvidas na forma
de aminoácidos. A proteína absorvível
é denominada proteína metabolizável,
sendo que de 40% a 80% desta é de origem microbiana.
Minerais
São os elementos químicos inorgânicos,
encontrados frequentemente na forma de sais associados com
elementos inorgânicos ou orgânicos. De acordo
com Lana, as funções gerais dos minerais são
proporcionar a rigidez e resistência dos ossos e dentes,
atuar como ativadores de sistemas enzimáticos (reações
metabólicas), manter a pressão osmótica
e excreção, atuar no equilíbrio ácido-base,
exercer efeitos característicos na irritabilidade dos
músculos e nervos, e, também, atuar na produção
de leite e carne. Como ativadores dos sistemas enzimáticos
têm-se exemplos como o ferro, que atua nas enzimas citocromo
oxidase, catalase e peroxidase; o cobre na enzima citocromo
oxidase; o magnésio na hexoquinase e glicose-6-fosfatase;
o manganês na arginase; o potássio e magnésio
na piruvato quinase; o níquel na urease; o molibdênio
na nitrato redutase e o selênio na glutationa peroxidase
(LEHNINGER, 1982, p.209).
Vitaminas
Constituem-se de substâncias orgânicas (contém
aminas - classe de compostos orgânicos derivados da
amônia, em geral ricos em nitrogênio) essenciais
em pequenas quantidades para o crescimento, a reprodução
e a manutenção do animal. As funções
gerais das vitaminas são de atuar como promotor de
crescimento, coenzimas (catalisadores metabólicos),
comuns a muitas vitaminas e cura ou supressão de determinadas
doenças.
As fontes e a balança
Diversos são os alimentos que podem oferecer aos animais
tudo aquilo que necessitam, em termos nutricionais, mas a
base do suprimento do rebanho está bem debaixo das
patas dele - é o pasto. "Fontes de energia para
maiores ganhos de peso podem ser obtidas nos concentrados
energéticos, como o fubá de milho, grão
de sorgo moído, farelo de trigo, polpa cítrica,
entre outros. Fontes de proteína verdadeira podem ser
obtidas nos concentrados proteicos ou co-produtos de sementes
de oleaginosas, como é o caso de farelos de soja, algodão,
amendoim, girassol, macaúba, dendê, crambe, entre
outras. Já a fonte de nitrogênio não proteico
para síntese microbiana pode ser encontrada na ureia",
descreve Lana.
Concentrados energéticos e proteicos proporcionam maior
suprimento de nutrientes digestíveis e, consequentemente,
maior ganho de peso e produção de leite, contudo
- sob o aspecto econômico - a classe produtora tende
à produção a pasto em função
de custos menores. "O confinamento ou terminação
com concentrado a pasto melhora a qualidade da carcaça,
o ganho de peso e reduz a idade ao abate, mas tem maior custo
com alimentação e mão de obra",
pondera o pesquisador.
Diante das opções, a escolha para a formulação
da dieta do rebanho tem de se pautar em cinco informações
necessárias, como descreve Lana - (1) disponibilidade
de ingredientes na região; (2) composição
nutricional dos ingredientes, que pode ser obtida a partir
de tabelas ou por análises dos alimentos em laboratórios
de nutrição animal; (3) restrições
quanto ao uso de determinadas fontes em função
de princípios tóxicos ou distúrbios digestivos
que possam ocorrer; (4) exigências nutricionais dos
animais; (5) custo total da alimentação (a formulação
de rações deve ser feita utilizando uma combinação
de ingredientes disponíveis a menor custo). "Normalmente
formula-se rações com 10% a 40% de concentrado
ou até 90% na matéria seca total da dieta para
gado de corte, utilizando planilha eletrônica ou método
manual (quadrado de Pearson, equações algébricas),
com base na composição dos alimentos (volumoso,
concentrado energético e concentrado proteico) para
satisfazer as exigências nutricionais para um determinado
ganho de peso. Nesse sentido estimam-se ganhos de 1 kg a 1,2
kg por dia com menor uso de concentrado", frisa.
Avaliação do sistema
Como a alimentação animal compõe grande
parte do custo do sistema é de extrema importância
que o pecuarista avalie bem o planejamento nutricional do
rebanho para que seja viável economicamente e também
adequado à produção de carne. Para Lana,
o uso de concentrado na produção de carne e
leite a pasto e em confinamento deve ser avaliado em termos
de eficiência de uso (quilo de acréscimo no ganho
de peso ou produção de leite por quilo de suplemento,
comparado ao tratamento controle), em adição
às avaliações nutricionais e de manejo,
devido ao concentrado ser de alto custo e a alimentação
corresponder a até 70% do custo de produção
bovina. Estudos desenvolvidos por Lana, em conjunto com demais
pesquisadores da UFV, revelaram que, em pastagem, houve um
ganho de peso adicional de 0,10 a 0,14 kg por quilo de consumo
de concentrado em relação ao tratamento com
sal mineral (conversão de concentrado de 7:1 a 10:1),
e, em confinamento, valor de 0,10 kg por quilo de consumo
de concentrado (conversão de 10:1). Já para
vacas leiteiras, verificou-se média e desvio-padrão
de 0,65 + 0,41 kg de leite/kg de ração. "Estes
dados demonstram normalmente a baixa eficiência dos
bovinos em ganhar peso e produzir leite ao substituir o volumoso
pelo concentrado, especialmente com o aumento do fornecimento
do mesmo. Com o incremento de oferta de nutrientes, há
decréscimo crescente na resposta até atingir
um limite em que a resposta deixa de ser positiva, causando
inibição por toxidez", salienta Lana. Ainda,
de acordo com o pesquisador, este tipo de resposta é
biológica e de forma generalizada, em que podem observar
altas respostas na produção de leite, crescimento
animal, crescimento vegetal e crescimento microbiano com pequena
adição de nutrientes - minerais, aminoácidos,
carboidratos, dentre outros, especialmente em condições
tropicais, em que há baixa disponibilidade de nutrientes
no solo e baixo valor nutritivo dos alimentos. "No caso
da produção de pastagem e de bovinos em crescimento
sob pastejo, a metade da resposta máxima na performance
é obtida com 5% de adubação nitrogenada
e 5,6% de ração concentrada, respectivamente,
em relação àquela necessária para
atingir 95% da resposta máxima. Com isto, permite-se
maximizar a resposta vegetal e animal ao suprimento de adubo
e ração, reduzir o desperdício dos mesmos
e o custo de produção", conclui.
|