As verminoses, ou helmintoses, estão entre as
doenças que mais interferem na produtividade dos bovinos,
causando perdas diretas em função da mortalidade
de animais, bem como perdas indiretas pela queda do desempenho
produtivo e custos com o controle no rebanho, destaca
a pesquisadora e especialista em sanidade animal da Embrapa
Pantanal (Corumbá/MS), Raquel Soares Juliano.
As pastagens podem expor os animais a infecções
por larvas de nematódeos gastrintestinais, como por
exemplo, Cooperia, Haemonchus, Ostertagia, Strongyloides,
Trichostrongylus e Oesophagostomum, segundo a pesquisadora.
No pasto também o rebanho pode ser suscetível
a patógenos pulmonares, como Dictyocaulus.
Por esses parasitos terem incidência e distribuição
variada de região para região, até mesmo
em função de clima e do tipo de manejo e de
sistema produtivo da propriedade, a estratégia de controle
também deverá ser variada. E dependerá
essencialmente de um apoio laboratorial para identificação
específica de quais vermes estão incidindo no
rebanho e o tratamento adequado para não encarecer
a atividade.
As doenças caracterizadas por coccidioses, causadas
principalmente por Cryptosporidium spp e Eimeria também
devem ter uma atenção especial. De acordo com
a pesquisadora, elas se apresentam como um quadro de diarreia
levando a desidratação, emagrecimento e morte,
se a doença não for tratada adequadamente. Os
bezerros são mais suscetíveis, a gravidade dos
sinais e a taxa de mortalidade são maiores nessa categoria
de animais e em sistemas de produção intensiva.
O aumento da densidade populacional e descuidos com a higiene
favorecem a ocorrência das coccidioses principalmente
pela contaminação da água e das instalações,
atesta a pesquisadora.
Carrapatos
A influência do carrapato bovino, R. boophilus microplus,
sobre a bezerrada pode levar a principal doença transmitida
por ele, a tristeza parasitária dos bovinos (TPB),
que é causada pelos hematozoários Anaplasma
marginale, Babesia bovis e B. bigemina. A mortalidade
de bezerros é alta, porém animais adultos, que
não foram expostos ao carrapato e não desenvolveram
imunidade prévia aos hematozoários, também
podem vir a óbito, alerta Juliano. Os cuidados
têm de ser redobrados para as raças europeias,
em função de o parasito ter predileção
pelo sabor do sangue europeu, e por isso a ocorrência
dele é maior em rebanhos de origem taurina.
O controle do carrapato, segundo dados da Embrapa Gado de
Corte (Campo Grande/MS), pode ser realizado a partir de setembro,
no início das chuvas, seguindo o tratamento com mais
três vezes com intervalos de 21 dias ou mudando o rebanho
para pastagem vedada para tal fim. Devem-se realizar tratamentos
eventuais quando o número de carrapatos for maior que
50 por animal.
Em todos os animais devem-se usar produtos à base de
organofosforados, piretróides, ivermectinas ou outros
disponíveis no mercado em aplicações
pour-on, imersão ou outros, utilizando
sempre as concentrações e doses recomendadas
pelos fabricantes. É importante observar os animais
semanalmente e não tratar com baixas infestações.
A consulta a assistências técnicas mais próximas
indicará produtos comerciais disponíveis para
se efetuar esse controle. A Embrapa Gado de Corte disponibiliza
informações necessárias para o controle
de carrapatos, além de um serviço de coleta
desses parasitos para melhor indicação de um
carrapaticida a ser aplicado. Esse serviço é
feito pelo sítio de Internet carrapatos.cnpgc.embrapa.br.
Outras
ectoparasitoses
A dermatobiose, ou berne, é uma infecção
causada pelo desenvolvimento da larva da mosca Dermatobia
hominis no tecido subcutâneo dos animais. Ela causa
uma reação inflamatória que pode irritar
os animais ou resultar no aparecimento de sangramentos e infecções
secundárias nos casos mais graves.
Outra enfermidade preocupante para o controle sanitário
na fazenda são as miíases umbilicais, ou bicheiras,
que são provocadas por larvas de moscas do gênero
Cochliomyia. Essa infecção é a razão
de grande perda por morte de bezerros, principalmente em sistemas
de pecuária extensiva.
Uma ineficiente cura do umbigo chama a atenção
desse gênero de mosca àquela região no
animal, que se caracteriza num ambiente ideal para a proliferação
do inseto a partir do desenvolvimento das larvas dela na ferida
umbilical não tratada. Uma vez depositadas nessa região,
elas vão se alimentando de secreções
e tecidos vivos. Com o tempo e ocupando maior espaço,
esse criatório de larvas, que se tornou o umbigo, fica
caracterizado por ferimentos (miíases) de onde escorre
uma secreção sero-sanguinolenta, que mais tarde
passa a ser purulenta. O comprometimento dessa lesão
ocorre quando as miíases não são tratadas
e houver reinfestações do inseto. Pomadas, líquidos
ou spray cicatrizantes acrescidos de inseticidas podem ser
usados tanto preventiva como curativamente.
Apoio
técnico
O primeiro passo para o tratamento começa com a consulta
de um apoio técnico que possa avaliar exatamente o
que ocorre com o rebanho. Isso porque há uma variabilidade
de fatores que se relacionam com cada endo e ectoparasitos.
Os fatores em geral são ambiente, clima, raça,
tipo de sistema produtivo, manejo higiênico sanitário,
incluindo a ocorrência de resistência por parte
dos parasitos devido ao uso inadequado de inseticidas e vermífugos,
destaca a pesquisadora da Embrapa.
Em função disso o que se recomenda é
a orientação de um profissional técnico
especializado. A partir desse apoio poderão se traçar
as estratégias adequadas para o controle dessas doenças.
A cura do umbigo é importantíssima para
não haver problemas com miíases e infecções
bacterianas que são facilitadas pela via umbilical,
além disso, o colostro é a melhor proteção
que o bezerro pode receber, se ele não é fornecido
adequadamente, o filhote fica mais suscetível a várias
doenças, diz Juliano.
A partir desse apoio técnico, o pecuarista pode estabelecer
um calendário profilático e de manejo sanitário
dos animais desde o nascimento até a desmama, baseado
justamente nas doenças mais frequentes do rebanho e
na região em que se encontra, como uma forma de garantir
o melhor controle sanitário do rebanho.
Recomendações
à cria
Cuidado
com o aumento na densidade populacional;
Atenção à qualidade da água fornecida;
Seja rigoroso com a limpeza e higiene das instalações,
principalmente em sistemas intensivos;
Inspecione os animais a fim de detectar a presença
de ectoparasitoses e mantenha vigilância sobre as verminoses
e coccidioses realizando exames de fezes com contagem de ovos
por grama (OPG) periodicamente;
Diante da ocorrência de animais doentes procure imediatamente
um médico veterinário, para passar todas as
informações necessárias sobre o diagnóstico
correto e o melhor tratamento;
Cuidado com o uso indiscriminado de vermífugos e inseticidas;
Atenção redobrada para a cura do umbigo e ingestão
de colostro pelo recém-nascido.
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