O
setor sucroalcooleiro apontava em 2010 seria o ano de manutenção
da alta demanda de açúcar pela Índia,
o que manteria o alto preço do etanol no mercado interno
e o bom volume captado pelas usinas. No início do ano,
o volume a ser esmagado poderia apresentar alta, apesar de
ninguém (na época) palpitar a quantidade antecipadamente.
Porém, o tempo seco causou uma queda sensível
na produtividade agrícola dos canaviais na Região
Centro-Sul. De acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira
(CTC), em novembro a produtividade agrícola caiu 18,71%,
em relação ao mesmo mês de 2009. No acumulo
desde o início da safra até 01 de dezembro,
a quebra já era de 7,26% comparada com igual período
da safra 2009/2010.
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"O
clima seco impactou fortemente a produção de
cana esperada para a safra. Neste cenário de queda
de produtividade, final precoce de safra em muitas regiões
e início das chuvas de final de ano, será difícil
atingirmos 560 milhões de toneladas de cana processadas
na Região Centro-Sul", disse Antonio de Pádua
Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria
de Cana-de-Açúcar (UNICA), durante uma coletiva
à imprensa, em dezembro.
Segundo a entidade, o ritmo da desaceleração
de processamento de cana é um reflexo direto da disponibilidade
de matéria-prima e do número de usinas que já
encerraram a safra. Até o final de novembro de 2010,
138 unidades haviam finalizado o processamento de cana, número
significativamente superior às 25 unidades que concluíram
a moagem até a data anterior. "Pelas contas até
agosto de 2010, a projeção de moagem para a
atual safra foi revisada pela Unica, o total esperado era
de 570,19 milhões de toneladas. Antes a revisão
era de 610 milhões de toneladas", justificou Rodrigues.
Projeções para novo ano
A próxima safra de cana-de-açúcar do
Centro-Sul deve sofrer uma quebra em função
da forte estiagem, é o que especula a Unica. Segundo
a entidade, mesmo que o período entre novembro de 2010
e março de 2011 seja chuvoso, as perdas já são
irreversíveis. Já há perdas na atual
safra 2010/11, que aparecerão nas lavouras colhidas
nos próximos dois meses.
A quebra na safra de cana tende a elevar os preços
do etanol em 2011 e, com isso, reduzir a demanda pelo combustível
- existe o risco, portanto, de que seu consumo caia pelo segundo
ano seguido. Ao contrário da projeção
do início de 2010, quando o grande desafio do setor
é ainda disseminar o etanol pelo País, que já
tem mais de 90% dos veículos vendidos com a tecnologia
flex-fuel, com motores funcionando a gasolina ou etanol.
A disparada das cotações dos primeiros meses
de 2010 provocou a primeira retração no consumo
de etanol em cinco anos. Com motoristas de vários estados
optando por abastecer os carros flex com gasolina, as vendas
de álcool no Brasil entre janeiro e julho caíram
14% em relação a igual período de 2009,
ao passo que o consumo de gasolina subiu 19%.
Para o presidente da Única, Marcos Jank, após
perdas em safras globais, em especial do principal player
do mercado, a Índia, as cotações do açúcar
dispararam nas bolsas internacionais e elevaram o Brasil,
até então em segundo lugar, como potencial abastecedor
dos mercados. Responsável por 20% da produção
mundial, infelizmente a falta de política pública
atrasa os investimentos e impede a expansão do setor.
"Não há possibilidade de crescer em produção
sem investimentos reais, políticas públicas
diferenciadas para o produto que passa do alimento para o
combustível renovável de baixo carbono que tanto
o Brasil estima em produzir. As indústrias estão
prontas para atender a demanda crescente, mas não consegue
enxergar a expansão do setor em 2011", diz Jank.
De olho no cenário internacional, a tendência
dos preços tanto para o açúcar quanto
para o etanol é altista. Em alerta às produções
de cana-de-açúcar do mundo, o clima pode ser
o responsável por descer ou subir ainda mais as cotações.
No Brasil, o mix da produção se dá de
acordo com a capacidade das indústrias em atender as
demandas. Ao fornecedor, a remuneração pode
estar garantida em 2011.
Colheita
O tempo seco, por outro lado, vem favorecendo a colheita em
São Paulo, Minas Gerais, Goiás e em Mato Grosso
do Sul. Nessas regiões, o volume de cana processado
já supera as 390 mil toneladas, volume 20% superior
ao verificado no mesmo período do ano passado. Em um
primeiro momento, a baixa umidade favorece a produtividade
das lavouras - a concentração de açúcar
total recuperável (ATR) neste ano está 5,5%
superior à do mesmo período do ano passado,
com 138,3 quilos de ATR por tonelada de cana.
Açúcar e etanol
Segundo a entidade, o volume de matéria-prima processada
na segunda quinzena de novembro, 44,27% destinou-se à
produção de açúcar. No acumulado,
desde o início da safra, essa porcentagem ficou em
45%. No acumulo desde o início da safra 2010/2011,
a produção de açúcar totalizou
33,02 milhões de toneladas, enquanto a de etanol alcançou
24,72 bilhões de litros, crescimento de 14,04% comparado
ao mesmo período de 2009.
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