Quando começamos não foi pensando em abater
não, nem ter couro e carne, mas sim a preservação,
diz Collard.
A princípio, o veterinário foi informado que
a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq),
em Piracicaba (SP), desenvolvia um projeto de criar jacarés-de-papo-amarelo,
em estufa, com o objetivo exclusivo da preservação
da espécie. O intuito era apenas montar um criatório
conservacionista, que ficou batizado pelo proprietário
e um grande apaixonado por répteis, de Projeto Arurá.
No entanto, a ideia da criação deu tão
certo que tomou outro rumo, explica. Com o passar
dos anos, o IBAMA nos fez uma proposta de constituir uma criação
comercial. Uma vez, que ele [órgão] constatou
que se soltos na nature-za, os bichos corriam mais risco,
já que os jacarés es-tavam acostumados à
presença do homem. E assim, o projeto se transformou
em incentivo às criações co-merciais
para abastecer um mercado, que era dominado por carne de origem
informal, explica Collard.
Assim há quatro anos, o Projeto Arurá (de criação
conservacionista) ganhou a permissão de ser o primeiro
criatório comercial da espécie, em São
Paulo. Com a autorização do órgão,
todos os animais foram identificados e registrados, tanto
àqueles que nasciam na propriedade, quanto àqueles
que eram apreendidos pelos órgãos competentes,
como o próprio IBAMA, a Polícia Ambiental e
o Corpo de Bombeiros. Com a legalização, de
criatório comercial, outros surgiram e assim percebeu-se
um aumento na quantidade de animais na natureza. Um bom exemplo
de como o interesse comercial pode salvar espécies
silvestres da extinção. Bastou meia dúzia
iniciarem a criação para que os caçadores
que matavam os jacarés, simplesmente, desaparecessem
por falta de mercado. Isso porque, quando as pessoas, que
hoje tem consciência, se interessam por comprar carne
e couros procuram por criatórios legalizados,
diz Francisco Campezoni, tratador dos animais e o responsável
pelo Sítio Estrela do Leste Arurá.
Não é à toa, que a criação
de jacaré-de-papo-amarelo vinha rendendo bons negócios.
Até o ano passado, o proprietário faturava bem
com a venda de um animal. Apesar de o investimento ser um
tanto alto na fase inicial da criação. No
entanto, recebemos a ajuda da Esalq, de Piracicaba, quanto
à questão das matrizes e reprodutores. A proposta
inicial do projeto também era transformar o lixo [descarte]
de aves criadas nas granjas próximas a cidade, em alimento
para os jacarés. Como é até hoje. Com
isto, o nosso custo foi somente a logística para recolher
este material, conta Collard.
De acordo com o criador, hoje o custo para manter todos os
animais não passam de R$ 2 mil a R$ 3 mil reais por
ano, nos dois criatórios que ele possui, um outro em
Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro. O custo varia
de acordo com a variação da tempera- tura, uma
vez que os jacarés não se alimentam no inverno,
já que hibernam, diz.
Como pioneiro nessa criação de confinamento,
Collard aponta que o mercado tem muito a crescer. O lucro
vem em longo prazo. Em 2008, a propriedade comercializou o
couro dos animais que chegaram a valer R$ 4,50, o centímetro
linear (da largura do couro). Em relação à
carne do animal, foram 200 quilos por mês, vendido a
R$ 25,00 o quilo. A especiaria conquistou o mercado
pelo baixo teor de gordura e pela leveza. Antigamente, o pessoal
só queria a cauda do animal, que era considerado o
filé mignon do bicho, mas as costelas também
são igualmente saborosas, explica o tratador
acostumado com lidar com os animais. Hoje, só
retirávamos a cabeça e as vísceras, o
resto vendíamos tudo, acrescenta ele.
Diferente de outros países, como os sulamericanos que
já têm experiência e grande representatividade
comercial quanto à questão da carne e couro,
o Brasil ainda dá os primeiros passos nessa criação,
mesmo no Pantanal, onde é possível encontrar
criatórios legalizados também, com diferentes
sistemas de criação. Até o ano
passado abatíamos os animais, agora está sendo
legalizado um abatedouro experimental e especializado, no
abate de rã ou e peixe e credenciado com o Selo do
Serviço de Inspeção Federal, pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para
então liberar novamente o abate, que pode acontecer
no próximo mês, diz Collard.
