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OVINOS - Indicadores da expansão / de otimismo
rev 156 - fevereiro 2011

O mercado sinaliza de forma positiva para a expansão da ovinocultura brasileira. E para que esse crescimento realmente alcance os patamares almejados pelo segmento, o melhoramento genético ganha força para comprovar a eficiência desses animais para a produção de uma carne com volume e qualidade.

O momento é oportuno e há quem diga e aposte que é bastante promissor, dentro e fora do País. Como tem acontecido com as carnes de frango e de suínos, por exemplo, a de ovinos também segue valorizada no mercado nacional impulsionada pelos preços pagos pela arroba bovina. O ano de 2011 foi aberto ainda com um novo ânimo para a ovinocultura por conta da retração do volume de importação do Uruguai, concorrente histórico do produto brasileiro. A redução acumulada de janeiro até outubro do ano passado foi de 35,15%, segundo dados do Instituto Nacional de Carnes (INAC) do Uruguai.

Para Sebastião Pereira de Faria Júnior, gerente técnico de pecuária da Intervet/Schering-Plough, após uma fase de visível distorção do mercado, com supervalorização de animais supostamente de elite, mas sem nenhuma avaliação genética para características produtivas, existe hoje um movimento em direção oposta. "A carne uruguaia criou mercado e, agora, ao ser direcionada a mercados de maior valor, deixou um vácuo e os preços do cordeiro para abate dispararam. Os programas de melhoramento como o da Embrapa, que já existiam, passam a ser percebidos como consistentes e servem como referência de valor dos reprodutores", aponta.

Segundo ele, a tendência agora é de haver uma estruturação dos rebanhos, crescimento da produção comercial e real aumento de eficiência, porém, há um longo caminho a ser percorrido no sentido da padronização dos animais e, como consequência, da carne oferecida. "Para isto, os esforços devem se dar na definição de pacotes tecnológicos, com uniformização de processos, como se vê em outras cadeias de carnes. Os frigoríficos, grandes interessados em reduzir a incerteza na qualidade e quantidade da oferta de matéria prima, devem se engajar no processo: podem oferecer diferenciação de preço e modelos de manejo para induzir a adoção das melhores tecnologias", sinaliza o gerente.

Do lado de dentro da porteira, conhecer o ciclo de desenvolvimento dos animais é uma das ferramentas que podem auxiliar o criatório nessa busca pela padronização do rebanho. Atualmente, já existem informações de desempenho dos animais nas diversas fases da produção, tanto na fase de cria - que engloba as etapas de estação de monta, gestação, nascimento e desmama - quanto nas fases de recria e terminação. Fernando Henrique de Albuquerque, pesquisador em Produção Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos, explica que estes indicadores variam principalmente em função do sistema de produção, da raça dos animais e da época do ano. Segundo ele, os indicadores da fase de cria refletem principalmente o desempenho reprodutivo das matrizes (ovelhas e borregas - animais de até um ano), como fertilidade (ovelhas paridas/ovelhas expostas à monta), proliferação (cordeiros nascidos/ovelhas paridas) e intervalo de partos. Além do desempenho dos cordeiros até o desmame (peso ao nascer, peso ao desmame, ganho de peso diário e sobrevivência do nascimento ao desmame).

Albuquerque destaca que na fase de recria das borregas para reposição os indicadores estão relacionados ao desempenho destas para estarem aptas para entrar na estação de monta (ganho de peso diário, escore de condição corporal, peso e idade à primeira cobertura). Já na fase de terminação (engorda) os indicadores têm como objetivo principal retratar a eficiência alimentar dos cordeiros (ganho de peso diário, dias para atingir o peso de abate, conversão alimentar, escore de condição corporal).

Indicadores de eficiência

O pesquisador reforça que a ovinocultura de corte no Brasil apresenta uma grande variação de modelos de sistemas de produção e que os indicadores de eficiência são muito variáveis. Na fase de terminação, por exemplo, o ganho de peso dos cordeiros até o abate varia de 80 gramas por dia (g/dia) em pastagem nativa (caatinga raleada) no período chuvoso, 180g/dia em pastagem cultivada irrigada em manejo rotativo com suplementação concentrada, até ganhos superiores à 300g/dia em confinamentos utilizando concentrado e silagem.

