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JACARÉ - PRESERVAÇÃO SOB VIGIA- EXCESSO DE CHUVA PROLIFERA FERRUGEM
rev 142 - dezembro 2009

O jacaré-de-papo-amarelo se livra da extinção, graças ao surgimento de criatórios conservacionistas credenciados pelo IBAMA. Em São Paulo, pelo menos um, conseguiu até a liberação de criação comercial, agora aguarda a liberação por parte do SIF, para a comercialização da carne. Propriedade de turismo ecológico, cre-denciada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-váveis (IBAMA) desde 1997, o Sítio Estrela do Leste “Arurá”, localizado na cidade de Artur Nogueira – a 150 quilômetros da capital paulista – ajudou o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) ressurgir na natureza, por meio de um projeto conservacionista. A história da criação, lá na propriedade, começou quando o médico veterinário Glenn Collard e sua esposa decidiram apostar num projeto um tanto exótico, no seu sítio de quatro alqueires.

“Quando começamos não foi pensando em abater não, nem ter couro e carne, mas sim a preservação”, diz Collard.
A princípio, o veterinário foi informado que a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP), desenvolvia um projeto de criar jacarés-de-papo-amarelo, em estufa, com o objetivo exclusivo da preservação da espécie. O intuito era apenas montar um criatório conservacionista, que ficou “batizado” pelo proprietário e um grande apaixonado por répteis, de Projeto “Arurá”. “No entanto, a ideia da criação deu tão certo que tomou outro rumo”, explica. “Com o passar dos anos, o IBAMA nos fez uma proposta de constituir uma criação comercial. Uma vez, que ele [órgão] constatou que se soltos na nature-za, os bichos corriam mais risco, já que os jacarés es-tavam acostumados à presença do homem. E assim, o projeto se transformou em incentivo às criações co-merciais para abastecer um mercado, que era dominado por carne de origem informal”, explica Collard.
Assim há quatro anos, o Projeto Arurá (de criação conservacionista) ganhou a permissão de ser o primeiro criatório comercial da espécie, em São Paulo. Com a autorização do órgão, todos os animais foram identificados e registrados, tanto àqueles que nasciam na propriedade, quanto àqueles que eram apreendidos pelos órgãos competentes, como o próprio IBAMA, a Polícia Ambiental e o Corpo de Bombeiros. Com a legalização, de criatório comercial, outros surgiram e assim percebeu-se um aumento na quantidade de animais na natureza. Um bom exemplo de como o interesse comercial pode salvar espécies silvestres da extinção. “Bastou meia dúzia iniciarem a criação para que os caçadores que matavam os jacarés, simplesmente, desaparecessem por falta de mercado. Isso porque, quando as pessoas, que hoje tem consciência, se interessam por comprar carne e couros procuram por criatórios legalizados”, diz Francisco Campezoni, tratador dos animais e o responsável pelo Sítio Estrela do Leste “Arurá”.
Não é à toa, que a criação de jacaré-de-papo-amarelo vinha rendendo bons negócios. Até o ano passado, o proprietário faturava bem com a venda de um animal. Apesar de o investimento ser um tanto alto na fase inicial da criação. “No entanto, recebemos a ajuda da Esalq, de Piracicaba, quanto à questão das matrizes e reprodutores. A proposta inicial do projeto também era transformar o lixo [descarte] de aves criadas nas granjas próximas a cidade, em alimento para os jacarés. Como é até hoje. Com isto, o nosso custo foi somente a logística para recolher este material”, conta Collard.
De acordo com o criador, hoje o custo para manter todos os animais não passam de R$ 2 mil a R$ 3 mil reais por ano, nos dois criatórios que ele possui, um outro em Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro. “O custo varia de acordo com a variação da tempera- tura, uma vez que os jacarés não se alimentam no inverno, já que hibernam”, diz.
Como pioneiro nessa criação de confinamento, Collard aponta que o mercado tem muito a crescer. O lucro vem em longo prazo. Em 2008, a propriedade comercializou o couro dos animais que chegaram a valer R$ 4,50, o centímetro linear (da largura do couro). Em relação à carne do animal, foram 200 quilos por mês, vendido a R$ 25,00 o quilo. “A especiaria conquistou o mercado pelo baixo teor de gordura e pela leveza. Antigamente, o pessoal só queria a cauda do animal, que era considerado o ‘filé mignon’ do bicho, mas as costelas também são igualmente saborosas”, explica o tratador acostumado com lidar com os animais. “Hoje, só retirávamos a cabeça e as vísceras, o resto vendíamos tudo”, acrescenta ele.
