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MILHO PIPOCA - ESTOURANDO NOS LUCROS!
rev 139 - setembro 2009

Produtores de milho-pipoca encontraram nas parcerias uma forma de garantir o preço do produto e aumentar a produtividade.
A família do senhor Adir Jeacomini e de Ivaldo Masiero são o que podemos chamar de agricultores familiares diversificados. Nas terras em que possuem de cinco a 10 hectares (ha), respectivamente, eles plantam milho, soja, trigo e, em alguns casos, ainda mantém um espaço até para uma pequena produção leiteira. Porém, das culturas que eles exploram, a que mais vem rendendo nesses últimos anos é a do milho, em especial, o milho-pipoca. Na propriedade do Sr. Jeacomini, localizada em Almirante Tamandaré do

Sul (RS), cidade que tem aproxidamente dois mil vez que a cultura de milho-pipoca fará parte da renda familiar. “A gente planta na esperança de fazer uma boa produção e alcançar preços melhores no final da safra”, diz.
Ao contrário dele, o Sr. Ivaldo Masiero já trabalha há 15 anos com a cultura, no município de Lagoa Vermelha, 320 quilômetros da capital Porto Alegre (RS). No ano passado, o produtor chegou a colher 65 sacas/ha, mas teve época em que a produção atingiu 100 sacas/ha. “No primeiro ano de cultivo, cheguei a produzir 108 sacas. Mas, nos últimos tempos estamos na dependência do clima. Já aconteceu de nós não produzirmos nada, em virtude da seca”, lembra. “Agora, espero para esta safra umas 70 sacas”, garante Masiero.
Hoje, a cultura do milho-pipoca – que em alguns municípios da região nordeste, já foi nesta safra semeada – é a que mais rende e mais dá subsídio, além de constituir um mercado seguro e com preço, principalmente no Sul do País. “É isto que faz toda a diferença na hora de produzir”, diz Sr. Jeacomini.
Para garantir a primeira safra, no mês passado, o produtor de Almirante Tamandaré do Sul contou com a ajuda de alguns produtores vizinhos para arar o solo e preparar para a semeadura. “Como somos pequenos produtores, não temos condições de adquirir todo o maquinário, com isto compartilharmos, fazemos uma empreitada terceirizada”, brinca.
O sistema de parceira, entre os pequenos produtores, também funciona entre a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural – de Passo Fundo – RS (Emater/RS) e a empresa Yoki Alimentos, com sede em Paranavaí (PR) e filial em Nova Prata (RS). Nesta união, todos saem ganhando. “Mais do que garantir mercado para os pequenos e médios, a parceria oferece oportunidade de atualização de informações e oferece ao produtor, boa tecnologia para o cultivo desta especiaria. Eles também recebem assistência técnica, desde o plantio até a colheita e à comercialização dos seus produtos. Eles aprenderam a serem profissionais na hora de vender a safra, planejando a sua entrada no mercado”, diz o engenheiro da Emater/RS, Claudio Dóro.
É mais uma parceria que permite prestar assistência técnica e extensão rural às famílias rurais junto com a ajuda de uma indústria, que por outro lado necessita contar com maior produção e boa qualidade do produto. Nesta contribuição, a empresa fornece as sementes e a garantia de compra antecipada do milho. De acordo com o engenheiro da Emater/RS, há 150 produtores neste sistema, com aproximadamente 2.200 hectares, que são assistidos pela parceria, em mais 30 municípios. A maioria deles situa-se em Nova Prata (o maior pólo produtor de milho-pipoca do País). “Com esta proposta de trabalho, estamos com parceira com outras empresas das regiões”, informa Dóro. “Hoje, este sistema de integração deu tão certo que existe uma fila de produtores querendo produzir mais, com novas tecnologias que chegam no campo, como utilização da irrigação com pivô e o plantio e colheita mecanizada”.
No Sul, é comum encontrar regiões que existe uma tradição muito forte na cultura de milho-pipoca, introduzida graças à chegada dos imigrantes italianos no começo do século. Com o clima favorável, ótimas condições geográficas e uma produção de boa qualidade, o milho-pipoca trouxe para a região há nove anos, a empresa Yoki Alimentos e, consequentemente, um desenvolvimento para toda a região.

