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CENSO AGROPECUÁRIO - A IDENTIDADE DO PRODUTOR BRASILEIRO:
rev 141 - novembro 2009

Ele é agricultor familiar, baiano e produz milho. É esse o perfil que se pode fazer a partir da pesquisa realizada pelo IBGE, na qual apresenta o retrato do Brasil agrário. A cara do produtor rural brasileiro é da agricultura familiar porque mais de 83% dos estabelecimentos rurais do País pertencem a essa classificação. Este total representa 4.367.902 unidades de produção, das quais, mais de 50% estão no Nordeste. E é o Estado da Bahia a maior unidade da federação com maior número de estabelecimentos rurais de agricultores familiares (665.831), ocupando uma área de mais de 9,95 milhões de hectares (ha). A produção de milho em grão é a atividade econômica mais desenvolvida por esse grupo de agricultores, representando 32,5% das propriedades familiares baianas.

Em termos gerais, o Brasil rural é constituído por 5.204.130 estabelecimentos que ocupam uma área total maior que 354,8 milhões de ha. As pastagens naturais ou plantadas predominam nessa área somando mais de 172,3 milhões de ha. Matas e florestas estão em segundo lugar com mais de 99,8 milhões de ha, e, em terceiro, as lavouras brasileiras, registram a maior área de todos os tempos, com mais de quase 76,7 milhões de ha.
O País reúne um pouco mais de 16,4 milhões de pessoas no campo. O efetivo do rebanho brasileiro é majoritariamente bovino, com 169,9 milhões de cabeças e o leite de vaca é a principal produção animal, contabilizando mais de 21,4 bilhões de litros.
Este é o resumo do quadro desenhado pelo Censo Agropecuário 2006, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vinculado ao governo federal. A pesquisa foi feita de abril a agosto de 2007, tendo por base o ano de 2006. De acordo com o órgão, foram entrevistadas 5,2 milhões de pessoas – trabalho que envolveu cerca de 82 mil agentes censitários. Esse foi o primeiro Censo Agropecuário a utilizar questionário eletrônico desenvolvido em computador de mão, o “Personal Digital Assistant” (PDA), substituindo o questionário em papel. O estudo, da década de 1940 até a de 1970 era decenal (realizado de 10 em 10 anos). De 1970 a 1985 foi feito de cinco em cinco anos. A pesquisa voltou a ser decenal a partir do ano base de 1996. O próximo Censo Agropecuário será o de 2016.

Agricultura familiar

Por representar 83,9% dos estabelecimentos rurais no País, a agricultura familiar recebeu um capítulo especial nessa edição da pesquisa, revelando um pouco mais de como é a vida do pequeno produtor rural brasileiro, mesmo que de uma forma matemática e estatística. Esse contingente de agricultores familiares do País está compreendido numa área de 80,25 milhões de ha, ou seja, 24,3% do total do território ocupado pelas propriedades agropecuárias brasileiras. O resultado apontou uma informação que não é nenhuma novidade: a concentração de terras no País. Os estabelecimentos caracterizados como ‘não familiares’, apesar de representarem apenas 16,7% do total, pelos dados de 2006, eles ocupam os 75,7% restantes da área rural brasileira. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não familiares, de 309,18 hectares.
Na porção de terra destacada pela agricultura familiar, 45% eram destinadas a pastagens, ao passo que a área caracterizada por matas, florestas ou sistemas agroflorestais ocupou 28% das áreas, e por fim as lavouras ficaram com os 22% restantes do território. Apesar da área de lavoura ser bem menor que a de pastagens, (17,7 e 36,4 milhões de ha, respectivamente) foram esses mais de 17 ha os responsáveis por garantir boa parte da segurança alimentar do País, como grande fornecedor de alimentos ao mercado interno. A agricultura familiar foi responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% de milho, 38% de café, 34% de arroz e 21% do trigo. A cultura com menor participação foi a da soja, com 16%. Já em relação à pecuária, os estabelecimentos familiares foram responsáveis por 58% de leite do País (vaca, 58%, e cabra, 67%), possuíam 59% do plantel de suínos, 50% do plantel de aves e 30% dos bovinos.

Financiamento da produção

Setecentos e oitenta e um mil estabelecimentos familiares optaram pela captação de recursos, sendo o custeio o principal fim (405 mil das propriedades). Seguido da finalidade de investimento, 344 mil unidades familiares também buscaram crédito, outras 74 mil para a manutenção do negócio, e, por fim, oito mil propriedades adquiriram financiamento para fazer a comercialização dos produtos. No entanto, a maioria dos agricultores familiares em 2006 nem pensavam em se endividar. O censo registrou mais de 3,5 milhões de estabelecimentos nessa classificação que não obtiveram financiamento, especialmente porque “não precisaram” ou por “medo de contrair dívidas”.

Mão de obra

Agricultura familiar é constituída por trabalhadores com dez anos ou mais de direção da atividade agrária, em 62% das propriedades. Outro dado relevante da pesquisa, foi que pouco mais de 600 mil estabelecimentos familiares (13,7%) eram dirigidos por mulheres, enquanto na agricultura não familiar esta participação não chegava a 7,0%.

Educação

Entre as 11 milhões de pessoas da agricultura familiar e com laços de parentesco com o produtor, quase sete milhões, ou seja, a maioria sabia ler e escrever (63,0%). Mas por outro lado, existiam pouco mais de quatro milhões de pessoas que declararam não saber ler e escrever, principalmente de pessoas de 14 anos ou mais (3,6 milhões de pessoas). Ainda relacionado com o grau de escolaridade e qualificação da mão de obra, o número de pessoas que declarou possuir qualificação profissional ficou em apenas 170 mil pessoas na agricultura familiar.

Receitas e valor da produção

A agricultura familiar respondeu por um terço das receitas dos estabelecimentos rurais brasileiros. Esta participação menor nas receitas, em parte, é explicada porque só três milhões (69%) dos produtores familiares declararam ter obtido alguma receita no ano de 2006. Este número de produtores tiveram uma receita média de R$ 13,6 mil, especialmente com a venda de produtos vegetais que representavam mais de 67,5% das receitas obtidas. A segunda principal fonte de receita eram as vendas de animais e seus produtos, que representam mais de 21,0% das receitas obtidas.
Quanto ao valor da produção, e não somente as receitas de vendas, foram contados em 3,9 milhões o número de estabelecimentos familiares que declarou algum valor de produção. A agricultura familiar foi responsável por 38% do valor total da produção das propriedades rurais do País. A exemplo das receitas, a produção vegetal foi a principal produção (72% do valor da produção), especialmente com as lavouras temporárias (42%) e permanentes (19%). Em segundo lugar no valor da produção, o destaque ficou com a atividade animal (25%), especialmente com animais de grande porte (14%). O valor médio da produção anual da agricultura familiar foi de R$ 13,99 mil, tendo a criação de aves o menor valor médio (R$ 1,56 mil), e a floricultura o maior valor médio (R$ 17,56 mil).


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