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NUTRIÇÃO ANIMAL - A DIETA DA FERTILIDADE!:
rev 141 - novembro 2009

Taxa de prenhes está diretamente relacionada com a alimentação oferecida as matrizes durante todo o ciclo. Quem economizar no pasto e na suplementação, acaba afetando a fertilidade do seu rebanho. A nutrição das matrizes é um dos pontos fundamentais para a saúde e o sucesso da reprodução do rebanho. Segundo especialistas, a genética não faz milagre e a alimentação escassa das matrizes acarreta em problemas na sua gestação, principalmente quando ainda é primípara (primeira gestação), para os bezerros, que nascem pequenos e, principalmente, derruba a taxa de prenhez da propriedade. Logo após o parto, as matrizes de primeiro ciclo necessitam de alimentação para nutrir o bezerro, se recuperar e ainda se desenvolver para emprenhar novamente na próxima estação de monta.

“E quando se fala em nutrição, o período pós-parto é a fase mais crítica, porque a fêmea só atinge o máximo da sua capacidade de ingestão alimentar após três meses. Entretanto, devido ao início da lactação, seus requerimentos nutricionais aumentam muito e a consequência é a deficiência nutricional, com perda de peso por causa da mobilização de reservas para suprir os nutrientes necessários para a produção de leite. O efeito direto disto é a ocorrência de anestro pós-parto, ou seja, ausência de cio”, explica Marco Aurélio Carneiro Meira Bergamaschi, médico veterinário da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos/ SP).
Para que não percam o potencial reprodutivo, esses animais devem receber atenção especial nas próximas épocas de reprodução. Uma matriz que não recebe a atenção especial e tem uma alimentação debilitada, terá problemas em emprenhar e não terá uma gestação saudável. Mas não são apenas as primíparas que precisam de atenção, qualquer matriz que tiver déficit de nutrição terá problemas. Se a alimentação for deficitária no momento pré-parto, o período de anestro pós-parto, que é o intervalo entre o parto e o próximo cio, deverá ser maior. “O nosso foco na fazenda é a nutrição, porque já desenvolvemos estudos que mostram a diferença em potencializar a nutrição das vacas. Quanto maior a suplementação, mais rápido as bezerras se tornam reprodutoras, maior é a taxa de prenhez e melhor a qualidade do gado”, resume Valter José Pötter, proprietário e diretor da Fazenda Estância Guatambu, localizada em Dom Pedrito (RS). Na região, a empresa tem cinco fazendas que somam nove mil cabeças, com quatro mil matrizes, sendo 1.500 para reprodução de elite e 2.500 destinadas para terminação.
Nas fazendas do pecuarista, não há diferença entre a nutrição do gado voltado para o melhoramento genético e do destinado a terminação. Em ambos os casos, as novilhas recebem atenção especial e, após a desmama (no mês de março), quando estão com sete meses, vão para um pasto reforçado, classificado pelo diretor como “campo melhorado”.
Lá, há um composto de forrageiras de clima temperado, como o azevém, e leguminosas, como o comichão e os trevos branco e vermelho, além de saleiro apenas com cloreto de sódio, já que a pastagem é rica em fósforo e cálcio. Além de sementes de qualidade, o solo ajuda, pois é rico em nutrientes e proteínas devido ao adubo usado na plantação de soja, milho e trigo, que integra a rotação de pastagem nas fazendas. “Com essa rotação, gastamos apenas R$ 150,00 com o custo das sementes e mão de obra, já que não precisa mexer no solo após a colheita da soja, por exemplo. É só semear a pastagem. Se não tivéssemos a plantação das culturas, gastaríamos cerca de R$ 1.000,00 para preparar o solo, e semear”, calcula Pötter.
Além das novilhas, qualquer vaca que apresente queda de rendimento, em qualquer parte do ciclo, é encaminhada para o “campo melhorado” até chegar ao nível apropriado. Nas fazendas da Guatambu, existe uma classificação própria de 1 a 5, sendo 5 um nível alto de nutrição onde o animal está com um peso ideal para ser abatido, e sendo 1 a classificação de um animal desnutrido. O ideal, segundo Pötter, é manter os animais em níveis 4 e 5, e aqueles que caem para 3 ou 2, são encaminhados para ter melhor nutrição e voltar a um bom nível. Segundo ele, o pasto melhorado resulta, no mínimo, em cinco vezes mais quantidade de carne, podendo chegar a nove vezes mais que o pasto convencional, que, além do capim, tem saleiros com mistura de 8 a 10% de fósforo e cálcio. Geralmente, as vacas que perdem rendimento e precisam ser deslocadas para o pasto melhorado são as mais novas ou as mais velhas.
Esse tratamento vai de encontro com o que diz, o veterinário da Embrapa Pecuária Sudeste, sobre a nutrição para as vacas antes do parto. “Próximo ao parto, o animal está ingerindo menor quantidade já que a capacidade digestiva está reduzida devido ao aumento do útero, o qual ocupa o espaço abdominal antes utilizado pelo rúmen. Além disso, o feto cresce requerendo mais nutrientes. Para compensar, a pastagem deve ser de alta qualidade e baixo volume, necessitando o uso de concentrados. Fósforo e cálcio são importantes para a constituição orgânica dos ossos, e a vitamina D é fundamental para a absorção de cálcio. A deficiência desses elementos pode levar a um mau desenvolvimento fetal e causar problemas durante o parto, como fraqueza e doenças, como a paresia. Isto, além de causar prejuízos durante a recuperação pós-parto, podendo provocar até a morte do animal”, explica.
A qualidade do pasto melhorado garante ganho de 700 gramas por dia para os bezerros, fazendo com que cheguem, em novembro – época da primeira inseminação – acima dos 280 kg, caso contrário, são encaminhadas para terminação. Nesta primeira etapa, 30% das novilhas não atingem o peso, e das 70% apropriadas para a gestação, 80% emprenha e o restante também é encaminhado para a terminação. Nesta fase, usam-se touros para cobrir as novilhas, com relação de 4% do rebanho, revezando 2% em 15 dias e outros 2% nos próximos 15. O custo com esse tratamento é de R$ 141,25 por cabeça, já que o gado em pasto convencional consome, em média, 30 gramas de sal por dia, e em campo melhorado entre 15 e 20 gramas. Somando o custo com vacina, vermífugo e demais tratamentos, o custo por cabeça é de R$ 305 por ano. “É um manejo intensivo, onde se investe em tecnologia, em pasto e se aumenta o custo, mas assim você consegue melhorar a produtividade com qualidade de rebanho, menor idade de primeira cria e de terminação”, finaliza Pötter.

