Um país onde vivem cerca de 1,3 bilhões de pessoas,
que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 4,3 trilhões
e com uma renda per capita de US$ 6 mil, garante o prestígio
de ser o parceiro econômico que todo mundo quer, resta
apenas o Brasil (os dados são dos Indicadores de Desenvolvimento
Mundial do Banco Mundial, de abril deste ano, com base dos
resultados de 2008).
Apesar da totalidade negociada com a China chegar a US$ 16,4
bilhões, em 2008, segundo a Secretaria de Comércio
Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a participação
brasileira naquele mercado é muito pequena, principalmente
na área de alimentos que é justamente
o ponto forte do Brasil. O montante exportado para lá
significou apenas 1,35% das importações chinesas
em 2008, de acordo com o confronto dos dados do Banco Mundial
e da Secex.
E os especialistas afirmam: o chinês quer comer mais
e melhor, porque, gradativamente, o poder aquisitivo dele
aumenta; e ele está mudando de hábito alimentar,
quer consumir mais café, derivados lácteos,
comer carne e doces, além de degustar de bom vinho
todos, produtos que poderiam sair do Brasil e cair
nas graças da população chinesa, que
está disposta a pagar mais caro por um produto de qualidade.
Asas,
patas e pés de frango
A introdução nesse mercado exige muito trato
e disposição do agricultor ou pecuarista em
fazer um produto de qualidade. O exemplo, vem da granja da
família Griep, no município de Quatro Pontes
(PR). Os 46 mil frangos produzidos nos dois aviários
da propriedade somam-se com a produção dos mais
de 300 avicultores integrados à Cooperativa Agroindustrial
Copagril, em Marechal Rondon (PR), que faz a ponte com o mercado
chinês via Hong Kong. Para lá são destinadas
às partes nobres do frango para a cultura chinesa
as asas, pés e patas da ave.
A gestão do negócio, proporcionada por esse
sistema associativo de produtores, aliado ao trabalho de qualidade
na produção de aves de corte, garantiu maior
remuneração no final. A agregação
de valor do frango destinado à exportação
chega a 40% a mais em relação às vendas
no mercado interno, afirma Ademir Luis Griep, que trabalha
na granja juntamente com os pais e mais duas irmãs.
Para nós, o capricho e a manutenção
de um padrão de qualidade servem de incentivo para
continuar oferecendo esse produto tipo exportação,
algo que nem fazíamos ideia quando nos associamos à
cooperativa, declara.
Apesar do frango ser o tipo exportação, a produção
de suínos que é o carro-chefe da família
Griep, que possui alojamento para 170 matrizes. A produção
de milho e soja, em cerca de 25 hectares, fecham a diversidade
da produção familiar lá na região.
Espírito
exportador
Desde o princípio a Copagril, que faz 40 anos em setembro
de 2010, dedica-se à exportação, de acordo
com o gerente comercial da empresa, José Aparecido
Lima. Além do frango, que corresponde a 35% de todas
as atividades, também fazem parte dos negócios
da unidade paranaense a produção de suínos,
cereais e leite. Ao todo, a cooperativa envolve 4 mil produtores.
O mercado de Hong Kong pode ser considerado o mais recente
com 4 anos e meio. Para lá seguem mensalmente
cerca de 700 toneladas da mercadoria, que já é
apreciada pelos compradores. Há dois anos atrás,
estive numa viagem a Hong Kong e pude notar como o nosso produto
tinha um extremo conceito entre os compradores, que só
de ouvir falar o código da nossa empresa, já
acenavam como sinal de aprovação sobre a qualidade
do nosso frango, conta Lima. Apreço tamanho que
chega a render 12% a mais a tonelada. Além de Hong
Kong, os destinos da produção da Copagril são
Alemanha, Holanda, Inglaterra, Bélgica, Irlanda e Espanha.
Dedicação
ao mercado externo
Hong Kong e Macau, países que estabelecem uma relação
bem mais consolidada com a China, são portas de entrada
válidas para a entrada da produção do
Brasil na porção continental daquele país,
mas o ideal mesmo seria a venda direta.
Mas falta empenho por parte dos produtores, e do próprio
empresariado brasileiro como um todo, para se dedicar mais
à exportação, sobretudo ao mercado chinês,
segundo a opinião do presidente executivo da Câmara
Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), Paul
Liu. O órgão, localizado em São Paulo
(SP), serve como uma ponte tanto para o empresariado brasileiro
e como chinês, no sentido de estreitar as relações
comerciais entre os dois países.
A China possui interesses claros com o Brasil, pois
ele tem todo o perfil para ser um grande parceiro e aliado
estratégico no fornecimento de alimentos, pelo fato
da própria extensão territorial dele e pela
vocação ao agronegócio, argumenta
Liu. Pela análise do representante da CBCDE, esse interesse
com Brasil foi o resultado da abertura econômica chinesa
e o empenho daquele governo em melhorar a qualidade de vida
e renda da população, o que promoveu o maior
consumo de alimentos e, com isso, a mudança dos hábitos
alimentares. Antigamente se dizia que o chinês
só tomava chá, hoje esse quadro mudou, ele agora
também toma café, whisky, vinho, caipirinha,
toma tudo, diz Liu, bem humorado. É nesse momento
que a produção brasileira tem de se fazer presente
naquele mercado em franca expansão. Só para
se ter uma ideia, em dez anos de relações comerciais
entre Brasil e China, de 1998 a 2008, o crescimento girou
em mais de 1.300%.
