Estamos ainda na fase de plantio e ainda é cedo
para se falar em estimativas de safra, afirma Walter
Arns, orizicultor e também presidente da Associação
dos Arrozeiros de Uruguaiana (RS). O que mais está
nos preocupando, nesse início de plantio, é
o déficit hídrico que vem ocorrendo nos últimos
anos, especialmente aqui na região, e este ano está
pior que no ano passado, com o registro de chuvas abaixo do
esperado, por isso estamos aguardando acumular mais água
para a recuperação dos mananciais para assim,
terminar a semeadura, explica o produtor.
A falta de chuva afetou mais incisivamente a Fronteira Oeste
do Estado, que compreende também os municípios
de Alegrete, Itaquí, Barra do Quaraí, Santo
Antônio das Missões e São Borja. Em Uruguaiana,
em setembro deste ano, choveu 121,3 milímetros (mm),
sendo que a média normal mensal é de 102,9 mm,
de acordo com os dados do Irga. Já no mês de
outubro, até o dia 28, foram só 85,6 mm (a média
normal seria 162 mm no mês).
Em comparação com ano passado, com base no mês
de outubro (até o dia 28), segundo o Irga, a Fronteira
Oeste de RS registrou um déficit de 41% nas precipitações.
Na região de Campanha apresentou uma queda de 23% nos
níveis de chuva. Este mesmo índice também
foi constatado na Zona Sul do Estado. Quem se saiu bem foi
a região da Depressão Central, com um superávit
pluviométrico de 14,42%.
O
líder em produtividade
A chuva pode estar faltando, mas ainda não tira o destaque
do Estado, e em especial, do município de Uruguaiana
(RS), que é o maior em produtividade do Brasil. Na
safra de 2008/2009, ele registrou um rendimento médio
de 8.237 quilos por hectare (kg/ha), segundo o Irga, ao passo
que a média estadual girou em 7.150 kg/ha e a nacional
em 4.344 kg/ha, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab). Em todo País, a área cultivada do grão,
nesta safra de 2009/2010, pode variar entre mais de 2,8 milhões
de ha e 2,9 milhões de ha, representando desde uma
queda de 0,7% a um acréscimo de 0,1% em relação
a área da safra passada, segundo a Conab.
O melhor desempenho com a cultura no Sul do País está
associado ao sistema ser todo irrigado por inundação,
além das condições climáticas
e de solo que auxiliam o desenvolvimento da cultura, garantindo
maior produtividade. Segundo Maurício Miguel Fischer,
presidente do Irga, a medida que mais favoreceu o melhor rendimento
na lavoura foi a escolha correta da época de semeadura,
que atualmente vai de setembro até o final de novembro
e início de dezembro. Plantávamos muito
tarde e aí a planta não aproveitava o melhor
período de maior luminosidade que vai de dezembro a
janeiro, explica.
Aliada à época certa de plantio, o uso de tecnologias
também foi o responsável pela excelência
gaúcha no quesito arroz, como por exemplo, o uso de
sementes de qualidade e melhoradas, cultivares mais produtivas,
o melhor tratamento com o solo e o controle precoce de plantas
invasoras.
Ao longo de 33 anos, segundo o acompanhamento feito pela Conab,
a safra do grão no Estado tendeu ao crescimento. As
quedas mais significativas nesse período foram na safra
de 1994/1995, que registrou uma produção de
5,07 milhões de toneladas (t), para a safra de 1997/1998,
que fechou com 3,6 milhões de t. Já na subsequente
(1998/1999), eis que surge a recuperação histórica
do grão, com aumento da produção em mais
de 55% (mais de 5,6 milhões de t de arroz). O saldo
da colheita de 2003/2004 também foi bem positivo, com
acréscimo em 36,97% na produção em relação
ao resultado anterior, ainda segundo os dados da Conab.
O império arrozeiro que se constituiu o Rio Grande
do Sul se deu unicamente pelo rendimento das safras, porque,
em termos de área cultivada, o arroz esteve em terceiro
lugar entre os produtos agrícolas do Estado, com uma
área de 1,1 milhão de ha, na safra 2008/2009,
segundo a Conab. A soja foi a produção que ocupou
o maior espaço, com 3,8 milhões de ha, só
que uma produtividade que ficou em quarto lugar entre as cinco
principais culturas gaúchas, com um rendimento médio
de 2.070 kg/ha. O milho veio em segundo lugar tanto em área
plantada (1,3 milhões de ha) como em produtividade
(3,06 kg/ha).
Preço
e custo desfavoráveis
O arroz pode até ser o rei no Rio Grande do Sul, mas
a coroa que ele carrega não vale muita coisa, além
de ser muito cara para mantê-la reluzente essa
é a analogia que se pode traçar a partir dos
aspectos de preço pago ao produtor e custo de produção
da lavoura. Na safra de 2008/2009, a média de custo
da saca de 50 quilos ficou em R$ 33,35, enquanto que o valor
pago ao produtor girava entre R$ 26,00 e R$ 27,00 a mesma
saca, ou seja, um prejuízo de R$ 6,35 a cada fardo
produzido.