Fazenda Santa Thereza

Já em Aparecida do Taboado (MS), o pecuarista Moacyr Fregonesi oferece uma suplementação nutricional para cada etapa do ciclo. De novembro a fevereiro, que é o último mês de monta, elas recebem um sal especial, com 90 gramas de fósforo. Ao emprenharem, passa a receber sal composto de 60 gramas de fósforo com aminoácidos. De agosto a outubro, que é o período pré-monta, o sal é de 90 gramas, só que é proteinado, para preparar a vacada para a estação de monta. A média de consumo deste último é de 300 gramas/cabeça/dia.
Assim como Pötter, Fregonesi considera a nutrição o principal fator de nível de prenhes do rebanho. “Uso braquiária, mas não importa qual capim será usado, até porque muda para cada região. O importante é não perder peso, mesmo na seca, porque isso vai significar maior dificuldade de reprodução lá na frente”, comenta o pecuarista de Aparecida do Taboado.
O índice de prenhes na Fazenda Santa Thereza é de 93,5%, sendo que são realizadas duas IATF (Inseminação Artificial por Tempo Fixo), já que após 30 dias da primeira, se faz um ultrassom e as que não emprenharam voltam para o programa. As que não emprenharem na segunda tentativa, serão cobertas com touros. “Geralmente, na primeira IATF, temos 60% de taxa de prenhez, o que significa 360 vacas. Na segunda, a taxa é a mesma, chegando a 144 vacas emprenhadas. Somando as duas etapas, são 504 vacas das 600 iniciais. Do restante, a maioria irá emprenhar com os touros, e apenas 6,5% do total acaba sendo descartada”, explica Fregonesi.
O pecuarista chega a inseminar novilhas super precoce, com apenas 12 meses (novembro / dezembro / janeiro), e as que não emprenham vão para a estação invertida, que é de março a abril, com 14 meses de idade e que ainda são consideradas precoces. As que não emprenharem nessas duas estações, são encaminhadas para leilão. Neste caso, a taxa de prenhes não é de 93,5%, mas Fregonesi espera atingir mais de 60%, o que considera um número ótimo para a idade do rebanho. Para isso, a alimentação dessas novilhas é composta de sal pré-monta, que é um alimento consumido em larga escala, cerca de 800 gramas a 1 kg por dia. “Essa é a época da novilha se alimentar, se não consumir e crescer agora, será um animal pequeno para sempre e as suas crias também”, completa o pecuarista.
O produtor deve tomar cuidado com a engorda rápida das novilhas em busca de condições de emprenhar precocemente. Caso essa alimentação não seja apropriada pode-se ter problemas, segundo o veterinário da Embrapa. “As novilhas obesas também se tornam problemas devido à dificuldade para emprenharem, além dos transtornos ocorridos durante o parto, causados por bezerros grandes e o acúmulo de gordura na região pélvica da fêmea, o que dificulta a passagem do bezerro durante o parto. É necessário estabelecer uma dieta adequada para a bezerra após o nascimento para que haja um desenvolvimento contínuo com ganho de peso diário adequado”, completa Marco Aurélio Bergamaschi.


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