A soja foi a grande responsável por essa guinada, e
corresponde atualmente por mais de 41% do montante negociado,
em dólares, no período de janeiro a agosto deste
ano. O grão encerra a participação significativa
dos produtos do agronegócio, que só volta a
configurar na sexta posição dos produtos exportados
àquele país, com o óleo de soja
este que representou apenas 2,12% sobre o total do valor negociado
no mesmo período. Mais abaixo ainda surge o açúcar,
com 0,38%, e depois o suco de laranja, com 0,24%.
O fraco desempenho na área de alimentos deixa o Brasil
fora de um mercado que está ávido em busca de
novidades, produtos de qualidade, e, melhor ainda, que está
disposto a pagar por isso. O café e o vinho são
exemplos destacados por Liu e que, certamente, têm espaço
garantido, restando apenas a iniciativa do produtor brasileiro
em conquistar esse cliente.
Vá
a China!
Difícil é, mas não é impossível
tornar-se um fornecedor potencial daquele gigante asiático.
Segundo a consultora, especialista em comércio internacional
com ênfase no mercado chinês, e diretora da BG
Corporativa Cultural, Suzana Bandeira, o primeiro passo que
o produtor deve tomar é justamente viajar até
lá e conhecer os hábitos daquele país.
A partir daí ele terá uma boa noção
do que oferecer, sabendo respeitar as diferenças culturais
e estabelecendo um contato mais próximo com esse empresário
chinês, que, segundo ela, é uma tarefa essencial.
Há todo um ritual de aproximação
com esse empresário chinês, pois ele não
quer saber só da mercadoria e do valor, destaca
Bandeira, ele quer saber sobre a sua vida, o que você
faz, para assim conhecê-lo melhor. O acordo passa ser
uma gestação, e quanto mais esse chinês
quiser encontrá-lo, em eventos sociais, em almoços,
jantares, maiores serão as chances do fechamento do
negócio. Em média pode-se estimar de oito
meses a 12 meses para chegar a isso tempo que englobaria
tudo referente à comercialização do produto,
como a primeira ida ao país, o trabalho de aproximação,
os acertos comerciais vigentes para a entrada da mercadoria
naquele país, o comum acordo entre os dois países,
entre outros aspectos de legislação e cumprimento
das normas sanitárias ou fitossanitárias. Há
negócios que podem durar mais que isso, mas tudo dependerá
da força de vontade do empresário brasileiro,
pois, não há dúvida, existe espaço
para eles sim nesse mercado, atesta.
Feiras
e eventos
Ter força de vontade, um produto inovador e de qualidade,
capaz de atrair a atenção do consumidor, e uma
boa apresentação pessoal e da própria
mercadoria no idioma chinês, o mandarim, são
itens que também contribuirão para um ingresso
de sucesso naquele mercado. Diante disso, há oportunidades
promovidas pelo próprio governo brasileiro que podem
ajudar o produtor a assegurar o lugar dele lá na China.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações
e Investimentos (Apex), ligada ao MDIC, possui uma lista farta
de eventos e feiras específicas para o agronegócio.
Para o mercado chinês, o próximo evento, encabeçado
pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), será
o Food & Hotel, com previsão de ser realizado em
Shanghai dos dias 18 a 20 de novembro deste ano.
Outra estratégia, de autoria do Mapa, é o Programa
de Inserção de Cooperativas Brasileiras em Mercados
Estratégicos (Edição China), lançado
no segundo semestre deste ano. O objetivo, segundo o secretário
de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo da
pasta, Márcio Portocarrero, é preparar essas
empresas para atuar naquele mercado. Detectamos que
47% da produção nacional, em algum momento,
passaram por cooperativas, e desse total, apenas 2% chegaram
lá fora. Nesse sentido, o projeto irá estreitar
as relações do mercado chinês diretamente
com as cooperativas brasileiras, diz Portocarrero.
A atuação do programa foi inicialmente em Hong
Kong, e que tinha um caráter mais de prospecção
de negócios e aproximação. Catorze cooperativas
foram acompanhadas durante 15 dias (de 24 de julho a 6 de
agosto) e puderam fazer contato com mais de 150 empresas.
A montagem dos estantes bem como a divulgação
do evento foi custeada pelo governo federal, que girou num
investimento de R$ 240 mil. As passagens e a estadia de cada
participante foram por conta própria.
Em novembro deste ano, com data prevista para os os dias 16
a 21, o governo dará continuidade ao programa, agora,
mais focado à questão comercial. De acordo com
Portocarrero, o Mapa deve montar um escritório em Hong
Kong que possa servir de ponte entre o produtor brasileiro
e os empresários chineses, tudo para facilitar o acesso
dele a esse potente consumidor.
Além do braço do governo, entidades como a CBCDE
ou consultorias com a de Suzana Bandeira também garantem
um apoio especial àqueles que desejam conquistar o
mercado chinês.
O
caminho das pedras
Para
participar do Programa de Inserção de Cooperativas
Brasileiras em Mercados Estratégicos do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o
produtor pode entrar em contato com o Departamento de Cooperativismo
e Associativismo (Denacoop).
Telefone: (61) 3218-2461
Sítio de Internet: www.agricultura.gov.br
e-mail: denacoop@agricultura.gov.br
Para
saber mais sobre os eventos e feiras da apoiadas pela Agência
Brasileira de Promoção de Exportações
e Investimentos (Apex).
Telefone: (61) 3426-0202
Sítio de Internet: www.apexbrasil.com.br
e-mail: apex@apexbrasil.com.br
Câmara
Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE)
Telefone: (11) 3082-2636
Sítio de Internet: www.cbcde.org.br
e-mail: pliu@cbcde.org.br
BG
Corporativa Cultural
Telefone: (11) 3871-9332
Sítio de Internet: www.bg-corporativa-cultural.com.br
e-mail: bg@bg-corporativa-cultural.com.br
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