Diferente de outros países, como os sulamericanos que já têm experiência e grande representatividade comercial quanto à questão da carne e couro, o Brasil ainda dá os primeiros passos nessa criação, mesmo no Pantanal, onde é possível encontrar criatórios legalizados também, com diferentes sistemas de criação. “Até o ano passado abatíamos os animais, agora está sendo legalizado um abatedouro experimental e especializado, no abate de rã ou e peixe e credenciado com o Selo do Serviço de Inspeção Federal, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para então liberar novamente o abate, que pode acontecer no próximo mês”, diz Collard.
Segundo ele, existe também o aguardo da liberação para a exportação do couro, que vem do Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), responsável pelo controle e fiscalização, especialmente, quanto ao comércio de espécies ameaçadas. “Até lá, estamos com o nosso criatório na engorda e sem saídas de animais para o abate. Este foi o preço que pagamos pelo pioneirismo”, pontua.
A exploração do couro do jacaré no mercado visa, principalmente o da barriga, que, ao contrário do couro das costas, não tem placas ósseas sob as escamas. No entanto, um dos problemas que ainda persistem é a dificuldade em encontrar um curtume com características profissionais em relação à entrega pontual das peles no Brasil, onde não há tanta tradição no ramo. Outro problema é a falta de divulgação sobre a carne de jacaré e a maneira com que é feita na maioria das churrascarias, que depõem contra a qualidade da carne do jacaré-de-papo-amarelo.
Entretanto, tudo o que era produzido em carne, lá no Projeto Arurá, o mercado acolhia muito bem. “Em seis anos, eram 600 animais. Porém, chegamos a ter 900 animais nesta unidade de criação”, diz. “Entretanto, com o tempo, nós fomos vendo que tínhamos uma série de dificuldades operacionais. O maior problema era manter os animais, nessas instalações, que já estavam em um espaço pequeno. Além disso, nossa água aqui é bombeada e os custos ficaram muito caro”, lembra o tratador dos jacarés.
Isto fez com que o proprietário optasse por transferir a criação, para uma segunda propriedade, a Fazenda Bonsucesso, em Barra Mansa (RJ), onde havia água em abundância, fornecimento mais fácil de alimentos para os animais e a temperatura favorável para a criação. Atualmente, lá estão os animais para a engorda e a espera da liberação do abate, processamento e comercialização. “Hoje, em Barra Mansa estão 1.300 jacarés, entre reprodutores e filhotes. Por mês saíam de lá 30 animais para o abate”, diz Collard.
Em extinção, o jacaré é animal silvestre, protegido por lei, sua caça predatória é proibida no Brasil, com exceção de criatórios comerciais (que precisam de autorização do IBAMA para o funcionamento, que é bastante exigente quanto às instalações). De acordo com os dados do órgão, no Brasil existem apenas 16 criadouros comerciais autorizados a criar jacarés-de-papo-amarelo. Sete deles estão no Estado de São Paulo. No final da década de 80, o IBAMA estabeleceu regras e determinou sistemas de manejo adequados para a região. Durante muito tempo, esse réptil, encontrado nas bacias dos rios Paraná, São Francisco e nas Regiões Costeiras do País, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, esteve enquadrado na relação dos animais ameaçados de extinção.
Atualmente, a espécie se proliferou e hoje é encontrada facilmente no seu habitat. Pelo menos lá, na propriedade (onde éouro dos animais que chegaram a valer R$ 4,50, o centímetro linear (da largura do couro). Em relação à carne do animal, foram 200 quilos por mês, vendido a R$ 25,00 o quilo. “A especiaria conquistou o mercado pelo baixo teor de gordura e pela leveza. Antigamente, o pessoal só queria a cauda do animal, que era considerado o ‘filé mignon’ do bicho, mas as costelas também são igualmente saborosas”, explica o tratador acostumado com lidar com os animais. “Hoje, só retirávamos a cabeça e as vísceras, o resto vendíamos tudo”, acrescenta ele.
Diferente de outros países, como os sulamericanos que já têm experiência e grande representatividade comercial quanto à questão da carne e couro, o Brasil ainda dá os primeiros passos nessa criação, mesmo no Pantanal, onde é possível encontrar criatórios legalizados também, com diferentes sistemas de criação. “Até o ano passado abatíamos os animais, agora está sendo legalizado um abatedouro experimental e especializado, no abate de rã ou e peixe e credenciado com o Selo do Serviço de Inspeção Federal, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para então liberar novamente o abate, que pode acontecer no próximo mês”, diz Collard.