Segundo ele, existe também o aguardo da liberação
para a exportação do couro, que vem do Comércio
Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens
em Perigo de Extinção (Cites), responsável
pelo controle e fiscalização, especialmente,
quanto ao comércio de espécies ameaçadas.
Até lá, estamos com o nosso criatório
na engorda e sem saídas de animais para o abate. Este
foi o preço que pagamos pelo pioneirismo, pontua.
A exploração do couro do jacaré no mercado
visa, principalmente o da barriga, que, ao contrário
do couro das costas, não tem placas ósseas sob
as escamas. No entanto, um dos problemas que ainda persistem
é a dificuldade em encontrar um curtume com características
profissionais em relação à entrega pontual
das peles no Brasil, onde não há tanta tradição
no ramo. Outro problema é a falta de divulgação
sobre a carne de jacaré e a maneira com que é
feita na maioria das churrascarias, que depõem contra
a qualidade da carne do jacaré-de-papo-amarelo.
Entretanto, tudo o que era produzido em carne, lá no
Projeto Arurá, o mercado acolhia muito bem. Em
seis anos, eram 600 animais. Porém, chegamos a ter
900 animais nesta unidade de criação,
diz. Entretanto, com o tempo, nós fomos vendo
que tínhamos uma série de dificuldades operacionais.
O maior problema era manter os animais, nessas instalações,
que já estavam em um espaço pequeno. Além
disso, nossa água aqui é bombeada e os custos
ficaram muito caro, lembra o tratador dos jacarés.
Isto fez com que o proprietário optasse por transferir
a criação, para uma segunda propriedade, a Fazenda
Bonsucesso, em Barra Mansa (RJ), onde havia água em
abundância, fornecimento mais fácil de alimentos
para os animais e a temperatura favorável para a criação.
Atualmente, lá estão os animais para a engorda
e a espera da liberação do abate, processamento
e comercialização. Hoje, em Barra Mansa
estão 1.300 jacarés, entre reprodutores e filhotes.
Por mês saíam de lá 30 animais para o
abate, diz Collard.
Em extinção, o jacaré é animal
silvestre, protegido por lei, sua caça predatória
é proibida no Brasil, com exceção de
criatórios comerciais (que precisam de autorização
do IBAMA para o funcionamento, que é bastante exigente
quanto às instalações). De acordo com
os dados do órgão, no Brasil existem apenas
16 criadouros comerciais autorizados a criar jacarés-de-papo-amarelo.
Sete deles estão no Estado de São Paulo. No
final da década de 80, o IBAMA estabeleceu regras e
determinou sistemas de manejo adequados para a região.
Durante muito tempo, esse réptil, encontrado nas bacias
dos rios Paraná, São Francisco e nas Regiões
Costeiras do País, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande
do Sul, esteve enquadrado na relação dos animais
ameaçados de extinção.
Atualmente, a espécie se proliferou e hoje é
encontrada facilmente no seu habitat. Pelo menos lá,
na propriedade (onde éouro dos animais que chegaram
a valer R$ 4,50, o centímetro linear (da largura do
couro). Em relação à carne do animal,
foram 200 quilos por mês, vendido a R$ 25,00 o quilo.
A especiaria conquistou o mercado pelo baixo teor de
gordura e pela leveza. Antigamente, o pessoal só queria
a cauda do animal, que era considerado o filé
mignon do bicho, mas as costelas também são
igualmente saborosas, explica o tratador acostumado
com lidar com os animais. Hoje, só retirávamos
a cabeça e as vísceras, o resto vendíamos
tudo, acrescenta ele.
Diferente de outros países, como os sulamericanos que
já têm experiência e grande representatividade
comercial quanto à questão da carne e couro,
o Brasil ainda dá os primeiros passos nessa criação,
mesmo no Pantanal, onde é possível encontrar
criatórios legalizados também, com diferentes
sistemas de criação. Até o ano
passado abatíamos os animais, agora está sendo
legalizado um abatedouro experimental e especializado, no
abate de rã ou e peixe e credenciado com o Selo do
Serviço de Inspeção Federal, pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para
então liberar novamente o abate, que pode acontecer
no próximo mês, diz Collard.
