No
resultado da balança comercial do agronegócio,
divulgado em janeiro pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil registrou
em 2010 exportações recordes no setor com US$
76,4 bilhões - valor 18% maior que o apontado em 2009
- e superávit de US$ 63 bilhões. As carnes foram
responsáveis por 17,8% do total das vendas externas
do País, estando atrás da soja (com 22%) e do
complexo sucroalcooleiro (18%). De acordo com o documento
do Mapa, na análise dos 12 meses, a receita das exportações
de carnes aumentou 15,6%, passando de US$ 11,8 bilhões,
em 2009, para US$ 13,6 bilhões, em 2010. As vendas
de carne de frango in natura foram 20,2% maiores (de US$ 4,8
bilhões para US$ 5,8 bilhões), por causa do
aumento dos preços (13,4%) e do incremento da quantidade
(6%).
A análise aponta ainda que devido à alta de
24,4% no preço da carne bovina in natura, e ao aumento
de 2,7% na quantidade embarcada, o comércio do produto
para mercados externos cresceu 27,7%, passando de US$ 3 bilhões
para US$ 3,8 bilhões. A carne suína, no entanto,
apresentou queda de 12,4% da quantidade exportada - redução,
segundo o Ministério, compensada pela subida dos preços
em 25,9%, o que resultou no aumento de 10,3% no valor exportado.
Apesar do saldo geral positivo em relação à
comercialização externa da carne, internamente
produtores e indústria continuaram a enfrentar em 2010
velhos problemas do setor. Questões como câmbio,
logística e mão de obra qualificada figuram
entre os principais entraves apontados por produtores rurais
e indústria. Marcos Molina, fundador e presidente do
Grupo Marfrig indica que "são desafios a serem
superados para que o Brasil consiga manter o ritmo de crescimento
dos últimos anos. Falta mão de obra em todas
as áreas. Temos três mil vagas em nossas plantas
no País e estamos com dificuldade para preenchê-las",
conta.
O ano do frango
A União Brasileira de Avicultura (Ubabef) estima que
a produção brasileira de carne de frango tenha
alcançado em 2010 a produção recorde
de 12,180 milhões de toneladas, o que representa crescimento
de 10,9%, em relação a 2009. O consumo interno
também aumentou, passando de 40 quilos (kg) registrados
no ano anterior para 44 kg em 2010. O setor também
comemora os índices dos volumes de exportação
que mantém o Brasil no topo do ranking de maior exportador
mundial - de janeiro a novembro, os embarques somaram 3,5
milhões de toneladas (t) (alta de 5,5%) e receita de
US$ 6,187 bilhões, 17% maior no comparativo ao mesmo
período de 2009. A projeção é
que os embarques somem 3,830 milhões de (t) nos 12
meses de 2010 - um aumento de 5,5%.
Para o presidente executivo da Ubabef, Francisco Turra, o
balanço de 2010 é positivo, assim como as perspectivas
para 2011. Ele aponta que o ano só não foi fantástico
por conta do expressivo aumento de custos com os insumos.
"Além disto, o câmbio conspirou contra a
nossa competitividade lá fora, diante da valorização
do real frente ao dólar. Para este ano, as projeções
da entidade apontam para um crescimento de 3% a 5% nos embarques.
A demanda do mercado externo continuará aquecida, já
que os estoques nos países importadores estão
reduzidos", declara.
De janeiro a novembro de 2010, o Oriente Médio foi
o maior comprador da carne de frango brasileira, com embarques
de 1,2 milhão de toneladas. Na sequência, aparecem
Ásia (857,7 mil t até novembro de 2010), União
Europeia (429,5 mil t no período) e demais países
europeus (183,7 mil t), África com 455,6 mil t e Américas
com 260,4 mil t.
Suinocultura cresce internamente
De forma geral, 2010 foi um ano bom para a suinocultura, graças,
principalmente, a força do mercado doméstico,
conforme explica Fabiano Coser, diretor executivo da Associação
Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). "Fechamos
o ano com rentabilidade, mas logicamente há disparidade.
Houve aumento da produção em torno de 3,5%,
queda nas exportações, aumento da disponibilidade
interna em cerca de 6% e aumento no preço do suíno
vivo ao longo do período o que demonstra a força
desse mercado doméstico e isso foi a grande conquista:
aumentar a disponibilidade e o mercado absorver isso",
comemora.
As principais dificuldades sofridas pelo setor, segundo o
diretor executivo, estiveram ligadas às exportações,
de maneira macro, e ao arrojo nos preços dos grãos,
sobretudo, no segundo semestre. "O primeiro desses pode
ser atribuído à própria condição
sanitária do País. Será muito difícil
ganharmos qualquer mercado enquanto tivermos apenas um Estado
livre de febre aftosa. Quanto à questão dos
grãos, quando falamos em milho e soja não podemos
pensar em estabilidade constante, já que trabalhamos
em um mercado spot".
