inimigos naturais dela e, ainda, pode contribuir para a resistência
dela. De acordo com o pesquisador, pragas, que antes
eram tidas como secundárias, passaram a ser de importante
controle em função do desequilíbrio causado
pela aplicação desnecessária de produtos
que acabaram afetando os predadores de lagartas e percevejos,
por exemplo estes vilões da produtividade da
soja.
Assim, apesar dos danos causados na cultura serem, em alguns
casos, alarmantes, não se indica a aplicação
preventiva de produtos químicos, pois, além
do grave problema de poluição ambiental, a aplicação
desnecessária elevará os custos da lavoura e
contribui para o desequilíbrio populacional dos insetos.
O controle recomendado por Moscardi tem de se basear no nível
de infestação na lavoura, com uma identificação
minuciosa sobre os demais agentes que possam estar presentes
no campo. Inspeções regulares pela plantação,
com um apoio técnico especializado, servirão
de base de informação para se traçar
o manejo mais adequado na lavoura, inclusive na identificação
do que é praga e o que não é.
Entre os principais insetos-pragas, os de importância
regional e os que causam severo dano à lavoura estão
a lagarta-da-soja, percevejos, o tamanduá-da-soja,
corós e a mosca branca.
Lagarta-da-soja
A Anticarsia gemmatalis pertence à categoria de praga
que danifica as folhas da planta. A forma de controle mais
eficiente se faz pela ação do Baculovírus.
Segundo o trabalho desenvolvido por Moscardi, esse inimigo
da lagarta é um vírus de ocorrência natural
e específico no combate exclusivo da praga. Ele mata
somente este inseto e não afeta outras pragas e inimigos
naturais.
O controle deve ser feito quando forem encontradas, em média,
20 lagartas grandes (maiores de 1,5 cm) por 1 metro (fileira
de plantas), ou com menor número se a desfolha atingir
30%, antes da floração, e 15% tão logo
apareçam as primeiras flores.
As folhas de soja pulverizadas com o Baculovírus, e
comidas pela lagarta, propiciam a multiplicação
do vírus no corpo dela. Após o quarto dia, as
lagartas ficam enfraquecidas, deixando de se alimentar. As
infectadas tendem a se deslocar para as partes altas da planta
e com o tempo perdem a mobilidade, morrendo entre o sexto
e décimo dia da aplicação. Depois de
alguns dias as lagartas mortas apodrecem, liberando grande
quantidade de vírus sobre as folhas, que serve para
disseminá-lo às outras lagartas.
Produtos comerciais a base de Baculovírus são
produzidos por diferentes empresas licenciadas pela Embrapa
Soja e está disponível em cooperativas e revendas
de insumos agrícolas. Para maiores informações,
contatar a Embrapa Soja: telefone (43) 3371-6125 ou e-mail
aee@cnpso.embrapa.br.
Percevejos
Podem ser considerados uma das principais pragas da cultura
da soja, segundo Moscardi, e três espécies devem
ter uma atenção especial: o percevejo marrom
(Euschistus heros), o percevejo verde pequeno (Piezodorus
guildinii), e o percevejo verde (Nezara viridula). Em certas
situações, o controle químico pode ser
efetuado apenas nas bordas da lavoura, sem necessidade de
aplicação de inseticida na totalidade da área,
porque o ataque destes insetos se inicia pelas áreas
marginais, aí ocorrendo as maiores populações.
Uma alternativa econômica é a mistura de sal
de cozinha (cloreto de sódio) com a metade da dose
de qualquer um dos inseticidas indicados. O sistema consiste
no uso de apenas 50% da dose indicada do inseticida, misturada
a uma solução de sal a 0,5%, ou seja, com 500
gramas de sal de cozinha para cada 100 litros de água
colocados no tanque do pulverizador, em aplicação
terrestre. O primeiro passo é fazer uma salmoura separada
e, depois, misturá-la à água do pulverizador
que, por último, vai receber o inseticida.
Tamanduá-da-soja
É
um gorgulho (besouro) de aproximadamente 8 milímetros
(mm) de comprimento, de cor preta com listras amarelas no
dorso da cabeça e nas asas. Os danos são causados
tanto pelos adultos, que raspam o caule e desfiam os tecidos,
como pelas larvas, brocando e provocando o surgimento de galha.
O controle químico desse inseto não tem sido
eficiente. As larvas ficam protegidas no interior das galhas
e os adultos, além de emergirem do solo por um longo
período, ficam a maior parte do tempo sob a folhagem
da soja, nas partes baixas da planta. Algumas práticas
culturais podem ser utilizadas para, gradualmente, diminuir
a ocorrência da praga.
Nos locais em que, na safra anterior, foram observados ataques
severos do inseto, antes de planejar o cultivo da safra seguinte,
deve-se avaliar o grau de infestação na entressafra.
Para cada 10 hectares (ha), retirar quatro amostras de solo,
centradas nas antigas fileiras de soja, com 1 metro de comprimento
e largura e profundidade de uma pá de corte. Contar
o número de larvas hibernantes. Para cada três
a seis larvas/amostra, há possibilidade de uma ou duas
atingirem o estado adulto, podendo causar uma quebra de sete
a 14 sacas de soja por hectare, na safra seguinte. Em lavoura
de soja já estabelecida, o controle do inseto se justifica
quando a população atinge um adulto por metro
de fileira, em plantas com duas folhas trifolioladas, e dois
adultos por metro linear, em plantas com três a cinco
folhas.