Quando o assunto é a conversão alimentar de ovinos na fase de terminação, ele ressalta que a taxa varia principalmente em função da idade, da raça e do tipo de alimentação. Os cordeiros com idade inferior a cinco meses, de raças de corte especializadas e alimentados em confinamento com concentrado e volumoso de alta qualidade, apresentam os melhores resultados de conversão alimentar, por volta de uma proporção de três por um (3:1), enquanto borregos com idade superior à oito meses, de raças não especializadas e alimentados em pastagem apresentam conversões superiores à 10:1. "Estas variações de eficiência produtiva mostram a necessidade de planejamento e gestão dos sistemas produtivos para que a atividade apresente sucesso técnico e econômico".

Para garantir altos índices de fertilidade, especialistas recomendam que o importante é não perder escore corporal e a suplementação entra como aliada nesse sentido. A correta mineralização implica em ganhos adicionais de peso de até 30%. O correto manejo nutricional também proporciona benefícios à carne - quando se tem um ganho diário maior, o marmoreio da carne é melhor, garantindo sabor e textura mais agradáveis. De acordo com Lauriston Bertelli diretor técnico da Premix (empresa do ramo de nutrição animal), no caso de suplemento aditivado com produtos orgânicos, a composição da gordura também é diferenciada com maior presença de ômega 3.

Melhoramento genético

É possível falarmos de ovinos provados para produção de carne? A resposta é sim. Se na bovinocultura já se consegue quase que projetar um programa de melhoramento genético, com baixas margens de erro, na ovinocultura o caso não é diferente. Na opinião de Octávio Rossi de Morais, pesquisador em Melhoramento Genético Animal também da Embrapa Caprinos e Ovinos, no comparativo entre as duas atividades, deve-se levar em conta que a ovinocultura fora do Brasil, especialmente na Nova Zelândia e no Reino Unido, está num patamar até mais avançado que a bovinocultura mundial.

Segundo ele, no Brasil existem as ferramentas e profissionais gabaritados para executar os trabalhos de melhoramento dos ovinos, mas infelizmente não avançamos muito. "Temos na Embrapa o GENECOC (Programa de Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte), que é um programa pronto para dar as respostas em termos de avaliações genéticas e diretrizes para o melhoramento de ovinos. Os programas precisam de dados gerados nas fazendas, em especial naquelas que realizam seleção. Infelizmente há pouco envolvimento dos criadores, especialmente porque o criador do ovino de elite está totalmente desvinculado do produtor comercial, os interesses não são comuns. Isto é o reflexo de uma cadeia produtiva que ainda precisa de muitos ajustes", diz.

Ele afirma que o os ovinos podem rapidamente alcançar o que foi feito nos bovinos e até superar seus resultados, desde que os criadores se conscientizem da necessidade de se abandonar a velha fórmula da avaliação de pista e se envolvam nas avaliações zootécnicas objetivas. "É preciso lembrar que os ovinos têm um intervalo de gerações muito inferior ao dos bovinos, e isto faz muita diferença para se alcançarem os ganhos genéticos", pontua, enfatizando ainda que carne ovina de boa qualidade é a oriunda de animais jovens, com boa musculosidade e cobertura de gordura suficiente apenas para manter o sabor e a maciez, ou seja, não difere dos padrões de qualidade da carne bovina, apenas é outra carne.

"O que tem sido aprimorado é exatamente o tipo de animal que se entrega para o abate quando se trata do consumo de carne não processada. Antigamente comíamos carne de carneiro, de capões (animais castrados para engorda) e de ovelha, hoje o produto é o cordeiro, ou seja, é um 'novilho', que de preferência deve ser bem acabado", compara.

Aposta no mercado

De olho nas perspectivas e possibilidades de expansão do setor, uma vez que a oferta da carne de cordeiros no Brasil não atende a demanda atual, o Grupo Marfrig tem realizado um trabalho de incentivo à ovinocultura brasileira, visando aumentar a oferta e a qualidade dos animais. O coordenador de ovinos do Grupo, Gustavo Martini, conta que a companhia é hoje a maior fornecedora de carne congelada de cordeiro no mercado nacional, tendo iniciado a produção na unidade de Promissão (SP) em abril de 2009. Além dessa unidade, com capacidade de abate de mil ovinos por dia, foram instalados em outubro do mesmo ano dois confinamentos de ovinos, um em Getulina (SP), com capacidade estática de 2.500 cordeiros e outro em Marília, em parceria com a Universidade de Marília (Unimar), com capacidade estática de mil cordeiros. Em janeiro de 2011 foi iniciado outro confinamento de ovinos com capacidade estática de 3.000 no município de Birigui (SP).