Para a safra 2009/2010 os custos ficaram em R$ 28,07 a saca,
no entanto os preços permaneceram nos mesmos patamares
anteriores, o que desafiam os produtores de arroz do País,
que ainda têm de concorrer com o produto vindo da Argentina,
do Uruguai e, mais recentemente, do Paraguai. Para uma
indústria, com aumento do valor da produção,
é fácil para ela repassar isso na hora venda,
e isso é o que não acontece no caso de um produto
como o arroz, que é um alimento, uma commodity,
analisa Luiz Antônio Queiroz, também orizicultor
de Uruguaiana. No nosso caso, para conseguirmos um bom
resultado na safra, só nos resta baixar os custos de
produção, e isso, aqui no Brasil, é extremamente
complicado devido às altas tributações
que incidem nos mais variados aspectos do desenvolvimento
da lavoura, como no combustível, no maquinário,
no gasto com eletricidade, e no próprio âmbito
trabalhista, pontua Queiroz.
Enquanto isso, a produção argentina, uruguaia
e paraguaia, que têm o mesmo potencial climático
e de solo para conseguir um nível de qualidade semelhante
ao brasileiro, possuem um custo mais baixo no final das contas,
além de contarem com uma maior flexibilidade, por parte
dos governos daqueles países, em termos de manejo e
trato com a lavoura. No Brasil, a produção
é mais rígida quanto ao uso de sementes e herbicidas,
e o posicionamento do governo não é muito de
baixar tributos, o que ele faz é disponibilizar mais
crédito ao produtor, e essa conta depois deve ser paga...
Mas como ela vai ser paga se não há remuneração
por parte dos produtores? Vai ter de haver uma política
que possa minimizar essa situação, e não
sou otimista quanto a uma solução em curto prazo,
ainda mais com esses preços praticados no País.
Apesar da insistência por parte da Revista Rural, o
governo federal, através do representante, Reinhold
Stephanes, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), até o fechamento desta edição,
não se pronunciou sobre a situação dos
orizicultores brasileiros e o que há de políticas
cabíveis que contribuam para o cultivo do grão
no País.
Consumo
estável e cenários futuros
Nos últimos cinco anos o consumo de arroz no País
manteve-se estável, dando uma média superior
a 12,8 milhões de t e a produção brasileira
já está pratica-mente alcançando essa
quantidade. Na última safra, segundo os dados da Conab,
por exemplo, a estimativa ficou em 12,6 milhões de
t deste total, 63% vieram de terras gaúchas.
Conseguimos esse resultado porque o arroz irrigado rende
mais, com isso a produtividade se torna melhor, a única
questão é a baixa rentabilidade que a lavoura
vem proporcionando aos produtores brasileiros, pondera
Arns.
Não bastassem os preços baixos, a concorrência
com as produções vindas do Mercosul força
as exportações brasileiras, que neste momento,
também não oferecem um quadro positivo ao produtor
em função da queda gradual que o dólar
vem sofrendo desde fevereiro deste ano, que no final das contas
pagou R$ 38,50 a saca analisando o total exportado
este ano, de janeiro a setembro, segundo o Mapa a um valor
do dólar na casa dos R$ 1,74. Foram exportadas nesse
período 505,6 mil toneladas do grão o qual rendeu
mais de US$ 223,9 milhões resultado 3,64% superior
em relação ao mesmo período de 2008.
A estimativa dos estoques de arroz para a safra 2009/2010
ainda expressa a queda do resultado de 2008/2009, ficando
em 752,9 mil t quantidade 23,34% inferior em relação
aos estoques de 2008/2009, que foram contabilizados pela Conab
em 982,1 mil t no segundo levantamento de grãos divulgado
em novembro deste ano pelo órgão estatal. Ainda
segundo esse estudo, para a safra 2009/2010, a produção
de arroz giraria em torno de 12,1 milhões de t, a importação,
em 1 milhão de t, e a exportação, em
500 mil t.
Mesmo com estoques em baixa, o arroz não faltará
nos próximos anos, e o crescimento do grão em
longo prazo parece ser promissor pelo menos este é
o cenário para o arroz de sequeiro em terras gaúchas
até o ano de 2070, de acordo com o estudo Aquecimento
global e a nova geografia da produção agrícola
no Brasil, coordenado pelos pesquisadores Eduardo Delgado
Assad, da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas/SP)
e Hilton Silveira Pinto, especialista em meteorologia agrícola
da Universidade de Campinas (Unicamp). Com um aumento
das temperaturas estimadas de 2°C a 5°C, o nível
de chuva na região ficaria em torno de 5% a 15% superior,
o que propiciaria quadros positivos para o arroz no Sul do
País, analisa Pinto. O estudo foi feito com base
no arroz de sequeiro, o qual é produzido no Brasil
Central, pelo fato de os pesquisadores não mais indicarem
sistemas irrigados na lavoura diante desse cenário
de alterações climáticas que poderá
afetar a agricultura brasileira, mediante ao que se pode denominar
de aquecimento global.
O alto desempenho da cultura em produtividade compensaria
a produção ao longo desses cerca de 60 anos
o qual compreende o estudo. No entanto, a demanda seria o
fator que complicaria a oferta do grão. Segundo o trabalho
dos pesquisadores, as projeções da população
brasileira, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), girariam em 70 milhões
de habitantes a mais no País daqui a 40 anos. O saldo
nacional acerca do grão, em 2070, indicaria uma área
14% menor para o cultivo e com prejuízos que poderiam
alcançar um pouco mais de R$ 600 milhões.
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