E quando se fala em nutrição, o período
pós-parto é a fase mais crítica, porque
a fêmea só atinge o máximo da sua capacidade
de ingestão alimentar após três meses.
Entretanto, devido ao início da lactação,
seus requerimentos nutricionais aumentam muito e a consequência
é a deficiência nutricional, com perda de peso
por causa da mobilização de reservas para suprir
os nutrientes necessários para a produção
de leite. O efeito direto disto é a ocorrência
de anestro pós-parto, ou seja, ausência de cio,
explica Marco Aurélio Carneiro Meira Bergamaschi, médico
veterinário da Embrapa Pecuária Sudeste (São
Carlos/ SP).
Para que não percam o potencial reprodutivo, esses
animais devem receber atenção especial nas próximas
épocas de reprodução. Uma matriz que
não recebe a atenção especial e tem uma
alimentação debilitada, terá problemas
em emprenhar e não terá uma gestação
saudável. Mas não são apenas as primíparas
que precisam de atenção, qualquer matriz que
tiver déficit de nutrição terá
problemas. Se a alimentação for deficitária
no momento pré-parto, o período de anestro pós-parto,
que é o intervalo entre o parto e o próximo
cio, deverá ser maior. O nosso foco na fazenda
é a nutrição, porque já desenvolvemos
estudos que mostram a diferença em potencializar a
nutrição das vacas. Quanto maior a suplementação,
mais rápido as bezerras se tornam reprodutoras, maior
é a taxa de prenhez e melhor a qualidade do gado,
resume Valter José Pötter, proprietário
e diretor da Fazenda Estância Guatambu, localizada em
Dom Pedrito (RS). Na região, a empresa tem cinco fazendas
que somam nove mil cabeças, com quatro mil matrizes,
sendo 1.500 para reprodução de elite e 2.500
destinadas para terminação.
Nas fazendas do pecuarista, não há diferença
entre a nutrição do gado voltado para o melhoramento
genético e do destinado a terminação.
Em ambos os casos, as novilhas recebem atenção
especial e, após a desmama (no mês de março),
quando estão com sete meses, vão para um pasto
reforçado, classificado pelo diretor como campo
melhorado.
Lá, há um composto de forrageiras de clima temperado,
como o azevém, e leguminosas, como o comichão
e os trevos branco e vermelho, além de saleiro apenas
com cloreto de sódio, já que a pastagem é
rica em fósforo e cálcio. Além de sementes
de qualidade, o solo ajuda, pois é rico em nutrientes
e proteínas devido ao adubo usado na plantação
de soja, milho e trigo, que integra a rotação
de pastagem nas fazendas. Com essa rotação,
gastamos apenas R$ 150,00 com o custo das sementes e mão
de obra, já que não precisa mexer no solo após
a colheita da soja, por exemplo. É só semear
a pastagem. Se não tivéssemos a plantação
das culturas, gastaríamos cerca de R$ 1.000,00 para
preparar o solo, e semear, calcula Pötter.
Além das novilhas, qualquer vaca que apresente queda
de rendimento, em qualquer parte do ciclo, é encaminhada
para o campo melhorado até chegar ao nível
apropriado. Nas fazendas da Guatambu, existe uma classificação
própria de 1 a 5, sendo 5 um nível alto de nutrição
onde o animal está com um peso ideal para ser abatido,
e sendo 1 a classificação de um animal desnutrido.
O ideal, segundo Pötter, é manter os animais em
níveis 4 e 5, e aqueles que caem para 3 ou 2, são
encaminhados para ter melhor nutrição e voltar
a um bom nível. Segundo ele, o pasto melhorado resulta,
no mínimo, em cinco vezes mais quantidade de carne,
podendo chegar a nove vezes mais que o pasto convencional,
que, além do capim, tem saleiros com mistura de 8 a
10% de fósforo e cálcio. Geralmente, as vacas
que perdem rendimento e precisam ser deslocadas para o pasto
melhorado são as mais novas ou as mais velhas.
Esse tratamento vai de encontro com o que diz, o veterinário
da Embrapa Pecuária Sudeste, sobre a nutrição
para as vacas antes do parto. Próximo ao parto,
o animal está ingerindo menor quantidade já
que a capacidade digestiva está reduzida devido ao
aumento do útero, o qual ocupa o espaço abdominal
antes utilizado pelo rúmen. Além disso, o feto
cresce requerendo mais nutrientes. Para compensar, a pastagem
deve ser de alta qualidade e baixo volume, necessitando o
uso de concentrados. Fósforo e cálcio são
importantes para a constituição orgânica
dos ossos, e a vitamina D é fundamental para a absorção
de cálcio. A deficiência desses elementos pode
levar a um mau desenvolvimento fetal e causar problemas durante
o parto, como fraqueza e doenças, como a paresia. Isto,
além de causar prejuízos durante a recuperação
pós-parto, podendo provocar até a morte do animal,
explica.
