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FREE STALL - ESTABULADO E PRODUTIVO
rev 142 - dezembro 2009

Maiores produtores nacionais de leite confinam o rebanho em galpões cobertos em busca de produtividade, o que vem mostrando resultados positivos. O manejo intensivo traz algumas doenças específicas, mas o tratamento e a identificação são mais fáceis.
Como sexto maior país produtor de leite no mundo, o Brasil cresce em média de 3% ao ano em volume de produção e pouco mais de 2% em produtividade, segundo estimativas da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG). Em 2005, foram produzidos 24.621 milhões de litros, no ano seguinte foram 25.398, em 2007, 26.134 e no ano passado 27.083 milhões, representando pouco mais de 4,5% da produção mundial. Pesquisa publicada no site da Embrapa Gado de Leite mostra que 44% dos 100 maiores criadores de gado leiteiro no Brasil

trabalham com sistema intensivo de criação, podendo ser configurado um confinamento. Dentro deste sistema existem duas diferentes maneiras: o chamado free-stall (baia livre) e o tie-stall (baia de laço), mas que pode ser traduzido como baia restrita), sendo o primeiro o mais utilizado no Brasil.
O free-stall se baseia em um galpão, coberto, com uma cama de areia para cada animal, onde, basicamente, a vaca irá se levantar exclusivamente para se alimentar e passará o restante o dia deitada ruminando e, muitas fazendas, deixam o rebanho no pasto no período noturno. O princípio do confinamento é poder usar vacas da raça holandesa em locais de climas inapropriados (com temperaturas elevadas), onde elas não se sentem desconfortáveis em passar o dia sob o sol e com altas temperaturas. Com isso, os animais ficam em um local coberto, com alimentação variada e em alta quantidade, com ventiladores e até sistema de aspersão. Outro fator relevante ao produtor escolher o free-stall é a busca pela produtividade em relação a área, já que confinando, pode-se ter mais leite em menor espaço.

Sítio Takehara

A 85 quilômetros da capital paulista, uma propriedade, localizada em uma área de várzea, produz 1.500 litros de leite tipo “B” diariamente com o semiconfinamento, já que utiliza o free-stall e o pastejo durante a noite. A propriedade conta com 154 animais, divididos em lactação, vacas secas, prenhas e bezerros.
Mas a história do Sítio Takehara é antiga, o local foi o primeiro no Brasil a comercializar alface em estufa, chegando a vender, mensalmente, mais de um milhão de pés. Mas com o problema da cólera, doença transmitida, principalmente, ao se ingerir a bactéria Vibrio cholerae O1 e O139 em alimentos crus ou mal cozidos, em 1992, a população acabou evitando o consumo de legumes e verduras, destruindo o negócio de Hissachi Takehara, proprietário do sítio. “A cólera foi um desastre, porque estava ampliando a produção a cada mês, e já vendíamos 1 milhão e 250 mil pés de alface por mês. Com as notícias da doença, as pessoas passaram a temer o consumo e tive que procurar outro negócio para ganhar a vida”, relembra o produtor.
Foi nessa época que Takehara conheceu o free-stall. “Como a minha propriedade não é grande e ainda fica em várzea, não tinha como criar o gado de leite a pasto, e acabei escolhendo montar as instalações e intensificar a produção”, comenta. No início, para aprender o manejo correto, o produtor comprou diversos animais de descarte dos vizinhos. Hissachi participava dos leilões e só dava lance nas vacas de menor valor que ninguém queria. “Cheguei a ter 120 animais pé-duro aqui. Aprendi a trabalhar com eles e resolvi partir para um novo estágio: criar vacas de qualidade e produzir para ganhar dinheiro. O primeiro passo foi continuar indo aos leilões, mas para comprar os melhores animais disponíveis. Logo no primeiro, comprei as duas vacas mais caras, ninguém entendeu nada”, relembra o produtor. Segundo ele, uma única vaca de boa genética substituiu cinco, na época.
Com um plantel de qualidade, o sítio passou a ser líder em produção na região, com média de 38 litros/vaca/dia, com alimentação de silagem de milho, ração, cevada e capim. Para cada 19 animais, são misturados 10 kg de cevada, 11 kg de ração concentrada, 10 kg de tifton e 80 kg de silagem de milho. Este último cereal é plantado no próprio sítio, onde é feita a silagem, só a cevada que é adquirida de terceiros. Os animais recebem alimentação em quatro períodos: às 4 horas, às 9h, às 13h e às 16h. Às 19 horas, os animais são soltos no pasto, onde ficam até a ordenha da manhã, às 4 horas.
A escolha por duas ordenhas por dia se deve a mão de obra, já que em caso de uma terceira, teria a necessidade de mais um turno de trabalho dos funcionários, onerando o orçamento.
As vacas são separadas em grupos de 19, onde cada um apresenta médias de produção diferentes, fazendo rotação entre 4 grupos. O primeiro é o de maior lactação, e acaba recebendo maior quantidade de alimento.
Uma necessidade que as vacas da raça holandesa têm é o uso de instrumentos para diminuir a temperatura ambiente nos dias mais quentes do ano. Dependendo da propriedade, usa-se ventiladores, aspersão e até esguicho direto no animal em busca de amenizar o desconforto térmico. Um problema identificado na aspersão é a umidade que traz ao ambiente, tornando a sensação de calor ainda maior e umedecendo as camas dos animais, favorecendo a transmissão de doenças. Hissachi usa esguichos, já que não há tantos animais na propriedade e a aspersão trouxe problemas no galpão.
Algo que o produtor deve se preocupar em sistemas free-stall é com os cascos do gado, já que por ficarem muito próximos, acabam sempre pisando em desejos dos demais, além de passarem longo período em contato com o cimento. “O problema no casco se dá na falha do manejo pela propriedade, já que isso só acontece quando a cama do animal ou o chão não é constantemente limpo”, explica o veterinário Fábio Carvalho. Além do problema no casco, a mastite também pode ocorrer com freqüência na falta de trato com a cama do animal, causando sérios prejuízos ao produtor.
Segundo o especialista, o manejo de confinamento é facilitado já que existe maior proximidade do tratador com o animal, podendo identificar rapidamente doenças e problemas diversos. Já o ponto negativo é a facilidade de proliferação de doenças contagiosas.