Segundo ele, existe também o aguardo da liberação para a exportação do couro, que vem do Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), responsável pelo controle e fiscalização, especialmente, quanto ao comércio de espécies ameaçadas. “Até lá, estamos com o nosso criatório na engorda e sem saídas de animais para o abate. Este foi o preço que pagamos pelo pioneirismo”, pontua.
A exploração do couro do jacaré no mercado visa, principalmente o da barriga, que, ao contrário do couro das costas, não tem placas ósseas sob as escamas. No entanto, um dos problemas que ainda persistem é a dificuldade em encontrar um curtume com características profissionais em relação à entrega pontual das peles no Brasil, onde não há tanta tradição no ramo. Outro problema é a falta de divulgação sobre a carne de jacaré e a maneira com que é feita na maioria das churrascarias, que depõem contra a qualidade da carne do jacaré-de-papo-amarelo.
Entretanto, tudo o que era produzido em carne, lá no Projeto Arurá, o mercado acolhia muito bem. “Em seis anos, eram 600 animais. Porém, chegamos a ter 900 animais nesta unidade de criação”, diz. “Entretanto, com o tempo, nós fomos vendo que tínhamos uma série de dificuldades operacionais. O maior problema era manter os animais, nessas instalações, que já estavam em um espaço pequeno. Além disso, nossa água aqui é bombeada e os custos ficaram muito caro”, lembra o tratador dos jacarés.
Isto fez com que o proprietário optasse por transferir a criação, para uma segunda propriedade, a Fazenda Bonsucesso, em Barra Mansa (RJ), onde havia água em abundância, fornecimento mais fácil de alimentos para os animais e a temperatura favorável para a criação. Atualmente, lá estão os animais para a engorda e a espera da liberação do abate, processamento e comercialização. “Hoje, em Barra Mansa estão 1.300 jacarés, entre reprodutores e filhotes. Por mês saíam de lá 30 animais para o abate”, diz Collard.
Em extinção, o jacaré é animal silvestre, protegido por lei, sua caça predatória é proibida no Brasil, com exceção de criatórios comerciais (que precisam de autorização do IBAMA para o funcionamento, que é bastante exigente quanto às instalações). De acordo com os dados do órgão, no Brasil existem apenas 16 criadouros comerciais autorizados a criar jacarés-de-papo-amarelo. Sete deles estão no Estado de São Paulo. No final da década de 80, o IBAMA estabeleceu regras e determinou sistemas de manejo adequados para a região. Durante muito tempo, esse réptil, encontrado nas bacias dos rios Paraná, São Francisco e nas Regiões Costeiras do País, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, esteve enquadrado na relação dos animais ameaçados de extinção.
Atualmente, a espécie se proliferou e hoje é encontrada facilmente no seu habitat. Pelo menos lá, na propriedade (onde é possível encontrar resquícios da Mata Atlântica), as instalações com os jacarés ficam abertas aos visitantes, que se interessam em conhecer um pouco mais sobre a espécie, passando até a respeitar os animais. “Aqui existe a presença de um jacarezão, que chegou no sítio há muito tempo. Hoje, ele tem aproximadamente 2,40 metros de comprimento e pesa 120 quilos. Ele é um dos animais encaminhados pelo IBAMA, vindo de criatórios clandestinos. Recebeu um microchip para identificação e não pode ser mais comercializado”, conta Campezoni. “Porém, é o único que não se adaptou às fêmeas para o acasalamento. Ele virou o mascote, a atração para os turistas, porém, permanece a maior parte do tempo dentro do tanque, às vezes bota a cabeça aqui pra fora”, diz o tratador.
No Sítio Estrela do Leste “Arurá” e na Fazenda Bonsucesso, o Projeto “Arurá” de educação ambiental funciona. Grande parte dos jacarés resgatados, pela polícia ambiental e pelo Corpo de Bombeiros, permanece na propriedade e não fazem parte da comercialização. Com isto, os turistas têm a possibilidade de conhecer de perto a criação do jacaré-de-papo-amarelo, além de outros animais silvestres encontrados na natureza. “Como funciona como reserva patrimonial, os animais encontrados são devolvidos na natureza, com exceção dos jacarés, é claro”, brinca Collard.
Apesar de criados em cativeiro, o tratador dos animais revela que dentre as seis espécies de jacaré: o jacaré-do-pantanal, o caiman yacaré, o jacaretinga, o jacaré-coroa-vermelha; o maior de todos, o jacaré-açú; da Amazônia, o jacaré-de-papo-amarelo é um dos animais que não tem como se domesticar.