A rotação de culturas é a técnica
mais eficiente, mas sempre associada a outras estratégias,
como plantas-iscas e controle químico na bordadura
da lavoura. Resultados recentes de pesquisas mostram redução
porcentual de plantas mortas e danificadas e maior produtividade,
no final do período de rotação soja-milho-soja,
comparado ao monocultivo de soja.
Percevejos-castanhos-da-raiz
Há registro da ocorrência de três espécies
da família Cydnidae que sugam a raiz de soja, em várias
regiões do Brasil: Scaptocoris castanea, Scaptocoris
carvalhoi e Scaptocoris buckupi. A ocorrência dessa
praga era esporádica em várias regiões
e culturas, mas, a partir da década de 1990, o problema
em soja e outras culturas começou a ser mais frequente.
Pode ocorrer tanto em semeadura direta, como em convencional.
Atualmente, os prejuízos causados à soja por
essa praga são bastante significativos, especialmente
na Região Centro-Oeste, onde as perdas de produção,
nas reboleiras de plantas atacadas, variam de 15% a 70%, dependendo
da época do ataque.
O manejo dessa praga é difícil e ainda não
há nenhum método eficiente. O controle químico,
até o momento, tem se mostrado pouco viável,
em função do hábito subterrâneo
do inseto, não havendo, ainda, nenhum produto registrado
para essa finalidade, para a cultura da soja.
Corós
O complexo de corós (Phyllophaga cuyabana e Liogenys
spp.) é um grupo de insetos que vem causando danos
à soja, especialmente no Paraná, em Goiás
e Mato Grosso do Sul. Ocorre, também, em Mato Grosso,
no sudoeste de São Paulo e na região do Triângulo
Mineiro, em Minas Gerais.
Os sintomas de ataque vão desde amarelecimento das
folhas e redução do crescimento até morte
das plantas e são visualizados em reboleiras. O número
de pés de soja mortos pode variar com a época
de semeadura e com a população e o tamanho das
larvas na área. No início do desenvolvimento
das plantas, uma larva com 1,5 a 2 cm de comprimento, para
cada quatro plantas, reduz o volume de raízes em cerca
de 35%, e uma larva de 3 cm, no mesmo nível populacional,
causa redução de 60% ou mais nas raízes,
podendo causar a morte da plântula (estágio inicial
da planta).
O manejo de corós deve se basear em um conjunto de
medidas que possam permitir a convivência da cultura
com o inseto. O cultivo de milho ou outra cultura em safrinha
nos talhões infestados pela praga deve ser evitado,
pois a prática aumentará a população
na safra seguinte. Qualquer medida que favoreça o desenvolvimento
radicular (raiz) da planta, como evitar a formação
de camadas adensadas e correção da fertilidade
e acidez do solo, aumentará também a tolerância
da soja a esses insetos comedores de raízes.
Mosca
branca
A praga (Bemisia ssp.) é conhecida pela grande quantidade
de culturas que ataca, e, por isso, o controle torna-se quase
que impossível. Os adultos têm o dorso amarelo-claro
e asas brancas, medem cerca de 1 mm, sendo a fêmea maior
que o macho. A longevidade é variável e depende
da alimentação e da temperatura. Os machos e
as fêmeas vivem em média 13 e 62 dias, respectivamente.
De ovo a adulto o inseto pode levar cerca de 18 dias, em temperaturas
médias altas (32°C), podendo, contudo, se estender
até 73 dias (15°C).
Em condições de alta temperatura, pode ocorrer
de 11 a 15 gerações por ano. O acasalamento
inicia-se de 12 horas a dois dias após a emergência,
e cada fêmea coloca, em média, 100 a 300 ovos
durante a vida dela.
Na cultura da soja, a mosca branca causa danos diretos pela
sucção da seiva, provocando alterações
no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta. Ao
se alimentar, ela excreta substâncias açucaradas
que cobrem as folhas, resultando na formação
da fumagina, um tipo de fungo que escurece a superfície
da folha e reduz o processo de fotossíntese. O que
acarreta também a murcha e a queda dela, antecipando
o ciclo da cultura.
Os danos indiretos da praga se dá pela transmissão
de um vírus, cujo sintoma é a necrose (morte
celular) da haste. Dependendo do nível populacional
da mosca branca, as perdas de produção podem
atingir 100%. Em avaliações realizadas em diversas
lavouras de, foi possível detectar 45% de perdas de
rendimento.
O controle é estabelecido por diversas práticas.
As medidas de maior efetividade são a limitação
das datas de plantio e a eliminação de plantas
voluntárias ou daninhas, visando impedir a manutenção
da população da praga. A limitação
das datas de plantio reduz a possibilidade de migração
do inseto em áreas de final de ciclo para áreas
de início de desenvolvimento da cultura. A eliminação
de plantas voluntárias de soja, provenientes de grãos
perdidos durante a colheita, reduz a oferta de alimento e
a persistência da praga. A eliminação
de plantas voluntárias de soja pode ser realizada por
processo químico (dessecação) ou pela
incorporação com a grade. No sistema de plantio
direto da soja, em áreas com plantas daninhas, altamente
infestadas pela praga, é recomendado realizar a dessecação
e o repouso da terra sem nenhum cultivo (o pousio) por duas
semanas antes da semeadura.
|