Segundo ele, existe também o aguardo da liberação
para a exportação do couro, que vem do Comércio
Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens
em Perigo de Extinção (Cites), responsável
pelo controle e fiscalização, especialmente,
quanto ao comércio de espécies ameaçadas.
Até lá, estamos com o nosso criatório
na engorda e sem saídas de animais para o abate. Este
foi o preço que pagamos pelo pioneirismo, pontua.
A exploração do couro do jacaré no mercado
visa, principalmente o da barriga, que, ao contrário
do couro das costas, não tem placas ósseas sob
as escamas. No entanto, um dos problemas que ainda persistem
é a dificuldade em encontrar um curtume com características
profissionais em relação à entrega pontual
das peles no Brasil, onde não há tanta tradição
no ramo. Outro problema é a falta de divulgação
sobre a carne de jacaré e a maneira com que é
feita na maioria das churrascarias, que depõem contra
a qualidade da carne do jacaré-de-papo-amarelo.
Entretanto, tudo o que era produzido em carne, lá no
Projeto Arurá, o mercado acolhia muito bem. Em
seis anos, eram 600 animais. Porém, chegamos a ter
900 animais nesta unidade de criação,
diz. Entretanto, com o tempo, nós fomos vendo
que tínhamos uma série de dificuldades operacionais.
O maior problema era manter os animais, nessas instalações,
que já estavam em um espaço pequeno. Além
disso, nossa água aqui é bombeada e os custos
ficaram muito caro, lembra o tratador dos jacarés.
Isto fez com que o proprietário optasse por transferir
a criação, para uma segunda propriedade, a Fazenda
Bonsucesso, em Barra Mansa (RJ), onde havia água em
abundância, fornecimento mais fácil de alimentos
para os animais e a temperatura favorável para a criação.
Atualmente, lá estão os animais para a engorda
e a espera da liberação do abate, processamento
e comercialização. Hoje, em Barra Mansa
estão 1.300 jacarés, entre reprodutores e filhotes.
Por mês saíam de lá 30 animais para o
abate, diz Collard.
Em extinção, o jacaré é animal
silvestre, protegido por lei, sua caça predatória
é proibida no Brasil, com exceção de
criatórios comerciais (que precisam de autorização
do IBAMA para o funcionamento, que é bastante exigente
quanto às instalações). De acordo com
os dados do órgão, no Brasil existem apenas
16 criadouros comerciais autorizados a criar jacarés-de-papo-amarelo.
Sete deles estão no Estado de São Paulo. No
final da década de 80, o IBAMA estabeleceu regras e
determinou sistemas de manejo adequados para a região.
Durante muito tempo, esse réptil, encontrado nas bacias
dos rios Paraná, São Francisco e nas Regiões
Costeiras do País, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande
do Sul, esteve enquadrado na relação dos animais
ameaçados de extinção.
Atualmente, a espécie se proliferou e hoje é
encontrada facilmente no seu habitat. Pelo menos lá,
na propriedade (onde é possível encontrar resquícios
da Mata Atlântica), as instalações com
os jacarés ficam abertas aos visitantes, que se interessam
em conhecer um pouco mais sobre a espécie, passando
até a respeitar os animais. Aqui existe a presença
de um jacarezão, que chegou no sítio há
muito tempo. Hoje, ele tem aproximadamente 2,40 metros de
comprimento e pesa 120 quilos. Ele é um dos animais
encaminhados pelo IBAMA, vindo de criatórios clandestinos.
Recebeu um microchip para identificação e não
pode ser mais comercializado, conta Campezoni. Porém,
é o único que não se adaptou às
fêmeas para o acasalamento. Ele virou o mascote, a atração
para os turistas, porém, permanece a maior parte do
tempo dentro do tanque, às vezes bota a cabeça
aqui pra fora, diz o tratador.