Criação sob controle

O Sítio Estrela do Leste “Arurá” tem atualmente 50 jacarés-de-papo-amarelo. Desse total, todas são matrizes e reprodutores que ficam na propriedade em São Paulo, apenas para a reprodução. Nos meses de novembro a dezembro, as fêmeas botam em média 35 ovos, que serão incubados em média por 80 dias. “Após a postura, os ovos são levados para as chocadeiras, onde permanecem aquecidos a uma temperatura de aproximadamente 32°C, até o nascimento dos filhotes e dependendo do domínio da técnica, a taxa de eclosão chega a 95%”, diz o tratador Francisco Campezoni.
O curioso na criação é que o sexo da ninhada irá depender da temperatura de incubação, como ocorre na natureza. Temperatura mínima favorece o nascimento de machos, já as altas incidem no nascimento de fêmeas. Após o nascimento, os filhotes são levados para dentro de uma estufa e separados em tanques com água de acordo com a idade. “Eles só são comercializados quando atingem de um ano a dois anos aproximadamente, quando estão com um metro e meio de comprimento, pesando cerca de 10 a 12 quilos, bruto. Mas, até lá, eles comem bastante e crescem rápido no sistema de confinamento”, explica.

Tratamento vip

Nas propriedades, os jacarés permanecem em recintos, que ficam em instalações a céu aberto, onde é condicionado apenas um casal. “Sempre há briga, pois isto a proporção é de cinco fêmeas para um macho numa mesma área”, explica o tratador.
Para a criação, o melhor sistema é o “farming”, semelhante ao confinamento de bois. “A grande vantagem é que você tem os animais em recintos, e desta forma facilita a engorda. A desvantagem é que você tem de tratar todo dia, tem assistência veterinária, custo de produção, energia elétrica, alimentação que é o custo maior, todo esse manejo representa ônus que reflete no preço final dos produtos”, pontua Collard.
No recinto, os animais usufruem de tanques com água corrente, que são preservados limpos com a introdução de alface d’água (espécie de planta aquática que mantém o tanque limpo). Lá, também eles tomam banho de sol por horas a fio. Sensíveis, os jacarés não gostam de barulho. “Eles não podem ficar muito estressados, principalmente, no momento que as fêmeas em grande maioria já foram copuladas, ou seja, estão com os ovos”, reforça o tratador. “Esses animais são muito resistentes, porém, a única doença que mata o jacaré e o estresse. Alterados, eles param de comer e morrem”, descreve o tratador.
Porém, para os animais continuarem saudáveis, a rotina não é alterada. Dias sim e outros não, a hora da refeição é sagrada. Eles se alimentam à base de frango descartados das granjas, próximas da propriedade. Os adultos necessitam de 400 gramas de carne e os filhotes todo santo dia são alimentados no máximo com 50 gramas de carne (3% do peso corporal). Só durante o inverno (período de aproximadamente quatro meses), que os reprodutores e matrizes passam por um completo jejum, pois hibernam e não têm metabolismo suficiente para fazer a digestão. “Apesar de não serem dóceis, os animais acostumam-se ao homem com facilidade, respondendo ao chamado para o ‘almoço’, quando todos se aproximam”, conta Francisco Campezoni, que há 10 anos é o único responsável pelo manejo dos animais.


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