Está
localizada na Bahia, mais precisamente no município
de Ibicaraí, no sul do Estado, a primeira fábrica
de chocolates finos do País resultado do trabalho da
agricultura familiar, a Bahia Cacau.
Reconhecida por sua importância na produção
cacaueira, a Bahia é o principal Estado produtor do
fruto no Brasil. Dados do levantamento de Lavoura Permanente,
divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), apontam que em 2009, a produção baiana
de cacau (em amêndoa) alcançou 137.929 toneladas,
com 549.769 hectares (ha) de área plantada, 513.935
ha de área colhida e rendimento médio de 268
kg/ha.
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A
relevância da cultura cacaueira no Estado é tanta
que ganhou notoriedade além de seu aspecto econômico
e sociocultural, chegando à dramaturgia em 1993, com
a telenovela Renascer. A obra de Benedito Ruy Barbosa contava
a saga de um fazendeiro da zona cacaueira de Ilhéus e
retratava a rotina de algumas propriedades da região.
Agora, o Estado ganha uma nova aliada para expandir além
de suas fronteiras a tradição e o sabor de seu
cacau, com a chegada da "Bahia Cacau", instalada no
município de Ibicaraí. Inaugurada há cerca
de três meses, é a primeira fábrica de chocolates
finos da agricultura familiar, no Brasil, nesta modalidade.
Construída em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento
e Integração Regional, por meio da Companhia de
Desenvolvimento e Ação Regional (Sedir/CAR), a
unidade opera em sistema cooperativista, envolvendo agricultores
cadastrados na Cooperativa dos Agricultores Familiares da Bacia
do Almada e Adjacências (Cooafba), sediada na cidade de
Coaraci.
De acordo com o Sedir e com o responsável pela fábrica,
Rogério Augusto Silva Pinto, a produção
atual está entre 50 e 100 quilos por dia. O número
só não é maior devido à falta de
uma máquina embaladeira já pleiteada e a expectativa
é que em cerca de seis meses a Bahia Cacau já
esteja produzindo de 500 a 600 kg por dia. A capacidade é
de produção é de 32 mil arrobas por ano,
mas de acordo com as possibilidades, a unidade pretende atingir
15 mil ainda em 2011. "Ainda estamos em processo de aprendizagem,
pois a fábrica foi inaugurada há apenas três
meses. Produzimos chocolates finos feitos a partir do cacau
premium, com qualidade superior aos demais. São 30 tabletes
de seis gramas, barra de 20 gramas, bombom recheado (com frutas
da região com 50% de cacau) e barra de um quilo (para
produtos Gourmet)".
Inicialmente, os produtos têm sido vendidos na região
e nos municípios de Coaraci e Itabuna, a venda está
cotada em R$ 60 o quilo. Sobre a valorização,
a fábrica está revendo custos junto ao Serviço
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O iniciativa
conta com 100 agricultores envolvidos e já existem mais
150 cadastrados. A Sedir/CAR é responsável pela
elaboração, sistematização e implantação
do projeto e foi quem disponibilizou técnicos e engenheiros
e outros profissionais. "A obra custou cerca de R$ 2 milhões
e chegou em um momento de desenvolvimento econômico regional.
A fábrica fortalece a agricultura familiar e revitaliza
a economia do município", conta Rogério Pinto.
A unidade recebe matéria-prima dos cooperados, porém,
em época de entressafra, é necessário recorrer
a outros pequenos agricultores. O responsável pela fábrica
ressalta que para testar a qualidade do produto recebido, as
amêndoas do cacau passam por toda uma triagem e por classificação
física e química. São estudadas, primeiramente,
características como o aroma, a cor e outras que comprovem
a excelência dessa amêndoa que ainda é submetida
a um higroscópio - para fazer o teste de umidade.
Garantia de qualidade
Para Joel Pimenta, chefe do Escritório Local da Empresa
Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), empresa vinculada
à Secretaria da Agricultura, Irrigação
e Reforma Agrária (Seagri), em Coaraci, é necessário
lembrar da importância da capacitação para
que o agricultor alcance a qualidade do cacau necessária
à fábrica. Para tanto, a EBDA realizou uma grande
mobilização entre os agricultores da região,
e os encaminhou aos cursos de capacitação oferecidos
pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(Ceplac). "Sempre que necessário, estamos capacitando
os agricultores no sentido de melhor prepará-los para
atender a um mercado exigente como o de cacau. O agricultor
entendeu que para o cacau ser bem classificado ele precisa redobrar
a atenção no manejo das amêndoas, da colheita,
quebra, fermentação e secagem", explicou
o técnico.
Isso aconteceu, por exemplo, com a agricultora Maria Luiza Brandão,
do município de Itapitanga, que participou do curso de
classificação oferecido pela Ceplac, em parceria
com a EBDA, e já provou que está capacitada. O
cacau produzido na sua fazenda passou pelo processo de amostragem
da fábrica e foi aprovado. "Eu já vendi oito
arrobas para a fábrica. Estou muito satisfeita e trabalhando,
junto com meu marido, para entregar muito mais", afirmou
a agricultora.
Os pequenos produtores, que vendem o cacau para a fábrica,
recebem assistência técnica da EBDA, com o objetivo
de melhorar a produção, a produtividade e a qualidade
do fruto, uma vez que a indústria exige um chocolate
com teor entre 50% e 70% de cacau. Apesar do curto tempo de
instalada, a indústria já apresenta resultados
positivos. O secretário estadual da Agricultura, engenheiro
agrônomo Eduardo Salles, abriu as portas do escritório
de negócios da agropecuária baiana em Pequim para
a comercialização do chocolate produzido na Bahia
Cacau para a China, entre vários outros itens da agricultura
familiar. Já para o mês de março, está
previsto o envio de um lote do chocolate à China para
análise e posterior adequação da embalagem
do produto. |