Segundo o presidente da ABCS, Irineu Wessler, para 2011, as
perspectivas são positivas, considerando os avanços
obtidos em 2010. "Os preços devem continuar deixando
margens de lucros ao produtor, levando em conta vários
aspectos. O primeiro deles porque a produção
de suínos para este ano já está consolidada,
por mais que se iniciem novos projetos. Um outro é
o fato do produtor estar mais preocupado em investir em tecnologia
para ser mais competitivo e bastante conscientizado sobre
a importância da profissionalização. A
cadeia está atenta desde a produção até
a forma que este produto está sendo disponibilizado
na gôndola do supermercado", enfatiza.
Aposta no potencial externo
No mês de dezembro, a Associação Brasileira
das Industrias Exportadoras de Carne (Abiec) apresentou alguns
dados relativos às exportações de carne
bovina em 2010, levando em conta a soma de produtos in natura,
industrializados, miúdos, tripas e salgadas - de janeiro
a novembro. Nesse período, as vendas totalizaram US$
4,4 bilhões - evolução de 19% em relação
ao mesmo período de 2009, e a média dos preços
ficou em 3.856 dólares por tonelada.
Segundo Antônio Jorge Camardelli, a entidade acredita
que o Brasil pode chegar em 2010 a 5 bilhões de dólares.
"Para 2011, estimamos que as vendas alcancem US$ 5,5
bilhões. Estamos otimistas quanto à ampliação
das vendas para mercados em potencial, como a Angola, China,
Cuba e Marrocos", disse.
No acumulado dos 11 meses, tanto em volume quanto em faturamento,
o Oriente Médio aparece como o maior comprador da carne
bovina brasileira por grupo de países, importando 25,1%
do volume total e correspondendo a 27,72% da receita. Por
compradores, a lista de embarques traz a Rússia, com
23,9% do volumes (22,08% do share faturamento), seguida pelo
Irã, Hong Kong, Egito, Itália, Venezuela, Reino
Unido, Holanda, Arábia Saudita, Argélia, Israel,
Líbano, Chile, Estados Unidos e Líbia.
De janeiro a outubro, o número de Serviços de
Inspeção Federal (SIFs) ativos no Brasil totalizou
228, com abate de 15.786.017 cabeças. No entanto, o
número de abate dos SIFs por Estado vem caindo gradativamente,
nos quatro últimos anos, de 25.150.845 em 2007 para
22.370.865 em 2008, a 21.604.064 em 2009 e 19.532.991 no ano
de 2010 - dados sob responsabilidade dos Sipas/DFAs (Serviços
de Inspeção de Produtos de Origem Animal/ Delegacias
Federais de Agricultura). Por Estado, Mato Grosso lidera a
lista de abates, na sequência estão Mato Grosso
do Sul, São Paulo e Goiás.
Febre Aftosa
O
Mapa informou que os recursos para ações contra
a febre aftosa passaram de 3,3 milhões, para R$ 55,9
milhões de 2003 a 2010. Para 2011, a previsão
é de que R$ 59 milhões sejam investidos no combate
a doença, em apoio à manutenção
e melhoria estrutural dos serviços veterinários,
capacitação de pessoal, campanhas de vacinação
estratégicas e trabalhos de educação
sanitária. No primeiro semestre de 2010, a primeira
etapa da campanha teve 97,2% do rebanho vacinado.
O Brasil segue com o Estado de Santa Catarina como o único
livre da doença sem vacinação e outros
15 Estados livres da doença com vacinação:
Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe,
Tocantins e o Distrito Federal. O noroeste do Pará
passou de alto para médio risco e o Amazonas e o Amapá
deixaram de ser risco desconhecido, passando para alto risco.
Leite preza qualidade
Após atravessarem um ano ruim em 2009, os produtores
de leite pareceram respirar um pouco mais aliviados em 2010.
A produção deu um salto de 5% em comparação
ao ano anterior e deve chegar à cerca de 30 bilhões
de litros. A remuneração esteve melhor, alcançando
uma média geral em torno de R$ 0,71 por litro, e o
setor mostrou que tem primado a qualidade, segundo frisa Jorge
Rubez, presidente da Associação Brasileira dos
Produtores de Leite (Leite Brasil). "O interessante de
2010 é que o preço da matéria-prima reagiu
no final do ano e isso prova que pagando bem o produtor, sem
onerar os custos de produção, ele produz bem
em qualquer época, pois o setor tem se especializado",
salienta.
Na opinião do presidente, um ponto que merece atenção
diz respeito à maior remuneração que
os pecuaristas têm recebido pela qualidade do leite,
fato que tem incentivado a produção. "Além
de considerarem volume, a maioria das grandes usinas está
pagando por qualidade, o que favorece uma tendência
da profissionalização no setor. Infelizmente,
um problema que se arrasta para 2011 é a falta de mão
de obra no campo, o que acaba comprometendo essa qualidade",
considera.