A qualidade do pasto melhorado garante ganho de 700 gramas
por dia para os bezerros, fazendo com que cheguem, em novembro
época da primeira inseminação
acima dos 280 kg, caso contrário, são
encaminhadas para terminação. Nesta primeira
etapa, 30% das novilhas não atingem o peso, e das 70%
apropriadas para a gestação, 80% emprenha e
o restante também é encaminhado para a terminação.
Nesta fase, usam-se touros para cobrir as novilhas, com relação
de 4% do rebanho, revezando 2% em 15 dias e outros 2% nos
próximos 15. O custo com esse tratamento é de
R$ 141,25 por cabeça, já que o gado em pasto
convencional consome, em média, 30 gramas de sal por
dia, e em campo melhorado entre 15 e 20 gramas. Somando o
custo com vacina, vermífugo e demais tratamentos, o
custo por cabeça é de R$ 305 por ano. É
um manejo intensivo, onde se investe em tecnologia, em pasto
e se aumenta o custo, mas assim você consegue melhorar
a produtividade com qualidade de rebanho, menor idade de primeira
cria e de terminação, finaliza Pötter.
Fazenda
Santa Thereza
Já em Aparecida do Taboado (MS), o pecuarista Moacyr
Fregonesi oferece uma suplementação nutricional
para cada etapa do ciclo. De novembro a fevereiro, que é
o último mês de monta, elas recebem um sal especial,
com 90 gramas de fósforo. Ao emprenharem, passa a receber
sal composto de 60 gramas de fósforo com aminoácidos.
De agosto a outubro, que é o período pré-monta,
o sal é de 90 gramas, só que é proteinado,
para preparar a vacada para a estação de monta.
A média de consumo deste último é de
300 gramas/cabeça/dia.
Assim como Pötter, Fregonesi considera a nutrição
o principal fator de nível de prenhes do rebanho. Uso
braquiária, mas não importa qual capim será
usado, até porque muda para cada região. O importante
é não perder peso, mesmo na seca, porque isso
vai significar maior dificuldade de reprodução
lá na frente, comenta o pecuarista de Aparecida
do Taboado.
O índice de prenhes na Fazenda Santa Thereza é
de 93,5%, sendo que são realizadas duas IATF (Inseminação
Artificial por Tempo Fixo), já que após 30 dias
da primeira, se faz um ultrassom e as que não emprenharam
voltam para o programa. As que não emprenharem na segunda
tentativa, serão cobertas com touros. Geralmente,
na primeira IATF, temos 60% de taxa de prenhez, o que significa
360 vacas. Na segunda, a taxa é a mesma, chegando a
144 vacas emprenhadas. Somando as duas etapas, são
504 vacas das 600 iniciais. Do restante, a maioria irá
emprenhar com os touros, e apenas 6,5% do total acaba sendo
descartada, explica Fregonesi.
O pecuarista chega a inseminar novilhas super precoce, com
apenas 12 meses (novembro / dezembro / janeiro), e as que
não emprenham vão para a estação
invertida, que é de março a abril, com 14 meses
de idade e que ainda são consideradas precoces. As
que não emprenharem nessas duas estações,
são encaminhadas para leilão. Neste caso, a
taxa de prenhes não é de 93,5%, mas Fregonesi
espera atingir mais de 60%, o que considera um número
ótimo para a idade do rebanho. Para isso, a alimentação
dessas novilhas é composta de sal pré-monta,
que é um alimento consumido em larga escala, cerca
de 800 gramas a 1 kg por dia. Essa é a época
da novilha se alimentar, se não consumir e crescer
agora, será um animal pequeno para sempre e as suas
crias também, completa o pecuarista.
O produtor deve tomar cuidado com a engorda rápida
das novilhas em busca de condições de emprenhar
precocemente. Caso essa alimentação não
seja apropriada pode-se ter problemas, segundo o veterinário
da Embrapa. As novilhas obesas também se tornam
problemas devido à dificuldade para emprenharem, além
dos transtornos ocorridos durante o parto, causados por bezerros
grandes e o acúmulo de gordura na região pélvica
da fêmea, o que dificulta a passagem do bezerro durante
o parto. É necessário estabelecer uma dieta
adequada para a bezerra após o nascimento para que
haja um desenvolvimento contínuo com ganho de peso
diário adequado, completa Marco Aurélio
Bergamaschi.
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