No Rio Grande do Sul, as operações com ovinos começaram em outubro de 2009, quando a Marfrig ampliou suas atividades no Estado com o arrendamento das unidades de Mato Leitão, Alegrete e Capão do Leão I, do Frigorífico Mercosul, com capacidade total de 3.500 animais/dia. Assim como em São Paulo, lá também foi instalado um confinamento de ovinos com capacidade estática de 6.000 animais.

"Este é um mercado promissor no qual temos investido em genética de ponta, saúde, nutrição e manejo adequado nos sistemas de produção através de equipe técnica oferecendo suporte no campo aos fornecedores, contribuindo para aumento da eficiência e lucratividade da atividade", analisa Martini, salientando que a Marfrig incentiva todas as raças que produzem carnes de qualidade, porém comercializa duas combinações: o Primera, formado pelas raças Suffolk, White Suffolk e Pool Dorsete, e o Highlander, um composto Materno, formado pelas raças Texell, Finn e Romney.

Trabalho de seleção

Em Jarinu, cidade próxima a Jundiaí (no interior de São Paulo), um criatório tem incentivado outras propriedades a realizarem a seleção genética de ovinos, fazendo com que a região, que conta com um abatedouro especializado, homologado pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal), com capacidade de abate para 1.500 animais/mês, se estabeleça como um dos principais pólos de excelência genética do Estado. Trata-se da Dorper Campo Verde, projeto que está no mercado desde 2006 selecionando carneiros e ovelhas das raças Dorper e White Dorper, de linhagem sul-africana.

Lucas Heymeyer, responsável de vendas da Dorper Campo Verde, relata que o objetivo da seleção é oferecer ao mercado animais de excelência genética e também reprodutores comerciais, com produtividade e fertilidade comprovada. Outra ponta do projeto é fomentar a atividade, mostrando as vantagens proporcionadas por essas raças em programas de seleção genética e cruzamento industrial. Cerca de 1/3 de seus clientes são novos criadores, fato que ele diz ser algo fundamental ao desenvolvimento da atividade. "Em sistemas de cruzamento industrial que usam Dorper e White Dorper PO, cordeiros são abatidos com até 150 dias de idade e peso vivo próximo ou superior a 40 quilos (kg). O carneiro sul-africano também agrega ganhos de até 25% em precocidade de terminação, velocidade de ganho de peso e rendimento de carcaça", assegura.

No trabalho de melhoramento da propriedade eles preconizam que as fêmeas devem emprenhar facilmente, serem boas mães e desmamar borregos pesados no menor tempo possível. Já os machos devem desempenhar perfeitamente seu papel de reprodutor, cobrindo um grande número de fêmeas e imprimindo as características raciais e produtivas desejáveis.

Heymeyer evidencia que a seleção é uma das pioneiras na comercialização de reprodutores e matrizes com produtividade atestada pelo programa de melhoramento genético da USP/Pirassununga. Todo o rebanho participou de testes de progênie e possue DEPs (Diferença Esperada na Progênie) para as características de real interesse dentro da atividade, como ganho de peso, precocidade, fertilidade e habilidade materna. "Outra ferramenta que ganha espaço na seleção Campo Verde é a avaliação de carcaça por ultrassonografia. Com ela, são identificadas, precocemente, características de grande impacto na produção: acabamento de carcaça, acabamento de gordura e peso ao abate. A leitura de carcaça com ultrassonografia permite a separação do rebanho em lotes por grau de precocidade, com confiabilidade acima de 93%. São especialmente analisadas Área de Olho de Lombo (AOL - região do contrafilé), Espessura de Gordura Subcutânea (EGS) e Peso Vivo (PV)", finaliza.

Ovinocultura Brasileira

O Brasil apresenta grande possibilidade de crescimento nesse segmento. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho ovino brasileiro está em torno de 16 milhões. O Nordeste detém o maior número de cabeças - 56,4%; em seguida está o Sul com 29,1% e o Sudeste está em quarto com 4,6%. O País detém menos de 1% da produção mundial de carne ovina, com abate médio anual de 970.000 cabeças. O consumo per capita da carne é de 700 gramas por habitante por ano, enquanto em países como Nova Zelândia são consumidos 30 kg e na Austrália 20 kg.


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