poderia ser armazenado por um longo período em temperaturas
baixas, o melhoramento genético se acentuou e, na década
de 1970, o Brasil começou a receber as primeiras empresas
que atuavam nesse segmento. O Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento foi o primeiro a estabelecer
uma central de sêmen resfriado no Brasil, em 1970. Das
particulares, a pioneira foi a CRV Lagoa, em 1972.
De lá pra cá, a genética está
se desenvolvendo e já conta com marcadores moleculares
para identificar os melhores animais. Em 37 anos de inseminação
artificial comercial no Brasil, a CRV Lagoa ganhou destaque
no mercado, principalmente por causa do seu touro mais famoso,
o Fajardo. Apesar de já ter morrido, o animal não
só deixou o nome, mas a marca de mais de 460 mil doses
(entre sexado e convencional) vendidas nos 16 anos de serviços
prestados. Ainda há doses do Fajardo à
venda. Ao todo, serão 480 mil doses vendidas, sendo
que hoje o preço do sêmen convencional está
em R$ 350 reais, a dose, explica Ricardo Abreu, gerente
de produto de corte Zebu, da CRV Lagoa.
Excluindo o Fajardo, o touro que mais vendeu doses no Brasil,
na área de corte, também é da Lagoa:
Enlevo da Morungaba, com 380 mil doses. Mas este ainda tem
grande potencial para aumentar a quantidade, já que
está com 12 anos de vida. O preço atual do sêmen
sai a R$ 100,00, o convencional, enquanto que o sexado é
de R$ 1.000,00.
O valor dos semens disponíveis no mercado varia mais
de 1000%. Há semens abaixo de R$ 10,00, como é
o caso do Absoluto, do criador e proprietário Fernando
Luis Quagliato, vendido a R$ 8,00. E há de R$ 3.000,00,
como o Basco de Naviraí, vendido pela Alta Genétics.
O sêmen sexado do Basco, um Nelore, por ser um
animal jovem, promete trazer muitos resultados para a genética
brasileira ainda, explica Tiago Carrara, gerente de
mercado da Alta Genétics.
Mas, doses como a do Basco de Naviraí não são
comuns. O valor médio comercializado no Brasil é
entre 18 e 20 reais. A maioria dos pecuaristas compram
os produtos na faixa dos R$ 20,00, aquele que compra sêmen
acima de R$ 100,00 geralmente é quem trabalha com genética
de ponta e precisa obter resultados mais expressivos,
explica o gerente técnico da Central Bela Vista, José
Roberto Potiens.
Para se ter uma ideia, cerca de 80% do sêmen brasileiro
é vendido abaixo dos R$ 30,00. Na realidade, o maior
investimento acaba sendo no botijão, já que
o mais em conta não sai por menos de R$ 1.500,00 (Botijão
de 600 doses). Os mais baratos provêm da China, mas
não são muito confiáveis assim como os
demais, que custam cerca de R$ 1.850,00 e são fabricados
em países europeus. Não vale a pena adquirir
botijões chineses, porque têm vida útil
muito menor em relação aos concorrentes. No
final das contas, em um longo período, sai mais em
barato pagar mais na aquisição, afirma
Carrara, da Alta Genétics.
Mudanças no mercado
Atualmente, a raça Angus é a que apresenta o
maior crescimento de vendas no Brasil. Tal fato se dá
ao cruzamento industrial, mostrando a intenção
do pecuarista em melhorar o rebanho. O crescimento da
comercialização do Angus é resultado
da busca por melhores rebanhos. Como não há
condições de colocar touros Angus para cobrir
matrizes, principalmente, na região central do País,
é necessário usar a inseminação
artificial, explica Carrara, que completa. Como
há alguns anos abateram muitas matrizes, agora os pecuaristas
precisam correr atrás do prejuízo e aumentar
a produção, e o cruzamento industrial é
uma dessas maneiras.
Há cinco anos, vendiam-se mais doses do Red Angus do
que do próprio Angus, até o dia em que se desfez
uma crença no campo. Os pecuaristas acreditavam
que o Red Angus era mais rústico do que o Angus, e
por ter a pelagem avermelhada ao invés do preto, acreditavam
que a raça poderia suportar melhor as altas temperaturas.
Mas começaram a perceber que o Angus é tão
rústico quanto, e o mercado se inverteu, comenta
Alexandre Zadra, gerente de produto taurino da CRV Lagoa.
Esse aumento foi claramente percebido pelas centrais, que
apostam na continuidade de crescimento da procura pela raça.
A Alta Genétics estava de olho no mercado desde
o ano de 2007, quando a participação ainda era
de 13% do mercado. Víamos a possibilidade de grande
demanda por Angus para os próximos anos e, com isso,
firmamos parcerias no Rio Grande do Sul e com a Universidade
Estadual Paulista Unesp de Jaboticabal, para melhorarmos
nossa oferta ao pecuarista. Hoje, a participação
da raça é de 25% do nosso mercado, sendo que
99% do que é vendido de Angus é destinado ao
cruzamento industrial, afirma Carrara.
Apesar dos números do Angus, o Nelore mantém
a liderança disparado, com 50% de todo sêmen
comercializado no País. São mais de dois milhões
de doses por ano, somando os Nelore com Nelore Mocho.
Os
mais desejados
Dentre tantas opções de sêmen, há
aqueles touros preferidos pelo mercado. O destaque da Alta
Genétics é o Bitelo da SS, que é o touro
que possui mais descendentes distribuídos nas centrais,
já foi o Grande Campeão da ExpoZebu e por três
vezes venceu o Progênie ExpoZebu. Atualmente a dose
do sêmen é vendida à R$ 1.000,00 pela
central.