Mercado Atrativo

Os bons preços alcançados pelo grão têm sido um atrativo para os produtores. Segundo o índice CEPEA/Esalq/BM&F, o preço da saca de 60 quilos de milho comum no atacado está cotada a R$ 19,29, enquanto a saca do milho pipoca vale cerca de R$ 51,00, o preço mínimo. “Porém, para chegar à produção de uma saca de milho-pipoca são praticamente três sacos de milho convencional”, conta o técnico agrícola do escritório da Emater de Almirante Tamandaré do Sul, Larri Lui. “Porém, com alta tecnologia em média colhemos entre 2.400 até 4.000 mil quilos. A meta é chegar a seis mil. Mesmo diante das mudanças climáticas, mesmo em épocas de estiagem, a planta se destaca das demais devido ao baixo índice de água que necessita, 30% menos do que o milho. Em algumas regiões, os agricultores atingiram uma boa média, por hectares, e mesmo assim na ultima safra, no ano passado, a pipoca não registrou prejuízo”, explica o técnico.
No entanto, adverte o Lui, apesar de ser uma das fontes rentáveis, o produtor necessita visualizar mercado certo para a venda. “O bom preço alcançado pelo milho-pipoca pode fazer dele uma produção boa para ganhar dinheiro, mas não é fácil e pode ser uma verdadeira armadilha porque o mercado é complexo que o do milho comum. O milho-pipoca é uma produção que necessita ter um escoamento, senão o produtor ficará no prejuízo”, avisa.

Produção certa

Nesse tempo, graças ao lançamento de variedades de milho-pipoca desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o País começou a diminuir a dependência de sementes importadas. O produtor tem a disposição no mercado os híbridos: IAC 112 e o IAC 125. “Hoje, as sementes do IAC 112 são as mais procuradas por serem mais produtivas, mas infelizmente não conseguimos atender esta demanda”, diz o pesquisador do Instituto, Eduardo Sawazaki. “Já o IAC 125, tem menos produtividade e menos procura por sofrer mais com problemas de doenças, porém, garante melhor qualidade dos grãos”.
Já a Embrapa possui a BRS Ângela, variedade lançada em 2000 e que apresenta alta produtividade de grãos, estabilidade de produção e bom índice de capacidade de expansão, que mede a maciez da pipoca. O responsável pelo desenvolvimento da única cultivar de pipoca da Embrapa foi o também melhorista Cleso Pacheco. “O Brasil ainda está um pouco atrasado nesta questão de melhoramento do milho-pipoca”, diz o pesquisador. “Hoje, a grande maioria do plantio é feito com sementes de híbridos, importados de alta capacidade de expansão, para garantir os grãos uniformes e que a pipoca estoure por igual, diferente do milho convencional. A produção nacional fica em torno de 75 mil toneladas e consome, dependendo da época, algo em torno de 100 mil toneladas. Muitas vezes, a demanda interna é insuficiente, obrigando o País a importar pipoca da Argentina”, diz Pacheco.

O Consumo restrito

Se só em festas juninas o Brasil aumenta o consumo de pipoca, mas as empresas estão empenhadas em melhorar e aumentar este consumo. Além do programa específico da indústria do milho, estão sendo desenvolvidas no Brasil ações de organismos – como a extensão rural. Ao longo das décadas, o grão seja o milho-pipoca ou o milho convencional perderam o espaço na mesa do brasileiro. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS), em suas ações procuram estimular o emprego do milho na alimentação humana.
Nos últimos anos, o hábito do brasileiro mudou e houve um crescimento no consumo de pipocas nos cinemas, que chegou ao Brasil incentivado, principalmente, pela rede cinema, como o Cinemark. Além do consumo tradicional da pipoca e a agregação do produto feito para microondas. Porém, a Associação Brasileira das Indústrias de Milho (Abimilho) desenvolveu há quatro anos uma campanha para estimular o consumo humano do cereal, seja ele como farinha, amido, óleo, canjica e em muitas outras formas. “Não tem uma campanha especifica para aumentar, por exemplo, o consumo da pipoca. Trabalhamos para integrar o milho em novas receitas e no desenvolvimento de novos produtos”, diz o presidente da Abimilho, Nelson Kowalski.
Hoje, o foco é valorizar mais o cereal, consumido pelos povos americanos há milhares de anos. Segundo o presidente, o consumo brasileiro é muito baixo, giro em torno de 17 quilos/habitantes/ano. No México, são 77 quilos/habitantes/ano. A grande parte do milho brasileiro é destinado para o segmento de alimentação animal. Para a entidade, o incentivo ao consumo humano do milho é uma das mais eficientes iniciativas para corrigir o problema da desnutrição, que acomete grande parcela da população brasileira. O milho é um cereal de elevado valor energético – justamente a principal deficiência nutricional da população brasileira de baixa renda.



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