Fazenda Morro Agudo

O tie-stall não é muito praticado no Brasil devido à falta de necessidade, já que o free-stall é muito viável. Nesse sistema, o animal fica preso na própria baia através de uma corrente e tem uma cama com limites exatos de tamanho, para que não deixe os próprios excrementos sujarem a própria cama, o que tornaria o ambiente propício a fungos e bactérias, além de trazer desconforto. Para isso, é colocado um arame com choque em cima do lombo do animal, obrigado-o a ir o máximo para traz para não tocar ao fio ao realizar suas necessidades, não sujando a própria cama. Mas, este sistema não é muito difundido no Brasil, e sim nos Estados Unidos, país de maior produção mundial de leite, representando 15%. Uma vantagem desse manejo é o menor risco de proliferação de doenças e de ferimentos entre os animais, já que não tem contato dentro do galpão e onde poderiam ter, no pasto, é um local espaçoso. No free-stall o gado se movimenta livremente no galpão, e acaba tendo muito contato já que o local é pequeno.
Na Fazenda Morro Agudo, em Pindamonhangaba (SP), usa-se o sistema tie-stall, mas de uma maneira um pouco diferente da descrita acima. Por ser uma propriedade que trabalha exclusivamente com gado de elite, as camas são maiores e não existe o choque, já que os funcionários permanentemente limpam a cama das vacas. Mesmo presas a maior parte do dia, elas são bem tratadas nas diversas áreas. “Claro que não é agradável ficar presa constantemente, mas elas são muito bem cuidadas aqui. Tomam banho diariamente, são extremamente bem alimentadas, a cama é de pó de serra, ao invés de areia, ao emprenhar ficam em baias individuais, sem corrente, com água, sombra e alimentação três vezes ao dia e ainda vão pastar no fim de tarde”, comenta Guilherme de Lima Soares, veterinário responsável da Fazenda Morro Agudo.
Um dos fatores prioritários para a vaca atingir boa produção é o bem-estar do animal, e por ficar preso boa parte do dia, é fundamental buscar os melhores tratos nos demais aspectos. Para os animais não sentirem calor, ventiladores são acionados quando os termômetros marcam 26°C, e os bezerros recebem mamadeira nos primeiros dias de vida e tomam leite no balde até começarem a se alimentar com a alimentação oferecida. “Aqui, nós temos um trato individual. Como o rebanho é de 112 animais, conseguimos dar atenção a cada uma, verificar a quantidade de leite e oferecendo a alimentação adequada para que cada uma renda o máximo”, explica Soares.
Segundo o veterinário Fábio Carvalho, a sanidade é a prioridade no rebanho, mas em segundo lugar está o conforto do animal. Como o gado fica preso a maior parte do tempo, seria de se esperar algum tipo de desconforto, o que não é identificado, já que a média deste tipo de confinamento é alta. “Apesar dele ficar limitado durante o dia, o animal acaba tendo comida, água fresca e sombra, além de pasto à noite. É fundamental colocar o animal no pasto para tomar sereno e pegar carrapato. Mesmo identificando o carrapato rapidamente, espero alguns dias para que ele crie resistência”, comenta o responsável pela Fazenda Morro Agudo.


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