O touro em evidência da CRV Lagoa, por exemplo, é
o Missoni da Guadalupe, que foi o grande campeão nacional
da ExpoZebu 2009, com apenas 19 meses de idade. Foram
vendidas cinco mil doses a R$ 50,00 cada, mas ainda está
no começo e este touro deve ser muito procurado nos
próximos anos, opina Ricardo Abreu, da CRV Lagoa.
O destaque da ABS Pecplan é um Angus de nove anos de
idade, o Bandwidth. O animal foi responsável por vender
57 mil doses em 12 meses. Sempre demos muita atenção
ao Angus na empresa, mas esse ano tivemos problemas na logística
na pré-safra, devido ao grande número de doses
vendidas, explica Vasco Beheregaray Neto, gerente de
mercado da ABS Pecplan.
Em busca de aumentar o grau de prenhez do rebanho, um problema
entre os pecuaristas, ABS elaborou o Fertility Plus, que é
uma única dose composta por sêmen de três
animais. Segundo Fernando Vilela Vieira, gerente do produto,
com sêmen de três touros diferentes, há
mais chances da vaca emprenhar. Alguns semens têm
deficiência ou excesso de proteínas e minerais
e acabam não emprenhando o animal. Com a mistura de
três diferentes em uma dose, acaba criando uma média.
Além disso, existe a capacitação espermática
do sêmen, que pode ser lenta, moderada ou rápida.
Assim como o sêmen, o óvulo também tem
diferentes fases e pode não combinar com a fase do
sêmen. Com a dose de três touros, a chance de
ter algum sêmen na mesma maturação do
óvulo é muito maior, explica. A dose tripla
é da mesma quantidade das doses convencionais.
Pesquisas realizadas com matrizes nos EUA mostraram ganho
de 9% de prenhez. Já no Brasil, foi constatada uma
variação muito grande, chegando a ganhar 20%
a mais de prenhez em algumas propriedades e menos de 9% em
outras. É o segundo ano do produto por aqui, existem
pecuaristas que estão readquirindo as doses. Usei
o Fertility ano passado, tive um leve aumento e volto a comprar
nesse ano devido ao preço ser o mesmo, explica
Adriano Vaz de Lima, produtor de São João da
Boa Vista, no interior de São Paulo. O pecuarista começou
a usar a inseminação artificial há 18
anos e de lá para cá nunca abandonou.
O uso de material genético para melhorar o rebanho
está cada vez mais comum no Brasil, apesar de inseminarmos
apenas 7% de nossas matrizes. Mas o grande fenômeno
é o uso dessa tecnologia por qualquer tipo de criador.
Se antigamente apenas as propriedades que trabalhavam com
genética tinham este privilégio, hoje até
mesmo trabalhadores que receberam a propriedade por meio do
Programa do Sem-terra consegue usar a tecnologia. Nós
temos todo tipo de cliente, inclusive um sem-terra que acaba
comprando botijões em conjunto com outros produtores
e assim atingem o objetivo de melhorar a qualidade do gado,
explica Carrara, da Alta Genétics.
Marcelo Dias Pacheco é um exemplo de pequeno produtor
que usa a genética para melhorar a qualidade do rebanho.
Proprietário da Fazenda São João da Lapa,
o pecuarista de Ipeuva, a 196 quilômetros da capital
paulista, possui 100 vacas e utiliza a inseminação
artificial conseguindo uma taxa de prenhez de 86%. Não
tem mais como fugir da inseminação artificial.
Geralmente escolho três touros para trabalhar por cada
ano, explica Pacheco. O custo da dose desses touros
gira entre 15 e 25 reais, chegando a um investimento de R$
2.000, por ano com reprodução.
Marcelo também é veterinário e presta
serviço a propriedades da região. Segundo ele,
existem diversos pequenos produtores que se juntam para comprar
botijões e sêmen. Outra coisa que acontece
atualmente, é o próprio vendedor emprestar o
botijão para o cliente por um dia, já que se
trabalha com a IATF, comenta.
Além dos pequenos pecuaristas que adquirem semens mais
em conta, existem os que trabalham apenas com melhoramento
genético. É o caso de Francisco José
Matta Azenha, que possui propriedade em Presidente Venceslau,
interior de São Paulo. Há 10 anos, Francisco
apostou no gado PO (Puro de Origem) para realizar reprodução
em São Paulo, destinado os melhores para a fazenda
em Campo Grande (MS), onde tem criação para
abate. Começamos com a intenção
de reproduzir em São Paulo e selecionar os melhores
para a fazenda em Campo Grande, mas com a superprodução
começamos a vender os reprodutores, lembra. Em
busca do melhoramento, Francisco chegou a comprar sêmen
de R$ 8.000,00, mas que segundo ele, não apresentou
o resultado esperado. Hoje, compro doses de R$ 1.000,00
em média. Para este ano, estou apostando no Eliaco
da Java, no Bitelo e no Basco de Navirai para melhorar minha
produção, comenta.
Toda essa diferença entre investimentos mostra como
o mercado está aberto a todo tipo de produtor. Com
sêmen a R$ 8,00 e botijões a R$ 1.850,00, se
tornou muito mais fácil para o produtor utilizar a
inseminação artificial no rebanho. Segundo os
especialistas, em alguns anos só irá sobreviver
no mercado quem utilizar tecnologia na fazenda, porque a cada
dia a diferença entre o lucro e o custo diminui. A
aposta é que a inseminação artificial,
principalmente com o advento da IATF (inseminação
artificial por tempo fixo), será cada vez mais utilizada
e, em três anos, deverá dar um grande salto de
crescimento no Brasil.
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