Para 2011, a Leite Brasil está otimista quanto ao aumento
de produção e dos preços do leite, levando
em conta, primeiramente, o consumo interno dos lácteos
e oportunidades para exportação desses produtos.
"O Brasil é o maior consumidor de lácteos
da América Latina e se a rentabilidade do trabalhador
continuar crescendo esse mercado continuará em expansão.
Atualmente, vendemos para mais de 80 países, com destaque
para os Emirados Árabes, México e Venezuela,
mas ainda nos faltam mais propagandas, campanhas e apoio para
nos sobressairmos ainda mais nas exportações
e isso acontece na maioria das cadeias produtivas", defende.
Sêmen mantém alta
O mercado de sêmen apresentou crescimento em 2010. Apesar
de os números finais do setor só serem divulgados
em fevereiro, a Associação Brasileira de Inseminação
Artificial (Asbia) estima um crescimento na ordem de 10% a
15%. O vice-presidente da entidade, Márcio Nery, pontua
que além dos preços pagos pela arroba, a valorização
do bezerro estimulou os investimentos em genética na
pecuária de corte. "Teremos um aumento de cerca
de 20% nesse segmento, com destaque para as raças taurinas,
pois o cruzamento industrial segue firme. O acréscimo
só não é maior por conta do atraso na
estação de monta. Mais uma vez, a Inseminação
Artificial em Tempo Fixo (IATF) continua como locomotiva puxando
as vendas no gado de corte", resume.
No mercado sêmen para a pecuária de leite, o
crescimento deve girar entre 8% e 10%. "É também
um bom resultado e mostra que o produtor hoje entende que
o custo da inseminação artificial representa
menos que 1,5% do custo total do leite e sabe que mesmo em
um momento de crise vale a pena continuar investindo em genética
de qualidade", diz. "Entre corte e leite, chegamos
a 10% ou 11% do rebanho brasileiro inseminado, o que ainda
é muito pouco, mas esperamos que em 2011 também
haja um crescimento de, no mínimo, 10%, pois a arroba
e os preços dos bezerros continuam fortes e temos uma
perspectiva mais saudável no mercado em relação
a 2010", completa Nery.
Ração
O crescimento estimado pelo Sindicato Nacional da Indústria
de Alimentação Animal (Sindirações)
para o setor no Brasil em 2010 é de 4%. De janeiro
a novembro do ano passado, foram produzidas mais de 55 milhões
de t de rações. A produção total
do ano deve ficar em torno de 61 milhões de t, movimentando
cerca de US$ 16 bilhões, além de dois milhões
de t de sal mineral com receita de US$ 1,1 bilhão.
Na estimativa de consumo de ração por espécie
em 2010, frangos aparecem com 47%, seguidos por suínos
(25%), poedeiras (8%), leite (7%), corte (4%), cães
e gatos (3%). Equinos, aquários e outros aparecem com
porcentagem de 1% cada um. O consumo de sal mineral representou
3%. Para 2011, Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do
Sindirações, acredita que a produção
brasileira de rações ao longo do ano vai depender
principalmente do crescimento das indústrias produtoras
de aves e suínos influenciadas pelo desempenho das
exportações, já que o mercado doméstico
apresenta níveis de consumo bastante semelhantes aos
dos países desenvolvidos.
Couro
Até novembro, as exportações de couros
somaram US$ 1,58 bilhão, segundo cálculo do
Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB),
com base na prévia da Secretaria de Comércio
Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Indústria,
Desenvolvimento e Comércio Exterior. "Ao analisarmos
o comportamento do setor em relação ao acumulado
de 2008, quando foi desencadeada a crise mundial, houve redução
de 11%. O crescimento de 54% em valor dos embarques de janeiro
a novembro de 2010, em relação aos onze meses
de 2009, período crítico, é uma base
de comparação que não pode servir de
referência", esclarece Wolfgang Goerlich, presidente
do CICB. A entidade prevê que as exportações
de couros e peles em 2010 fiquem ao redor de US$ 1,7 bilhão,
receita 10% inferior a de 2008 e 46% superior a 2009. O grande
fato em 2010 é que a indústria brasileira do
couro não conseguiu recuperar o preço médio
das vendas do ano pré-crise mundial, quando o setor
registrou exportações em torno de US$ 170 a
US$180 milhões por mês.
Comércio mundial de carne bovina, suína, de
frango e total de 2008 a 2010, em milhões de toneladas.
Dados:
Carne |
2008
|
2009
|
2010
|
2010/2009
|
Bovina |
7,4
|
7,4
|
7,6
|
+
2,7%
|
Frango |
11,1
|
11,1
|
11,3
|
+
1,8%
|
Suína |
6,3
|
5,8
|
6,1
|
+
5,2%
|
Ovina |
0,9
|
0,8
|
0,8
|
- x -
|
Total |
25,9
|
25,4
|
26,1
|
+
2,8%
|
Fonte:
FAO / Scot Consultoria: www.scotconsultoria.com.br |