O
aumento na produção e nos investimentos tem
uma justificativa, segundo o criador, a procura pelo camarão
da Malásia vem aumentando ano a ano. O potencial
do mercado é grande. Em todo o lugar do Brasil, ele
pode ser criado em cativeiro. Além disto, o camarão
de água doce entra num nicho de mercado de produtos
saudáveis, considerado até orgânico. Aqui
nas estufas, este crustáceo se desenvolve naturalmente,
livre de hormônios ou produtos químicos. Daí,
a conquista do mercado como um produto diferenciado,
diz.
Há 18 anos, quando iniciou na carcinicultura não
havia divulgação sobre a atividade, mas segundo
Ticianelli já existia um mercado gigantesco. Situação
que fez o criador abandonar o curso de engenheira civil e
investir na criação. Na época,
o Instituto de Pesca, em São Paulo, iniciava alguns
estudos sobre o camarão de água doce. Lá,
obtive as primeiras pós-lavras. A partir dali, fui
desenvolvendo algumas técnicas para conseguir uma produção
em escala comercial, lembra.
Atualmente, com o foco só na reprodução,
o Caminho das Águas conta com 18 parceiros para dar
segmento ao sistema de cria e engorda dos camarões.
Em média, por ano, eles produzem de nove a 10 toneladas
do crustáceo. Nossos grandes parceiros estão
localizados no Vale do Ribeira, em São Paulo. Aquela
região é favorável à criação,
por ser muito quente. Temos também no Estado de Minas
Gerais. O que viabilizamos numa parceria é o deslocamento
daqui à propriedade de cria e engorda, frisa.
No sistema de parcerias, o empresário compra toda a
produção dos sócios. Já
estes compram as pós-lavras e os insumos, com o custo
operacional girando em torno de R$ 9 a R$ 10 reais. De acordo
com o criador, na ponta do lápis, o custo
médio da ração é de R$ 2,30, o
quilo. Para se produzir uma tonelada de camarão,
se gasta em média 1,5 tonelada de ração.
No final, o parceiro recebe R$ 17 reais por quilo. Fazemos
ainda um acompanhamento, oferecendo a assistência técnica
e buscamos a produção na propriedade, da onde
se faz até a despesca, a retirada dos camarões
diz.
Para o empresário, essa alternativa de parceira deu
certo. Tudo o que é produzido por eles visa atender
à demanda do mercado local. Atualmente, o preço
do quilo do camarão de água doce, chega a valer
R$ 28,00. O negócio é lucrativo, só
não se pode atuar sozinho. É preciso seguir
as orientações corretamente, como possuir uma
água boa de nascente e tanques escavados, adverte.
A criação do camarão não
é um bicho de sete cabeças, brinca.
Com a proposta de auxiliar os parceiros e os interessados
na criação, Ticianelli também fundou
a Aquacultura PL Brasil. Com isto, ele oferece hoje cursos
básicos de engorda de camarão, com direito a
aulas teóricas e práticas, que ocorrem na propriedade.
Além disso, o empresário resolveu aliar a criação
dos crustáceos a um projeto de agroturismo com
a possibilidade dos turistas conhecerem a funcionalidade dos
tanques de engorda e as estufas climatizadas, além
de ver os aquários com todas as fases do camarão:
desde as larvas até o crustáceo adulto. Recebemos
muitos turistas. Em grande maioria, são grupos de terceira
idade, que passam um dia agradável e ainda aproveitam
para experimentar o camarão de água doce,
explica.
Para escoar toda a produção, Ticianelli abriu
há sete anos um restaurante. Entre o cardápio
mais solicitado está a Moqueca de Camarão
com Peixe, um prato típico da culinária
brasileira preparado com camarão de água doce
e tilápia. Com sabor levemente adocicado e suave,
o camarão de água doce tem menos iodo, em comparação
daqueles encontrados no mar. Além disto, ele é
um parente próximo da lagosta.
Criação
delicada
Para garantir os pratos no restaurante, na propriedade a despesca
seletiva começa a partir do quarto mês de criação
e se repete por duas vezes até completar seis meses,
quando geralmente se faz a despesca total com o esvaziamento
completo do viveiro. O mesmo método também é
feito com as propriedades parceiras. O povoamento do
camarão, principalmente no Estado de São Paulo,
ocorre de setembro a dezembro, para fazer a despesca de março
a abril. Em regiões mais quentes, como Norte e Nordeste,
o povoamento pode ser feito o ano todo. Aqui na nossa região,
devido ao frio, mesmo com as estufas, conseguimos apenas uma
despesca, ao ano, conta. Nesta fase da despesca,
os crustáceos já estão prontos para o
abate e com o peso entre 20 a 25 gramas, em média.
O camarão de água doce possui um ciclo de vida
dividido em quatro fases distintas: ovo, larva, pós-larva
e adulto. Nos tanques de reprodução, por exemplo,
as matrizes e os reprodutores (que são selecionados
pelos tamanhos, pesos e características dominantes)
ficam em tanques. Normalmente, são sete fêmeas
para cada macho. O período de reprodução
é de 43 dias, sendo 19 dias de gestação.
Após esta fase, a desova das matrizes que liberam de
10 a 20 mil ovas, é transferida para tanques com águas
salobras, uma mistura da água doce com a água
do mar. Só assim é possível desenvolver
a reprodução.
No Sítio Caminho das Águas há uma estufa
berçário para estocar as pós-larvas.
Cerca de 100 mil larvas são suficientes para 1 hectare
de tanque. As pós-larvas, que têm de 1,0 a 1,2
gramas, são adaptadas à água doce na
propriedade. Com isto, o produtor (parceiro) já recebe
um animal adaptado à água doce. A adaptação
dos animais no viveiro final é realizada de forma gradual,
durante um período de 30 a 40 minutos.
Para o desenvolvimento das pós-lavras, o empresário
investiu em um grande laboratório, tanques especiais,
incubadoras para eclosão de Artemia (pequenos crustáceos
importados, que servem de alimento para as pós-larvas),
equipamentos para análise de água e para produção
da ração específica dos camarões.
E quando se fala na engorda desse crustáceo, o fator
mais importante é, sem dúvida, a água,
que precisa de renovação diária de 5%
a 10% do seu volume total. Lá também o que vale
é o calor nas estufas. A temperatura média chega
a 25°C e 31°C, sendo toleráveis a temperaturas
até 17°C, tudo para se assemelhar à natureza.
Na propriedade, o sistema adotado, e normalmente praticado
em outras, é o semi-intensivo, com viveiros de fundo
natural, retangulares e com circulação de água.
A criação no Brasil
Desde a sua introdução no Brasil, em 1977, o
camarão da Malásia, também chamado de
lagostim de água doce e gigante da Malásia,
é a espécie mais procurada para a criação,
porém, o crustáceo ainda não tem seu
mercado consolidado no País. De acordo com um levantamento
da Associação Brasileira de Criadores de Camarão
(ABCC), 85,5% dos produtores brasileiros são de pequeno
porte, sendo a atividade geralmente secundária na propriedade.
Segundo dados da ABCC, o Brasil tem hoje 980 criadores de
camarão.
Já os extraoficiais do Grupo de Trabalho em Camarões
de Água Doce (GTCAD) apontam que a produção
do camarão de água doce ainda é restrita:
estima-se que seja de cerca de 400 toneladas/ ano e que se
concentre, principalmente, mais na região Sudeste do
País. Embora 20 Estados já tenham dado a largada
para a criação dessa espécie.
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