Em curto prazo a produção é cara, mas
em longo prazo os resultados são bem mais positivos,
com destaque à melhoria da qualidade do solo, dos nutrientes
presentes nele e na própria resposta em produtividade.
Esses são os aspectos da produção de
cana-de-açúcar orgânica, que está
sendo desenvolvida numa faixa próxima à região
litorânea do Ceará, pelo Grupo Ypióca,
um dos maiores e mais tradicionais do País na produção
de cachaça e etanol.
Em termos de custo, o produto é mais caro, pelo
fato da lavoura não poder ser tratada com agentes químicos,
e com maior uso de mão de obra no manejo com a lavoura,
na retirada do mato e pelo próprio uso do adubo orgânico
que é mais caro, aponta Paulo Telles, diretor
de planejamento do Grupo Ypióca.
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No
entanto, em longo prazo, todo esse trabalho vai se revertendo
em qualidade para o próprio solo, através da
estrutura e da riqueza dele, com isso há uma resposta
melhor em termos de produtividade, afirma.
São 200 hectares de área plantada com a lavoura
orgânica uma cultura que, para a certificação,
não se deve tão somente ao estado da plantação
em si, mas a todo o contexto social no qual a cana está
inserida. Segundo Telles, trabalhos com a conscientização
ecológica, de manutenção do meio ambiente,
juntamente com a comunidade em volta da região também
fizeram parte da filosofia do jeito orgânico de
ser.
Tudo
começa com a semente
O primeiro passo para a produção começa
com o cultivo de sementes comprovadamente orgânicas.
Para isso o produtor deve buscar em empresas idôneas
esse tipo de material, certificado, para que possa comprovar
também a origem dessa semente.
O plantio é o convencional e comum para toda lavoura
de cana, com a abertura de pequenos buracos na terra (sulcos),
para ali serem depositadas as sementes. A diferenciação
no manejo com a lavoura orgânica volta depois nos tratos
culturais da plantação, como na parte de adubação,
a qual se faz a partir de um adubo orgânico, seja ele
compostagem ou húmus, o adubo de minhoca, explica
Telles. Ficam de fora os compostos minerais nitrogênio,
fósforo e potássio o trio básico
de adubação, também conhecido por NPK,
além de pesticidas e inseticidas. Isso garantirá
que a planta e o solo fiquem livres do contato direto por
compostos químicos. Depois de um ano vem a colheita,
e ela tem de ser feita crua, ou seja, de forma manual ou com
o uso de máquinas e sem a queimada da cana, principalmente,
declara Telles.
Equilíbrio
Fora o custo de mão de obra, os demais tratos com a
lavoura são, de certa forma, menos preocupantes, até
em questão do tratamento fitossanitário da lavoura.
Variedades orgânicas, adaptadas à região
e resistentes aos ataques de pragas e insetos conduzem a facilidade
com o manejo da plantação.
O que também foi de grande valia para a saúde
das plantas foi a consorciação de matas nativas
em meio ao canavial o que corresponde a 160 hectares,
nos quais estão presentes espécies da vegetação
de Mata Litorânea e da Caatinga, como o Pau ferro (Coesalpinea
ferrea L), o Cajueiro nativo (Anacardium occidentale L), a
Catanduva (Catanduva sp), a Carnaúba (Copemicea prunifera),
o Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), a Umburana (Amburana
cearensis), o Angico (Anadenanthera praegrina L), a Aroeira
(Myracrodruon urundeuva), entre outras espécies vegetais.
Essas árvores preservadas na área, formam faixas
de microecossistemas que servem como um tipo de escudo contra
o ataque de pragas à cana. Como a praga está
no seu habitat natural, ela vai preferir ficar nessa área
ao invés de ir atacar uma outra, na qual está
a cana-de-açúcar, pondera Telles.
O único problema está relacionado ao ataque
da broca da cana (Diatraea saccharalis) à lavoura.
No entanto, o controle biológico a partir da vespa,
Cotesia flavipes, mostrou-se de muita eficiência.
Essência
orgânica
Como a queimada da cana já era uma prática mais
do que abolida nas propriedades do grupo, e o trato do solo
com matéria orgânica se fazia necessário
para a gradual correção dele, além da
preservação de matas nativas associadas à
lavoura, o passo para a certificação da lavoura
como orgânica foi apenas uma questão burocrática.
A essência orgânica já estava presente
na lida com a cana-de-açúcar só
restava mesmo um documento testificando isso. Documento este
que garantiu a produção de uma cachaça
bem aos moldes do gosto europeu ávido pela linha
de produtos caracterizados como orgânicos.
Mecanização também é o futuro
para a lavoura orgânica
Com a melhor estruturação da lavoura e a gradual
recolocação dos trabalhadores do corte de cana
do País em novas áreas, a mecanização
torna-se cada vez mais uma realidade para o trato com a lavoura,
além de garantir o melhor aproveitamento em menos tempo.
E como a cana tem sido uma cultura que também está
nas mãos de pequenos e médios agricultores,
uma linha de máquinas (pequenas e médias) se
enquadram bem nesse perfil de produtores.
É o caso do lançamento da colhedora de cana
A4000 da Case IH. A máquina foi projetada especialmente
para o trabalho em áreas plantadas com espaçamento
reduzido a partir de um metro. Ela representa uma nova
categoria de colhedoras e será a porta de acesso à
mecanização de pequenos e médios fornecedores
de cana. A máquina tem como nicho principal o mercado
do Nordeste e áreas com solo de baixa fertilidade.
Além disso há a necessidade de uma resposta
efetiva à legislação ambiental e ao fim
das queimadas, destaca Roberto Biasotto, especialista
de produto da Case IH.
Outro lançamento que também promete grandes
resultados para o setor é o da linha A8000, a qual
se destaca pela nova motorização, nova cabine
eletrônica, novo sistema de arrefecimento, novo picador
(Extreme Chopper) e a introdução da já
consagrada tecnologia de agricultura de precisão Case
IH, AFS (Advanced Farmming Systems). Todas estas inovações
e muitas outras melhorias introduzidas nas colhedoras de cana
da série A8000 são resultado do constante processo
de melhoria contínua e compromisso da Case IH com a
evolução do setor sucroalcooleiro mundial,
conclui Biasotto.
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