No Sítio Estrela do Leste Arurá
e na Fazenda Bonsucesso, o Projeto Arurá
de educação ambiental funciona. Grande parte
dos jacarés resgatados, pela polícia ambiental
e pelo Corpo de Bombeiros, permanece na propriedade e não
fazem parte da comercialização. Com isto, os
turistas têm a possibilidade de conhecer de perto a
criação do jacaré-de-papo-amarelo, além
de outros animais silvestres encontrados na natureza. Como
funciona como reserva patrimonial, os animais encontrados
são devolvidos na natureza, com exceção
dos jacarés, é claro, brinca Collard.
Apesar de criados em cativeiro, o tratador dos animais revela
que dentre as seis espécies de jacaré: o jacaré-do-pantanal,
o caiman yacaré, o jacaretinga, o jacaré-coroa-vermelha;
o maior de todos, o jacaré-açú; da Amazônia,
o jacaré-de-papo-amarelo é um dos animais que
não tem como se domesticar.
Criação
sob controle
O Sítio Estrela do Leste Arurá tem
atualmente 50 jacarés-de-papo-amarelo. Desse total,
todas são matrizes e reprodutores que ficam na propriedade
em São Paulo, apenas para a reprodução.
Nos meses de novembro a dezembro, as fêmeas botam em
média 35 ovos, que serão incubados em média
por 80 dias. Após a postura, os ovos são
levados para as chocadeiras, onde permanecem aquecidos a uma
temperatura de aproximadamente 32°C, até o nascimento
dos filhotes e dependendo do domínio da técnica,
a taxa de eclosão chega a 95%, diz o tratador
Francisco Campezoni.
O curioso na criação é que o sexo da
ninhada irá depender da temperatura de incubação,
como ocorre na natureza. Temperatura mínima favorece
o nascimento de machos, já as altas incidem no nascimento
de fêmeas. Após o nascimento, os filhotes são
levados para dentro de uma estufa e separados em tanques com
água de acordo com a idade. Eles só são
comercializados quando atingem de um ano a dois anos aproximadamente,
quando estão com um metro e meio de comprimento, pesando
cerca de 10 a 12 quilos, bruto. Mas, até lá,
eles comem bastante e crescem rápido no sistema de
confinamento, explica.
Tratamento
vip
Nas propriedades, os jacarés permanecem em recintos,
que ficam em instalações a céu aberto,
onde é condicionado apenas um casal. Sempre há
briga, pois isto a proporção é de cinco
fêmeas para um macho numa mesma área, explica
o tratador.
Para a criação, o melhor sistema é o
farming, semelhante ao confinamento de bois. A
grande vantagem é que você tem os animais em
recintos, e desta forma facilita a engorda. A desvantagem
é que você tem de tratar todo dia, tem assistência
veterinária, custo de produção, energia
elétrica, alimentação que é o
custo maior, todo esse manejo representa ônus que reflete
no preço final dos produtos, pontua Collard.
No recinto, os animais usufruem de tanques com água
corrente, que são preservados limpos com a introdução
de alface dágua (espécie de planta aquática
que mantém o tanque limpo). Lá, também
eles tomam banho de sol por horas a fio. Sensíveis,
os jacarés não gostam de barulho. Eles
não podem ficar muito estressados, principalmente,
no momento que as fêmeas em grande maioria já
foram copuladas, ou seja, estão com os ovos,
reforça o tratador. Esses animais são
muito resistentes, porém, a única doença
que mata o jacaré e o estresse. Alterados, eles param
de comer e morrem, descreve o tratador.
Porém, para os animais continuarem saudáveis,
a rotina não é alterada. Dias sim e outros não,
a hora da refeição é sagrada. Eles se
alimentam à base de frango descartados das granjas,
próximas da propriedade. Os adultos necessitam de 400
gramas de carne e os filhotes todo santo dia são alimentados
no máximo com 50 gramas de carne (3% do peso corporal).
Só durante o inverno (período de aproximadamente
quatro meses), que os reprodutores e matrizes passam por um
completo jejum, pois hibernam e não têm metabolismo
suficiente para fazer a digestão. Apesar de não
serem dóceis, os animais acostumam-se ao homem com
facilidade, respondendo ao chamado para o almoço,
quando todos se aproximam, conta Francisco Campezoni,
que há 10 anos é o único responsável
pelo manejo dos animais.
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